Opinião

Canto da Lusofonia

O mundo podia ser deslumbrante e de estonteante degustação para nós, os outros, de fervor e de grandíssima esperança. Bastava maior afinco e entusiasmo na aproximação, de facto, de todos os povos da lusofonia (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e longínquo Timor Leste).  Ah Timor! Seis meses para ir e outro tanto para voltar – lamuriava o velho Marcelo de Vila Nova, em todas as tardes, quando seroava com os novatos da redondeza, no seu poial de todos os saraus e lamentações das enviesadas coisas da vida. Marcelo cumprira duas comissões de serviço em Timor Leste, no tempo da juventude e da outra anciã senhora.

Talvez tenha guardado algumas boas recordações, com mágoas e ressentimentos à mistura, nas aventuras por aquele extremado canto do planeta. Porém, se me querem assaz bonito e porreiro na fotografia, posso até trazer à ribalta a verdejante Guiné Equatorial. Nada contra o povo daquele africano território.

Apesar de o país cumprir um pouco a contragosto os dois mais emblemáticos pontos dos ditames da CPLP, isto é, a melhoria dos direitos humanos e a correlativa abolição da pena de morte, para lá de uma democracia efetiva. Relativamente ao país em apreço e à guisa de balanço, dez anos depois da sua aceitação como membro da CPLP, convém frisar o seguinte: não tem entrado na plenitude, o seu povo quase nula convivência evidencia na relação com os demais da organização; não respeita a sacra palavra dada, não ensina a língua portuguesa, o elo fundamental da própria comunidade.

Já vem do lendário Viriato Lusitano o esforço elementar, com ríspido aedo de guerreiro e mentor de tudo isto, a missão de alicerçar algo de novo e modelar. O dito idioma acaba por ser a mais extraordinária cola de ligação e de coesão, para o perfeito entendimento entre todos os membros da ilustre confraria, de aliciante nome de batismo e de agradável sonoridade, lusofonia, mas, enfim.

Lá vai a driblar sempre os enigmas e destinos, o temerato Teodoro Obiang, seguindo a passos largos, para não dizer de tartaruga, no cumprimento dos desideratos que o levaram a pedir a entrada do seu sem cabresto e musculado reino na organização e nós, como pacientes observadores, devemos ficar à espera de dias melhores.

A grande verdade é que hoje, depois de 10 anos, devíamos estar a dar os sinceros parabéns ao caçula do rebanho pela sua entrada no grupo e cabal cumprimento da agenda ou cronograma de realizações em matéria daquilo que então foi estipulado. Infelizmente, não se vê nada de palpável e concreto nesta polémica e contestada adesão. A nível do gritante problema dos direitos humanos, quase tudo se mantêm na mesma.

Bem, pelo menos já aboliu a pena de morte, um passo determinante rumo a uma civilização isenta de voluntarismos e de barbárie, embora não totalmente, como seria de desejar. Se a sanha do Presidente Obiang Nguema ou do seu consanguíneo sucessor e delfim de pompa, quiser voltar atrás com a palavra, nada se pode fazer para reverter a barganha e garantir a sua permanência num lugar que só entrou para irritar a Espanha, antiga potência colonizadora do território e albergue dos opositores do seu regime. Deixemos, por ora, os empecilhos da banda da Guiné Equatorial e do seu sistema, na concretização do sonho lusófono.

Às vezes, ponho-me a pensar no imenso e azulado mar de Cabo Verde, na abundância dos seus calhaus de natureza basáltica e polida, na silhueta das suas mulheres esculturais e de arrepiante pulcritude, bem como nas doiradas dunas de areia do Namibe, na biosfera da Guiné e na diversidade das Ilhas dos Bijagós, nas extensas dimensões de Angola e Moçambique, nas vertiginosas quedas de Kalandula, na abençoada terra verde de São Tomé e Príncipe, por exemplo, bem como na ciência e na experiência do Brasil e Portugal, para nem elencar outras profusas polivalências e mais valias.  

Em boa verdade, a amplitude da nossa pertença comum é mesmo plúrima e próspera bastante. Fico por aqui, por enquanto. Pois tenho um acordo para cumprir com os jornais, em como não devo alongar-me muito nas gratuitas divagações ou escrever em demasia, evitando as sempre desagradáveis repetições ou redundantes tautologias, algo manifestamente maçador e entediado para o leitor.

Contudo, sobre as múltiplas vantagens da diversidade no interior da CPLP, para não ir mais longe, apenas me imagino em palestras de intercâmbio cultural ou a passear, em barcos de lazer e de recreio ou de pesca desportiva, em faustosas zonas ribeirinhas das nossas terras. Seria uma maravilha, caso houvesse vontade política, poder de compra e meios de transporte para tanto. Para já nem mencionar o incremento das intensas e proveitosas trocas comerciais.

Domingos Landim de Barros*

*Lusófono convicto

1 Comment

1 Comment

  1. Arlindo Mendes Vieira, PhD

    26 de Agosto de 2024 at 22:29

    O texto de Barros reflete sobre a riqueza cultural e a potencialidade de união entre os países de língua portuguesa, destacando a importância da cooperação e do respeito aos direitos humanos. O autor menciona a Guiné Equatorial, que, apesar de ser membro da CPLP, não cumpre plenamente os compromissos com a comunidade, especialmente no que diz respeito ao ensino da língua portuguesa e à promoção dos direitos humanos. O Escritor Landim lamenta que, após dez anos de adesão, a Guiné Equatorial não tenha avançado significativamente, exceto pela abolição da pena de morte. O autor expressa um desejo de ver uma verdadeira integração entre os países lusófonos, valorizando as belezas e diversidades de cada nação, como Cabo Verde, Angola, Moçambique, Brasil e Portugal. O texto conclui com uma reflexão sobre a necessidade de vontade política e recursos para promover intercâmbios culturais e comerciais entre os países da CPLP, enfatizando que isso seria uma grande conquista para todos.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

To Top