BRICS, é uma sigla que identifica 5 países do sul global, nomeadamente, Brasil, Rússia, Índia, China e a África do Sul. O grupo alargou-se com a entrada de mais 5 países do sul global. Egito, Etiópia do continente africano, e a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e o Irão do médio oriente.
O Ministro das relações exteriores do Brasil, Mauro Vieira disse recentemente que outros 30 países manifestaram interesse em se juntar ao grupo que tem como único objectivo a cooperação económica.
Em alusão à próxima cimeira dos BRICS de 22 a 24 de outubro em Kazan-Rússia, dois principais grupos de comunicação social da China, nomeadamente a CGTN e a CMG organizaram um Fórum de Think Tanks sobre a promoção do desenvolvimento para um futuro compartilhado no sul global.
A reforma da governação mundial, é um dos propósitos dos BRICS, que defendem e trabalham para criar um mundo multipolar onde o desenvolvimento económico e social seja promovido na base do diálogo, da concertação, da partilha das oportunidades e de forma inclusiva.
Os BRICS e o sul global contestam a governação mundial unipolar, em que o sistema económico e de desenvolvimento resulta da imposição aos países menos desenvolvidos de normas consideradas desiguais e até mesmo injustas.
Yoro Dialo, director executivo do centro dos estudos francófonos e do museu africano na China, foi um dos intelectuais africanos que interveio no Fórum de Beijing.
«O sul global tem de entender que sem a união vai ser difícil atingir o sucesso. Pois estamos num mundo de competição criado pelos países ocidentais. Eles dominaram e colonizaram os países do Sul. A independência e a soberania que os países do sul acabaram por conquistar não lhes agrada» referiu o Think Tanks africano.
Natural do Mali, Yoro Dialo deu um exemplo. «Se você tem um escravo, que faz tudo o que você quer, e te dá riquezas, e de repente este escravo fica independente, essa independência vai te empobrecer», frisou.
Jornalistas de 98 países da África, da América Latina, do Médio Oriente, da Ásia e da Europa de Leste participaram na quarta-feira 16 de outubro, no Fórum organizado pelos principais órgãos de comunicação social da China.
Segurança e paz, foi um dos temas do debate. Um jornalista do Líbano, interpelou os intelectuais do sul global, sobre o massacre que está a ocorrer nos últimos dias no seu país. Quis saber que acções o sul global pode desencadear para levar paz e segurança ao médio oriente.
Por unanimidade, os intelectuais do sul global condenaram a agressão militar que o mundo assiste no Líbano. O africano Yoro Dialo realçou mais uma vez a importância da União. «Os países ocidentais pensam que a razão do mais forte e mais rico, é sempre a melhor razão. Por isso, é que apelamos à união dos países do sul. Uma união económica, política e também intelectual, é esse o papel dos Think Tanks», pontuou.
África também está a ser dilacerada por conflitos armados intermináveis. A República Democrática do Congo, foi citada como um dos casos em que a abundância de recursos naturais eterniza o conflito armado alimentado por interesses externos.
«Perguntamos de onde vêm essas armas? Pois não há nenhum país africano que seja produtor de armas de guerra. Quem forma essas gentes que nos desestabilizam? Quem os financia? A resposta para essas questões subentende-se, são os países do ocidente. São os países que se dizem desenvolvidos e que querem governar o mundo à sua maneira, que querem impor o seu sistema de governação ao mundo, por isso a desestabilização dos países africanos», concluiu o intelectual africano Yoro Dialo.
O movimento do sul global cresce e busca abrir caminhos de paz, segurança e desenvolvimento partilhado para o mundo. No Fórum de Beijing o Brasil foi considerado pela China como um dos mais importantes parceiros do sul global.
Larissa Wachholz quadro Sénior do Centro brasileiro de relações internacionais indicou o desenvolvimento económico do sul global como a principal prioridade do Brasil. O país da América Latina lidera actualmente o G-20, o grupo das 20 maiores economias do mundo, e a eliminação da fome está no centro das atenções.
«Na presidência do G-20 Brasil colocou a questão da fome na agenda. O Brasil pode exercer um papel de liderança na coordenação do combate à fome, através do desenvolvimento económico», afirmou a diplomata brasileira.
África está no foco da política externa do Brasil. À semelhança da China, o Brasil aposta na transferência de conhecimentos e de investimentos para galvanizar o crescimento económico do continente africano.
«Isto é impulsionar a competitividade de cada país, e ajudar os países através da organização dos sistemas de produção alimentar, e de pesquisa tecnológica na área agrícola. Ajudar os países que sofrem de problemas semelhantes que o Brasil já teve no passado, a encontrarem o seu caminho de desenvolvimento e de prosperidade económica», reforçou Larissa Wachholz.
Segundo a diplomata brasileira, cada vez mais os agricultores e produtores brasileiros manifestam interesse em levar conhecimento e empreendedorismo agrícola aos países africanos. «Acho que é demonstração de tratamento igual entre pares», sublinhou.
A estratégia de desenvolvimento para o sul global dá atenção especial à segurança. O Brasil, que já coopera com São Tomé e Príncipe na segurança marítima no atlântico sul, diz que depende do comércio internacional para manter o desenvolvimento saudável da sua economia. Por isso, «é do interesse brasileiro que as rotas marítimas, as rotas comerciais estejam preservadas e seguras para que o nosso comércio funcione».
Por sua vez, Wang Dong Director do Instituto de Cooperação global da Universidade de Pequim comentou as políticas da China de promoção de um futuro compartilhado no seio do sul global. A recente cimeira China – África foi considerada como um dos principais eventos do sul global. A iniciativa Cinturão e Rota foi indicada como uma oportunidade para envolver os países menos desenvolvidos na economia mundial.
Grzegorz W. Kolodko, director de Think Tanks da Universidade Kozminsk da Polónia, foi um dos oradores. O ex-ministro das Finanças e antigo vice-primeiro ministro da Polónia enalteceu o sul global e o papel da China como líder do grupo. Considerou que está a ser aberto o caminho para promoção da igualdade e do direito ao desenvolvimento mundial.
As ideias dos intelectuais das Filipinas também foram partilhadas por Malindog – Uy, vice-Presidente do Instituto de Estudos Estratégicos das Filipinas.
Abel Veiga