Opinião

Cem Letras Sem Palavras

Que absurdo silêncio! Depois do arraiar da manhã, tudo veio cá para cima, afinal, como diz o ditado popular “a mentira tem pernas curtas”. Sem saudosismos exacerbados, mas vale a pena relembrar as atitudes dos nossos governantes, e, posterior inquietação. Masclã pandê..! Vergonha!

É deprimente o estado do nosso país. Ele está entregue às polilhas, ou melhor, à derradeira febre canina. Como cidadãos, não nos será possível calar perante tantas arbitrariedades e abster de criticar os actos que ficam impunes, pelo que não há como deixar de indignar-se diante do tamanho desmando que assola a nossa administração e a governabilidade do nosso país. A desmedida qualificativa e quantitativa da actividade parlamentar e das teatradas do nosso executivo, na pessoa do primeiro-Ministro e de alguns de….dos na nossa Assembleia Nacional confirma a convicção de que quase perdemos a nossa originidade e autenticidade do ser são-tomense. A discussão do Estado da Nação, mostrada ao mundo através dos canais médias públicos e privados, só demonstra tamanha vergonha da nossa incapacidade e falta de civismo e sarcástico egocentrismo no tratamento das questões fundamentais da pátria são-tomense, perante o concerto das nações.

Mesmo que a roubalheira chega a surpreender, pois, muitos jornais, sejam eles impressos ou televisivos, denunciam actos de corrupção, mas parece que as autoridades apoiam, se entranham com os bandidos. Por conseguinte, e já agora, não basta apenas cobrar aos políticos, mas também não dar mais nossos votos de confiança aqueles que usam o bem público para sanar sua sede de poder – e é essa a principal causa da indignação dos são-tomenses – , pois os bandidos, corruptos, gatunos e malfeitores tiram de nós não apenas o pão que nos alimenta, mas a própria genuína dignidade que tanto nos orgulhamos.
O facto da impunidade não ser apenas um mal que prestigia a dor original, consequentemente, gera a perigosa cultura da vantagem pessoal, transmitindo a mítica esperança que “se outros se safam impunes eu também poderei sair impune”, ou seja, “eu também quero esse benefício concedido historicamente aos que tiveram acesso ao poder ou ao muito dinheiro”.
Todos sabemos que o Estado é o guardião da ordem pública e do bem-estar social e, por assim ser, deve providenciar tudo o que for necessário para que o cidadão veja preservados a sua saúde física e psíquica, a sua integridade física, o seu património e a sua educação, em suma, – a sua felicidade – pela qual seja premente haver suficientes e eficientes médicos, professores, juízes, legisladores, padeiros, agricultores, dentre outros profisionais nos múltiplos sectores da vida social.

Quando temos conhecimento de que existe mal uso dos recursos do país, em sectores essenciais do nosso progresso e desenvolvimento, e sabermos de que o país permanece no topo da lista mundial de índices do atraso e da injustiça social, e depois de tanta luta que fizemos juntos contra a ignorância, a pobreza e a desonestidade, na construção de uma identidade nacional digna, nos vem a impressão de que já é tarde demais para reparar as variadas mazelas impregnadas no nosso solo pátrio pelo iníquo sistema político que nos rege.
Ora, como cidadãos, o livre pensar e agir possibilita a plenitude de valorizar-nos como humanos com a vida, mente e liberdade do corpo e da alma . A liberdade inclui também o pensamento autónomo, a sua expressão livre e a legitimidade de acções subjacentes. As condições social, cultural e económica determinam a forma de se usufruir esses atributos, sendo estas os elementos complementares aos três recursos primordiais da humanidade. No entanto, ocorre que alguns dos nossos governantes usando dogmas doutrinárias embasaram-se em regimes totalitários e não conseguem unir os valores de igualdade e liberdade reprimindo as liberdades de expressão política, jurídica e cultural, e incentivando a alienação religiosa sectária.

Caro leitor, é demasiado constrangedor saber que há correntes políticas (partido político) que tenha optado pelo enfraquecimento da nossa Assembleia Nacional – o mais legítimo representante dos cidadãos – ao invés do fortalecimento das funções de Estado, asseguram vasto poder de governante(!?!), numa péssima, arrogante e disfarçada cópia de totalitarismo e, ainda assim, denomina-se de “democrático” predominante nos fantoches regimes populistas e totalitários, baseados na centralização de decisões políticas e administrativas, na manipulação das decisões político-partidárias, na ingerência legislativa, no conservadorismo das políticas públicas fundamentais, no desafino às mudanças de conjunturas fiscal, tributária, administrativa, política, etc., vitais ao desenvolvimento da nossa sociedade.
De igual modo, é triste constactar que a nossa Assembleia Nacional se desmoralizou desde quando passou a aceitar ditames do executivo, e concordando ser apenas um colegiado que subscreve o que é do interesse do Governo e de élites ou de interesses dos grupos aliados, perpetuando o domínio económico e desafiando negativamente a competetividade do mercado, ofertando de bandeja a prosperidade financeira nas mãos de poucos.
Os partidos políticos, alguns sem efectiva definição política, não contam mais com a credibilidade e o engajamento dos eleitores, pois não há correntes sérias adeptas de vertente programática conservadora ou progressista. Na verdade e na práxis, de eleição em eleição, assistimos, a olhos nús, dezenas de “troca-casacos”, numa tentativa sábia e oportunista de desvalorização dos partidos de que são originários. Que tamanha vergonha! Convém aqui realçar que organicamente são fracos, fraudulentos, fantoches dos interesses dos seus “epískopos”. Por isso é doloroso ver que eleitores votam em candidatos que apresentam uma trajectória de aparente coerência com o seu discurso político pessoal – o político é quem dá visibilidade ao partido e não o contrário – e nos candidatos que compram votos das lideranças políticas, mestre-cuco da lista de novos gabinetes políticos e futuros padrinhos, muitas vezes, das comunidades carentes.

Afinal que idealismo impulsiona o povo são-tomense e os nossos eleitores actualmente?
Na verdade, no imaginário popular, essas questões são mais uma superficial corrente do pensamento colectivo que manifesta no seu amplo sentido. As pessoas comuns – zé-povinho – , o tão muito bem propagado na TVS pelo primeiro-Ministro como “povo pequeno” que são a maioria do povo, não compreendem tais peculiaridades das teorias políticas. Elas acompanham os discursos, fazendo opções, em virtude da polarização das ideias, o que facilita a compreensão das suas pregações, com os seus sofismas e promessas vazias e que lhe permite usufruir do poder. Torna-se, de igual modo, um desepero termos a impressão de não existir mais a ideologia do bem comum, a não ser no discurso dos políticos e ideólogos que estão no poder. E, é ainda mais penoso termos o sentimento que nossos eleitores foram usados, explorados, enganados e depois de tantas repressões, conflictos desnecessários, gastos com beberretes, crises na economia e diante do descrédito das ideologias humanas de redenção social do homem, agora se voltam à busca das obras estruturantes, dos serviços públicos de qualidade, dos projectos de administração pública com excelência, da educação a todos os níveis, da moralidade no serviço público.

E, no final de contas, hoje, com um rosto pálido, perante discursos populistas e demagógicos, os mesmos políticos voltam ao patamar inicial da civilização. A iniquidade governamental, é notório – que atinge o cume da pirâmide social – perante a ignorância do povo – como suporte do sistema na sua estratégia de conduzir as massas populares como se fosse omnipotente em resolver efectivamente os conflitos resultantes dessas relações, desalinhada, contra os interesses daqueles que estão fora do círculo vicioso do poder temporal. Que pena!

O grupo que detém o poder económico, no nosso país, em sua promiscuidade com o poder político, alimenta as mudanças sociais impondo exclusões. A pobreza e degradação humana são os resultados mais perversos de uma nação injusta em que os deveres da lei são para os pobres, embora os direitos nem sempre. A teoria do sistema, aplicada até nas “democracias”, diz que os cidadãos privilegiados devem permanecer com imunidade às consequências da degradação da sociedade, por isso os sectores de repressão devem funcionar exemplarmente. Mas na sua hipocrisia governativa, permite ainda – e infelizmente – aos nossos governantes dizer que a preocupação real é com o povo. Que grande mentira!
A falta de interesse dos governantes quanto à efectiva consolidação do Estado e de direitos democráticos está tão distante da nossa cultura que se sacrifica a dignidade e o bem-estar dos trabalhadores comuns – matéria prima do desenvolvimento da nação são-tomense, pelo lucro especulativo das elites. A questão abrange a qualidade de vida nas cidades, a degradação ambiental – com a invasão de desempregados e ladrões para moradias, a nefasta mendicância (inclusive, dos nossos governantes), o surgimento de gangs (uma das causas primárias) da elevada taxa de criminalidade, a exagerada e preocupante prostituição na adolescência; tudo isso, gera um retorno desagradável e perigoso para todos. E mais, causa uma instabilidade social, em todos os sentidos, e a vulnerabilidade do cidadão face a impotência perante a realidade desfradada – igualidade, justiça e fraternidade – a base do pacto social no sentido mais nobre de sociedade. Se priorizarmos os acontecimentos secundários e não às causas, há-de se promover as chagas de toda a sociedade, quando se pensa que o faz apenas aos seus membros menos ilustrados. A corrupção alimenta a miséria, que gera a gritante degradação social, desgastando a nossa democracia, relegando a nossa própria condição humana e redundando numa traição histórica.

Caro leitor, estará de acordo comigo que a elite não pode viver sem contacto com a família que o sustenta, inclusive, de certa forma tende a tornar-se refém, caso semelhante ao do feitiço que se vira contra o feiticeiro? Por isso, convido os políticos, cronistas, idealistas, jornalistas, escritores, professores e a sociedade civil, que são – os melhores e verdadeiros instrumentos da democracia – , a partilharmos e repensarmos todas essas questões a partir dos diversos eixos de interesses sobre a nossa realidade e perspectiva futuras, como Estado e Nacão.

Hoje, é perfeitamente notório, que alguns políticos proferem palavras e discursos para rejubilar do espírito, estes preocupam-se mais com o culto de produção de suas imagens do que com a miséria do povo. Com esta nova percepção trazida à lume para clarear as mentes obtusas exaltamos a condição humana a ser promovida por pessoas enraizadas da nossa sociedade já martirizada, contudo civilizada e digna. A máscara dos “homens de bem” da actualidade em gravatas, togas ou obscuros vestes sacerdotais, bem como agraciados por títulos e cargos, há muito caiu nesta nossa nação claro, sem generalizar, ainda no respeito da regra às honrosas excepções.
Caros leitores, estou convicto que a inocência das nossa população tende ao ponto zero e julgo que alguns indecentes e nocivos governantes formais, hoje, já estão posto a nú e o nosso povo cansado, desacreditado no sistema estatal e saturado dos esquemas institucionais viciados, farão uma desconcertante revolução nesta nação são-tomense – onde se brinca em fazer democracia – para finalmente, e não tardiamente, chegar ao domínio do poder, ao pleno exercício do governo do Povo, pelo Povo e para o Povo.
Alguém dizia, que no sentido ideológico, brigar com os importantes é sinal de que não se é lacaio de ninguém. A questão é que quando se é lacaio por vontade própria, geralmente, se é por razões mesquinhas. Os que ainda portam-se como superiores ou especiais por seus projectos e jobs milagrosos, que no fundo não são senão danosos e egoístas, relegados para bem próprio, contrariando os nobres desígnios das palavras somos-todos-primos, serão sentenciados pelo tempo. No entanto, prefiro não dizer que futuro se lhes reservará, na esperança de que cada um, per si, o decifre. Pois, vamos acreditando que o futuro só a Deus pertence.

Meus compatriotas, são-tomenses, estamos no início da caminhada, e inicia-se a disputa pelo tempo de fama. Porque o que vemos é uma actividade de duas forças (a pública e a marginal); o primeiro, com direito a comunicacão social, e o segundo como telespectador perante o écran, que olham para a roleta da bola do totoloto saindo, uma bola após outra, outra, outra e outra mais, e vai-se lendo o número, cada uma a sua vez. Daí, no nosso imaginário vemos e ouvimos sobre confrontos entre polícias e bandidos, e já não sentimos conforto com o nosso Estado protector, mas passamos a notar que os bandidos passaram a se impor e mostrar força e destituídos de temor. É essa a realidade?

Dizia Frei Antônio Moser “só ouve direito quem se liberta dos preconceitos; e só se liberta dos preconceitos quem é capaz de restituir a palavra ao silenciado”. Leve-leve, na nossa terra, com paciência, que melhores dias virão. Pois, não há males que durem por toda a vida nem bem que seja eterno. Sejamos fortes. Como Amador, seremos; a luta continua e a vitória é certa!

A Todos os meus irmãos – são-tomenses – , compatriotas e estrangeiros residentes, e os que se encontram em visita à minha amada e imortal pátria – São Tomé e Príncipe – , desejo-vos um Bom e Próspero Ano 2017..! E, que estejamos, sobretudo, sempre em harmonia e em paz!

Groningen, 31 de Dezembro de 2017.

Júlio Neto

 

 

5 Comments

5 Comments

  1. Mateus Silva

    14 de Janeiro de 2017 at 11:30

    Grande artigo de opiniäo. Com profunda análise temporal,mais uma demonstraçäo factual e realística da conjunturas social, económica e política do país. Força ao autor e precisamos dw homens e mulheres com esta determinaçäo. Os meus parabéns.

  2. Joseph Andrews

    16 de Janeiro de 2017 at 16:23

    Eu tenho com muita satisfação de algum tempo até agora, seguido com atenção as opiniões deste autor e de outros também. Porque eu sou jornalista e vivo também numa ilha, tenho estudo de línguas latinas, gosto muito ler jornais de língua portuguesa, para sempre me estando a aprender novos conhecimentos. Eu visitei São Tomé há uns anos atrás. Eu fiquei namorado pelo país e sempre gostaria também voltar de novo para visitar. Também ouvi a discussão do orçamento na internet, com muito fogo. Mas é muito triste saber que o governo está com muitas dificuldades e o povo sofre muito. Eu quero aqui confessar, faz muita pena que observo que os políticos santomenses não lêem e nem dão atenção aos artigos de opinião nos jornais. Se querem ser políticos de verdade, cidadãos com elevado sentido de responsabilidade e se querem fazer mudanças na politica do vosso belo país, devem desde já analisar os artigos de opinião. Pois eles são uma miragem, uma profunda observação daquilo que normalmente muita gente não vê. Se leram alguns últimos artigos deste autor e do autor Adeilno Cassandra, neste mesmo jornal compreende tudo, mas só eu vou destacar apenas alguns:
    (http://www.telanon.info/suplemento/opiniao/2015/05/25/19288/o-tempo-do-imprevisivel-regressao-ou-custo-da-democracia/ http://www.telanon.info/suplemento/opiniao/2016/02/29/21293/a-penosa-cegueira/
    http://www.telanon.info/suplemento/opiniao/2015/07/12/19634/independencia-repensar-sa-tome-e-principe/; (http://www.telanon.info/suplemento/opiniao/2016/02/09/21136/sim-ou-nao/😉
    Com tudo isto, entenderiam que sem margens para dúvidas o autor faz advinhas, uma vez que quase tudo que aconteceu já estava conforme os seus escritos. Se a oposição quer trabalhar então tem que diligenciar para compreender as opiniões de alguns fazedores de opiniões nos vossos jornais. Os jornais são os melhores formas de fazer mostrar tudo que não fica legal para o povo. Espero que me podem ter fazer atenção. Força e boa sorte ao vosso maravilhoso país.

    (Traduzido/original inglês)

  3. Gostei

    17 de Janeiro de 2017 at 5:15

    Gostei muito do artigo, meu grande amigo. Esse Governo de A.D.I, liderado pelo palhaço do Patrice Trovoada, está a brincar com povo. Eles terão resposta a altura brevemente.

  4. S.T.P

    17 de Janeiro de 2017 at 5:16

    Força ai meu amigo. Abri os olhos desses Santomenses que andam a dormir..

  5. Martelo da Justiça

    17 de Janeiro de 2017 at 10:52

    O artigo é interessante mas acho que contém muita retórica desnecessária e é muito extenso.

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