Política

Historiadores repõem a verdade história sobre o massacre de 1953

O núcleo de profissionais de história de São Tomé e Príncipe, que está a trabalhar num projecto conjunto com os colegas de Angola. Moçambique, Guiné Bissau e Cabo Verde sobre a história dos movimentos de libertação dos países africanos de língua portuguesa quebrou o silêncio após ouvir as declarações do Presidente da República Carlos Vila Nova no acto central da celebração do 71º aniversário do massacre de 1953.

Presidente da República Carlos Vila Nova – Declarações no acto central do 71º aniversário do massacre de 1953

«Gostaria de apelar a todos de que tudo que começa com intrigas e mentiras acaba mal. O 3 de Fevereiro desencadeou um bocado extemporaneamente por causa de intrigas e mentiras ….Porque o objectivo do governador de então não era este. Tanto é que ele foi reconduzido para mais um mandato, através de um abaixo-assinado de mais de 2 mil naturais de São Tomé. Quer dizer que o seu percurso não foi exactamente este, mas terminou tristemente», declaração do Presidente da República e Chefe de Estado no dia 3 de Fevereiro de 2024.

O Téla Nón apurou que tais declarações do Presidente Carlos Vila Nova difundidas nos órgãos de comunicação social internacionais ecoaram em Maputo, Luanda, Bissau e Praia.

O núcleo de historiadores de cada um desses países africanos, que está a trabalhar em conjunto com os colegas de São Tomé e Príncipe, ficou surpreendido com as declarações do Chefe de Estado de São Tomé e Príncipe.

Nazaré Ceita

Nazaré Ceita, membro do núcleo de profissionais de história de São Tomé e Príncipe anunciou a quebra do silêncio. «Não poderíamos ficar sem dizer nada à volta dos acontecimentos de 1953, que aliás será um capítulo importante do nosso trabalho».

O núcleo de historiadores nacionais que está a trabalhar em sincronia com os colegas dos PALOP, avisou que a história «é uma ciência que tem regras, e quando se belisca a história de forma informal, então nós os profissionais sentimos muito mal», reforçou Nazaré Ceita.

Carlos Neves

A palavra foi passada a Carlos Neves, outro membro do núcleo. «Ouvimos recentemente na imprensa questionar-se um pouco sobre a intencionalidade do acto de 1953. Isso para nós é algo grave…Porque 1953 foi apenas um marco de uma evolução que tinha começado séculos antes. Porque a natureza do regime colonial encerra em si o ADN da repressão», referiu o historiador santomense.

Carlos Neves em nome dos outros colegas contou a história da grande luta desencadeada pelo poder colonial em São Tomé e Príncipe para a garantia de mão-de-obra, para as roças e também para as obras públicas.

«A partir dos anos 30 do século XX os portugueses começaram a ter dificuldade de obter mão-de-obra. De Moçambique e Angola era mais difícil conseguir contratados para trabalhar em São Tomé e Príncipe, porque nestes países também estava em curso um projecto de desenvolvimento económico. Cabo Verde tinha uma situação de seca, por isso foi lá que se arranjou mãos de obra», explicou.

A crise de mão de obra complicou-se a partir da década de 40 do século XX porque segundo os historiadores, Portugal começou a exigir às colónias a implementação do Plano de Fomento. Um plano de desenvolvimento infra-estrutural das cinco colónias africanas.

«Necessitava de mais mão-de-obra, para as obras de construção que constituem hoje a cidade de São Tomé. As casas da marginal, o cinema Marcelo da Veiga (antes Cinema Império) etc, isto para além da mão-de-obra necessária para as roças», relatou Carlos Neves.

Segundo os historiadores santomenses o governador Carlos Gorgulho «não tinha como resolver isso. A única forma de resolver isso era levar os nativos são-tomenses ao trabalho nas roças. E os forros eram avessos ao trabalho nas roças. Gorgulho começou então a reprimir as pessoas. Começou com a imposição dos impostos. Todos os que não provavam ter pago os impostos eram presos», precisou.

A situação complicou-se quando o governador Gorgulho se apercebeu que os são-tomenses sobretudo a classe intelectual que estava em Portugal tinha tendências independentistas. Segundo o núcleo dos historiadores, o governador colonial decidiu então inventar a ideia de que os são-tomenses no país, «estavam em ligações com os santomenses na diáspora com vista a preparação de um movimento independentista».

As rusgas aumentaram, prisões dos nativos passaram a ser quotidianos e o clima de tensão estava no auge em Janeiro de 1953.

Prova segundo os historiadores da intencionalidade do Governador Carlos Gorgulho em reprimir os nativos, foi a forma célere como mobilizou os brancos e distribuiu armas para reprimir os são-tomenses.

«Prisões arbitrárias, matou pessoas em câmaras de gás. Fechou pessoas em contentores até morrerem por falta de ar. Mandou alguns para a ilha do Príncipe, porque todos pertenciam a um movimento independentista. O acto de 1953 é intencional, não foi fortuitamente. Todas as fontes mostram que havia um plano para reprimir a população», frisou Carlos Neves.

O núcleo de historiadores de São Tomé e Príncipe que está a trabalhar no projecto dos PALOP, respondeu directamente às declarações do Presidente da República que disse serem mentiras e intrigas as causas do desencadeamento do massacre.

«Não tem qualquer sentido falar de mentiras e intrigas como se não tivesse havido uma intenção do poder colonial. Tanto mais que pela forma repressiva e pronta como ele (Gorgulho) dominou a dita revolta dos são-tomenses, ele foi condecorado em Portugal. Não é como se fosse um problema entre nativos que tivesse levado o governador Gorgulho a agir dessa forma», pontuou Carlos Neves.

O Núcleo de historiados interpretou as declarações do Chefe de Estado como sendo «Um acto acto de desconhecimento da história do país».  

Os núcleos de historiadores dos outros países africanos de língua portuguesa reagiram com surpresa às declarações de Carlos Vila Nova, porque afinal de contas o massacre de 1953 em São Tomé e Príncipe marcou e determinou as outras acções repressivas nas colónias ultramarinas de Portugal. «O Massacre de 1953 marcou o que veio a acontecer nas outras colónias portuguesas. Depois houve o massacre de Pindjiguiti na Guiné-Bissau em 1959», acrescentou.

A verdade histórica e os valores identitários de São Tomé e Príncipe estão em perigo. «Está a faltar um processo de informação, de investigação sobre aquilo que foi o nosso passado, e aí temos que nos penitenciar, sobretudo os poderes públicos que nada têm feito para a história de São Tomé e Príncipe», precisou Carlos Neves.

O núcleo de historiadores deu o exemplo do projecto dos PALOP que está a realizar o estudo sobre os movimentos libertação. «Foi uma decisão dos chefes de Estado dos PALOP. Mas não temos qualquer apoio do Estado são-tomense», denunciou o porta-voz dos historiadores.

Segundo o núcleo de historiadores santomenses, o governo de Angola é que tem dado algum apoio ao núcleo de São Tomé.

«Nós não valorizamos a nossa história. Tudo está a ser banalizado pelos poderes públicos», concluiu Carlos Neves.

Abel Veiga   

5 Comments

5 Comments

  1. Sem assunto

    15 de Fevereiro de 2024 at 11:15

    Não mais! Desde logo fui um dos primeiros cá no fórum a questionar e repudiar veementemente o erro histórico do Carlos Vila Nova, por sinal Presidente da República. É vergonhoso tudo isto para o nosso país, pois demonstra de que o mais alto magistrado da nação é um desconhecedor profundo da história do país que o mesmo representa. O pior de tudo foi ver a sua atitude e postura quando o fazia, sinal claro de que não só não sabe nada da cultura e identidade deste povo como também não está interessado em saber, por vaidade e arrogância pretende e prefere manter se na ignorância. Santa Paciência!
    Os nossos historiadores têm uma dose de culpa no cartório, pois não basta somente saberem a história é necessário leva lá ,e com com qualidade, para as escolas, comunicação social, a todos os cantos, e sempre que necessário inspeccionar a sua real assimilação.
    Um teste de cultura geral sobre São Tomé e Príncipe e o continente Africano toda a classe dirigente deste país reprova, quanto a isto não tenho dúvidas.

  2. Santomense Carpinteiro em Dubai

    15 de Fevereiro de 2024 at 16:42

    Carlos Neves era do MLSTP.
    Já sabemos sobre o Vila Nova, a cassete é velha, as músicas já escutamos. Para este, um só mandato é suficiente. O povo tem de procurar outra pessoa para ser Presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe.
    MLSTP é um partido político sem futuro porque roubaram São Tomé e Príncipe demasiadamente. Isto não se faz, e o povo sabe disto porque uma das causas do sofrimento dos Santamarenses tem origem desses roubos que MLSTP fez contra nação. Vocês não têm notado que muitos membros do MLSTP agora querem ser do ADI? Porquê? Por exemplo, o Pinto, Gabdulo, Sr. Assunto, e mais outros membros do MLSTP, Margarida Mãe Joana, todos querem se associar com o ADI! Eu é que não vou-me associar com nenhum partido político que governou STP porque quase todos os membros da direção desses partidos políticos corruptos. Roubaram o povo, e destruíram a economia do país. E, por atrevimento não querem assumir a desordem, anarquia, e pobreza que hoje reina na terra.

    • Juvenal da Graça Varela

      16 de Fevereiro de 2024 at 10:03

      Ô moço desvairado, você está a atacar a Margarida Lopes simplesmente porque ela tem atacado a máfia de ADI, quer dizer aquele bando de desgraçado onde o seu irmão é mestre no domínio do cambalacho e organizações maquiavélicas, agora você que é covarde,disfarça em crítico contra o regime totalitário e ditador que lhe dá vantagens…isto tudo são os seus truques para ser publicado. A Margarida Lopes vai te matar só com palavras dela de verdade e se tu és homem com c***ões ias responder e combater os comentários dela e não insultá-la, caluniá-la,mas você é fraco é por isso é que inventa só mentiras. As pessoas sabem ler e têm lido os comentários daquela que lhe tira o sono e já deram conta que você é mentiroso e que está desesperado ,porque sabe que Margarida não brinca.
      O Abel Veiga que você criticava e dizia ser Pau mandado do MLSTP hoje é no espaço dele que você vem mostrar o seu ódio, usando as suas falsas identidades. Bandido, continua só,apesar de estarmos ocupados com a quaresma mas vamos indo confrotando os seus comentários….

  3. SEMPRE AMIGO

    15 de Fevereiro de 2024 at 16:44

    Senhor(a)SEM ASSUNTO!Assino em baixo.

  4. Renato Cardoso

    16 de Fevereiro de 2024 at 13:05

    A emenda igual ou pior que o soneto!
    Historiadores que devem passar a vida à procura de subserviência do dito cujo presidente que é outro sem bagagem para desempenhar sua função!
    Devem todos ir dar o banho ao cão e talvez daqui há 220 anos haver gente de raça capaz de valorizar às ilhas!

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