Detenho-me neste epígrafe do discurso de Tolentino Mendonça, poeta e sacerdote madeirense,nas cerimónias do Dia de Portugal a 10 de junho de 2020, que foi publicado agora, na íntegra,no seu mais recente livro; aqui, neste texto, posto em forma de interrogação, proponho que nós,os mais e os menos jovens, reflectíssemos sobre o nosso País. Para compreendermos, talvez também por isso, o que significa ser um Povo,embora repartido por continentes, o que é aliás amar um País.
O que é amar um País? O verdadeiro sentido desta questão, afectuosa e patriótica, talvez não se vincule apenas ao facto de espalharmos o nosso caldo cultural e patrimonial, a nossa santomensidade,nem em estar no“cóbó d’auaa mandar boca” (com alguma ironia, claro), mas sim em querer o seu bem, em agourar o bem para o seu Povo– e, isto, traduzido na prática, talvez seja a melhor resposta que podemos atribuir a esta interrogação, penso eu.
Cada dia, ouvimos dirigida a cada um de nós a pergunta: o que tens feito para o país? Provavelmente a resposta seria apenas“a tratar do seu trabalho, da sua família; a cultivar as suas relações ou o seu território de vizinhança – mas é importante que se recorde que, cuidando das múltiplas partes, estamos juntos a edificar o todo”. Cada são-tomense é um pedreiro–labor de quem põe a mão na massa –e é convidado a colocar pedras na reestruturação da nossa ilha-arquipélago. Como?
Repensando e corrigindo os pensamentos e algumas decisões, defeituosas e oportunistas, tomadas até aqui, criando oportunidades de reencontro entre aqueles que estão no espaço físico nacional e os que estão no “cóbó d’aua” (no estrangeiro), como um e único Povo, para que possamos sair juntos desse labirinto que nos encerra, mesmo depois de quase meio século da nossa governação enquanto Estado (in)dependente. O País precisa ser redescoberto,agora mais do que nunca, por cada um de nós! E não há outro jeito senão através de mulheres e homens que quotidianamente o amam, edificam e esperam; que diariamente vêem São Tomé e Príncipe onde quer que São Tomé e Príncipe seja: em São Tomé ou na região autónoma do Príncipe, no território nacional ou nas vastas redes da nossa diáspora.
Ora, se é verdade que muito contribuíram e deixaram-nos, como herança, os seus efeitos históricos, de como se deve amar um País, também é verdade que nós podemos fazer semelhante, seguindo as suas pegadas. Vale bem a pena olhar para o contributo que eles deram, para que possamos ser isso mesmo: País Soberano de São Tomé e Príncipe!
Portanto,amar um País é olhá-lo, aliás é olhar para o seu Povo, como se fosse à primeira vista, enamorado, encantado, com paixão (ou compaixão); amar São Tomé e Príncipe é produzir riquezas, não os endinheirados, para que todos os seus cidadãos se sintam confortáveis(mas para isto, basta-nos a integridade e boa governação, testemunhadas por atos e não por mudanças constitucionais), pois, parafraseando um escritor moçambicano, “a maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riquezas, produz ricos.
Mas ricos sem riqueza”. E mais: amar esta pequena Terra, é mudar de roupagem, não é criar uma sociedade democrática,sem que nenhuma instituição, com competência para fiscalizar aspectos lesivos à probidade pública, venha a terreno dizer basta. Isso explica, por exemplo, que a falta da transparência ou, se quisermos, o desvio de erário público seja até hoje o maior celeiro daquilo que é tudo menos amor ao país,e por isso dizem-nos que há uma nova era de combate aos atos de corrupção;enfim, amar esta ilha-arquipélago, semeada do fundo do mar, é fazer da sua liberdade uma luta atual! Por isso termino, como iniciou o poeta madeirense o seu discurso, com o poema de Herberto Helder: “como pesa na água (…) a raiz de uma ilha”. Boa leitura.
Ass.: Francisco Salvador
Outro aspeto
29 de Agosto de 2020 at 14:48
Excelente Reflexão.
Quero ser ousado para acrescentar de que no nosso caso em particular amar a nação que nos viu nascer passaria por educar os seus concidadãos e muni-los de ferramentas propícias a fim de fazer deles gentes sabias com principios e valores capazes de olhar para si e definir sem medo o seu futuro, por outro lado esta educação devera ter efeitos multiplicadores isto é, devera também lhes livar de governantes maliginos que enriquecem com o deteriorar coletivo da população.
Falta-nos velentia nesta terra, temos tudo menos gerência e decisores de boa fé!
Como será
31 de Agosto de 2020 at 20:09
Lindo…lindo artigo de se ler, esta na hora de todos santomenses pensarmos desta maneira. E por outra ciar riquezas no pais, e nao ricos,enquanto vivemos numa pobreza EXTREMA, este cenario indica falta de “amor” a pátria
Nguê téla
30 de Agosto de 2020 at 1:02
Excelente artigo. É bom que pensemos no país com amor!
Sum Felêla
31 de Agosto de 2020 at 22:19
Grande Francisco! Grande artigo! Muito bem visto, meu amigo. É desses homens que o país precisa…
Denis Santos
1 de Setembro de 2020 at 6:29
Bela reflexão.
Acredito que para se amar é preciso saber amar. Os nossos mais velhos que receberam a STP em 75, tinham respeito e preservavam o nacionalismo, o regime de colonialismo não permitia espaço para o amor mas o respeito e a educação eram palavras de ordem. Hoje os mais jovens não sabem o que significa nacionalismo ou amor a terra. Não temos homens de referência (tanto é que da reflexão feita não foi citado qualquer autor santomense), não temos um sistema de educação virada para formação do homem em cidadania, valores nacionais e culturais, a própria autoridade do país valoriza o estrangeiro em detrimento do nacional… Como podemos amar se não formos ensinados a amar? O amor pode ser um instinto mas amar é a razão. É preciso ser educado para amar, é preciso que quem dirige o país ensine o povo a amar. É preciso mostrar ao povo que o contributo de cada pessoa é importante fazendo uma boa gestão esse contributo.
Eu amo STP e decide pagar os meus impostos, decide educar meus filhos para não deitarem lixo na rua, decide ajudar e amar o próximo, decide criticar quando está mal e defender quando está bem e decide criar riqueza em stp.
Carlos de Trindade
1 de Setembro de 2020 at 17:48
Excelente artigo, meu caro. Vale bem a pena olhar para o país com amor. Não podemos continuar a hipotecar o país para os nossos benefícios. As instituições de probidade pública tem que funcionar. Os infratores não podem continuar impunes!
Basta!
1 de Setembro de 2020 at 17:54
Amar São Tomé e Príncipe é dizer basta de corrupção e nepotismo!
Assim não dá!
2 de Setembro de 2020 at 8:53
O país precisa de criar riqueza sim, não ricos. Falava-se dos dirigentes de ADI, mas MLSTP estão a fazer pior. Os país parece que é só deles, é só eles com eles. Esses homens não pensam e nunca pensaram no povo