Neste texto, procuraremos falar da sociedade e da família como duas realidades socio-antropológicas que estão em constante diálogo, ou seja, que se relacionam entre si.
Certamente, todos sabemos que a família é a célula primeira e vital da sociedade.[1] Ela é a célula primeira porque possui vínculos vitais e orgânicos com a sociedade. De facto, é da família que saem os cidadãos e é na família que encontram a primeira escola daquelas virtudes sociais que são a alma da vida e do desenvolvimento da mesma sociedade.
Até aqui, podemos compreender que a família e a sociedade têm certamente uma função de complementaridade na defesa e na promoção do bem de todos os homens [2] e de cada homem em particular.
Todavia, na nossa contemporaneidade esta reciprocidade ou comunhão entre a família e a sociedade entra muitas vezes em conflito porque atualmente a função social da família é vista somente do ponto de vista procriativo e educativo.
Dito de outra forma, hoje as instituições e as leis desconhecem injustamente os direitos invioláveis da família e até da pessoa humana, e a sociedade, longe de se colocar ao seu serviço, agride-a com violência nos seus valores e nas suas exigências fundamentais.[3]Assim sendo, a família encontra-se como que vítima da sociedade, dos atrasos e da lentidão das suas intervenções e sobretudo das suas patentes injustiças.
Por outro lado, vários testemunhos mostram-nos que a mudança antropológico-cultural tem influenciado todos os aspetos da vida familiar, isto é, estamos num tempo em que as pessoas ou os indivíduos são menos apoiados do que no passado pelas estruturas sociais na sua vida familiar.
Consciente deste facto, a família na sua função ou dever social é chamada a exprimir-se sob a forma de intervenção política, isto é, as famílias são convidadas a empenhar-se em que as leis e as instituições do Estado não ofendam, mas apoiem e defendam positivamente os seus direitos e deveres.[4]
Deste modo, somos convidados a defender abertamente os direitos da família contra as intoleráveis usurpações da sociedade e do Estado. Para isso, temos que afirmar e reconhecer que a família tem os tais direitos elencados na carta dos direitos da família:
– O direito de existir e progredir como família, isto é, o direito de cada homem, mesmo pobre, fundar uma família e ter os meios adequados para a sustentar;
– O direito de exercer suas responsabilidades relativas à transmissão da vida e à educação dos filhos;
– O direito de educar os filhos segundo as suas próprias tradições e valores religiosos e culturais, com os instrumentos, meios e instituições necessárias;
– O direito à estabilidade do vinculo e da instituição matrimonial;
– O direito de ter uma habitação digna para levar convenientemente a sua vida familiar;
– O direito das pessoas de idade a viverem e morrem dignamente;
– O direito de obter segurança física, social, política, económica, especialmente tratando-se de pobres, e enfermos,[5]etc.
Portanto, a sociedade e mais concretamente o Estado, devem reconhecer que a família é uma sociedade que goza de direito próprio e primordial. Por isso, as autoridades públicas devem fazer o possível por assegurar às famílias todas as ajudas económicas, sociais, educativas, políticas, culturais de que elas têm necessidade para enfrentar de modo humano todas as suas responsabilidades[6].Assegurando estes direitos primordiais, a família terá toda a capacidade de assumir e transformar a sociedade no sentido do Bem. O futuro da humanidade passa pela família.[7]
Vicente Coelho
[1] Cfr.Familiaris consortio, pág. 62.
[2]Cfr. Familiaris consortio, pág.65.
[3] Cfr.Familiaris consortio, pág.67.
[4] Cfr.Familiaris consortio, pág.65
[5] Cfr. Propositio, pág.42.
[6] Cfr.Familiaris consortio, pág.65-66.
[7] Cfr.Familiaris consortio, pág.118.
Mano
26 de Janeiro de 2018 at 12:43
Eu li e gostei muito do texto e também concordo com que você diz no texto até porque muitas vezes a sociedade ou seja o Estado não respeita os direitos da família.
JED
26 de Janeiro de 2018 at 12:55
Boa explanação
carlos
26 de Janeiro de 2018 at 14:20
Tenho acompanhado algumas das tuas publicações e acho que és muito metódico quando expõe o problema e ao mesmo tempo responde,mais um artigo pertinente.
filho da terra
28 de Janeiro de 2018 at 16:21
Hoje ouvi dizer que uns senhores andaram por ai a distribuir dinheiro, pergunto eu porque que não ajudam as famílias que mais precisam. Vocês andam a enganar as famílias com cem mil dobra ou cem dobra , isto é mau meus caros .
filho da terra
28 de Janeiro de 2018 at 16:23
Olha gostei do texto, espero que jovens como você possam ter esta preocupação de pensar nesses problemas sociais.
fui
28 de Janeiro de 2018 at 16:40
Fico feliz por ver jovens como você a pensar nestes problemas sociais que também são os nossos e de cada santomense em particular. Hoje em nosso país vive-se ou seja encontramos muitas famílias a deriva oquê que Estado faz para ajudar estas mesmas famílias ? É triste quando vemos homens voltado somente para politica e esses problemas sociais como a família fica na graveta de vários dirigentes . Muitas famílias no nosso pais precisam de ajuda para educar os seus filhos , falo de ajuda financeira se subirmos as nossas roças encontramos tantas crianças que não podem estudar porque os pais não têm como custear o seus estudos universitários. A tempos atrás vi um pai aflito porque os dois filhos tinham terminado 12 ano e ele não tinha a possibilidade de pagar a faculdade pública .. Até quando é que vamos pensar nas pessoas pobres , nas famílias pobres? Até Deus vir ao mundo?
Tomé
28 de Janeiro de 2018 at 16:51
Eu gostei do artigo, mostra que falas de coisas que tens nução e que também é uma realidade concreta que se vive em todo mundo . Mas quanto a nosso país este facto é bem visível só não vê aquele que esta cego. Nos arredores da cidade capital isso é visível não é preciso ir as roças não.