Política

Medicamentos importados pelo governo só aguentam por 3 dias e os médicos partiram a louça toda

O clima mudou no diálogo entre o primeiro-ministro Patrice Trovoada e o Sindicato dos Médicos de São Tomé e Príncipe.

«Dialogar para depois assinar um memorando quando uma greve é ilegal, não contem com este governo. Isso é mesmo autoridade do Estado. Uma greve ilegal, …não corrigem e querem assinar o memorando? Não», declarou no último fim de semana e de forma peremptória o primeiro-ministro Patrice Trovoada.

Também no fim de semana, domingo 27 de outubro, o sindicato dos médicos desmentiu o primeiro-ministro Patrice Trovoada.

«É preciso que a população de São Tomé e Príncipe saiba que o pré-aviso de greve deu entrada no gabinete do primeiro-ministro, também no ministério da saúde e no gabinete do director de trabalho do ministério do trabalho no dia 14 de outubro, ou seja, 10 dias antes do início da greve, contrário ao que o governo tem vindo a dizer…», esclarece o comunicado do sindicato assinado pela secretária-geral, a médica Benvinda Vera Cruz.

O sindicato dos médicos coloca à disposição do público o documento comprovativo da entrada do pré-aviso de greve no dia 14 de outubro.

Também com base em documentos comprovativos o sindicato dos médicos desmente a informação veiculada pelo primeiro-ministro Patrice Trovoada segunda a qual os medicamentos que começaram a chegar ao país por via aérea restabelecem a normalidade nos serviços de saúde.

«É preciso que a população saiba que tivemos acesso a lista do que veio naquelas caixas de medicamentos que o governo exibiu chegando de avião. Elas têm por exemplo 600 ampolas de diclofenac, um dos medicamentos mais usados nos serviços sanitários, pelo que esta quantidade irá durar pelo menos 3 dias. As caixas têm também 100 seringas de 20 ml que também em 2 ou 3 dias vão acabar», detalhou o sindicato, que coloca à disposição dos leitores a lista e a quantidade de medicamentos que chegou por via aérea.

Os médicos informam a população sobre o caso dos medicamentos importados de urgência e por via aérea, para neutralizar uma possível armadilha.

«Qual é a conclusão que se chega. Daqui a 3 ou 4 dias vão dizer à população que o governo colocou medicamentos e os médicos roubaram, como o senhor primeiro-ministro acabou de dizer recentemente», alertou Benvinda Vera Cruz.

Patrice Trovoada primeiro-ministro aproveitou a chegada, via aérea do lote de medicamentos, para denunciar o roubo que alegadamente ocorre nos centros de saúde. «Temos que acabar com aquilo que todos os santomenses sabem e não falam: o roubo de medicamentos e de consumíveis neste país… Mesmo esses medicamentos que toda a gente reclama vão aparecer à venda no mercado, nas clínicas de cada um, no frigorífico. Vão vender e vamos recomeçar com uma situação de rutura», declarou Patrice Trovoada.

Os médicos decidiram desafiar o Chefe do governo a apresentar provas, e a agir em conformidade com as provas que tem.  «Desafiamos o senhor primeiro-ministro a provar que os médicos têm medicamentos hospitalares nas suas clínicas, e caso o prove, que aja em conformidade ao invés de lançar suspeitas e calúnias…», repeliu o sindicato dos médicos.

Ripostaram de seguida ao ataque do chefe do governo, com uma pergunta de fundo. «Aproveitamos para deixar no ar a seguinte pergunta. Quem legitimou a venda ambulante de medicamentos?».

Uma pergunta que fica no ar, e a resposta só pode ser encontrada nas ruas da cidade capital, onde os medicamentos são vendidos, e mesmo diante do Palácio do governo. Uma total conivência entre o poder e o comércio de rua de medicamentos.

Um momento de tensão despoletado pelas declarações de Patrice Trovoada que cimentou a união e a coesão no seio da classe médica. «Que a população saiba que nós, não nos sentimos acanhados com as intimidações do governo. Antes pelo contrário deu-nos mais força e coesão. Este grupo ficou mais unido do que nunca, e aguarda que o governo efective a sua ameaça de penalização que considerar pertinente», frisa o sindicato dos médicos.

No comunicado a classe médica alerta que para além da recente importação via aérea, não resolver a crise de medicamentos, há outros aspectos fundamentais que motivaram a greve que ainda não foram sequer atendidos. Por exemplo, não há água corrente no hospital central Ayres de Menezes.   

«Quando falamos de condições mínimas para assistência médica em pleno século XXI, referimos além de pequenos lotes vindos de avião, aos meios de diagnóstico, água corrente, consumíveis diferenciados para cada área de actuação médica, como o bloco operatório, a maternidade, o banco de urgência etc.».

Patrice Trovoada terá acossado a classe profissional mais unida do país. As declarações do governo que pretendiam vincar a autoridade do Estado chocaram contra uma barreira forte.

«Não se pode continuar a exercer medicina nas condições actuais do nosso sistema de saúde, pondo em risco vidas dos nossos cidadãos, que não têm a possibilidade de pegar um avião ou jato privado para se tratar no exterior. Não se pode continuar a exercer medicina sem ter meios para confirmar uma suspeita de diagnóstico e assim dirigir o tratamento. Não se pode continuar a exercer medicina em condições que parecem sítio de catástrofe, etc», disparou o sindicato médico.

O contra-ataque médico ao governo de Patrice Trovoada se aprofundou. «E são nessas situações de ilegalidade em que trabalhamos, que o povo de São Tomé e Príncipe recebe assistência médica, e que o governo de São Tomé e Príncipe se sente cómodo», frisou o comunicado do sindicato.

Mais ainda, os médicos decidiram ensinar o governo a destrinçar o legal e o ilegal.

«O governo se sente incomodado com a suposta ilegalidade de uma nota de pré-aviso de greve que falsamente teria chegado, sem cumprir os 7 dias de antecedência. Poderíamos até concordar que a única ilegalidade é ter um sistema de saúde cada vez mais precário incapaz de assegurar as condições básicas de saúde de uma população. Ilegal é querer abafar o nosso grito de socorro com falsas declarações», pontuou Benvinda Vera Cruz.

O sindicato dos médicos concluiu a nota de imprensa, com a certeza de que ainda não conseguiu alcançar nenhum dos objectivos inscritos no pré-aviso de greve. No entanto, diz que já alcançou uma meta histórica, que é o despertar da consciência do país e do governo, de que as despesas supérfluas protagonizadas pelo executivo com recursos do povo têm resultado, em mortes de muitos santomenses.

«Comunicar que a greve dos médicos ainda não conseguiu até ao momento nenhum dos seus objectivos principais. Mas cumpriu um dos seus objectivos não plasmado no caderno de encargos, que é fazer ver ao governo da República que as despesas supérfluas feitas pelo Governo com recursos do povo de São Tomé e Príncipe têm derivado em mortes de muitos santomenses, e por isso esperamos que o governo mude a sua postura actual em relação a saúde», concluiu o comunicado do sindicato dos médicos.

Abel Veiga

O leitor tem acesso na íntegra ao comunicado do sindicato dos médicos de São Tomé e Príncipe. 

6 Comments

6 Comments

  1. Cobra branca

    28 de Outubro de 2024 at 11:53

    Um pais sem medicina e educaçao nao pode ser desenvolvido

  2. Carlos

    28 de Outubro de 2024 at 16:39

    Finalmente, algum setor dessa sociedade tão assodada e acovardada decidiu se levantar contra o desmando e a impafia desse energumeno. Bem haja, filhos da minha terra. Continuo a ser de opinião que ninguém que tenha nascido fora do nosso país ou de qualquer outro país do mundo assuma funções sensíveis da nossa república ou qualquer outra república, ainda que tenha nascido de pais santomenses. Aproveito para informar que sou pai de santomenses nascido fora do nosso solo pátrio. Cargos como presidência da República, primeiro ministro, presidência da assembleia da República, presidente dos tribunais, ministro da defesa, comandante das forças armadas e da Polícia e os serviços secreto do país. Nunca, e jamais. Basta ver a forma leviana e desumana com que esse indivíduo trata as questões do país. Parece que o indivíduo não tem alma.

  3. Jorge Semeado

    28 de Outubro de 2024 at 23:34

    Novo hospital com Fundo Kuwait precisa-se. Já vamos a meio de 3 legislaturas e mesmo assim nada? Só cadeia e indemnização? Sr. pt, diga-nos alguma coisa sobre o assunto. 49 anos depois da independência, sempre com aquele pombal deixado pelos colonos? Dirigentes cabeça “água-água”.

  4. Cleopter dos Santos

    29 de Outubro de 2024 at 9:39

    KKKK 3 dias, mas porquê não informar com verdade? Diz não temos dinheiro suficiente ou atrasamos na aquisição devido a nossa incapacidade ou incompetência ou qualquer coisa.

    Conversa com franqueza com a classe e eles entenderão. Não é preciso arrogância e malcriadez.

    Sejamos fortes. Um bem Haja a todos

    • Vanplega

      1 de Novembro de 2024 at 14:13

      O maior ladrāo desse paìs, chama-se:

      Patrice Trovoada e os seus capangas

  5. mezedo

    29 de Outubro de 2024 at 20:05

    Governo mentiroso, exibicionista, arrogante, sem vergonha e mal feitor.

    Povo tem o que merece não foi falta de aviso.

    Foram buscar desgraça no aeroporto com festa e com pompa, agora come pão que diabo amassou.

    Todos sabem que esse tipo não gosta de Santomense, só esta ai aproveitando da posição que tem para fazer seus negócios
    sujos viajando e enganando o povo que esta a ir atrás de investimento.

    Mentiroso compulsivo esse PM

    Hoje tem coragem de dizer que greve é ilegal, quando a tempos atrás ficava na rede social instigando povo a manifestação.

    Vai embora sai deixa esse povo em paz, senhor desgraçado, criminoso.

    Alma de Arlecio, Isaac,Indo e outro não vão descansar enquanto esse assassino não prezo.

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