Comemora-se no dia 3 de Fevereiro de 2025, o 72º aniversário dos trágicos acontecimentos de 1953, em que milhares de santomenses foram barbaramente subjugados pelo terror e pelas arbitrariedades e desmandos dos carrascos a soldo do governador Carlos Gorgulho.
Tratando-se de um facto histórico comemorado em cada ano e de que todos temos vindo a tomar conhecimento, ainda que de forma avulsa, optei por incidir a tónica desta comunicação nas causas remotas e próximas que lhe estiveram na origem, de modo a encontrar um fio condutor susceptível de facilitar o seu melhor entendimento, em particular às novas gerações.
Daí que tenha enveredado por um texto que espero suficientemente esclarecedor, capaz de ser acompanhado sem dificuldade por todos e de servir de base a um diálogo aberto acerca de um tempo de repressão e barbárie que tanto marcou a nossa história.
Tudo começou com a chegada a S. Tomé e Príncipe, em 5 de Abril de 1945, do governador Carlos de Sousa Gorgulho, militar português da ala reacionária e conservadora que pusera fim, com o golpe desencadeado pelo General Gomes da Costa, em 28 de Maio de 1926, à 1ª República Portuguesa.
Gorgulho trazia consigo dois grandes objectivos, duas verdadeiras obsessões que se articulavam num plano que teria de levar a cabo a qualquer custo:
- Resolver o crónico problema da mão-de-obra com que se confrontava a economia de STP, traduzido pela necessidade de importação, sob o regime de contrato, de trabalhadores de outras colónias, perante a firme recusa dos santomenses de trabalharem sob esse regime;
- Em função da concretização deste objectivo, ser nomeado para o cargo de Governador-Geral de Angola.
Para o efeito, durante os três primeiros anos do seu mandato, Gorgulho procurou ganhar a estima da população, através de uma governação verdadeiramente realizadora, como primeira etapa para a sua reeleição: os passeios em carro descoberto, distribuindo rebuçados e guloseimas pelas crianças, o sorriso constante nos lábios saudando a multidão, as obras de reestruturação da cidade, fixação do salário mínimo para os trabalhadores do comércio, indústria e agricultura, limitação do horário de trabalho, criação da Escola das Artes e Ofícios, saneamento e aterro de pântanos, a terraplanagem de pistas para aviões, reparação de estradas e construção de aquedutos, construção de casas para funcionários, construção de um pavilhão de isolamento para tuberculosos, etc.
O que terá então acontecido para Gorgulho mudar a sua política de aproximação à população e enveredar pelo caminho das rusgas e prisões por que se caracterizaria a partir daí a sua governação, que iria redundar no massacre de 1953?
Vejamos as causas remotas desse trágico acontecimento:
- A necessidade de mão de obra
Nos finais da década de 40, debatendo-se elas próprias com graves problemas de escassez de mão de obra para o seu desenvolvimento, as colónias fornecedoras de contratados, sobretudo Angola e Moçambique, começaram a restringir a saída dos mesmos para S. Tomé e Príncipe.
Esta mesma época foi marcada pela baixa de produção do café e do cacau, o que fez elevar no mercado internacional a sua procura e, daí, os respectivos preços. Havia, pois, que intensificar a sua produção e isso só era possível mediante o concurso de uma mão de obra abundante e barata, isto é, através do recrutamento da mão de obra local. Ou seja, os forros tinham forçosamente que trabalhar sob o detestável regime de contrato.
Encontrando resistência, Gorgulho recorreu à força: rusgas constantes, trabalhos forçados, espancamentos, prisão arbitrária dos nativos.
- A mentalidade de superioridade dos forros
No passado senhores de terras, do que resultou a existência de uma importante elite que tanto no interior como em Portugal se empenhou na defesa das respectivas populações, o forro, a quem nunca foi atribuído o estatuto de indígena, considerava-se por isso superior aos trabalhadores contratados das roças e mesmo aos europeus, sentimento que se constituiu numa poderosa arma de oposição ao regime colonial.
- A aversão dos serviçais contratados pelo facto de os forros não trabalharem nas obras públicas e nas roças sob o regime de contrato, não obstante as várias tentativas feitas após a abolição da escravatura (1875) por governadores coloniais, a pedido dos proprietários brancos de grandes latifúndios visando a contratação dos nativos.
- Firme e persistente rejeição dos forros, sempre apegados ao trabalho livre e de empreitada ou nas suas glebas.
- As políticas falhadas de transferência de forros de STP para outras paragens e de fixação no país de milhares de contratados de Angola, Moçambique e Cabo Verde, esta última a levar à construção de aldeamentos para o seu acolhimento: o objectivo consistia no significativo aumento da população e na consequente diminuição da importância dos forros.
- A ideia de liquidação da elite esclarecida e dizimação da população forra.
- A destruição da vida económica dos forros, através da:
– promulgação da Portaria nº 32 de 1 de Julho de 1930, pela qual foi criado o imposto individual indígena, o chamado imposto de cabeça;
– proibição de extração e venda do vinho de palma (portaria de Janeiro de 1947);
– interdição do fabrico e venda da aguardente de cana (portaria de Junho de 1947);
– erradicação de algumas associações nativas (Associação dos Socorros Mútuos e o Sporting Club de S. Tomé).
. Trindade: Palco de oposição ao poder colonial:
– O incidente no dia de Deçu Padê (Junho de 1900), com a morte de um santomense;
– Movimento dos soldados nativos do Corpo de Polícia, em 1921, contra europeus, com fortes repercussões na Trindade, de que resultaram mortes.
– Incidentes em 1926 ocorridos na eleição do Dr. Aires de Menezes a membro do Conselho Colonial, que redundaram na destruição por europeus do recheio da sala da Liga dos Interesses Indígenas, importante associação dos nativos.
– Fraca participação dos trindadenses nas eleições presidenciais portuguesas (fraudulentas) de 1949.
– A recusa da população da Trindade em ir receber Gorgulho no aeroporto aquando do seu regresso de Portugal, em Outubro de 1951.
– Trindade era, por sua vez, residência do grande nacionalista e símbolo da resistência popular ao domínio colonial, o Engº Salustino da Graça do Espiríto Santo, a quem Gorgulho imputava toda a rebeldia e a irreverência da população local.
A estas causas vieram juntar-se as seguintes causas próximas:
- Carta dos naturais de STP enviada a 30 de Setembro de 1950 para o Ministro do Ultramar, dando-lhe conta das injustiças praticadas por Carlos de Sousa Gorgulho contra a população nativa, o que enfureceu sobremaneira o Governador
- O descontentamento e a tensão provocados na população forra pela entrevista dada em 8 de Janeiro de 1953 ao jornal Voz de S. Tomé pelo Inspector da Curadoria Geral dos Serviçais, Franco Rodrigues, preconizando o nivelamento social, colocando no mesmo patamar forros, angolares, minuiês e serviçais contratados das roças, prenunciando o advento do contrato para todos.
- A afixação de panfletos de revolta nas paredes de diversos edifícios na cidade (madrugada do dia 2 de Fevereiro), ameaçando de morte o Governador se ele permitisse que tal viesse a ocorrer.
- Nota oficiosa do Governador desmentindo a ideia de pretender contratar os nativos (Início da tarde do dia 2 de Fev).
- Destruição de muitas das citadas notas oficiosas, sobretudo na Trindade. (manhã de 3 de Fevereiro).
OS PRIMEIROS ACONTECIMENTOS
- A morte de Pontes por José Mulato, que chefiava a primeira equipa de rusga na Trindade, que tinha como incumbência descobrir os autores dos panfletos e quem tinha rasgado as notas oficiosas (dia 3 de Fev., pelas 22horas).
- Interrogatório e prisão do Engº Salustino Graça, de imediato enviado para o Príncipe, em companhia de outros presos. (madrugada do dia 4).
- A morte do alferes Jorge Amaral por Zé Cangolo (manhã de 4 de Fevereiro).
- Rusgas ferozes na Trindade e suas localidades feitas por polícias recrutados dentre criminosos, contratados das roças e por voluntários brancos e mestiços armados à caça do forro. Casas incendiadas, perseguições, prisões de inocentes, mortes. A população aterrorizada escondendo-se no mato (Dia 4 de Fev.)
- A partir daí, o cortejo de barbaridades por todos conhecido: intensificaram-se as rusgas, as batidas nos matos de Trindade e arredores, a caça aos nativos desprotegidos e entregues à sua sorte, as suas casas incendiadas, os bens roubados, ondas de terror à solta.
Multiplicaram-se então as prisões, as humilhações, as torturas, as correntes nos pés, na cintura e no pescoço, os choques eléctricos, as confissões forçadas, as mortes por asfixia.
Enfim, horrores que tiveram a sua trágica reprodução em Novembro de 2022, com a agravante de esta ter ocorrido entre irmãos, em pleno S. Tomé e Príncipe independente.
Albertino Bragança
Fevereiro de 2025

ANCA
31 de Janeiro de 2025 at 12:15
Ao Albertino Bragança, felicitações, pelo contributo, pelo trabalho, pela dedicação empenho e publicação de factos, históricos e culturais, da nossa sociedade/ comunidade.
Pelo exposto acima pode-se anuir, varias consequências, evoluções, retrato cultural, sociológico da sociedade/comunidade actual de São Tomé e do Príncipe.
Por muito que nos custe a realidade histórica.
Lê se e compreende-se que havia, uma “elite” nativa na altura, forros, que está mesma elite, forra, jamais gostava de trabalhar terra a na altura, 1940, 1949, 1950, 1953, em diante, pelos factos descritos acima, necessidade recorrer a mão de obra de Cabo Verde, Angola, Moçambique, dentre outros…população contratada que de facto trabalhava a terra, pese embora todos os vexames e barbaridades comeditas pelo regime colonial, Português na altura, violações, violência, queima de casa, chicote, acorrentado, choque eléctrico, mortes, abusos sobre a pessoa humana,…
É peremptório que vinte e dois anos depois, esta mesma elite forro, ou pelo menos alguns dos seus membros, a CLSTP,(sabemos quem são as pessoas/indeviduos que compunham tal grupo, para mais tardd se tornar no MLSTP), reclamam a independência, assumindo a independência, vimos o regime a seguir, vimos o estado de degradação sequêncial, até os dias de hoje, em que se encontra a realidade sócio, cultural, económico, financeiro, pois que os forros, jamais gostavam, gostaram, de trabalhar a terra, pelo que esta realidade, temos com a figura do primeiro presidente do país( de que outro exercício, fez na vida?),…há bem pouco tempo, tivemos outro exemplo deste facto desta realidade, a demissão do ex primeiro-ministro do país (porquê?), …de que elite vem estes indivíduos, façam analises cronológica e tirem conclusões do actual estado, a realidade sociocultural, económica financeira do país, vejam a diferença de cabo verde, não tardará muito de Angola, ou Moçambique, no que a trabalho, um pouco de organização diz respeito.
Ler e perceber, o livro camaradas, comprades,…de Seiberg
Outro facto que se pode extrair, acima a estratificação social, imposta na altura pelo antigo regime colonial Português, brancos, mulatos, mestiços, forros, angolares, lunguies, tongas, etc…
Razão de desentendimento hoje na nossa sociedade/comunidade,…
Quem se recorda dos anos pós independência, do fraccionamento, estratificação social, que existia, na nossa sociedade, por ser-se forro, ou angolar, ou tonga, ou móncó, ou mulato etc,…as conotações que isto tinha, e o refelxo desta realidade hoje, na falta de convergência nos projectos sectorias para o desenvolvimento do país, … e comum nas reuniões, debates, ver que há sempre alguns individuos, que tentam criar sempre dificuldades de entendimento, por acharem que são mais, que sabem mais, etc,…dificuldade de diálogo, de transparência, de esclarecimento, de sentido de comunicação, cidadania e pertença.
De notar que esta estratégia de estratificação socail, tinha um propósito no então regime colonial português, dividir para reinar, que é bem explícito, na contratação de outros extratos populacionais para diminuição da influência dos nativos, ou forros( forros que advém de auforia, escravos livres),…esta estratégia continuou a se difundir, após a independência até os dia de hoje nos nossos subconsciente nacional, razão do nosso atrasos de reformas, de modernização social(familiar), cultural, político, desportivo, económico e financeiro, institucional.
Como inverter realidade, ou descolonização das mentes, modo de ser, estar, pensar ns dias de hoje?
Desde logo questões sociais, económicas e financeiras, devem ter uma forte componente de justiça, de segurança, de protecção, desde logo por sermos ilhas, de dupla insularidade, qualquer instabilidade institucional, social, cultural(más praticas culturais, crime, violência, violações, roubos, etc,…) político, tem um impacto duplo, duas vezes mais no custo de vida das populações, aliada a realidade, de não apetência para o trabalho.
Logo investimento no sector da justiça, segurança, protecção, sustentabilidade.
Responsabilidade/Responsabilização, penalização
Organização, trabalho, rigor
Quanto a questão de desenvolvimento, arrogância, divisão, protagonismo, invejas,etc…
A transferência, abertura, comunicação, verdade, humildade, sentido de pertença, educação, formação, formação de excelência, fortalecimento familiar, fortalecimento institucional, normas, rigor.
Necessidade de instruir, uma cultura de saber, de trabalho, de organização, de rigor, de responsabilidade, de responsabilização.
Por sermos ilhas fragil, pequena insular, isto nos impõe, estes dsafios e outros tantos pela realidade geográfica física, socail, culturais, desde logo o custos da energia, dos transportes e das comunicações, dos bens da primeira necessidade, dentre muito mais,..
Se nasceste aqui, cresceste aqui, estudante aqui, tu és daqui, de São Tomé e do Príncipe
Ajuda a desenvolver o teu país, a tuas gentes, o teu território.
Pratiquemos o bem
Pois o bem
Fica-nos bem
Deus abençoe São Tomé e Príncipe
ANCA
1 de Fevereiro de 2025 at 7:49
Três de Fevereiro devia ser uma data também de reflexão, de debates, de saber porquê chegamos até aqui?, porquê estamos assim?, nosso país tem recursos? o nosso país é um a grande país? o no país é um país mais territorial ou marítimo? Se for marítimo o que devemos fazer para ultrapassar o nosso isolamento tanto interno quanto externo?
Do que somente uma data de marcha, de comer e beber, de festas, de musicas, de discurso de circunstancias, que jamais da em nada.
Pratiquemos o bem
Pois o bem
Fica-nos bem
Deus abençoe São Tomé e Príncipe