Opinião

A outra face do humorista, Abel Bom Jesus

Visitei ontem dia 18/11/2019 a propriedade agrícola do humorista/agricultor, Abel Bom Jesus na zona de Mesquita. Solicitei ao Abel essa visita e prontamente aceitou o meu pedido.

Já o apreciava como um bom humorista, sobretudo porque ele e o seu companheiro Pindó fazem as suas apresentações normalmente em língua nacional “fôro”, através do seu grupo ANDÁ PLIGU. Mas desconhecia com profundidade a sua faceta de um grande empreendedor agrícola. Eis a razão do meu interesse em visitá-lo.

Ele faz também o papel de “repórter”, mas disso não vou desenvolver aqui porque confesso que não gosto vê-lo a desempenhar essa função. Mas uma coisa é eu não apreciar ou não gostar, outra é ele ter a convicção de que faz isso porque gosta e acha que o faz bem. Aliás, apercebi-me que o Abel é um homem de convicções fortes. Leva até as ultimas consequências tudo que acredita. Pode ser um dos trunfos do sucesso que tem tido como empreendedor.

De resto, cada um tem a sua opção de vida, e devemos respeitar. Sendo assim, vou focar o meu registo apenas na sua função de agricultor.
Percorremos demoradamente a sua propriedade de ponta a ponta, que ainda é de alguns hectares. Durante o percurso, o Abel, um jovem de 34 anos contou e explicou-me toda a história do seu empreendimento desde o início até a fase atual. Falamos das dificuldades que encontrou, sobretudo o apoio institucional que não teve, quando iniciou o projeto. Mas porque a sua força de vontade é grande, conseguiu remover todos os obstáculos e hoje é uma pessoa que atingiu um outro patamar.

Constatei que o Abel é um grande lutador, daqueles que não se conforma quando não consegue atingir os seus objetivos. Por isso é que o jovem Abel pode sem margem de dúvidas vangloriar-se de que é um grande empreendedor agrícola ou dizer mesmo que é o maior agricultor são-tomense da sua geração.

A cultura da sua propriedade é baseada fundamentalmente na produção de abacaxis. Mas desenvolve também a plantação de sape-sape, manga, papaia, banana pão e produtos hortícolas.

Para as horticulturas, o Abel utiliza as técnicas modernas aplicadas na agricultura como estufas, proteção do solo com plásticos, sistema de apoio dos tomateiros através de cordas para evitar cortes de pequenos arbustos, como sua contribuição para a preservação da floresta, sistema de rega gota a gota etc. Alias, o regadio de toda a área cultivável é feito através desse sistema, conferindo maior economia na utilização de água, que começa a ser um bem escasso, e melhor eficácia no regadio.

Dispõe de um depósito de água para o efeito, dos poucos financiamento que conseguiu através de representante de um Pais que reconheceu o seu trabalho e esforço, depois de visitar a sua propriedade.

Os abacaxis produzidos na sua propriedade são de ótima qualidade, suculentas, grandes, alguns até pesando mais de 5 Quilos, como se pode observar na imagem. A sua produção é escoada para os grandes supermercados, lojas e o mercado local.

Mas o que me admirou também é que apesar do Abel não ter um diploma de formação agrícola, todavia, tem um vasto conhecimento da agricultura são-tomense em que ele teoriza e pratica como poucos aqui em São Tomé e Príncipe. Ele expõe com clareza aquilo que quer dizer e vê-se que tem um objetivo claro a atingir a curto, medio e a longo prazo.

Na conversa com o Abel apercebi-me que ele investiga muito na internet e tem vários amigos na área da agricultura no exterior, que de quando em vez os contacta quando depara-se com algumas dificuldades. Por outro lado, sempre que se desloca ao exterior, aproveita para visitar esses amigos agricultores com objetivo de atualizar as técnicas mais recentes na área agrícola.

Com seu exemplo de muito trabalho e espírito empreendedor o Abel quer demonstrar a muitos jovens da sua idade que tudo é possível quando se quer e se tem um objetivo a atingir.

Por tudo aquilo que ouvi e vi, realmente na área da agricultura os obstáculos e as dificuldades são enormes. Tem que se lutar contra muitas adversidades e uma delas é o grande problema de roubo generalizado. Mas a grande deceção do Abel e também de muitos agricultores é não se sentirem apoiados pelos Governos no sentido de por termo esse mal cronico. Fazer agricultura em São Tomé e Príncipe já é muito difícil e com esse fenómeno de impunidade dos ladrões vem complicar ainda mais a situação.

Quando vejo muitos jovens a deambular nas imediações dos mercados a vender coisas fúteis, não se sabendo mesmo se esses negócios garantem as suas sobrevivências, quando sabemos que há muitas terras abandonadas por aí, por que não seguirem o exemplo desse jovem agricultor? Se ele foi capaz por quê que os outros não são?

Como mais velho que também teve uma trajetória de vida difícil, contei-lhe também o meu percurso. Sobretudo encorajei-lhe a continuar a luta com a mesma determinação que tem tido até agora.

Decidi fazer esse pequeno apontamento como uma forma de apoio encorajador e homenagem ao meu caro amigo Abel e a todos os jovens com a mesma determinação que ele tem.

Se tivermos muitos com Abel, São Tomé e Príncipe seria diferente porque o futuro do Pais estaria seguramente garantido. É nos jovens que está o futuro, independentemente das opções politica que tiverem.

E ao Estado cabe enaltecer e premiar todas as iniciativas com vista ao desenvolvimento do Pais, sobretudo quando vindas de jovens empreendedores, dando-os facilidades e incentivos para o seu crescimento. Este é o meu veemente apelo.

O Abel apresentou-me a sua esposa e filhos. Disse-me que apesar da prioridade dos filhos agora é estudar, contudo, ele tenta sempre incutir neles o gosto pela agricultura.

No final, a esposa do Abel brindou-nos com um delicioso sumo natural feito com abacaxis, manga e gengibre.

Para terminar, só me resta agradecer ao Abel e a sua esposa a receção que me reservaram na sua belíssima casa.

São Tomé, 19 de Novembro de 2019
Fernando Simão

6 Comments

6 Comments

  1. Revoltado

    20 de Novembro de 2019 at 7:13

    Pena que a outra face dele seja tão suja! Não é humorista coisa nenhuma, mas sim activista político teleguiado a distância pelo Trovoada.

    • Dogmar Ayres

      21 de Novembro de 2019 at 9:59

      Você é infeliz e eternamente infeliz, lamentavelmente………

  2. SEMPRE AMIGO

    20 de Novembro de 2019 at 12:34

    Que lindo artigo! Obrigado FERNANDO SIMAO . A Experiência do Abel(dos Abeis) deve ser amplamente divulgada através da TVS,Radio Nacional….. Este seu artigo deve ser distribuído,para conhecimento e reflexão dos decisores politicos deste pais agrícola.A nossa salvação está no campo.
    É respeitando o campo,valorizndo e rentabilizando o sector agriculta é que iremos encontrar soluções que,a médio praso,nos poderá aliviar da forte pressão econômica e social que vai-se agravando com a forte pressão demografica de STP. Não podemos ou devemos esquecer que durante o período colonial as glebas eram a principal fonte de receita da família santomense. Com a independência e a nacionalização das roças uma boa parte das glebas foram sendo gradualmente ou abandonadas ou fracamente aproveitadas.O êxodo da população, sobretudo da população jovem para os centros urbanos em muito tem contribuído para agravar a situação. Por outro lado, com a implementação demagógica da distribuição de terras pelos sucessivos governos na segunda REPUBLICA,sem previa elaboração de uma estratégia de rentabilização das parcelas distribuídas,uma boa parte da terra cultivável vem sendo utilizado pelos não-agricultores para centros de lazer.O DESAFIO está lançado.O EXECUTIVO deve agir com a rapidez acertada e adequada.

  3. Nita

    20 de Novembro de 2019 at 12:49

    Muito bem. Também já tinha ouvido falar sobre este jovem empreendedor. Deus abençoe mais e mais.
    Também gosto do programa humorístico. Mas também ouvi falar do programa de reportagem que não me pareceu bem. Espero que ele repense e se dedique mais as coisas boas como a agricultura, família,etc. Gostei da ideia de publicar este texto. Meus Parabéns ao autor!

  4. SEMPRE AMIGO

    21 de Novembro de 2019 at 12:29

    Como é que o EXECUTIVO irá resolver o problema do crescente desemprego, se continua a assistir-se a um um êxodo assustador de gente, sobretudo jovem, que abandona o campo em direcção aos centros urbanos? Não é segredo para ninguém que o nível de produção de riquezas nesses últimos anos em STP tem baixado assustadoramente.Não devemos nunca esquecer que um país que não cria riquezas cria ladrões.Dái que,VOLTO A INSISTIR,a solução mais imediata está no REGRESSOao campo, criar condições apropriadas para tornar o campo atrativo, sobretudo para a geração mais jovem.
    Criar um PROGRAMA televisivo e radiofónico com a participação activa dos ABEIS, protegido atentamente dos germens partidários,é uma exigência do momento. SEMPRE AMIGO

  5. alma alegre

    2 de Dezembro de 2019 at 16:43

    Grande exemplo e boa visão. realmente Abel lutou muito para chegar aonde chegou. ainda com muitos invejosos mas, é normal. nunca se atinge o sucesso sem ter fila dos invejosos.

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