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Milho : Analisado a lupa pelas ONG são-tomense e portuguesa

TRABALHO EFETUADO COM A ONGA PORTUGUESA MAIS CONCEPTUADA E ESPECIALIZADA NAS QUESTÕES LIGADAS AS SEMENTES TRANSGENICAS E HIBRIDAS.

A comunicação social relatou no início de abril de 2017 a introdução recente de milho transgénico (GM, ou geneticamente modificado) em São Tomé e Príncipe (STP) no âmbito de uma colaboração com a China (vide por exemplo http://tinyurl.com/kzs63vl ). Em reação o Ministro da Agricultura Teodorico Campos contestou as notícias afirmando que se tratava de milho híbrido, e não GM (vide http://tinyurl.com/kkqgrf3 ). Face à controvérsia criada, levantam-se as questões abaixo a que urge responder.

1. Existe em STP um sistema legal que estabeleça as regras a cumprir no que toca à biossegurança no âmbito do Protocolo de Cartagena das Nações Unidas? Em caso afirmativo, existe capacidade técnica e laboratorial para executar a respetiva vigilância agronómica e despistagem molecular?

2. Uma variedade de milho pode ser, ao mesmo tempo, híbrida e GM. Que verificação é que foi realizada para garantir que as sementes chinesas não contêm elementos transgénicos?

3. A contaminação das sementes convencionais por sementes GM é frequente e já acontece há décadas (vide http://tinyurl.com/mhqt4p4 ). Mesmo que a(s) variedade(s) chinesa(s) seja(m) de facto apenas híbrida(s), houve algum esforço para detetar e quantificar a presença de contaminação transgénica?

4. O milho não é uma cultura tradicional de STP, e pode não ser adequada do ponto de vista do equilíbrio ecológico e da sustentabilidade em geral. O governo de STP desdramatiza dizendo que o milho em causa “não tem riscos para animais, muito menos para a saúde humana e não põe em causa o solo e o meio ambiente do país”. Mas logo na notícia da RTP é citado um responsável chinês a afirmar que é preciso “aplicar pesticida periodicamente”. Os pesticidas não são de todo desejáveis: contaminam o solo, a água, os alimentos, e até o ar. São rejeitados pelos consumidores e também por isso o seu uso é altamente restringido em agricultura biológica. Os produtos alimentarem que receberam pesticidas é sempre menos valorizado no mercado do que os produtos biológicos. Além disso qualquer agrónomo sabe que o uso de químicos sintéticos é um círculo vicioso: uma guerra que nunca pode ser ganha e só conduz a mais pragas, mais toxicidade e mais desequilíbrio (sobretudo porque os pesticidas eliminam populações não alvo que mantinham as restantes em cheque, evitando que se tornassem problema). Porque é que o governo insiste em introduzir uma tecnologia efetivamente obsoleta e cada vez menos competitiva a nível do mercado mundial?

5. A aposta no milho, uma cultura altamente exigente em azoto e água, vai tornar STP mais dependente das importações de adubo, além das de pesticidas, e também da compra das próprias sementes. Note-se que as sementes híbridas, ao contrário das sementes tradicionais, têm de ser substituídas todos os anos porque o vigor híbrido se degrada logo ao fim de um ano. STP perde em soberania alimentar. O milho também vai implicar um desvio da água, que deixa de estar disponível para outros fins (atuais e futuros). Terá o governo são-tomense equacionado os custos indiretos desta cultura?
6. A introdução e expansão da cultura do milho implica necessariamente o desaparecimento das práticas, culturas e sementes antes usadas nesses terrenos. É assim que a biodiversidade agrícola tem desaparecido noutros países. STP ainda está a tempo de evitar a extinção de variedades e espécies realmente apropriadas às características edafoclimáticas do território e às necessidades alimentares da população. Porque é que o governo de STP valoriza mais copiar os hábitos agronómicos importados de milhares de quilómetros de distância do que apostar e desenvolver o que STP tem de realmente único, natural, competitivo e sustentável, enraizado no conhecimento local e compatível com o lucrativo turismo internacional e imagem paradisíaca do país?
7. Num cenário de alterações climáticas globais inevitáveis e muito provavelmente irreversíveis a agricultura em geral, e as monoculturas em particular, vão ser as áreas de atividade mais sensíveis. Diversificar a produção de base tradicional, incentivar a policultura, garantir a multiplicidade de plantas e raças pecuárias pode fazer a diferença entre alimentar a população e o seu oposto. Como é que a aposta na monocultura de milho híbrido para rações pode contribuir para atenuar o impacto alimentar das alterações climáticas em STP? Note-se que o consumo de animais alimentados a ração é um hábito caro, típico das luxuosas elites económicas dos países mais ricos – nunca tem como objetivo chegar aos mais pobres e desfavorecidos de nação alguma.

8. Mesmo numa lógica estritamente economicista, a generalização de milho híbrido ou transgénico não parece fazer sentido para STP. O milho produzido em grande escala em vastíssimas áreas dos Estados Unidos, Brasil, Argentina, Ucrânia, etc, muitas vezes subsidiado pelos respetivos governos, é inevitavelmente mais barato do que o que STP alguma vez conseguirá obter. Liderar a agricultura nacional em direção à perda de competitividade não beneficia nenhum são-tomense. Ou pensa o governo começar a gastar (muito) dinheiro em subsídios à cultura do milho?

9. A produtividade do milho chinês, apresentada como uma vantagem na notícia referida acima, é de 8 toneladas por hectare. No entanto em Portugal a produtividade do milho ultrapassa as 14 toneladas por hectare (vide http://tinyurl.com/lwsubqb ). Mesmo do ponto de vista meramente agronómico, o milho chinês não parece ser uma boa aposta. Além disso os acordos de cooperação internacional raramente vão apenas no sentido de receber – o que é que STP cedeu em troca, ao certo, para ficar com esta “benesse”?

10. Mesmo que o milho chinês atualmente em testes não seja transgénico, essa é a tendência evolutiva que as multinacionais do setor pretendem implantar. A engenharia genética acentua o que a agricultura intensiva e industrializada tem de pior – e o ambiente, os agricultores, os consumidores e as gerações futuras pagam esse preço. Claro que também há vantagens: quem vende essas sementes GM (e os pesticidas associados) multiplica o seu lucro com resultados muito vantajosos. De que lado é que o governo de STP vai defender os interesses?

Fonte ONG Pro-Ambiente STP

6 Comments

6 Comments

  1. boca pito

    2 de Maio de 2017 at 15:13

    Meu caros no país das bananas é sempre assim.
    As pessoas não pensam no povo, pensam sim no seu bolso, nos seus negócios obscuros.
    Não temos saída.
    Mesmo que essa questão fosse levada ao parlamento, já todos brazas do mesmo fogo, então?
    Estamos entregues aos ditames de um grupo de homens, deste país.
    Enfim…

  2. PEIXE SALGADO COM FUBA

    2 de Maio de 2017 at 21:40

    Quer seja híbrido ou trangenico, este é mais um episódio, a semelhança dos outros,patéticos, q este Minis.(sem tro) de agricul.(sem cultura) tenta impor aos santomenses e q nada de bom augura, tanto do ponto d vista ambiental, sustentabilidade, de rendimento e rentabilidade para os agricultores, quanto de redução da nossa dependência do exterior! Milho híbrido de 8 toneladas por hectare não vale nada em pleno século xxi, tendo em conta os custos da sua implementação, é desaconselhavel!

  3. zé maria cardoso

    3 de Maio de 2017 at 3:55

    “A produtividade do milho chinês, apresentada como uma vantagem na notícia referida acima, é de 8 toneladas por hectare. No entanto em Portugal a produtividade do milho ultrapassa as 14 toneladas por hectare.”
    “…quem vende essas sementes GM (e os pesticidas associados) multiplica o seu lucro com resultados muito vantajosos. De que lado é que o governo de STP vai defender os interesses?”
    Ainda vamos ao tempo de salvar São Tomé e Príncipe.

  4. Dubai

    4 de Maio de 2017 at 19:28

    Ja deve haver por ai alguem com muito pestecidas a espera desse negócio da China para empobrecer mais os coitados que caiam nessa ratoeira.

  5. Garces Saldanha

    7 de Maio de 2017 at 17:00

    Meus caros amigos e compatrotsd se o milho introduzido em ST for transgênicos eu também sou contra por causa dos efeitos nocivos que isto provoca na saude humana.Ja o milho hibrido e diferente e variedade de produção precoce mais rentável ja que se trata de uma produção para ração animal. S T e Príncipe tem mais de 40 anos como Pais livre não pode marar-se no tradicionalismo tem que se desenvolver atraves de introdução de sementes melhorados e raças de animais melhoradas para garantir alimentação para todos. Falar de fuba de milho que e grande alimento nutritivo e no minimo considerar como ignorante. Hoje em dia existem pesticidas biologicas, o uso de insetos como predadores das pragas também e outra forma sem usar produtos químicos. Não podemos dizer que alimentar animais com ração e uma luxúria isto nai e verdade Ração e um produto composto por milho bagaça de soja farinha de peixes sal e vitaminas. Nao faz mal a ninguém desde que nao se exagera na sua composição. E preciso ser-mos flexisiveis na forma como avaliamos as coisas e dexemos de ser super-compatriota quando nao estamos contribuir em nada para o engradecimento do nosso Pais que precisa de modernizar a nossa agricultura através de novas tecnologias,novas variedades de sementes agricola do sistema de rega e abrir caminho para pequenas industriad de transformação evitando que o pais se liberte de importações. Os ambientalistas devem preicupar-se com esta questão sim quando se trata de introdução deelementos quimicos toxicos queprejudicam todo sistema ambiental ecologico e humana mas tem-se que preocupar também com a degradação dasnossas praias e florestad que está em caos. fico por aqui e peço que façam reflexão

  6. Vexado

    17 de Maio de 2017 at 8:44

    Há registos de que os traficantes de drogas usam o comercio de importação e exportação de fertilizantes e adubos para a agricultura para enviar as suas remessas e produtos.

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