Hoje, vou abordar o tema em epigrafe porque tenho constatado que em São Tomé e Príncipe tem-se debatido muito pouco esse tema importante da atualidade africana, numa altura em que houve há pouco tempo um golpe de estado no Níger, um pais da Africa ocidental. Tenho a impressão que nós os são-tomenses esquecemos que estamos inseridos em Africa e o que acontece no continente não tem nada a ver connosco. Estamos completamente enganados e acho que devemos mudar esse pensamento e estar mais atentos com determinados fenómenos geopolíticos e estratégicos da atualidade para não sermos surpreendidos.
Antes de mais é preciso dizer, para que fique claro que, essa destabilização em Africa só é possível com a cumplicidade de políticos e governantes fantoches e corruptos que foram colocados no poder através de eleições manipuladas, numa simulação de exercício democrático que de democracia não tem nada a ver. Essa é a forma como o Ocidente vê a legitimidade dos governantes africanos, quando lhes interessa.
Se dermos conta, a forma como os direitos e liberdades são exercidos na Europa duma maneira geral, num contexto democrático, não tem nada a ver como as mesmas democracias que nos foram impostas e que tem sido exercida em grande parte da Africa e apoiada pelas antigas potencias que colonizaram esses países.
Como a democracia não se limita apenas ao aspeto do direito político de votar, pergunto: por que razão esses países ocidentais defensores da democracia não se preocupam tanto com o aspeto económico e social da vida das populações africanas? A Africa não precisa só de presidentes da república legítimos, mas também de uma verdadeira justiça social para alimentar, educar e cuidar da saúde dos seus povos.
Conclui-se sem margem para duvidas que, o interesse dos mesmos não é uma verdadeira democracia como andam a nos enganar, mas sim, ter no poder personalidades que defendam os seus interesses, para lhes permitir o controlo político e económico desses países e nada mais, porque eles estão completamente insensíveis a miséria dos povos. Como não bastasse, instalaram também bases militares para amedrontar, garantir a sua segurança, dos seus empreendimentos e interesses. É o que tem estado a acontecer até a presenta data, situação que tem que acabar um dia.
Como sabemos, a Africa é um continente que dispõe de imensos recursos naturais inexistente em grande parte dos países ocidentais. Muito desses recursos são estratégicos e importantes para os sectores nevrálgicos das suas economias. São esses países, grande parte deles, ex-potências colonizadoras que exploram de forma exageradamente desigual tais recursos das suas antigas colonias, há mais de 60 anos.
Com a conquista da independência dos países africanos, depois da longa noite colonial, com todo cortejo de atrocidades, genocídio, humilhação, exploração dos nossos recursos humanos e económicos e adulteração da nossa cultura, as antigas potencias coloniais encontraram uma nova forma para continuar a explorar a Africa com a cumplicidade de alguns africanos.
Tal como aconteceu com a luta contra o colonialismo, desde a primeira hora, os povos africanos sempre repudiaram esse tipo de relação de subalternização, através dos seus dignos representantes. Como era de esperar e, devido o caracter neocolonial desses países, os mesmos nunca toleraram esses direitos dos povos pelo controlo absoluto dos seus recursos económicos. Foi assim que eliminaram fisicamente Patrice Lumumba, Kwame Nkrumah, Thomaz Sankara, Muamar Kadafi e outros, diretamente ou através de golpes de estados sangrentos financiados pelo ocidente, só porque legitimamente defendiam uma verdadeira independência para o continente africano.
Apesar da eliminação desses grandes líderes africanos, a chama da luta para uma verdadeira independência da Africa não apagou. Os acontecimentos nesses últimos tempos na Africa Ocidental espelham isso mesmo.
Depois dos golpes de estado no Burkina Faso, Guiné e Mali, surge agora o Níger que destituiu o presidente Mohamed Bazoun, um verdadeiro fantoche e servidor da França. Esse golpe de estado no Níger em particular, tem sido muito polémico devido as suas características e o apoio popular que tem acolhido. Para alem disso, verifica-se uma profunda contradição dos Países Ocidentais em geral e França em particular, pela forma como condenaram e reagiram ao golpe em relação aos casos semelhantes. Para o Ocidente, quando houve a eliminação dos líderes legítimos que referi atrás, não foram caracterizados de golpes de estado, só porque ´´cometeram o crime´´ de defender o controlo das riquezas da Africa.
Quase que não faz sentido referir na organização regional da Africa ocidental CEDEAO, porque da forma como esta organização tem gerido e reagido perante o golpe no Níger e outros, nota-se claramente que está ao serviço de França e de outras potencias ocidentais.
Como é possível uma organização regional pretender intervir militarmente no Níger, um dos seus membros, para defender interesses estrangeiros? Como é que se compreende que, durante toda a sua existência a CEDEAO nunca se preocupou em reclamar e protestar contra a exploração desenfreada pela França do urânio e outros recursos do Níger, de forma tão desvantajosa, atirando os seus povos para uma pobreza extrema, estando agora muito preocupada com a destituição do presidente Mohamed Bazoun? Que hipocrisia!
Se se concretizar a intervenção militar no Níger por parte da CEDEAO, certamente com apoio e financiamento da França, como tem vindo insistentemente a ameaçar, será um erro monumental que terá consequências e poderá destabilizar toda a região, até porque tanto Burkina Faso, Guiné e Mali já prometeram ir em defesa dos nigerinos. Nessa altura não se estranhe que esses países poderão contar com apoio de outras superpotências estrangeiras.
Essa dinâmica de verdadeira libertação de Africa que começou na Africa Ocidental, garanto-vos, que vai espalhar-se para toda a Africa. Nada será como dantes, com ou sem intervenção militar. Devemos enquadrar esse movimento na Africa ocidental na luta atual de um mundo que acaba e outro que começa tendo como palco a Ucrânia, mas que na verdade, trata-se duma guerra entre a Rússia e a NATO.
Como sabem, o Níger é o segundo país mais pobre do mundo, mas paradoxalmente é o país com importantes e valiosos recursos naturais para além da sua posição geoestratégica. Assim, por quê tanta insensibilidade da França que explora o seu urânio essencial para por em funcionamento a sua central nuclear de produção de energia e não se preocupa com a pobreza extrema da população?
A Africa já não suporta tremenda injustiça que deixa as suas populações na extrema miséria. A Africa não precisa de donativos e nem de mendigar. Quer apenas ter o controlo das suas riquezas e poder ter uma relação económica de igual para igual com todos os países com os quais tem cooperação, sejam eles quais forem.
A Africa precisa de governantes honestos que defendam os interesses dos seus povos e não interesses alheios.
E por último e, porque há uma tentativa de transferir guerras alheia para o nosso continente, saibam que a Africa também já não precisa de guerras. Quer sim, paz para desenvolver os seus países, alimentando, formando e cuidando da saúde das suas populações.
Tenho dito!
São Tomé, 21 de Agosto de 2023
Fernando Simão
Leonel Batista de Sousa
22 de Agosto de 2023 at 15:01
Subscrevo na íntegra as suas reflexões. Estamos envoltos em hipocrisias.
Jose silva
22 de Agosto de 2023 at 19:36
Acho que esta completamênte correcto mas! A culpa è vossa por tudo que acontèce na Africa simplismente trabalhem como todos na Europa!!!
Jose silva
22 de Agosto de 2023 at 19:36
Acho que esta completamênte correcto mas! A culpa è vossa por tudo que acontèce na Africa simplismente trabalhem como todos na Europa!!!
Xigwai Faife
23 de Agosto de 2023 at 20:55
Deixemos o Ocidente em paz, organizemo-nos como pessoas, pois procuramos independências porque estávamos convictos que éramos. Quando é que terminaremos de lamentar sobre o Ocidente? Qual é sua sugestão aqui, é pautarmos pelo governos autoritários. Se a nossa democracia é deficiente é por nossa culpa, não é dos outros. Vamos aprimorar, só isso. Paremos de discutir o Ocidente e passarmos a sermos nós mesmo como tema de discussão.
Não vamos falar de que os outros nos sujam enquanto somos porcos, e é a porcalha que nos identifica. Fiquemos limpos para melhor identificar e combater quem nos suja. Não é por acaso que se atira lixo no seu quintal, algo em si está a falhar.
Renato Cardoso
22 de Agosto de 2023 at 20:09
O articulista escreveu com o coração e apesar de importante a sua narrativa deveria também fazer o exercício com a mente;já que nem todas às misérias e a pobreza sintomática ou o atraso social e económico e financeiro podem ser imputados aos colonizadores!
O exemplo de Bothusuana é revelador e podia ser replicado noutros países do continente Africano !
Angola apesar de tantas riquezas naturais e outras potencialidades não é capaz de produzir bens alimentares básicos para alimentar as suas gentes. Em contraposição Cabo Verde sem recursos naturais tem melhores resultados.
Por outro lado apesar de haver recursos robustos não existe tecnologia e o saber fazer para os capitalizar em benefício das suas populações.
Paradoxalmente São Tomé e Príncipe tendo o melhor cacau é incapaz de produzir o chocolate e potenciar outras estruturas básicas;nomeadamente de natureza agro industrial parar transformação dos produtos e outros derivados para criar empregos para os adultos e jovens e dignificar a vida das gentes!
Em resumo às escolhas devem partir das próprias gentes e dos seus políticos ao invés de os transferir para os outros e os culpabilizar das nossas incapacidades e mediocridades!
Respeitando primeiro a nós que os outros vão ter que aprender a respeitar-nos!
E finalmente recordar que o Presidente Kadhafi quando enfrentava a ira dos Estados Unidos da América,da França e outros até à sua morte;a União Africana e os demais Estados Africanos assobiavam para o lado.
Pasme-se o pequeno ditador das Ilhas na altura primeiro ministro comentou publicamente que Kadhafi merecia pagar pelo que havia feito ao seu povo!
Este mesmo tipo pode ser visto passeando numa viatura em companhia do Bongo filho em Tripoli!
Saúdo o ex Presidente do Senegal Wade que foi o único que ofereceu asilo político ao Presidente Kadhafi sem mesmo ter recebido as caixas de dinheiros que o assassinado enviou a tantos presidentes africanos incluindo o das Ilhas de São Tomé e Príncipe!
Mas não digo neste mundo de hipocrisia tudo pode acontecer.
Gentino Plama
22 de Agosto de 2023 at 21:46
A cultura Europeu nos fora imposta desde as primeiras horas da colonização até os dias da Independência. Naquela altura, até a data da liberdade, gerações, tantas gerações sucederam as atual geração. O Homem são-tomense nos tempos idos, exibiam o tal costume que o diferenciava de outros homens; isto é: a cultura imposta serviu do elemento que caracterizava o sao-tomense como sendo o Europeu. O colono planeou e ordenou as praças e ruas. Colocou algumas estátuas nalguns pontos de maior visibilidade, assim como teve a preocupação de se criar zonas verdes, para além do espaço agrícola. A área de produção agrícola era milimétricamente controlada devido a riqueza do solo, o qual todos sabemos, que era fértil. Porém, o modo de ser africano, nunca tinha a ver com o homem sao-tomense, tanto é que, não havia qualquer contacto entre as ilhas e o continente em que está inserido. Nos dias de hoje, aquela boa prática que foram incutidas na sociedade, simplesmente deixaram de existir, fazendo valer aquilo que já se sabia ” o mau costume “. A inversão das lições de casa, e consequentemente, a repercussão em toda a sociedade, tem feito do homem sao-tomense um ser tipicamente africana.
Há quem diga que, “ A sua liberdade termina, aonde começa a liberdade do outro”, isso quero dizer, que o seu radio deve estar no volume mínimo, isso porque, o seu vizinho também possui, e quererá ouvir outra música que lhe agrada.
O sentido de insegurança é apercebido devido aos gradeamentos em ferro que se encontram em quase todas as portas e as janelas das casas. A miséria, a fome, a imundície tomou conta de tudo, e assim vai o País.
Aurobindo Xavier
23 de Agosto de 2023 at 10:41
Acho o artigo do Sr Fernando Simão interessante e a sua lógica muito inteligente. Gostaria de parabenizar o Téla Nón porque demonstra o elevado nível inteletual e informativo do seu Diário Digital. Parabéns São Tomé e Príncipe desde Goa, Índia (Colónia Portuguesa na Índia de 1510 até 1961). Cumprimentos cordiais, disponham sempre e um grande abraço fraterno, Aurobindo Xavier responsável pela Sociedade Lusófona de Goa https://lusophonegoa.org/pt/
Alcindo Amado
23 de Agosto de 2023 at 12:54
Verdades nuas e cruas. A África precisa acordar quanto antes.
Carlos Maulate
23 de Agosto de 2023 at 17:37
Muita propaganda pro-China e Rússia…
A China já destruiu florestas africanas, agora nem sequer se importa pelo período de veda, tira tudo do mar…hoje apontamos o dedo ao ocidente como culpados do nosso fracasso,mas estamos enganados, porque somos liderados por bandos de corruptos sem vergonha que usam seus países como garantia para obter dinheiro da China.
Os caras sem vergonha já comeram o suficiente do ocidente e hoje com bandeja servida da China, vem limpar a sujeira!
Estamos de olhos!
Daude jiva
24 de Agosto de 2023 at 4:56
Nota se claramente que a África continua dividida.
Neste momento temos alguns países que já disseram e querem uma nova África e doutro lado temos outros países que preferem continuarem com o sofrimento dos africanos .
No caso do Níger já vejo razões para uma intervenção militar porque até o povo local apoia o golpe.
Seidu Keita
24 de Agosto de 2023 at 17:05
O problema de São Tomé e Príncipe não vem do Ocidente, é um problema interno. Há falta de igualdade entre homens e mulheres, o lixo não é recolhido e ainda há muitas casas sem água corrente, casas de banho e eletricidade, o que provoca doenças. Por outro lado, os únicos produtos produzidos no país são a água, a cerveja e o óleo de palma. Como é que um país sem indústria transformadora e dependente do comércio externo pretende desenvolver-se? Para não falar do problema energético, da dependência total do comércio externo e da ausência de investimentos/medidas alternativas. Quase 90% dos investimentos de São Tomé e Príncipe são feitos com dinheiro do Ocidente, acredita mesmo que o problema é o Ocidente ou há algo de errado com São Tomé e Príncipe? O que aconteceria se esses 90% dos orçamentos vindos do estrangeiro deixassem de vir? Como é que STP vai resolver isso?
VAI TU
24 de Agosto de 2023 at 21:22
No dia, que me insurgi, contra o meu Pai, ele disse:
És maior assume a responsabilidade da tua vida. Não voltes como dependente.
Jeremias Monteiro
25 de Agosto de 2023 at 9:07
Excelente Abordagem mas infelizmente é o passa na
África
Pedro rocha
27 de Agosto de 2023 at 12:21
Uma lufada de ar fresco. Num meio em que imperam comentadores de meia tigela, neste artigo impera a análise e comentários assertivo, coisa rara nos dias de hoje. Parabéns ao articulista.
SEMPRE AMIGO
3 de Novembro de 2023 at 17:53
FERNANDO SIMÃO,
Bom dia, boa tarde ou boa noite! Em primeiro lugar gostaria de-lo pela sua sempre manifestada coragem, uma virtude escassa no nosso querido STP. Em segundo lugar, pela clareza e profundidade das suas múltiplas análises já publicadas no nosso TELA NON. Acabo de ler a sua ultima publicação. Num dos parágrafos diz, que a democracia nos foi imposta do exterior, não se teve em consideração as condições objectivas e subjectivas prevalecentes nos nossos países, resultantes de cinco séculos de escravatura. A democracia na Europa, não caiu de paraquedas. Resultou de uma longa evolução. O sistema democrático imposto aos países do terceiro mundo, sobretudo aos países outrora colonizados, tem como principal objectivo, mante-los sob o controlo das potencias dominantes dependentes das indispensáveis matérias primas e dos mercados desses países.