Opinião

Um Inferno em Cabo Delgado

Moçambique é um Pais irmão que faz parte dos PALOP, membro da CPLP, e outras Organizações regionais, continentais e mundiais. Acabado de sair de um conflito armado interno que ainda não está totalmente resolvido, atravessa neste momento uma situação dramática da sua história, com a invasão armada do seu território.

Como não bastasse, e como um mal não vem só, Moçambique ainda tem deparado nesses últimos tempos com vários desastres naturais que acontecem de vez em quando, sem falar num problema não menos importante que é a pandemia de Covid 19 que tem ceifado muitas vidas, e criando problemas de atraso económico e desenvolvimento em todo o mundo.

Como é óbvio, toda essa situação tem comprometido o grande esforço de desenvolvimento que esse Pais irmão tem feitos com vista a melhorar as condições de vida das suas populações.

A incidência do conflito armado, está localizada na Província de norte de Moçambique chamada Cabo Delgado, protagonizado por um grupo islamita da DAES, que não se conhece bem os seus objetivos, mas que tem cometido as maiores barbaridades contra as populações de algumas cidades e localidades nessa Província, matando, saqueando, queimando casas, plantações e roubando gados e outros haveres das populações indefesas. Neste momento, os combates perseguem em algumas cidades que ainda estão ocupadas por esses insurgentes com característica de grupo terrorista.

Algumas questões não consigo entender, como por exemplo; donde vem o financiamento e o armamento sofisticados com que esse grupo sustenta as suas operações de guerrilha? Onde é que eles treinam? Mesmo no território moçambicano ou em Países limítrofes? Por quê tanto apatia dos vizinhos nesse conflito? Quem está a beneficiar com tudo isso, quando se sabe que pelo menos um dos Países vizinhos tem recusado a entrada de alguns refugiados que fogem as atrocidades em Pemba, Palma, Mocímboa da Praia e outras localidades, violando todas as normas internacionais?

É verdade que, o facto de esse conflito estar localizado em Cabo Delgado, uma província que possui importantes riquezas naturais, dos quais projetos de prospeção e exploração de gás natural, explica alguma coisa.

Onde é que estão os Serviços de Inteligência das grandes potências mundiais, com meios sofisticados utilizados noutros conflitos, algumas com interesses económicos empresariais importantes em Moçambique? Confesso que tudo isto levanta-me muitas dúvidas.

Por tudo isso, está claro que não tem havido apoio suficiente dos Países vizinhos, Organizações regionais ou mesmo continentais e mundiais a Moçambique, sendo que, se nada for feito urgentemente, esse conflito localizado poderá tornar-se numa guerra de dimensão regional de proporções inimaginável.

Outrossim, qual é o apoio diplomático que a CPLP tem prestado para contribuir para debelar um conflito que tem afetado um dos seus membros e que não começou agora. Se tem havido esses apoios, os cidadãos não os sentem, pois, eles não são suficientemente divulgados.

Fico com a impressão de que Moçambique este sozinho nesta luta complicada que lhe foi imposta, porque não beneficia do apoio suficiente da comunidade internacional, numa situação de gravidade extrema que tem resultado num autêntico desastre humanitário naquela região. O povo heroico de Moçambique não merece todo esse desprezo e sofrimento.

Enquanto isso e perante a apatia da comunidade internacional, o DAES vai transformado o Cabo Delgado num autêntico inferno.

Há algum tempo a essa parte que nós aqui em São Tomé e Príncipe temos sentido muito pouco Moçambique e provavelmente Moçambique também não tem sentido São Tomé e Príncipe. Por que razão isso acontece?

É preciso lembrar que a partir de meados do século XIX, vieram para São Tomé e Príncipe muitos escravos moçambicanos para trabalhar nas plantações de cacau e café das roças coloniais. Ainda hoje há muitos moçambicanos em São Tomé e Príncipe, descendentes desses escravos.

Por outro lado, no quadro da luta de libertação contra o Colonialismo português, houve uma intensa cooperação entre os PALOP, o que contribuiu imenso para o êxito das nossas lutas.

Embora tenham havidos contactos regulares nas Organizações Internacionais entre esses Países da CPLP, no caso particular de São Tomé e Príncipe não existe um relacionamento visível com Moçambique, de modo a manter viva essa irmandade forjada na luta de libertação e dinamizar uma relação de cooperação bilateral profícua.

Como consequência, não se sente o pulsar da situação em Moçambique aqui no Pais. As informações na imprensa local são quase inexistentes relativamente e esse Pais irmão. O pouco que sabemos sobre o conflito moçambicano vem dos míndias internacionais.

Sei que, as nossas condições financeiras, impedem-nos a não poder criar uma Representação Diplomática em Moçambique, que poderia estreitar as nossas relações e eventualmente cobrir muitos Países da Africa Austral, com potencialidades que nos possam interessar. Talvez seja por falta de uma diplomacia estratégica de cooperação Sul Sul que bem precisamos para quebrar o nosso isolamento e estimular o nosso desenvolvimento, mas que entretanto, ainda não foi muito bem equacionada e refletida.

Se não podemos prestar grandes ajudas, contudo, tal como aconteceu no passado, penso que essa irmandade deve continuar ao nível oficial, político e da sociedade civil. São Tomé e Príncipe deve prestar a sua constante solidariedade, de modo a que os nossos irmãos moçambicanos sintam que estamos com eles, sobretudo nessa etapa difícil da sua história. É um dever moral!

Fernando Simão

São Tomé, 31 de Março de 2021

2 Comments

2 Comments

  1. Zalima

    2 de Abril de 2021 at 7:46

    Um inferno em São Tomé e principe isto sim.
    Onta saotme bom para falar de Moçambique.

  2. António cunha dos santos

    2 de Abril de 2021 at 9:10

    Sim um inferno em Cabo Delgado.
    Temos também um outro inferno em STP. Onde é que se viu, que no quadro da reconstrução do Tabuleiro da Ponte junto ao Café Baia, a em presa, retira as proteções laterais da Ponte, e que eram de METAL, e coloca balaústes de betão ciclópico, e que sabemos de antemão será para dois dias? Isto se faz? Onde estão os Diretores da DOPU e do INAE?

    Esta obra tem mesmo fiscalização? Só em STP.

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