O Presidente da República Carlos Vila Nova e o poder regional do Príncipe homenagearam José Cassandra, vulgo Tó Zé, no dia do vigésimo oitavo aniversário da autonomia regional, 29 de Abril. Antigo Presidente do Governo Regional, Tó Zé, governou PRíncipe durante 14 anos(2006 – 2020).
Emocionado disse que o prémio, é para a população sofrida do Príncipe que soube acreditar nos projectos «da nossa visão, que aderiram a esse processo de transformação que ainda vai demorar algum tempo. Esse prémio é dedicado a esta população», declarou. .
TOZÉ CASSANDRA – Exemplo de um Reformador
José Cardoso dos Ramos Cassandra nasceu na ilha do Príncipe em 17 de fevereiro de 1964, sendo filho de Rodrigo dos Ramos Cassandra Júnior e de Margarida da Costa Cardoso Cassandra, tendo como avôs, do lado materno, Raúl Dias Cardoso e Domingas da Costa Lavres, mais conhecida por “Maria Preta” e do lado paterno, Rodrigo dos Ramos Cassandra e Marta José de Almeida.
É conhecido, desde a infância e adolescência, na ilha do Príncipe, por Tozé ou Quita-Zé, epíteto através do qual é tratado, ainda hoje, por amigos, colegas ou maioria dos familiares.
É pai de quatro filhos, nasceu e viveu na ilha do Príncipe, de forma ininterrupta, até aos 12 anos, sensivelmente, antes de se deslocar para a capital do país, S.Tomé, com a finalidade de continuar os seus estudos, depois de ter concluído a sexta-classe na ilha do Príncipe.
Tal facto tê-lo-á marcado, de forma indelével, e, sobretudo, terá contribuído para inculcar, de forma definitiva, pela primeira vez, no seu pensamento reflexivo, a questão da migração como fator potencialmente perverso, nalguns casos, para o desenraizamento cultural, perda de valores e, sobretudo, para sociedades pequenas e vulneráveis como o Príncipe, contribuir para a sua paulatinamente desintegração identitária.
Este pensamento que sempre o acompanhou, nas múltiplas paragens por onde parou ou viveu, decorrente da sua situação de “Criança ou Jovem Emigrante” no seu próprio país, algo extensível, aliás, a uma grande parte de outras crianças e jovens da ilha do Príncipe da sua geração e gerações anteriores que pretendiam apenas continuar os seus estudos, amplificado por ideais e ensinamentos que recebera dos seus pais e, sobretudo da sua avó materna, Maria Preta, terá contribuído para marcar o seu carácter e, com tal, impelindo-o, mais tarde, para aventuras ou cumprimento de propósitos de natureza política tendo como motivação, sobretudo, o PRÍNCIPE e as suas gentes.
Privou, na Quinta de Santo António com outros colegas da Ilha do Príncipe, no final da década de setenta do século passado, alguns dos quais constituem, hoje em dia, exemplos da geração mais preparada, técnica e intelectualmente, da nossa Terra.
Em 1978, com apenas 14 anos, após uma curta experiência, de um ano letivo, sensivelmente, como estudante na Quinta de Santo António, no Liceu da capital do país, viaja para Cuba na companhia de mais alguns colegas da ilha do Príncipe, para continuação dos seus estudos.
Em Cuba, onde passou, entretanto, uma parte substancial da sua adolescência e juventude, acabou por se formar na área de Engenharia Mecânica e, posteriormente, regressa ao país, onde, em S.Tomé, no Atelier central, começa a exercer a sua actividade profissional, como técnico e, posteriormente, como Diretor da referida empresa.
Sempre inquieto, reflexiva e retrospectivamente, tendo em conta a sua anterior situação de “Criança ou Jovem Emigrante da Ilha do Príncipe”, o que fez com que tenha abandonado a sua terra e a companhia dos seus pais e outros familiares e amigos, desde a mais tenra idade, com objetivo de conquista de novos horizontes formativos e, tendo em conta, a situação crítica e de quase abandono em que encontrou a sua terra natal, depois de uma larga ausência, com episódios constantes de jovens e adultos do Príncipe que abandonavam a ilha de canoas em direcção aos países da costa africana, crises constantes de mercadorias e bens de primeira necessidade que não chegavam ao Príncipe de forma regular, começa a refletir, profundamente, na melhor forma de contribuir, como cidadão deste país, para ajudar a sua Terra natal a erguer deste autêntico pesadelo.
É com este propósito que, inicialmente, já trabalhando na iniciativa privada, como um dos Diretores do grupo HB, em S.Tomé, que, como militante do PCD, e, posteriormente como deputado do referido partido na Assembleia Nacional, começa a trabalhar, afincadamente, no interior da referida instituição, em comissões específicas de Trabalho e em intervenções que, direta ou indiretamente, estavam relacionadas com a ilha do Príncipe, com o objetivo de modificar a realidade prevalecente.
Todavia, apesar de algumas batalhas ganhas neste propósito, constatou, rapidamente, que seria difícil empreender esta tarefa em partidos tradicionais, que comportavam na sua organização, métodos, práticas anacrónicas e intervenção política, nalguns casos, contrários aos propósitos de “Revitalização da Importância Príncipe” no contexto nacional.
Ou seja, constatou, desde cedo, na sua pequeníssima participação política, ainda na capital do país, no seio de um partido político tradicional, que seria difícil ajudar o PRINCIPE nestas circunstâncias, tendo em conta os constrangimentos que existiam neste contexto.
Neste âmbito, tendo sempre como propósito ajudar na “Revitalização da Importância Príncipe” no contexto nacional, resolve, em companhia de alguns amigos seus na capital do país, criar um movimento denominado “NOVO RUMO” que contemplava no seu seio uma organização mais dinâmica e funcional e, sobretudo, tinha como objetivo estratégico a coesão territorial do país decorrente dos propósitos estatutários que permitiam a implementação de uma política assente na liberdade, tolerância, respeito pela pluralidade relacionada com a nossa configuração arquipelágica e desenvolvimento harmonioso do país.
Tendo concorrido nas listas do “Novo Rumo”, um movimento político acabado de nascer na referida altura, como deputado para a ilha do Príncipe, e perante a escassez de meios e implantação ainda deficiente no contexto regional, comparativamente com os partidos tradicionais, contra todas as expetativas, foi eleito deputado pelo Príncipe nas listas do referido movimento, constituindo, todavia, o único deputado, daquele movimento que acabara de nascer, representado na Assembleia Nacional, após as referidas eleições.
Sem um grupo parlamentar na Assembleia Nacional que lhe proporcionasse meios de intervenção política, dentro e fora da referida instituição, compagináveis com o seu principal objetivo naquele contexto temporal concreto, que era contribuir politicamente para a “Revitalização da Importância Príncipe” no contexto nacional, opta por uma intervenção próxima e frequente com a comunidade do referido círculo eleitoral em que fora eleito, Ilha do Príncipe, ouvindo as pessoas, recolhendo testemunhos, promovendo reuniões e reflexões sobre temáticas diversas e, sobretudo, mobilizando contributos, decorrentes destes procedimentos, que culminariam, mais tarde para a emergência do modelo da atual arquitetura organizacional e administrativa do poder na região.
Nunca abdicou, contudo, durante estes anos, da sua atividade profissional na empresa HB, como membro da Direção do referido grupo empresarial privado, na capital do país, compatibilizando a sua actividade política com este propósito político, em prol da defesa dos interesses do Príncipe.
Tendo chegado a conclusão, decorrente da análise reflexiva constante, que, na Assembleia Nacional, contando somente com a ajuda dos partidos tradicionais do nosso país ou, em alternativa, com um movimento político novo, mas sem meios de intervenção política mais abrangentes e mobilizadores, seria difícil “SERVIR O PRÍNCIPE”.
Resolve, então, criar, com a ajuda de alguns amigos da ilha do Príncipe, a UMPP, “União para a Mudança e Progresso do Príncipe”, ciente que, a partir do interior da Ilha, contando com impulso endógeno da própria população, a tarefa em causa seria mais facilitada.
É assim que nasce a UMPP que contou com o apoio, desde a primeira hora, das gentes do Príncipe, cujo o contributo para Revitalização da Importância Príncipe” no contexto nacional é indisfarçável.
A história da UMPP tem, deste modo, muitas imbricações com a história do Tozé Cassandra.
Tendo sido presidente do Governo Regional, por inerência de funções que ocupou durante mais de uma década como presidente do referido movimento, Tozé Cassandra, marcou de forma indelével o percurso do Príncipe na última década, tendo contribuído, com a sua intensa capacidade política, de mobilização e espírito reformador, para concretização de objetivos políticos amplos que permitiram, entre outros:
- a emergência do atual Estatuto Político-Administrativo para a Região que veio contribuir para o aprofundamento da nossa democracia, no contexto nacional e regional, e, sobretudo, dotar o sistema político regional de estabilidade política, depois de sucessivas crises;
- melhorar o ambiente empresarial do contexto, atraindo investimentos estrangeiros, dinamizando a economia regional e fixar, com tal, a população, no contexto regional, contrariando a tendência que prevaleceu durante a década anterior, tendencialmente virada para a existência de fluxos migratórios de dentro para fora da ilha;
- desenvolvimento de um compromisso no contexto insular, contando com grande mobilização popular, tendo como suporte a temática da sustentabilidade, permitindo, deste modo, que a ilha do Príncipe fosse integrada na Rede Mundial das Reservas da Biosfera da UNESCO;
- projeção da imagem da ilha do ponto de vista internacional;
- formulação de políticas públicas para o sector Educativo e Cultural, estimulando a participação social neste âmbito, permitindo, desta forma, a realização de palestras, debates e reflexões no contexto regional e, com tal, mobilizando contributos que permitiram o desenvolvimento de vários projetos nas Escolas da região.
Estas cinco grandes realizações, com impacto transversal e múltiplo no contexto regional, contribuíram para mudar a vida de muitas crianças, jovens e adultos do Príncipe e acomodar Esperança onde havia desilusão, e sonho onde havia Frustração.
Tozé Cassandra foi o grande impulsionador desta obra inacabada que os outros continuarão, de certeza absoluta. E, como diria o grande orador Português, Padre António Vieira:
Para Falar ao Vento bastam Palavras, para Falar ao Coração são necessárias Obras!
Tozé Cassandra ficou nos nossos corações porque teve um efeito reformador no contexto regional e nacional como político.
Um bem haja por tudo, Tozé Cassandra!
Feito na ilha do Príncipe aos 29 de abril de 2023
Zeze
1 de Maio de 2023 at 0:06
Grande Santomense e Principiano!