Política

Em Cabo Verde, chefe da ONU ressalta urgência de ação para salvar o clima

PARCERIA Téla Nón / Rádio ONU

António Guterres disse que o país de língua portuguesa é um “parceiro fundamental” para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; secretário-geral participa da Cúpula do Oceano, realizada na nação africana.

O chefe das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que Cabo Verde é um parceiro na construção de um mundo mais justo e mais sustentável, e que tem defendido, de forma consistente, a sustentabilidade nos últimos 40 anos.

A declaração ocorreu durante uma entrevista a jornalistas ao lado do primeiro-ministro cabo-verdiano José Ulisses Correia e Silva, que convidou Guterres para participar da Cúpula do Oceano, que ocorre no Mindelo, na llha de São Vicente, na nação africana.

Ameaças com subida do nível do mar

Ao assumir a palavra, Guterres lembrou que Cabo Verde está na linha de frente dos efeitos das mudanças climáticas.

ONU Foto/Mark Garten

“Sei que Cabo Verde enfrentou uma seca severa. A subida do nível do mar e a perda da biodiversidade e de ecossistemas representam ameaças existenciais para este e para muitos outros arquipélagos.  Estou profundamente frustrado com o facto de os líderes mundiais não estarem a prestar a esta emergência, uma emergência de vida e de morte à ação e aos investimentos necessários. Estamos perante a luta das nossas vidas e infelizmente estamos a perdê-la.”

O chefe da ONU ressalta que é preciso urgência para salvar o planeta. O mundo está prestes a ultrapassar a marca de 1,5º Celsius. E se nada for feito, Guterres diz que o planeta chegará aos 2,8ºC de aquecimento global até o final deste século.

Paz e segurança

Ele disse que países como Cabo Verde nada fizeram para contribuir para a crise, mas sofre as consequências dela.

“Estou mais determinado do que nunca em tentar fazer de 2023 um ponto de viragem para as pessoas e o planeta. Promovendo a paz e a segurança, impulsionado o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a redução das desigualdades, invertendo a maré no que diz respeito à crise climática. E por tudo isso, e muito mais, estou profundamente agradecido, por ter em Cabo Verde, um país que é um parceiro fundamental que ajuda a construir o caminho para um mundo mais justo e mais sustentável.”

Cabo Verde tem investido na economia azul e convertido títulos da dívida pelo investimento na mitigação climática dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Em seu discurso, Guterres citou os objetivos de proteção marinha do país africano.

Fundo verde e combate à pobreza

Ele disse que as nações pobres ainda não receberam a promessa feita no Acordo de Paris de os países ricos destinarem US$ 100 bilhões para combater a mudança climática.

Foto ONU/Mark Garten

“Em relação aos impactos climáticos, houve um compromisso de dobrar o financiamento para adaptação, mas ainda não vimos um programa de ação que permita ter a certeza de que isso se vai concretizar. Por outro lado, o chamado fundo verde tem funcionado com uma grande ineficácia e com dificuldade de acesso a pequenas economias.”

Ao ser perguntado sobre o aumento de investimentos militares no mundo, Guterres disse que isso atrapalha no combate à pobreza.

“É evidente que estamos a assistir a uma tendência de rearmamento a nível mundial. Estamos a assistir não a uma redução, mas a um aumento das despesas militares. E este é mais um fator que está a limitar a capacidade de apoiar, financeiramente, aos países em desenvolvimento. Espero que esta moda possa terminar em breve.

https://news.un.org/pt/story/2023/01/1808527

Uma voz pelos oceanos

Durante a sua viagem a Cabo Verde, António Guterres deve conhecer de perto projetos inovadores no país, que tem 99,3% de seu território coberto por água. São 10 ilhas no arquipélago, localizado no meio do Oceano Atlântico.

O primeiro-ministro do país, Ulisses Correia e Silva, acredita na amplificação da voz de Cabo Verde, no cenário internacional, através dos oceanos.

Desde 2015, quando o país traçou a estratégia de investimento na economia azul, Cabo Verde tem desenvolvido eventos voltados para o oceano. Este ano, a nação de língua portuguesa faz uma parceria com o Ocean Race, que é o mundial de regatas com personalidades de todo o mundo incluindo o próprio chefe da ONU.

Nos últimos anos, muitos pescadores em Cabo Verde têm notado uma queda na captura de peixes como a cavala. No ano passado, a indústria reportou uma redução na pesca do atum.

Baleias e golfinhos

Resultados preliminares de um estudo da ONU mostram que redução até 2100 de várias espécies de atum do mar cabo-verdiano. Na bacia entre Senegal e Mauritânia, a redução pode ser ainda maior que 45%.

Essas são mudanças que terão impacto profundo na economia do país, que em 2018 tinha mais de 6,2 mil pessoas empregadas no setor da pesca.

Cabo Verde é considerado um dos 10 maiores pontos de biodiversidade do mundo, e por décadas, 24 espécies de baleias e golfinhos documentados em suas águas têm atraído visitantes que fazem do turismo uma das maiores fontes de economia do arquipélago. No ano passado, foram 700 mil chegadas.

Atualmente, 20% da produção de energia do país vem de fontes renováveis. E a meta é aumentar para 50% até 2030.

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