Opinião

Zona turbulenta e carnaval na Aclamação da Ditadura Indisfarçável

Alimentando cada dia de esperança, no melhor para o país, a semana de Carnaval, foi inovadora na oferta de risadas e disfarces ao difícil quotidiano do povo são-tomense. A manifestação noutros tempos, apenas tradicional, com o “Trundo”, uma mão de homens mascarados, dois deles, de roupa e gesto de mulher, ao som de duas violas, de porta em porta, amealhavam trocos com satíricas de tendência crítica feminina, mas ainda assim, a juventude, especialmente rapazes da vila, para fecharem em grande e, na terça-feira, os três dias de fantasia, inaugurada no domingo, trajavam-se de meninas para tarde e noite, dançantes e animadas pelos agrupamentos musicais.

Com a soberania nacional, em 1975, os grupos carnavalescos similares aos musicais, “bulawês” e teatros, entre outros emblemas culturais são-tomenses, na animação e satisfação ao maior número do público, passaram a subir palcos e faturar para a sobrevivência cultural. A globalização trouxe samba brasileiro à juventude e não faltam desfiles animando as nossas ruas.

Desde 25 de novembro de 2022 e a consequente sentença do culpado artificial da “inventona” golpista, Bruno Afonso, o Lucas, não faltam máscaras para protagonistas políticos e judiciais, cada um, ao seu estilo e traje, de fato e gravata, incluindo a farda militar das chefias, estas a cheirar sangue humano, tudo exibem, mulheres e homens, no esforço de melhor especialista, em espalhafato de gargalhada barata, não ficando ninguém indiferente ao carnaval deste ano.

Ainda assim, pareceu-me insólito que pela boleia do presidente da República, Carlos Vila Nova – quem não tive tempo de felicitar pelo enquadramento constitucional, depois da brutalidade militar e dos atentados governamentais e da maioria parlamentar, aos valores da república, finalmente, recebeu o líder da oposição – o carnaval, não encerrou pela religiosidade dos três dias. Estendeu-se pela Quarta-feira de Cinzas, o Dia consagrado à matriarca, avó do quintal, que através do famoso “Bôcado”, ou seja, uma colher de “calúlú” à boca de todos e, consequentemente, a suspensão de festas por 7 semanas e, consecutiva, proibição de uso de carne na dieta alimentar, por esse período.

Verdade seja dita, em minha casa, essa formalidade, já era cumprida o ano todo, à exceção dos dias festivos ou quando o peixe não “subisse roça”, já que sem o conhecimento científico, em calorias e proteínas, a guerreira apetrechava saúde humana, no pescado do mar e camarão da água doce.

Na perspetiva cultural, tudo que é moda, pega com facilidade, os líderes dos dois maiores partidos da praça, solidarizaram-se com o chefe do Estado e, infelizmente, prolongaram o carnaval, por uma semana, um deles, apinhado de militantes das duas ilhas e os residentes na diáspora, em caravana alegre e desfile colorindo cada beco da capital e dos distritos de São Tomé e Príncipe.

O líder do MLSTP, na oposição, acalorou-se no Conselho Nacional, no palco de Riboque, para exibir cantigas da inoperância e, sobretudo, pela minha expectativa, carência financeira partidária, após o partido sair em baixa na discussão do OGE, sem que os deputados, na fiscalização da agenda que compromete o país e a vida nacional, encostassem o governo a parede. Tive dificuldades na apreciação e promoção de elegância e no ganho democrático, desse debate morno, em que apesar da mudez da oposição, o governo que deveria erguer sua performance, acomodou-se e não soube explicar os números económicos, um por um.

Como que concurso cultural, o líder do partido no poder, com pompa e circunstância na exibição faustosa do dinheiro que escasseou ao adversário, também sem máscara, juntou dirigentes, militantes e amigos na demonstração de Aclamação da Ditadura Indiscutível e, através de moção partidária, cantou e encantou em festejo carnavalesco de envelopes, eventualmente, que vão chegando da comunidade internacional, espalhando-os pelos companheiros, o que não lhes permitiram abrir o bico. No fim, ao contrário da exigência democrática e das práticas do Estado de Direito democrático, o líder, sem fé na espiritualidade da assembleia, ordenou que não houvesse urna para escrutínio secreto, já que se confirmou fumaça no ar interno, ao ponto da especulação de teste de quebrar asas ao chefe.

Na manhã de domingo, após o fecho dos dois palcos carnavalescos do sábado anterior, os bombardeios chegaram ao meu “plé-mundo”, terra longínqua, com partilha do carnaval do cinema Marcelo da Veiga. A minha amiga, das poucas que ainda distinguem os pilares da nossa longa amizade com o falso arcabouço partidário, mantemos diálogo elegante e permanente, quem dias antes hesitava pela presença no Congresso Extraordinário – é militante do MDFM e já foi do MLSTP – mas estando em jogo o tacho do amante, ela é oficialmente a segunda, embora excitada, achou em rigor, vestir a camisola amarela, dando coro à Aclamação Ditatorial Inquestionável.

Inquietante, foi a Polícia de Judiciária, apetrechada de procuradores e mandado do Ministério Público, no teste à prometida instalação de CCTV pelas cidades iluminadas, não ter em nome da justiça social, invadida os dois palcos carnavalescos para detenção de todos colarinhos brancos, demais larápios da coisa pública e alguns, num deles, cúmplices de mãos de sangue da chacina de 25 de novembro, dando sinal ao povo desesperado e amedrontado de que, em diante, já não serão visíveis sinais exteriores e sazonais de riqueza de governantes e gestores públicos dos dois partidos reunidos, em carnaval, para reconduzirem as respetivas direções.

A amiga, quem sempre encontrou fundamentos de defesa, como a de comer em várias bocas, para a imposta sobrevivência da aparência de gente de classe média, atirou-me, de surpresa, com duas das fotos. A primeira, vestida em elegância amarela – fica guardada para memória futura – foi de Célia Pósser, a antiga executiva, na altura, embora fresca da universidade, pelas mãos do pai Pósser da Costa, conseguiu chegar e exercer cargo de governante, na cadeira do MLSTP.

Rapaz chato, como preferiu catalogar-me, eu quis saber, o que levou à aclamação do líder pela antiga bastonária da Ordem dos Advogados que jurista, em ato contra o descarrilamento do XVI Governo, 2014/2018, liderado na época, pela terceira vez, por mesma figura, o atual 1º ministro, ela juntou toda classe de direito na praça e, simbolicamente, todos queimaram diploma, devido a violação governamental do princípio de separação de poderes e, claro, atentado ao Estado de Direito.

Sem satisfazer preocupação pessoal, a funcionária pública, jogou-me com outro amarelo e azul, agora, do antigo ministro das Finanças de ADI, Américo Ramos, o atual governador do Banco Central, um pouco desajeitado – sem máscara, não foi solitário no disfarce ao telemóvel – na dificuldade de distinguir mão direita da esquerda, com dedos de vitória, mas em medidas certas ao seu antecessor, Américo Barros do MLSTP, na coordenação das contas públicas, confundiu outra vez, Estado e partido, numa só salada carnavalesca.

Relembrei à Esperança, a minha amiga, de que a Democracia funciona nos carris de partidos políticos fortes, debates de ideias, projetos estruturantes e pistas de crescimento económico, por cada etapa, bem avaliada pelo capital humano para demonstrar transparência nacional, elegância partidária e pés seguros do líder e, jamais simpatia às palavras, aos bolsos e ao sorridente rosto do chefe. Então!?

Qual a explicação do líder da ADI, temer os votos dos militantes, optando por submeter os companheiros à cantiga anti-democrática, dando uma nota musical negativa ao V Carnaval da semana, logo a seguir ao tradicional, juvenil, presidencial e ao dos camaradas?

Desde 1990, 22 de Agosto que o MLSTP, na ousadia do chefe do partido-Estado, de então, desligou-se de práticas ditatoriais com o povo votando, em massa e introduzindo no lixo, o culto de personalidade e a eleição do líder, por aclamação. Mais de três décadas depois, soa muito péssimo aos ouvidos da Democracia um partido mobilizador da juventude e com cassetes rasuradas de organização do Estado e «novo ciclo com todos», apenas os submissos, o líder quarta vez na chefia do governo, retroceder-se à tão desprestigiante, ditadura partidária, apesar de nada estranho, já que, aqueles que ajudaram ao pai fundar ADI, Carlos Neves, Gabriel Costa e Edgar Neves, três exemplos nítidos de tantos outros que bateram com a porta, porque diálogo, contraditório e debate político, não fazem parte de ADN do partido.

Sem esclarecer a pertinência das imagens partilhadas, ela pediu que eu, apenas digerisse o meu olhar carnavalesco, numa terceira fotografia, a da plateia colorida de amarelo e azul, acabando por nutrir nosso “matabicho dominical com, «você quer saber mais do nível académico do nosso carnaval mental»?

22.02.2024

José Maria Cardoso

1 Comment

1 Comment

  1. Gato das Botas

    26 de Fevereiro de 2024 at 8:04

    É cada vez mais penoso ler este conjunto de palavras sem sentido vindas de quem julga que sabe escrever. Esrte indivíduo pouco sabe mas não tem a humildade de se retirar e deixar de fazer figuras tão tristes. Uma vergonha que este site dê voz a quem escreve tão mal. Pedante, desinformado e incapaz, assim é este cronista. Uma vergonha.

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