Opinião

Um Mimo Atirado a Toque de Caixa

Ergo-me do chão, agora, defronte da minha história. Limpo-me da poeira e vou ao orbe. Tudo o que de torpe desaparece, diante da iminência de redenção. Tenho o bastão de probidade dos meus caríssimos heróis. E mais: conto com a bênção dos outros excelsos maiorais do meu ofício. Irrompe-se das trevas a mirífica partícula de Deus, com a áurea proporção brotando dele. Tudo exala bem a meu contendo. Estabelece o Ser do alto a holística visão na minha indústria.

Depois, abona-me de espirituosa ligação entre Cutelo de Eutimia e Milho Pula, Ribeira de Candura e Achada Equestre, Enseada de Horizonte e a vizinha Ilha do Quinto Mês. Esta, enquanto caçula da minha estima e de toda enternecida contemplação, acaba sendo assaz bonita e mimoseada. A Serra de Picante, a verdejante Ribeira de Tabugal, em Santa de Novembro, o alto de Rui Vaz e as portentosas lamparinas de enlevado Monte Tchota das minhas fúteis e inesquecíveis noites de vacuidade.

Ah candeias daquele sítio, nos instantes de criancice! Contudo, apraz-me ver a aura do divino no meu simplório imaginário, suprindo a minha falta de talento e habilidade. Tudo isso, sem a isca de pecado prevalecendo. Sinto, em vez do asco, a púrpura magia em meu redor. É sinal de místico poder e de sapiência. Ressumbra de dentro para fora o magnífico aedo do criador. O ambiente de deífica feição refuta a cansativa ladainha mal composta dos arreigados e rudes imbecis.

O planeta pode pular, entoar e cantar o hino de irmandade, quando defronte da minha tela de visão mirabolante, à sombra da mansão dos humildes servidores da humanidade. Serão sempre os benquerentes do paraíso. Assim, o simples Barnabé, o desprendido João de Barros, o inimitável Manuel Fernandes Tomás, o singular Aristides de Sousa Mendes, de Portugal, bem como o saudoso e denodado Joaquim Pinto de Andrade da “linda Angola”, na afetuosa e lírica expressão do exímio trovador, Alonso Waldemar Bastos.  Ah Joaquim Pinto de Andrade!

Que colossal intrepidez? Pois, apesar dos ingentes belzebus e de miriápodes entraves dos rapazes de calcinha daquele tempo, com repetidas tropelias e nefastas detenções da velha saga de iniquidade, firme se mantendo no combate por ideal de liberdade.

O memorável nativo de Golungo Alto, intacto e sereno, com aprumo no caráter, lisura na feição de inexcedível cavalheirismo, sem nunca claudicar na defesa da refulgente dignidade do povo do seu país. O compincha das amargas horas de provação do estroso combatente, Agostinho Neto, o patriota e sacerdote, com fé em cristo e fé na luta, estava ungido de uma dupla de missões: libertar o ser cativo e evangelizar o novo homem do território.

Por isso, sempre pronto a dar o couro pela verdade. Nesta plêiade de magnânimas personas, de irredutível honestidade, inclino-me a incluir no seleto mesmo clube do meu apreço o valioso compatrício do Cutelo de Selada de São Miguel, o vizinho da minha então eira campesina, Marçal Domingos Furtado. Sobretudo nesta fase de infernal atabalhoamento, com a pressa de vampiro e com azáfama maligna, em meio a uma malandrice sem precedentes e fervilhante satânica ganância, com enfoque no injustificado enriquecimento, importa mais que nunca exaltar o impoluto cidadão em causa.

Podia muito bem ser hoje um magnata, como tantos outros favorecidos pela fatal oportunidade. A sextilha destas magnificas figuras compõe o grosso das referências valorativas da minha vida, em matéria de rebuscada seriedade. Seres humanos de invulgar integridade, que viveram e deixaram viver os outros, respeitando a cada instante a salutar alteridade.

Como diria Lucas, o devoto de Jesus de Nazaré, em 14/11 – “Porquanto, qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado; e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado”. Todavia, os galopantes satanases da nossa era nunca se bastam de coisa alguma. Razão por que vivemos hodiernamente uma loucura descontrolada pela abastança, levando a que alguns façam trinta por uma linha, afim de se afirmar e anular o semelhante.

Tudo por causa do ego exacerbado, em busca de tenças e rendas e prebendas. Então, os infartáveis indivíduos, com umbigo do tamanho do universo, com esta desastrosa propensão para perfídia, têm tremendas dificuldades em enxergar o grande mal que fazem ao planeta, ignorando que o ego exagerado é a pior caraterística do ser humano.

Atrofia a matriz do cosmo, cilindra e mata o alicerce do firmamento. Pois, é o diabo absoluto, bailando na cumeeira do mais inóspito e pútrido entourage. Em nossa diletante Mamãe África, por exemplo, alguns afortunados fundadores da nação e de mais tarde falaciosa democracia não largam o poder por nada deste mundo. Arrebanham tudo para si e para família, até milhenta geração. São donos da coutada, da alimária e das pessoas; da substância, do símbolo, do eco e do nome dos países. O próprio ar que o povo respira pertence aos imbastáveis sibaritas e trogloditas.

São os depravados comilões e beberrões. Os esdrúxulos satãs acabam por envergar as vestes de monarcas intocáveis e tiranos a toda a prova. Os pérfidos trânsfugas e sacripantas sequer sabem driblar, para se escaparem da ultrajante conotação. Há também os diabólicos artistas e gabarolas, ansiando criar o feudo de vassalagem por toda a parte. Alguns asquerosos salafrários até prometem retirar o pergaminho dos seus confrades, conseguido com enorme sacrifício, com sangue fresco nas narinas e grudado suor no rosto. Ah Rei Mandume e talentoso vice-chefe dos Kwanyama, António Vakulukuta! 

E aqui, entre nós, nesta pobre “junta de freguesia”, qualquer espúrio representante e reizete de empresazita de porcaria ou associação parasitária de mata fome, arma-se em espertinho, à moda de um folgado galã de instância, age a seu extremo bel talante e nunca presta contas a ninguém.  Assim, naquilo que mais importa para imitar e incorporar, não pode entrar o mimetismo colhido dessa gentalha de estonteante despudor e de suja barriga larga. Por uma questão de suprema moralidade, à margem da seara de eleição da minha esfera ficam sempre esses marmanjos-cara de pau. Chove, porém, o dom de ubiquidade, o bálsamo estelar do altino ser alado, na lavra dos humildes cidadãos e comedidos. Por isso, creio piamente no advento da minha hora de gota de água.

Domingos Landim de Barros*

*Na pele de Sísifo Ali Jó

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