Era uma manhã cheia de cor, sons e esperança. O pátio da Escola Básica Albertina Matos encheu-se hoje, 27 de maio, de crianças sorridentes, de professores comprometidos e de pais curiosos. Começava ali, entre aplausos e música, o Mês da Criança 2025, este ano sob o lema inspirador: “Infância Protegida, Futuro Garantido”.
Mas o que começou como uma celebração rapidamente se transformou num momento de introspecção colectiva, quando uma menina, franzina mas determinada, subiu ao palco para falar em nome de todas as crianças do país.
Adelaide, 11 anos, de tranças bem-feitas e olhos expressivos, segurava o microfone com as duas mãos. Respirou fundo e começou a falar. Cada frase sua era como um espelho, reflectindo o que muitos sabiam, mas poucos diziam.
“Nós as crianças somos frágeis e para isso precisamos de uma atenção especial por parte do encarregado da educação. Precisamos de uma política direccionada as crianças, acrescentando que são muitas crianças tem assistido o seu futuro a serem bloqueados por vários factores”.
E prosseguiu:
“Todos os anos nos dizem que vão melhorar. E todos os anos vemos colegas a desistir da escola, professores a abandonar as salas por falta de condições. Protejam-nos de verdade. Dêem-nos um futuro que possamos desejar.”
“Queremos crescer em paz, queremos estudar sem medo, queremos brincar sem ter que olhar para trás. Nós somos crianças, mas sabemos quando as promessas são vazias.”
Quando terminou, a multidão aplaudiu longamente. Alguns funcionários públicos tiraram os óculos para limpar os olhos. Foi um momento de verdade, puro, incontornável.
A ministra da Educação, Isabel Abreu, visivelmente tocada pelo discurso de Adelaide, iniciou a sua intervenção de forma diferente do habitual:
“Hoje, aprendi com Adelaide mais do que em muitos relatórios de gabinete. A voz dela será um norte para as nossas acções.” Embora tenha enfatizado que o lema é mais de que uma frase, é um chamado de atenção a toda sociedade são-tomense.
Isabel Abreu prometeu uma mudança estrutural e urgente no sistema de ensino.
“Vamos investir na formação contínua dos professores, na reabilitação das escolas, no fornecimento de alimentação escolar e na criação de espaços seguros para as crianças se expressarem. A infância tem de deixar de ser vulnerável e passar a ser celebrada — todos os dias.” Sublinhando que proteger a infância vai além da sala de aula, requer políticas públicas integradas e eficazes na saúde, na segurança, na inclusão social e na garantia dos direitos fundamentais.
A ministra afirmou também que este mês servirá para ouvir as crianças, através de fóruns escolares e conselhos de alunos, e que haverá atendimentos comunitários com psicólogos e assistentes sociais para acompanhar casos de risco.
No final da cerimónia, Isabel Abreu voltou a agradecer à pequena oradora do dia:
“Adelaide, hoje és o rosto da infância que nos orgulha. Que o seu exemplo inspire todas as crianças a falar. E inspire-nos, adultos, a finalmente ouvir.”
Waley Quaresma
