Política

Milhares nas ruas por um grito nacional: Tolerância zero ao abuso sexual de menores

São Tomé e Príncipe parou nesta segunda-feira para marchar por um dos direitos mais sagrados da infância: a proteção contra o abuso sexual. Sob o lema “Tolerância Zero ao Abuso Sexual de Menores”, milhares de pessoas uniram-se numa marcha histórica que atravessou as principais ruas da capital, São Tomé, e da cidade de Santo António, na Região Autónoma do Príncipe.

A mobilização foi coordenada pela Rede de Proteção da Criança, em parceria com o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, e contou com o apoio institucional do Presidente da República, Carlos Vila Nova, que liderou a marcha na capital. Com exceção do Primeiro-Ministro, ausente do país por motivos oficiais, todos os ministros marcaram presença, demonstrando que a luta contra a violência sexual infantil é uma causa de Estado.

O combate ao abuso sexual de menores exige uma resposta firme, articulada e contínua. Apesar dos avanços, ainda temos muito a fazer”, declarou o Chefe de Estado diante de centenas de manifestantes concentrados frente ao Palácio do Povo, no final da marcha em São Tomé.

O Presidente apelou à mobilização nacional e reforçou a responsabilidade das famílias, das instituições e, em especial, do Ministério da Educação, a quem solicitou ações educativas urgentes nas escolas para formar desde cedo uma cultura de respeito, escuta e proteção.

Casos aumentam e denúncias se multiplicam

De acordo com o magistrado do Ministério Público e representante da Rede de Proteção da Criança, Ridelgil Tavares, houve um aumento significativo no número de denúncias entre 2023 e 2024, fruto não apenas de novos casos, mas também do fortalecimento da confiança das vítimas no sistema de justiça e no apoio comunitário.

É um sinal de alerta, mas também de que as vítimas estão a quebrar o silêncio. Isso é fundamental para que se faça justiça”, afirmou o magistrado.

Na Região Autónoma do Príncipe, a mesma voz ecoou

No mesmo dia, a cidade de Santo António, na Ilha do Príncipe, também foi palco de uma marcha vibrante e simbólica. O Presidente do Governo Regional, Filipe Nascimento, destacou a urgência de proteger as vítimas e garantir segurança total aos denunciantes, elemento crucial para o desmantelamento das redes de abuso e impunidade.

Já o Presidente da Assembleia Legislativa Regional, Francisco Gula, lembrou que “proteger as crianças é um dever coletivo, e não uma escolha individual”.

A marcha na Região Autónoma terminou com atividades culturais e educativas no polidesportivo local, reunindo jovens, educadores, artistas e membros da sociedade civil num ambiente de reflexão e compromisso.

Semana de ações e esperança

A marcha foi apenas o início de uma semana nacional de mobilização e sensibilização, com destaque para a apresentação oficial do Centro Integrado de Acolhimento e Atendimento de Crianças, sediado no Tribunal de Água Grande, um passo concreto no fortalecimento das políticas de apoio às vítimas.

As ações de sensibilização e formação irão também decorrer na Ilha do Príncipe, segundo garantiu Ridelgil Tavares, marcando uma nova fase da política pública de proteção à criança no país.

Um só país. Uma só causa. Um só grito: basta!

São Tomé e Príncipe deu um exemplo de unidade, coragem e empatia ao transformar ruas em tribunas de justiça e voz para os mais vulneráveis. Mais de mil dezenas de pessoas saíram à rua para dizer basta à violência sexual infantil. Uma marcha que não termina hoje, mas continua em cada escola, em cada casa, em cada tribunal e em cada consciência.

Waley Quaresma

3 Comments

3 Comments

  1. Vanilson Santos

    13 de Maio de 2025 at 11:28

    Não, os casos de abuso sexual não estão a aumentar — o que está a aumentar é a coragem de denunciar. A sociedade está mais atenta, mais informada e menos disposta a calar. Mas isso não chega.

    É preciso ir mais longe. Ensinar as crianças nas escolas o que é o abuso, como reconhecer sinais e como denunciar. É preciso haver campanhas constantes nas rádios e televisões, mostrar com clareza, sem eufemismos, como uma criança pode pedir ajuda. Criar e divulgar um número anónimo, gratuito e fácil de decorar, onde qualquer criança ou vizinho possa fazer uma denúncia sem medo.

    E sim, temos de deixar de fingir que o problema está nas esquinas escuras — a maioria das violações acontece dentro das próprias casas. Onde não há educação sexual, onde pais e familiares não sabem (ou não querem saber) como proteger os mais novos. Onde, em muitas casas, todos dormem juntos, e o “macho” aproveita a escuridão da noite para assaltar crianças que nem percebem o que está a acontecer com os seus corpos.

    Falar disso incomoda? Óptimo. É para incomodar. Porque enquanto continuarmos a proteger reputações familiares em vez de proteger crianças, vamos continuar a enterrar vidas e calar traumas.

    Tolerância zero não é um slogan — é uma exigência. E começa com coragem política, com investimento público e com uma sociedade que deixa de olhar para o lado.

  2. GIMBOÁ

    13 de Maio de 2025 at 12:44

    É necessário acompanhamento institucional multisectorial, multidisciplinar, aos cidadãos desde a concepção, até a morte, medidas de acompanhamento, protecção familiar, de menores, jovens e idosos, medidas de prevenção, contra riscos de violência doméstica, violência infantil, violações, maus tratos infantis, abandono escolar, gravidez precoce, abandono infantil, consumo de álcool, de drogas, trabalho infantil, maus tratos a idosos, abandono de idosos,…etc, ao mesmo tempo que se implementa, politicas publicas de rendimentos, sobretudo das famílias, que se projecta a segurança alimentar, educação/formação, saúde, segurança, protecção, politicas de habitação, bom ordenamento do território.

  3. Edson Neves

    13 de Maio de 2025 at 19:15

    Perfeito! O próximo passo é educação presencial (campanha nas escolas, liceus, faculdades, etc.), publicitária nas Rádios e Tvs e criar leis severas, caso já existam é torná-las efetivas. Punir sem dó nem piedade todo o caso de abuso sexual infantil sem a seletividade que se tem visto no país, o Promotor de Justiça (os conhecidos membros do Ministério Público) precisam se declarar impedidos quando envolvidos situações elencadas na Lei e deixar que seus pares não impedidos possam agir com a devida imparcialidade, igualmente, os Juízes de direito (os denominados Magistrados Judiciais), senão, será apenas fogo de palha.
    Espero que esse pequeno gesto, porém, grande manifestação da nossa semidemocracia não fique por aqui, igualmente se estenda para atacar os diversos males que afligem São Tomé e Príncipe, dentre eles: a corrupção, a falta de transparência dos gestores públicos, a perseguição à aqueles que pensam diferentes, a inércia do Tribunal de Faz de Contas, a ingovernabilidade do Tribunal Constitucional, o desemprego, a violência contra a mulher, furto, o roubo a desigualdade social, a seletividade da Justiça, a falta de medicação nos Postos de Saúde e Hospital Ayres de Menezes, péssimo salário, a péssima representatividade dos partidos políticos com assento na Assembleia, falta de políticas públicas, etc.
    Que seja o começo de uma verdadeira postura face às mudanças necessárias/urgentes neste país.
    Que o Sr. Carlos Vila Nova se mobilize também para esclarecimento dos fatos ocorridos no dia 25 de novembro de 2022.

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