Ouvindo o ego insuflado da adolescência tardia de um travesti revolucionário. Ouvi o ruído do arame a friccionar a “roda” que rola, recordei os bairros da periferia:
Os pés descalços, o catarro lambido, as corridas desenfreadas, as quedas aparatosas abrirem feridas, os joelhos ensanguentados, às comichões da pulga que penetra, responde-se, com a dor do alfinete antes que a matacanha chague os dedos do pequeno, aos calções da semana de fundilho remendados que, cheirando a urina, poupam o sabão que as mamãs não podem pagar, a pedra na fisga de elástico que acerta o passo à passarada, a fruta roubada e o grito da vizinha, o tangir nas grotas da profundeza das Ilhas, o eco em resposta, a manga, o azedo safú, ambas caídas do Céu e que matam a fome, a espinha é o que se evita, no mato que alberga os dejetos largados à ‘mal-a-boia (à má fila) “Oh, felicidade ingénua!”
Nos tempos que correm, considerando o risco de trissomia 21, é aconselhada a interrupção voluntária da gravidez.
Cola Manga Bassu, “Colonoscopiando descolonizador de 22 anos em 1974, hoje, ainda adolescente e velho”.
Justificando-se alguma contextualização:
O texto condena duas violências:
1. O presente pós-colonial: Eugenia social (aborto seletivo) e a estagnação de uma geração que não consegue curar as suas feridas. A arrogância cívica, personalizada em discursos patéticos duma infantilidade perversa e num nacionalismo teimosamente infantil.
2. A invocação irónica:”Valha-nos o Santo António” sintetiza o desespero: nem os santos nem as revoluções salvaram os marginalizados. A única “salvação” é a escrita como ato de resistência.
Genito Pereira
Belmiro Mongo
14 de Junho de 2025 at 2:25
Bom trabalho meu caro Genito.
Um abraco GRANDE!
SEMPRE AMIGO
16 de Junho de 2025 at 12:39
Recordar é viver!Saboriei o que escreveste.Julguei-te jà perdido para os santomenses.Graças a Deus que não.Um forte abraço!