Política

Massacre de 1953: Alunos do Liceu e os estudantes das universidades não conhecem a história do país

72 anos depois do massacre de 1953, que ceifou a vida de várias centenas de santomenses, o país parece caminhar para a perda da sua identidade e memória. O massacre de 1953 que consolidou a nação santomense, uniu e despertou a consciência do povo para a necessidade de lutar pela independência nacional, é um dos factos históricos e de identidade santomense, que os jovens, não conhecem.

«Na escola só fazem um resumo e bem leve daquilo que foi o massacre. É triste. Somos naturais daqui e devemos saber o que aconteceu. Se não conhecemos o nosso passado, não entendemos o presente nem o futuro, é triste», afirmou Helton Fernandes.

Trata-se de um jovem aluno do décimo segundo ano no Liceu Nacional de São Tomé. Helton Fernandes foi um dos muitos alunos do décimo segundo ano que participaram no “Chá Intergeracional”. Uma aula sobre os acontecimentos de 3 de fevereiro de 1953, promovida pela direcção geral da Cultura nas instalações do arquivo Histórico.

Foto : Professora Natália Umbelina

Natália Umbelina professora de História e Cultura na Universidade de São Tomé, foi uma das pessoas que interveio no “Chá Intergeracional”. A professora de história recordou que as informações sobre o massacre de 1953 transmitidas aos alunos do décimo segundo ano deveriam ser ensinadas desde o primeiro nível de ensino.

«Tem-se de criar o espírito patriótico. E a criação do espírito patriótico não começa convosco. Começa desde o jardim infantil. E à medida que vão crescendo vão-se colocando nos currículos escolares os temas mais difíceis até chegar a universidade», alertou Natália Umbelina.

A história de São Tomé e Príncipe não faz parte do currículo do ensino básico. Segundo o Chá Intergeracional, apenas um resumo limitado como disse Helton Fernandes, é passado aos alunos do décimo segundo ano.

O caso é grave, pois segundo Natália Umbelina os estudantes universitários também estão na mesma situação. Não conhecem a história do país, consequentemente não conhecem a sua própria raiz, não sabem de onde vieram, e muito menos para onde vão.

«Lancei o desafio a duas turmas da universidade para trabalharem sobre esta temática. O contexto, como é que se despoletou o massacre, e as consequências…. e tinham muita dificuldade em trabalhar este tema, porquê? Porque é um tema que não é trabalhado há vários níveis do currículo escolar», frisou a professora Natália Umbelina.

Por sua vez, os estudantes do décimo segundo ano, responsabilizam os próprios historiadores pelo conteúdo confuso de parte da história do país.

Por sinal, após as sucessivas reformas realizadas depois da segunda república (1991), o sistema de ensino de São Tomé e Príncipe formata a mente dos estudantes com o saber, oriundo do além-mar, e pouco ou nada sobre a sua raiz identitária, a sua terra natal.

Tudo fica mais complicado, quando o pouco que é transmitido sobre São Tomé e Príncipe deixa os alunos completamente confundidos.

«Entramos num debate por causa de certas informações que sabíamos que era uma coisa, mas agora aqui soubemos que é outra. Mesmo entre os historiadores ainda há este debate sobre a data correcta, o nome correcto, etc. Por isso é que não temos um conhecimento muito abrangente sobre este tema, e depois isso faz uma confusão na cabeça», reclamou Danica Fernandes, também aluna do décimo segundo ano.

Um exemplo palpável da confusão histórica na cabeça dos estudantes tem a ver com a designação da chacina executada pelo regime colonial português em fevereiro de 1953 em São Tomé.

Massacre de 1953, Massacre de Batepá, ou Guerra da Trindade? São três versões avançadas pelos historiadores. Natália Umbelina, professora na universidade disse no Chá Intergeracional, que os historiadores se reuniram recentemente e chegaram à conclusão que não pode ser Guerra da Trindade nem Massacre de Batepá. «O massacre não foi só em Batepá. Houve na Trindade, outras localidades e em Fernão Dias. Por isso, é que chamamos de Massacre de 1953 e não de Batepá», frisou.

A palestra “Chá Intergeracional” trouxe luz aos alunos do décimo segundo ano sobre o maior massacre perpetrado em São Tomé e Príncipe no século XX, e apelou às autoridades nacionais a agirem no sentido de salvar a identidade nacional.

Abel Veiga

3 Comments

3 Comments

  1. Ana Isabelle

    3 de Fevereiro de 2025 at 10:30

    …é de notar que o povo são-tomense é aquele que menos está implicado ativamente e políticamente no desenvolvimento do seu país. Creio se tratar de falta de interesse e de conhecimento sobre a consciência identitária das suas origens,que certamente foi provocada pela facilidade que tiveram em obter a independência sem esforços, sem luta uma luta objetiva…conquistou-se tal liberdade ,graças ao combate e a luta armada dos outros países irmãos: Guiné-Bissau & Cabo- Verde,Angola e Moçambique, STP foi na boleia.
    A população são-tomense é políticamente ignorante, não tem a consciência patriótica,tão pouco nacional, vota á toa ( por um litro de cacharamba que lhe é dado ele vota para a pessoa), porque tem a alma corrupta
    Não tem nenhuma noção sobre os seus direitos,isto é, nunca foi mobilizado, nunca recebeu instrução e formação cívicas sobre os seus deveres & direitos, vive obsecado em conseguir fácilmente( pouco lhe importa os meios…), por vía de corrupção, ilegal o que quer, tem uma mentalidade tacanha e “dinheirista”( um mal próprio africano), pois que o que conta pra ele/ela é o material mesmo se tiver que cometer crime( matar pai e/ou mãe)…
    Se este povo não foi preparado pelo Estado, que devia se preocupar e organizar formações permitindo a instrução necessária a população são-tomense ignorante para melhor saber e poder decidir do seu destino, de se interessar a conhecer os homens políticos responsáveis,honestos e capazes de dirigir corretamente o país com o objetivo de fazê-lo desenvolver, progredir, de trabalhar para o bem estar de todos…ao invés de lhes manter na IGNORÂNCIA para melhor poderem lhe manipular ( ao povo).
    Eís porque a população são-tomense desconhece os acontecimentos históricos do país onde nasceram e vivem…esta é a maneira mais natural de dominar e de impôr.
    Quem conhece os seus antepassados(da sua família), quem conhece a sua HISTÓRIA( do seu país), quem conhece os seus deveres & direitos, que recebeu uma boa educação e tem o mínimo de instrução ( apenas elementar/primária)jamais pode ser
    manipulado ou enganado, porque pode refletir e sabe tomar decisões sem receber diretivas.
    Outrossim,é do interesse “daquela”categoria de homens políticos corruptos de manter o povo são-tomense na IGNORÂNCIA total,sem formação e tão pouco informação porque é o que convém

    • Dinde cu Danda

      4 de Fevereiro de 2025 at 18:41

      Agora ja és uma ela ? 😁😁😁

  2. ANCA

    3 de Fevereiro de 2025 at 16:28

    Por isso que esta data jamais deve ser somente, de marcha, de corrida, de sempre os mesmos discursos pelos actores políticos, mas também de debates, analises, sobre nossa evolução, sobre os desafios, sobre a nossa organização social, sobres os problemas e problemáticas que enfrentamos

    Pratiquemos o bem

    Pois o bem

    Fica-nos bem

    Deus abençoe São Tomé e Príncipe

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