Opinião

Novamente, compra de geradores eléctricos?

Durante o período da crise energética ocorrida no mês de Junho de 2023, foi dito que a causa era a escassez de gasóleo, resultante do atraso do navio que deveria transportar esse combustível para o Pais. Entretanto, dias depois o navio petroleiro chegou, mas não conseguiu fazer a trasfega do produto por razões técnicas não acauteladas, devido a falta de profissionalismo dos Responsáveis pela importação de combustível.

Seguiu-se depois da parte do Governo, diligências junto da direção da Estação da Voz de América que resultou na cedência de gasóleo em quantidade para alimentar os geradores da EMAE. A crise energética suavizou um pouco até a resolução de problema do petroleiro proveniente de Lomé- Togo.

Foram mais de 15 dias de quase apagão total em que se viveu a maior crise energética do Pais, com graves consequências para a vida da população, sobretudo as mais desfavorecidas e de baixo rendimento, já que a crise afetou todos os sectores da economia nacional incluindo os transportes.

Naquela altura, em momento algum, os Responsáveis do sector energético do Pais disseram que o motivo do apagão era também a falta de geradores ou geradores avariados, até porque, depois do abastecimento do gasóleo a situação energética normalizou. Como prova, durante o período preparatório e o da realização da Cimeira da CPLP, não faltou energia em todo o território nacional.

Permitam-me levantar esta questão porque há dias, no regresso da sua última visita ao estrangeiro, o senhor Primeiro Ministro Patrice Trovoada anunciou ao Pais a chegada em breve de alguns grupos geradores, segundo ele, fruto de um investimento privado, sem, contudo, dar mais detalhes sobre o tal investimento, o que não deixa de ser muito estranho.

Se bem me lembro, o antigo Governo de Jorge Bom Jesus havia adquirido alguns grupos geradores para suprir as necessidades que se fazia sentir. Paralelamente a isso, negociou a assinou com uma entidade estrangeira a construção da primeira Central Fotovoltaica do Pais, nesta primeira fase com a capacidade de 540 kilowatts, cuja inauguração foi feita em Agosto de 2022. Houve também um projeto de painéis solares de investimento privado que devia ter sido construído perto do aeroporto internacional de São Tomé.

Numa das suas intervenções depois da tomada de posse no ano passado, o Primeiro Ministro Patrice Trovoada reconheceu que a energia elétrica produzida por grupos geradores não é solução, entre outras razões por se tratar de uma energia poluente. Na altura, afirmou que estava na forja um projeto para a importação de gás para a produção de energia elétrica limpa a partir de Guiné-Equatorial.

Entretanto, nunca mais o Primeiro Ministro falou deste último projeto, nem tão pouco das energias fotovoltaicas, recomendadas para a nossa realidade e, de repente, somos surpreendidos com o anúncio da chegada ao Pais de mais grupos de geradores para o fornecimento de energia elétrica.

Tornou-se norma aqui em São Tomé e Príncipe cada vez que entra um novo Governo tem que importar grupos geradores, quando se sabe e todos reconhecem que não é a melhor solução.

Posto isto, o meu questionamento é o seguinte: por que razão existe assim tanta obsessão na opção desta forma de produção de energia, quando todos reconhecemos que não é a melhor? Por que não fazer um pacto de regime e encontrar uma solução consensual, definitiva e duradoira para esse problema fundamental? O que é que se passa que não se esclarece ao cidadão e a população contribuinte? Todas essas dúvidas levam muitos a pensar que, se calhar, por de trás destas importações de geradores poderão estar negócios pouco claros.  Num Pais sério é um caso para investigação.

Por outro lado, um dos grandes problemas aqui no Pais é a falta de cultura de manutenção regular a todos os níveis (estradas, edifícios públicos, viaturas, equipamentos pesados e ligeiros, etc.). O caso dos grupos geradores da EMAE não tem sido exceção, pois, por mais geradores que se adquire se não ser acompanhado de um bom processo de manutenção por técnicos experimentados, estaremos constantemente a começar do zero. Até bem pouco tempo tudo estava bem com os geradores da EMAE e de repente coloca-se o problema de avarias para justificar a importação de novos geradores, ainda por cima, com financiamento privado. Não seria mais útil para o Pais canalizar esses recursos privados para a construção de novas fontes de energia mais limpa e mais barata? Como dizia um amigo meu, com esse andar São Tomé e Príncipe vai-se tornar um cemitério de geradores velhos. Conscientemente, estamos a poluir o nosso ambiente em todos os sentidos.

Por essa razão que, em vez de continuar a fazer anúncios sem consistência, sem sentido, sem programas, de forma atabalhoada, apenas para tentar enganar as pessoas e justificar as inúmeras viagens ao estrangeiro, o Primeiro Ministro e o seu Governo deve apresentar ao Pais um programa de solução definitiva para o problema energético a pensar no desenvolvimento socioeconómico do Pais.

Um programa desta natureza não deve limitar-se a uma legislatura. Daí que, como disse atras, deve ser feito com a participação de todos os Partidos Políticos, Sindicatos, Associações Empresariais e todas as forças vivas do Pais.  Os problemas do Pais são enormes e complexos e as pessoas já deviam ter apercebido que apenas um único Partido Político não terá a solução e a capacidade de os resolver. São Tomé e Príncipe já não aguenta medidas paliativas e de circunstância que nada resolvem.

Este Governo de ADI, deveria deixar de arrogância e prepotência e usar a sua maioria absoluta de forma inteligente para o bem do Pais, se é que o objetivo para eles é mesmo governar para resolver os imensos problemas deste povo martirizado.

São Tomé, 24 de Outubro de 2023

Fernando Simão  

2 Comments

2 Comments

  1. Célio+Afonso

    26 de Outubro de 2023 at 16:23

    Plenamente de acordo.
    O país bateu no fundo do poço por falta de politica de continuidade. Cada partido que ganha eleição reprova tudo o que foi feito pelo partido anterior, para começar tudo de novo!
    Sinceramente! Os políticos ainda não aprenderam que esta metodologia não resulta??????!!!!
    Sinceramente!

  2. Mé Dumu

    26 de Outubro de 2023 at 19:17

    A teimosia esvazia a mente de soluções positivas!

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