Eleições presidenciais

CV 1 – STP 3

Comparar São Tomé e Principe (STP) e Cabo verde (CV) já vem sendo hábito durante as nossas conversas, principalmente, quando se trata de políticos e de política.

As duas ilhas lusófonas passaram por vários processos semelhantes de transformação social e político ao longo de vários séculos. Tais transformações, tiveram dois pontos considerados os mais altos na história das duas ilhas nomeadamente, a independência nacional em 1975 e a liberdade democrática em 1991

Apesar de STP ter liderado o processo de abertura democrática no nosso continente no ano 1989, os caboverdianos rapidamente abraçaram a causa, conseguindo desta feita eleger o seu primeiro presidente através do sufrágio universal, antes mesmo que os santomenses.

De 1991 a 2011 passaram-se 20 anos. Neste período, os caboverdianos têm razões de sobra para se orgulharem da sua história recente, enquanto que nós os santomenses caminhamos cabisbaixos, lamentando o nosso destino

Entre sucessos e fracassos de um e de outro, as populações de ambos gozam hoje de uma democracia pluralista jovem e madura. Ambas sociedades desfrutam das conquistas decorrentes da liberdade de expressão e de votar para elegerem os seus representantes, com o intuito de alcançar o pleno dos três pilares da democracia: Liberdade, Justiça e Progresso.

Se no campo da Liberdade as duas ilhas estão no mesmo patamar, nos valores da justiça e nos números de progresso a distância  vai sendo enorme. Cabo – Verde conseguiu ascender para o grupo de Países de Desenvolvimento Médio e São Tomé e Príncipe tem retrocedido na lista do Índice de Desenvolvimento Humano.

Fazendo jus uma vez mais das suas conquistas democráticas, os povos de ambas as ilhas foram chamados as urnas para elegerem mais um Presidente da República.

Em São Tomé e Prínicpe, desta vez a vontade popular recaíu sobre o candidato Manuel do E. Santo Pinto da Costa eleito na segunda volta que teve lugar no dia 7 de Agosto. Esta vitória eleitoral carregada de simbolismo tem histórias para filmes de todo tipo, desde aventura, suspense, triller ou ficção científica e com  final emocionante até os últimos minutos. O nome do filme que bem poderia ser intitulada de  “Bô bila bi? Bô tê téma!”, começou a ser rodado em Julho de 1996 quando Pinto da Costa concorreu pela primeira vez  e foi afastado pelo antigo Presidente Miguel Trovoada. A segunda parte desta longametragem decorreu na gravana de 2001 quando Pinto da Costa foi derrotado pelo sessante Presidente Fradique de Menezes. Quando todos se apressavam para adquirir o direito para assistir o segundo frente a frente entre Fradique e Pinto, este último preferiu retirar-se para provavelmente, recompor as forças e refazer estratégias. De facto, o teimoso Pinto da Costa regressou em 2011 aparentemente mais preparado, só que desta vez não encontrou um, dois ou 3 adversários como das outras vezes, mas sim teria que enfrentar  14 adversários.

Sem Miguel Trovoada nem Fradique de Meneses pelo  meio, com Patrice Trovoada (adversário de Fradique em 2006) comprometido com as causas da governação e com os seguidores da chamada família da mudança bastante dividida, Pinto da Costa soube aproveitar a confusão reinante dentro da sua tradicional massa associativa para formar um novo, abrangente e alargado corpo de apoio e de seguidores que o conduziriam a desejada vitória final. Vencer a pobreza na Terra Firme idealizada por Pinto, avizinha-se uma tarefa árdua pois, terá de começar pela parte mais difícil;  a mudança de mentalidades.

Muito já se falou e se escreveu sobre estas últimas eleições e não vou ser repetitivo. Entretanto, importa, neste momento, tecer algumas considerações:

  1. Estabilidadetema central destas eleições: Pinto da Costa venceu estas eleições com o apoio de uma ampla  franja da sociedade. Contudo,  o Primeiro Ministro e o  ADI que apoiaram a candidatura do derrotado adversário de Pinto da Costa, têm razões para estarem conformados com os  47% dos votos expressos, conseguidos nas urnas. Estatisticamente, estes números dão ao Patrice Trovoada e ao seu ADI argumentos para talvez pensarem que teriam saido reforçados nestas eleições. Daí que a necessária estabilidade governativa assim como o respeito pelos poderes instituídos, principalmente, o Poder Executivo, vai exigir do Pinto da Costa muita mestria e astúcia.
  2. O MLSTP/PSD. A direcção actual deste histórico partido, perdeu uma oportunidade dourada para levantar juntamente com  Pinto a coroa da vitória e passar para a história como a primeira em conseguir “fazer” eleger um Presidente da República da sua família política. Contrariamente ao que havia prometido durante o discurso de vitória conseguida no último congresso, esta direção contribuiu de forma cega para criar mais assimetrias e  antagonismos existente ao londo de vários anos no partido. A jovem direcção tinha quase tudo para bem suceder. Agora, o Tempo Novo urge decisões novas e corajosas sem muito tempo a perder. Esta jovem direção tem ainda uma nobre e espinhosa missão de contribuir para despoletar um processo interno que ajude a empurrar o barco partidário para Terra Firme sob pena de verem-se todos afogados na tentativa de manter o barco a flutuar em alto mar. O sistema democrático clama por um MLSTP/PSD forte e proativo, enquanto partido de oposição.
  3. Telanom o Partido Popular Apartidário da Diáspora. Nestas eleições os nossos cidadãos da diáspora e não só, tiveram a oportunidade de viverem praticamente, em tempo real, os acontecimentos do processo eleitoral que levou a eleição do novo presidente. Esta meritória conquista contou com o protagonismo determinante dos técnicos do portal Telanon. Telanon foi mais do que um jornal digital. Foi voz e ouvidos de todos aqueles que quisessem saber das coisas ou participar delas. Junto a minha voz a todos aqueles que têm agradecido e felicitado o trabalho deste portal de notícias online

Em Cabo-Verde os eleitores foram as urnas quase ao mesmo tempo que os santomenses e desta vez o astuto José Maria Neves, líder  do PAICV e PM de Cabo Verde foi derrotado pelo persistente Carlos Veiga Líder do MpD na oposição. Carlos Veiga aproveitou o desconforto vivido actualmente dentro do PAICV para impor o seu candidato Jorge Carlos Fonceca, contra  Manuel lnocêncio Sousa, apoiado pelo actual Primeiro Ministro de CV. Para trás já teria ficado o Ex Presidente da Assembléia Nacional de Cabo Verde e deputado por PAICV Aristides Lima que avançou como independente ao sentir-se injustiçado pelo líder do seu partido.

Feitas as contas finais, os eleitores caboverdianos ditaram pela primeira vez uma coabitação política institucional no seu país. Enquanto Cabo Verde parte pela 1ª vez para uma experiência de um Presidente e um Governo de partidos opostos, São Tomé e Príncipe prepara-se para receber o seu 3º Presidente que terá de conviver com Governo de Partido Político contrário à sua família Política.

Nestas coisas de números, STP vence CV por 3  a 1. STP vence também e de forma avassaladora em várias outras modalidades, como  número de Primeiros Ministros, Minstros, Governos, Presidentes do Parlamento e, por  ai fora.

Agora mais do que nunca a sociedade Santomense tem motivos de sobra para continuar fazendo comparações com Cabo Verde e seguir atenta a forma como os Caboverdianos vão gerir esta primeira coabitação. A julgar pelo que os Caboverdianos nos têm acostumado ao colocarem Cabo Verde em Primeiro lugar, acredito que com mais ou menos barulho a “Terra sabi” não nos deverá surpreender pela negativa.

Do nosso lado, não obstante os 20 anos de desastrosa coabitação política ter ferido o nosso orgulho  e quebrado a nossa auto-estima, não nos resta outro caminho, senão utilizar a experiência destes anos para ressurgirmo-nos como uma nação digna deste nome e recuperar o nosso lugar dentro da comunidade internacional.

Se assim não for, a humilhação de ter de aceitar lições de coabitação por parte dos Caboverdianos está garantida.

S. Tomé/STP 31 de Agosto de 2011

Osvaldo Abreu

18 Comments

18 Comments

  1. Malapetema

    1 de Setembro de 2011 at 15:04

    Muito boa leitura dos fatos, como sempre apresentas textos claros,e de reflexão.Força Osvaldo

    • Conóbia cumé izê

      1 de Setembro de 2011 at 15:54

      OSVALDO ABREU (VÁVÁ): – EXCELENTE TRABALHO !…OS TEXTOS APRESENTADOS SÃO MAIS QUE EVIDENTES.STP SÓ TEM QUE SEGUIR EM FRENTE E APOSTAR NAS NOVAS ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO E DAS MENTES DEVIDAMENTE ESCLARECIDAS , BOA LIDARENÇA E FORTE COM ESPÍRITO PATRIOTICO; CAPAZ DE ORIENTAR CIENTIFICAMENTE O PAÍS,ALAVANCAR TODAS AS POTENCIALIDADES ANCORANDO EM TODOS OS EIXOS REAIS DA ECONOMIA E DO SABER PARA GANHARMOS O FUTURO COM MUITO TRABALHO, MUITA ABNEGAÇÃO E RESPOSSABILIDADE! …BEM HAJA !

  2. Helder Leitão

    1 de Setembro de 2011 at 22:25

    Gostei de leer, e quero ja te dizer que a tua analise esta clara, é a verdade verdadeira,tiveste sempre vocação de um lider, mas cuidado com os teus passos,acredito q um dia irás longe.

  3. João

    1 de Setembro de 2011 at 23:09

    Parabens sócio. É assim mesmo. Acho que deves te preparar preencher o lugar que o MAN RAFA deixou, porque Aurelio pensou que coisa é banho…e está a deixar a malta morrer afogado.
    Vamos Movimento Expontaneo. Chama Dialo e Gika e outros gajos para um gajo arrumar com Patrice e outros garotos.
    João

  4. desgraçado

    2 de Setembro de 2011 at 0:07

    comparemos o comparavel! Certo STP conhece desaires politicos, economicos, sociais (…), porque nao comparamo-nos politicamente com angola, gabao,guiné equatorial…?

    Duas realidades sao comparaveis se elas obdecem matematicamente aos mesmos condicionantes.

    Comparar STP e CV é comparar Sao Tomé e Principe. Porquê mais desenvolvimento em Sao Tomé e nao no Principe? é comparar Portugal e Espanha (paises ibericos membros da Ubiao europeia e pertencentes a zona euro). é comparar china taiwan e china popular, é comparar Canada e os Estados Unidos…
    Comparar STP e CV é comparar dois irmaos um engenheiro outro analfabeto, e portanto tiveram os mesmos pais…

    O problema de Sao Tomé nao podem ser resolvidos com soluçoes de CV.

    Falando de problemas ao meu ver o desenvolbvimento de STP é tardivo por causa de:
    1 instabilidade politica (presidente e linistros oriundos de partidos politicos diferentes) Soluçao: adopçao de sistema presidencialista. Enquanto estivermos no semipresidencialismo vamos ter “semeidesenvolvimento”
    2 corrupçao: soluçao: adopçao de leis que impeçam o exercicio de cargos politicos aos delinquentes politicos. Levantar imunidade parlamentar aos delinquentes. Inscrever na constituiçao uma lei organica que impesa pessoas com passado duvidisos de subirem as escadas do parlamento.

    Tudo o resto vira por acrescimo!!

    Temos que pensar num sistemo plitico que elegemos o presidente, mas ele e so ele escolhe o primeiro ministro do seu partido que pretende trabalhar.
    iamos poupar dinheiro com as eleiçoes e banhos, o presidente e primeiro ministro iam ter a mesma linha de defesa politica economica.

    Para terminar caro osvaldo, nao podemos elevar a nivel nacional os problemas internos dos partidos, muito menos as mas escolhas no momentos das eleiçoes. Esses assuntos têm espaços reservados que devem ser tratados..

  5. Digno de Respeito

    2 de Setembro de 2011 at 5:20

    Osvaldo,

    Li vários textos teus mas, agora é momento para felicitar o explicito conteúdo comparativo. De tudo quando escreveu apenas resumo o mais importante:

    “Se no campo da Liberdade as duas ilhas estão no mesmo patamar, nos valores da justiça e nos números de progresso a distância vai sendo enorme. Cabo – Verde conseguiu ascender para o grupo de Países de Desenvolvimento Médio e São Tomé e Príncipe tem retrocedido na lista do Índice de Desenvolvimento Humano.”

    É a realidade que muitos de nós santomenses tem de aceitar. Para isso, é preciso perceber primeiramente de que estamos a falar: O que é isso de Países de Desenvolvimento Médio?!!

    Quando quisermos perceber isso e a vontade dos “homens” forem leais aos objectivos de que o Povo precisa para sentir e ser feliz ai, sim poderemos ignorar determinadas comparações que paracem incomodativas aos ouvidos de muito santomenses de “cabeça dura”.

    Parabéns Osvaldo, ai foste corajoso

  6. Henry

    2 de Setembro de 2011 at 8:46

    Muito bom a visão desse jovem quadro nacional, fazendo uma análise minuciosa das realidades de S.Tomé e P+ríncipe e Cabo Verde. Eespero que continua com essa comparação, mas com outros indicadores.Força ai Camarada!

  7. Macabeu FM

    2 de Setembro de 2011 at 10:05

    Grande explanação dos factos, estamos neste momento a ganhar Cabo Verde por (3 – 1), esta vantagem mostra claramente o conhecimento e a convivência dos nossos dirigentes nesta matéria (Presidente e Governo do partido diferente). Portanto, o que poderá ser motivo de dúvida é se o presidente Pinto da Costa conseguirá lidar com essa matéria… esperemos que sim, e fazer diferente de forma que esta vantagem converta na experiência do melhor fazer. Por outro lado, o que concerne ao desenvolvimento Cabo Verde ganha por (20 – 1), lamentavelmente, mas, essa dupla governativa do partido diferente tem missão de recuperar a desvantagem

  8. António Martins Gomes

    2 de Setembro de 2011 at 10:12

    …sem dúvida, um bom artigo de reflexão! Conhecedor de ambos os países e das duas realidades- os cabo-verdianos optaram por uma excelente escolha: votaram contra o despotismo, que parecia perigar a consolidação democrática em Cabo Verde!!! Estamos todos de parabéns (…).

  9. MALÉ POÇON

    2 de Setembro de 2011 at 10:18

    Quao diferente seria nosso STP, se houvesse mais pessoas a pensar, agir e falar com tanta erudiçao.
    Povo de STP, ouçam o conselho e aceitem a correçao, para que sejamos sabios nos nossos ultimos dias.
    Parabéns camarada pelo seu trabalho.
    Bem haja a todos.

  10. MALEMBE

    2 de Setembro de 2011 at 11:27

    Meu caro Osvaldo Abreu,não poderia passar indiferente a essa brilhante reflexão feita por si. Os meus parabéns continue dando o seu contributo para o melhor desse país e da maneira que muito particular que só vc sabe.
    os meu parabéns.
    Viva STP, Viva o saber, Viva a Juventude Santomense

  11. JOSE TORRES

    2 de Setembro de 2011 at 17:37

    Osvaldo prepara-te para ganhar as proximas no MLSTP e ajudar o Pinto a ir pra frente. O Aurelio ja deu o que tinha a dar.
    Abracos

  12. Mé Soló

    5 de Setembro de 2011 at 14:36

    só tenho de felicitar, meus parabem pelo artigo publicado
    um abraço camarada oslvaldo abreu

  13. budy

    5 de Setembro de 2011 at 15:51

    Meus parabéns, Eng. Osvaldo Abreu…
    É fundamental reflectir sobre o passado recente para projectar o futuro…acho a tua exposição bastante benéfica para STP e especialmente para os fazedores de Política e para toda a sociedade civil em geral.
    O nosso bem-fazer começa pelo reconhecimento dos erros cometidos no passado. STP tem condições históricas e concretas para seguir rumo ao desafio para alcançar o tanto proclamado desenvolvimento sustentável de que se fala…para isso é necessário que os santomenses de uma forma geral tenham o conhecimento de o que é a Democracia, o que é a liberdade de expressão, o que é combater a Corrupção e sobretudo como combater a corrupção. Só assim o futuro será prospero….
    Aquele abraço….

  14. Joimilte Bonfim

    6 de Setembro de 2011 at 0:47

    Parabéns pelas sábias e excelentes palavras. Tomara que os nosso dirigentes prestem atenção a estas palavras e mudem a mentalidade de uma vez por todas e façam algo em prol de São Tomé e Príncipe e dos santomenses. Abraços

  15. neto

    6 de Setembro de 2011 at 9:29

    se isto saiu de ti, fico muito grato por ter alguem com uma visao ampla e clara de sao tome, so nao espero que seja mais um golpe pra alcanmcar lugares cimeiros, como muitos em sao tome fazem com bons discursos e boas visoesoes.

  16. Abilio Neto

    6 de Setembro de 2011 at 9:44

    Caro Osvaldo Abreu,

    Muito bom artigo. Felicito-o por ter regressado a boa análise.

    Uma pequena correcção, a verdade é que na Lista do IDH de 2010, nós, STeP, acabamos por entrar para o grupo de países de Desenvolvimento Humano Médio, julgo que pela 1ª vez.

    Ilação: fazendo pouco chegamos lá, imagine-se o que não seria se fizessemos muito!

    Abr.,

    An

  17. muamba

    6 de Setembro de 2011 at 15:42

    Osvaldo, gostei do artigo, mas ve la tu pra n se misturar com os ademais currupts. eu gosto doce muito é rapaz.

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