Sociedade

Investigação: Portugal, centro de venda de crianças na Europa principalmente oriundas de África

Em 2024, 24 menores foram recolhidos em aeroportos portugueses. Acompanhados por um contrabandista e munidos de documentos falsos, esses jovens adolescentes, provenientes principalmente de países lusófonos, são depois destinados à adoção ilegal, à mendigagem forçada ou às academias de futebol.

O fenômeno foi detectado pelas autoridades há mais de dez anos, mas ainda estava ativo em março de 2025. No espaço de dez dias, a polícia judiciária [PJ] detectou o modus operandi de redes internacionais de tráfico de menores, primeiro no aeroporto de Lisboa e depois no do Porto.

A constatação é clara: Portugal serve de pólo para o envio de crianças vindas de Angola, da Guiné, do Congo ou do Gana para vários países europeus, entre os quais a França, a Bélgica e a Suíça.

As “mulas” de seres humanos

Primeiro caso em 11 de março. Depois de mais de sete horas de voo a partir de Luanda, uma mulher luso-angolana de 40 anos e um adolescente angolano de 15 preparam-se para atravessar a fronteira no aeroporto de Portela, em Lisboa.

O menor possui um documento de viagem único português [um documento de viagem emitido com carácter de urgência aos nacionais portugueses que se encontrem no estrangeiro sem documentos] que, após a sua entrada no território, permitir-lhe obter documentos portugueses e o direito de circular livremente no espaço Schengen.

No entanto, a sua identidade suscita dúvidas entre os agentes da PSP [polícia de segurança pública]. A unidade nacional de luta contra o terrorismo da polícia judiciária é chamada, e a viagem, que deveria continuar para a França, termina aqui.

“Pelo que entendemos, esta cidadã colocou na Europa dezenas de crianças angolanas com documentos falsos por essa rota, pelo menos desde 2020. Ela até fez isso durante a pandemia. Ela vivia disso. Ela recebia 4.000 dólares (3.700 euros) por criança”, explica uma fonte oficial da PJ.

Esta mulher era apenas um dos elos da cadeia: ela era responsável pelo transporte das vítimas, como essas “mulas” que transportam os narcóticos de sua origem ao seu destino. Na chegada, os menores eram entregues a pessoas que os tinham comprado.

Os auxílios estatais em contrapartida

“Muitas vezes vão a famílias [que possuem] a mesma nacionalidade que eles e que os adotam ou tomam conta deles para obter subsídios do Estado, que podem chegar a 1.500 euros por mês por cabeça. E quando o número de crianças passa de três para quatro, estes auxílios aumentam muito. Esse é o objetivo quando se compra crianças a estes traficantes”, acrescenta a mesma fonte. Portugal é apenas um ponto de passagem. Os benefícios sociais pagos aqui não incentivam o crime.

Segundo caso, 22 de março. Um angolano de 48 anos chega ao aeroporto Sá-Carneiro do Porto, vindo de Luanda via Istambul (Turquia) com uma menina de 6 anos que diz ser sua filha. Os policiais têm dúvidas sobre a relação de parentesco entre os dois, bem como sobre a idade e autenticidade do passaporte da menina.

Fonte : Jornal francês Courrier International : https://www.courrierinternational.com/article/enquete-le-portugal-plaque-tournante-de-la-vente-d-enfants-en-europe_230426

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