Não há dúvidas que esta maioria absoluta atribuída ao Partido Ação Democrática Independente – ADI de Patrice Trovoada, fez muito mal ao próprio Partido, a governação, mas sobretudo, ao desenvolvimento harmonioso do Pais. O Presidente do ADI e os órgãos dirigentes deste Partido ficaram eufóricos com a vitória e não souberam lidar com a situação. Em consequência, cometeram erros crassos em achar que o facto de terem esse resultado significativo, dava-lhes o direito absoluto de governar o Pais a seu bel-prazer, violando as leis da República, ignorando por completo os Partidos da oposição, não respeitando o direito da sociedade civil organizada entre outras, os sindicatos.
Por outro lado, a má relação do ex-Primeiro Ministro Patrice Trovoada com o órgão de soberania Presidente da República, consubstanciada em desrespeito e deslealdade institucional, foi marcante aos olhos de todos cidadãos minimamente atentos. Essa situação incompreensível não se justificava, até porque, o Presidente da República Carlos Vila Nova é da mesma família política de Patrice Trovoada, o que se conclui que se trata de uma questão de personalidade, porque esse mau relacionamento aconteceu igualmente com todos os Presidentes da República que estiveram no poder durante os seus quatro mandatos de governação. Conclui-se então que, o problema esta nele e não nos Presidentes da República.
A forma como São Tomé e Príncipe estava a ser governado nestes últimos dois anos com Patrice Trovoada, a atual crise em que vivemos era previsível. O seu desfecho era apenas uma questão de tempo. Alias, pasma-me que a medida da demissão tomada pelo Senhor Presidente da República, Carlos Vila Nova tenha surgido só agora.
O resumo das causas da demissão de Governo de Patrice Trovoada publicadas através do Decreto Presidencial nº 01/2025, de 6 de janeiro, foram muito bem fundamentadas. Contudo, muitas razões assinaladas pelo Presidente da República em diversas entrevistas concedidas nestes últimos tempos e que eram de conhecimento público, não constaram no decreto presidencial. Compreende-se, porque nesse tipo de documento o texto não deve ser exaustivo.
Não faltou a chamada de atenção da sociedade civil ativa, através das suas críticas nas redes sociais, debates através de radio e televisão bem como outras formas de comunicação. Do MLSTP, o maior Partido da Oposição e outros, timidamente ouvia-se por vezes algumas críticas, mas sem grande relevância. Não se sentia uma oposição forte e ativa tendo em conta os desmandos, a teimosia e a arrogância do líder do ADI e o agravamento da situação. Caso para se perguntar: por que toda essa apatia e medo por parte da oposição?
O Presidente da República, nesses últimos tempos fez o papel de toda a oposição política. Os próprios elementos do ADI reconhece isso. Os partidos da oposição, sobretudo o MLSTP, têm que mudar as suas posturas se quiserem ser alternativas ao atual poder que tem arruinado o País.
Quero também me referir em particular a questão das viagens do ex-Primeiro Ministro. Era incompreensível a obsessão em viagens exageradas por parte de Patrice Trovoada. Contra todas as críticas ele fazia de ouvido de mercador e perseguia tranquilamente as suas viagens sem dar satisfação a ninguém, grande parte delas sem utilidade para o Pais. Contrariamente ao que ele argumentava, essas viagens não resultaram em quase nada no que toca a mobilização de recursos para o desenvolvimento económico e social do Pais. Fica-se com a impressão que Patrice Trovoada acha que só ele tem a capacidade de se relacionar com os nossos parceiros com vista a mobilizar meios para resolver os problemas do Pais. Há vozes que dizem que muitas dessas viagens eram de interesse pessoal.
Não sei se Patrice Trovoada sabe que a pasta do Ministério dos Negócios Estrangeiros ou de Relações Exteriores (designação utilizada por muitos Países), tem com objetivo libertar o chefe do executivo de muitas viagens ao exterior, tendo em conta as imensas tarefas internas que exigem sempre a sua presença. Por isso é que na linguagem corriqueira costuma-se dizer que o Ministro dos Negócios Estrangeiros é o ‘’moço recado´´dos Governos. É preciso notar que o custo de deslocação de um Primeiro Ministro é muito mais elevado do que o de um Ministro dos Negócios Estrangeiros. Outrossim, hoje com as novas tecnologias muitas viagens podem ser dispensadas se tivermos em conta os parcos recursos de que o pais dispõe, muitas vezes evocadas pelo próprio ex-Primeiro Ministro. É um paradoxo!
Com esta crise e, por tudo o que foi dito, ficou provado que Patrice Trovoada é um péssimo político para dirigir o nosso Pais. Não é este governante que São Tomé e Príncipe necessita. O País precisa sim de um verdadeiro líder que dê bons exemplos para que toda a sociedade se revê nele, para em conjunto corrigirmos os males do passado.
Através do Decreto Presidencial nº 02/2025 de 9 de janeiro, foi nomeado o novo Primeiro Ministro que recaiu na pessoa da Dra. Ilza Amado Vaz para substituir Patrice Trovoada, depois da rejeição do Dr. Hélio Vaz de Almeida. Trata-se de uma personalidade com experiência governativa, pois, já esteve no Governo por duas ocasiões, tendo esta última ocupado a pasta da Justiça e dos Direitos Humanos. Mas só isto não chega. É preciso que a Dra. Ilza esteja comprometida apenas com o bem-estar deste martirizado povo e o desenvolvimento harmonioso de São Tomé e Príncipe. É preciso ter em conta que a tarefa que lhe espera é enorme e precisa de concurso de todas as forças vivas da Nação e não apenas dos militantes do ADI. E por último, é necessário estar atenta as causas que estiveram na génesis da atual crise que só agora começa, para que num curto espaço de tempo se corrija esses males que nos apoquentam.
E para terminar, gostaria de felicitar a Dra. Ilza Amado Vaz, pessoa que muito prezo, pela nomeação e desejar-lhe muita coragem e sabedoria para enfrentar os imensos problemas que lhe esperam na governação do Pais.
São Tomé, 11 de janeiro de 2025
Fernando Simão