Opinião

«Preto está a querer matar-me! Eu levei confiança em branco (Pedro Varandas)»

O Estado são-tomense, através de mais altas figuras e na primeira fila – o presidente da república e primeira-dama (inexplicável, o chefe do executivo aparece entre a esposa e o marido); o vice-presidente da Assembleia Nacional; o presidente do Tribunal Constitucional; o presidente do Supremo Tribunal e o primeiro-ministro – esteve bem representado na cerimónia religiosa do último domingo, dia 17 de Março, cuja para a memória histórica, após mais de cinco séculos de cristianismo nas ilhas, fica a devoção à pessoa do filho de Deus, João de Nazaré, ordenado sacerdote em 2006, menos de vinte anos de missão apostólica, o primeiro são-tomense nomeado ao alto cargo de líder e imagem do Vaticano, em São Tomé e Príncipe.

Bastante novo, meio século de vida, o filho de Batepá – localidade de registo do hediondo Massacre de 1953 – que até recente, era vigário-geral da diocese e pároco da Sé Catedral de São Tomé, pelas suas palavras prometeu ser: «bispo para todo o povo de Deus de São Tomé e Príncipe, procurarei ir à frente como pastor, apontando o caminho, indicando o caminho no Espírito Santo, na força do Espírito Santo, com a força do Espírito Santo, na presença do Espírito Santo».

Um povo que se juntou, em apoteose, imbuído na bênção da igreja católica para alimentar-se da fé introduzida nas ilhas pelas caravelas portuguesas, não lhe faltou escuridão e pecado no semblante dos mais altos representantes do Estado, se tivermos em atenção à orfandade de um outro filho de Deus, Bruno Afonso, o Lucas, massacrado pelos militares e injustiçado pelo coletivo de magistrados, dirigindo-se uns dias antes, ao 1º ministro são-tomense que pelo interesse acrescido à memória coletiva, vale em bom tom prosseguir na partilha dos pormenores da sua entrevista.

«Depois veio o grupo de portugueses. Quando começou a fazer escritura, a fazer toda coisa, eu falei o Pedro Varandas (Inspetor da Polícia Judiciária portuguesa, enviado por Portugal, de relâmpago, numa equipa de investigadores e médica forense para apoiar as autoridades são-tomenses na investigação do contrabando de Estado). Eu falei com “sô” Pedro Varandas, joguei confiança no português, porque, ah pá!

Preto está a querer matar-me! Então, eu levei confiança em branco para dizer. (Maldita hora!)

Oh! Eu comecei a contar ele, história. Tudo que aconteceu. Ele disse pá mim: “Eu sei que tudo que vocês estão a passar, vocês foram preparados pá até morte.”»

No quadro da cooperação com publicidade de livre pensamento e Direitos Humanos, os estados recentes socorrem-se de ajuda bilateral dos mais bem consolidados no panorama internacional, como tem sido socorro de Portugal, país hoje em suspense, aguardando pelos votos de emigrantes, mais de trezentos mil eleitores do Círculo da Europa e fora dela, em contagem desde última 2ª feira para os expetantes e doirados quatro mandatos (deputados) decidirem sorte ao 1º ministro, do PSD, Montenegro ou ao Nuno Santos, do PS para desbloquear a trapalhada de Belém.

No contexto democrático, nenhum deles, confiante na promessa eleitoral, dispõe de oxigenação suficiente para satisfazer os cálculos errados do presidente Marcelo. Perante o país ingovernável, tudo indica que nos tempos imediatos, aos eleitores, resta o regresso ao novo escrutínio para descarregar de vez, ou não, o sentimento anti-imigração económica que pelo envelhecimento da população e fuga de mão-de-obra, tem sido a tábua de salvação da economia e o sustento privilegiado da Segurança Social portuguesa. Mas continuemos com o sacrifício de Lucas.

«Eu disse senhor (inspetor português). Eu fui preparado como é, senhor? Eu sou lavrador de terra. Eu vivo de outro trabalho. Eu fui apanhado para ser morto. Senhor sabe? Quando eu comecei a contar. Minha gente! (Mãos na cabeça).

Quando eu toquei no assunto de Elísio Teixeira, Pedro Varandas queria dar-me chapada.»

Portugal, a história é clara, acumula uma pesada herança para com os povos africanos que apenas o tempo se encarrega de sarar feridas de cinco séculos de nobre História imperial, pelo que a barbaridade de 25 de novembro de 2022, o Massacre de Morro, em São Tomé, muito mal esclarecida pela instância judicial, ou melhor, manipulada de forma descarada pelo XVIII Governo da República, não deveria constar de mais um débito português, indecente, com o governo do 1º ministro António Costa, após a brutalidade militar, a tudo diligenciar para apagar as provas da chacina humana, permitindo sair ileso o homólogo são-tomense.

«Homem (Pedro Varandas) agiu comigo dentro de PIC (Polícia Judiciária) que eu, nem minha mãe, agia comigo dessa forma. Quer dizer… Eu preferia estar no quartel para tomar outra surra. Maneira que homem agiu comigo. Quando eu falei de Elísio Teixeira e quando eu falei de Bala. Eles eram três que estavam na sala e disseram: “Como gente vai fazer isso agora? Como nós vamos escrever isso?

Eu toquei nesse assunto na sala de julgamento, juiz Teixeira disse que: “Isso, não pode ser falado” lá. Eu sei que lá tinha pessoa na sala de julgamento, ouviu isso e tem tomado isso como nota, quando eu queria falar. Ele disse: “Eu não posso falar isso!” Quando eu tentei insistir, eu tentei insistir que Bala, Elísio Teixeira, senhor (juiz Edmar Teixeira) disse: “Vai ser falado no julgamento militar”.»

Vale recordar que o chefe do Estado português, o professor Marcelo, constitucionalista e comunicador afável, com o “ataque cibernético” à maioria absoluta socialista como fôlego à direita portuguesa, anteriormente, em 2022, não esteve bem quando recebeu o atual primeiro-ministro são-tomense e pior, até então, não tossiu aos constantes atropelos aos princípios democráticos, em São Tomé e Príncipe. Daí, nunca é demais a diplomacia portuguesa nas ilhas, representada hoje por uma mulher, Cristina Moniz – sente dores – desse ouvidos ao sentimento de injustiça e negação de tratamento médico ao único sobrevivente da hedionda tragédia que sem explicação convincente, as chefias castrenses assassinaram quatro civis na parada militar.

«Se eu sou civil, Bala e Elísio Teixeira, são quê? Isso é pergunta para nós todos. Onde vocês estão, vocês que são são-tomenses, a assistir. Isso é pergunta para nós todos. Se gente está a julgar civil, eu sou civil, Elísio Teixeira e Bala, são quê?»

As provas dos factos, ignoradas pela justiça em clara violação dos Direitos Humanos e Convenções Internacionais, não devem ser produto de falta de condições de trabalho, mãos técnicas e humanas, reclamadas pelo presidente do Supremo Tribunal, Silva Cravid; formação e protocolos assinados com o ministério da Educação para travar violência e violação sexual contra crianças, na ovação do procurador-geral da República; enquanto muito já se fez pela justiça no país, nas palavras da ministra da Justiça, Ilza Amado Vaz; nem pela rasurada cassete do presidente da República, Carlos Vila Nova, nas intervenções centrais na recente cerimónia da abertura do novo ano judicial.

«Mesma forma que os pais deles, precisam deles, os filhos deles precisam deles, os irmãos, os primos, é a mesma forma também que minha família, também precisa de mim. Como eles têm mulheres e filhos, eu também tenho mulher e filhos. Por causa deles, eu já não tenho lar!»

O 1º ministro, muçulmano, que esteve na cerimónia religiosa de Santa Sé para São Tomé, apenas «ver e não crer» assistiu as palmas da multidão, segundo os presentes, a ser oferecidas ao líder da oposição, Jorge Bom Jesus – político que o chefe do executivo não cansa de pedir cabeça aos militantes do MLSTP – aquando de abraço ao Bispo João de Nazaré, deve retirar ensinamentos que aos são-tomenses, em consciência, não basta libertar o país da escuridão, através do investimento elétrico privado turco, sem que o princípio democrático e o respeito à vida humana, sejam uma realidade. É necessário um julgamento honesto, sem maquiavélica interferência do XVIII Governo constitucional na esfera judicial para o cabal esclarecimento da sangrenta nódoa de 25 de novembro de 2022. Ora, a cruz carregada por Lucas não cabe em poucas palavras.

«Quando chegou dia que gente (Tribunal) marcou Elísio Teixeira e Bala para irem, Elísio foi, porque Elísio foi ministro de Defesa… de Justiça. Ele sabe como defender. Bala não sabe como defender à justiça. Fugiu!

Fugiu no domingo, veio na terça-feira… Quarta-feira. Julgamento já foi passado. Porquê, eu sou pequeno, né? Eu quero perguntar Elísio Teixeira (jurista, antigo ministro da Justiça, conselheiro, dirigente político galardoado no início do mês, pelo líder do partido e 1º ministro e, aclamado pelo Conselho Nacional, Secretário-Geral de ADI) e Bala. O quê deles que eu mexi, o quê deles que eu roubei, o quê deles que eu tomei. Fazem-me saber, eu dou de volta para deixarem-me em paz.»

José Maria Cardoso

19.03.2024

1 Comment

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  1. São Tomé Estado Violento

    21 de Março de 2024 at 21:08

    Em qualquer raça existem boas pessoas e pessoas que não prestam, pessoas má, de mau índole.

    Refere-se ao preto como cor, nome, raça, adjetivo ou fantoches? Pessoas que se vendem um por algumas meadas? Os terroristas ou mercenário. O maior culpado é aquele ou aqueles que enganam os pretos para trairem os seus irmãos. O preto fraco e sem consciência na defesa da pátria é que se vendem.
    Todos não somos assim!
    Falta de autoestima e amor a sua própria cor, uma das consequências é essa atitude de mentalidade atrasada.
    Nós todos pretos ou negros não somos iguais!
    Existem pessoas com firmeza e convicção.
    Ser preto ou negro não significa ser inferior.
    A mesma capacidade que alguns Broncos ou outros de qualquer raça tem, também temos.
    É preciso valorizar o que é nosso.

    Todos negros não são maus. Alguns prestam, outros não.

    A pergunta que se coloca é: Porquê o “preto” com conotação negativa? Quais são os motivos por detrás do comportamento desencaminhado?
    Quem é o maior culpado?
    Sim. Temos todos de assumir responsabilidade pelos nossos atos.
    Si preto para si significa o pior que existe, então os Brancos, Europeus, Os Fantoches, Africanos de maus caráter, Patrice, Original, Sem Assunto, Posser, Rafael, André, Varela, portuguesas brancos racistas, etc., estes são mais pretos do que preto! Já pensaste e analisaste nisto?

    Há pessoas que fazem qualquer coisa por dinheiro. A prostituição é um exemplo. Os mercenários, etc. Porquê que fazem isso?
    Vícios, prazer, ignorância, solidão, falta de autoestima, falta de moralidade e ausência de uma boa educação caseira e disciplina. Tudo isso tem causado muitos danos em nós, psicologicamente. Sociedade em geral tem problemas. Quem os causa?
    Se Patrice, ou um qualquer outro fã tache ou um pula pagar alguém para fazer mal, porque razão excluir os outros que fazer parte da equação.

    Não temos informação, ofendemos, somos ignorantes e falamos e escoremos atoa.
    Triste.

    Temos que fazer distinção entre as pessoas e não desprezar toda gente que faz parte da mesma raça. Acho ser mal.

    A ignorância é o maior algo ruin que vitimiza muita gente como um tiro que sai pela culatra.
    Não se justifica: É um cado para reflexão.

    Vamos crescendo. Cometendo is erros. Vamos aprendendo.

    Mudar de mentalidade!

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