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São Tomé e Príncipe sob efeito das Mudanças Climáticas

Ondas gigantes cada vez mais frequentes, arrasam vidas já de si pobres nas comunidades costeiras, tradicionalmente piscatórias. A vila de Santa Catarina no norte da ilha de São Tomé já foi assaltada por ondas gigantes. Na zona centro-sul a Vila da Ribeira Afonso, e as comunidades piscatórias de Praia Gamboa e da Praia Melão nos arredores da capital também são periodicamente “atacadas” pela turbulência marítima.

Na madrugada de 25 de Setembro último, a turbulência marítima voltou a surpreender a população da Vila da Ribeira Afonso. As consequências do avanço das ondas gigantes, só não foram mais devastadoras porque a vila foi alvo de uma intervenção do projecto de adaptação as mudanças climáticas nas zonas costeiras.

ribeira afonsoAs fortificações em pedras brutas, erguidas na marginal da Ribeira Afonso, e a construção de diques nas margens do rio que atravessa a vila, evitaram que as ondas gigantes entrassem pelo centro da vila.

Mas uma das zonas da vila que não foi incluída nas obras de protecção costeira, abriu caminho para o avanço das ondas. «Nesta zona não houve intervenção directa do projecto de adaptação as mudanças climáticas. Isto porque quando fizemos o levantamento, os custos eram extremamente avultados e requereria obras de engenharia sofisticada. Era necessário fazer um aterro nesta zona toda», explicou Arlindo Carvalho, Director Geral do Ambiente.

O engenheiro que coordena também o projecto de adaptação as mudanças climáticas nas zonas costeiras, financiado pelo Banco Mundial, acrescentou que tentou-se introduzir na região desprotegida da Ribeira Afonso, plantas que pudessem segurar o solo e evitar o avanço do mar. Mas não resultou. «Na segunda fase do projecto se conseguirmos financiamento vamos atacar esta zona. Tem que ser um aterro que possa aumentar o nível da terra em relação ao mar», reforçou Arlindo Carvalho.

Segundo a direcção geral do Ambiente toda a costa ocidental da ilha de São Tomé, foi sacudida pela turbulência marítima da madrugada de 25 de Setembro passado. «Não foi a primeira vez, nem vai ser a última. Vamos continuar a ter essas instabilidades costeiras. Toda nossa comunidade costeira está ameaçada. Sempre houve as turbulências marítimas, mas elas estão a tornar-se mais fortes e frequentes», precisou.

Na zona costeira regista-se o avanço do mar e no interior do país, as fontes de água diminuem de caudal. No final de Setembro, a cascata de São Nicolau, a maior do país e referência turística, por causa da força da água que brota de uma altura de 40 metros, praticamente secou. Coisa nunca antes vista no país. «É a confirmação de que as mudanças climáticas estão cá, vão continuar connosco e vão conviver connosco. Dos estudos que fizemos, ficou provado que existem regiões que hoje são consideradas como importantes em termos de produção do cacau, mas que a médio e longo prazo, poderão deixar de produzir o cacau», assegurou o director geral do Ambiente.

Mudanças que podem tornar insustentável a vida em São Tomé e Príncipe. «Tomamos em consideração duas componentes importantes que são a pluviosidade e a temperatura. A temperatura está a aumentar e a pluviosidade está a baixar», frisou.

A atitude do homem são-tomense em relação ao ambiente tem que mudar. Caso contrário as mudanças climáticas já de si agressivas, podem ser mais devastadoras. «Tornam-se mais graves quando estão associadas a má gestão dos recursos naturais. Nas zonas costeiras deve-se evitar a extracção ilegal e abusiva de inertes, evitar o corte das plantas que protegem as zonas costeiras. No interior deve-se evitar a desflorestação acelerada», sublinhou.

Mudanças Climáticas em STPAté a metade do mês de Outubro, as chuvas ainda não irrigaram as zonas Centro e Norte da ilha de São Tomé. Estão atrasadas nestas regiões que na ilha de São Tomé, são principais produtoras de cacau e dos produtos alimentares. Quando no passado as chuvas torrenciais começavam a irrigar as plantas desde Setembro.

Mudanças de clima num país arquipelágico, onde por ano o mar avança cerca de 30 centímetros sobre a terra. Os dados científicos divulgados pela Direcção Geral do Ambiente, apontam que em consequência do degelo no árctico, até 2100 o nível da água do mar em relação as ilhas de São Tomé e Príncipe vai subir ao ritmo de 60 centímetros.

Sinais que no entanto não travam o avanço das motosserras sobre florestas zonas florestais virgens. Na roça Bombaim, os moradores reclamam o abate indiscriminado de árvores em zonas onde nem na era colonial foram tocadas. Terras virgens que confinam com o parque natural obô de São Tomé, e que guardam espécies de plantas e animais únicos, estão a ser desbravadas pela empresa SATOCAO, por decisão do Governo da República. Denúncia feita pelos moradores.

Abel Veiga

13 Comments

13 Comments

  1. Lupuye

    12 de Outubro de 2015 at 11:34

    Nos os santomenses andamos a brincar com coisas serias mas cuidado que mais tarde pagaremos bem caro. Infelizmente muita gente em STP nao e educada e mesmo as educadas nao pensam no futuro, naquilo que tem que deixar para a futura geracao, para os seus netos e bisnetos. Por outro lado as leis que existem estao so no papel e ninguem chama a responsabilidade ninguem porque estao todos com o rabo na rua. Temos que mudar o nosso comportamento e ja, quando nao dentro de mais algum tempo nem ilha pra chamarmos pais teremos.

  2. Miki

    12 de Outubro de 2015 at 11:41

    Desta maneira São Tomé vai desaparecer…

  3. Gilberto do Rosário

    12 de Outubro de 2015 at 16:58

    Congratulo com esta publicação porque este tipo de assunto normalmente é banalizado no nosso país. É um assunto muito sério que deveria ser preocupação nacional, uma vez que briga com a nossa sobrevivência. O maior risco que corremos está na nossa faixa costeira isto é, a maior área habitável da nossa ilha encontra-se justamente neste cinturão da nossa costa. Ao ficar submergido pelas águas do mar e somando ao modelo de construção horizontal de habitações, a questão a colocar é: aonde iremos abrigar/alojar as pessoas que por ventura vierem a perder terras e consequentemente suas casas?
    Existem experiências do passado que mostraram que quando “brincamos” de ignorantes a natureza devolve-nos na mesma moeda. A título de exemplo acredita-se hoje que na Polinésia Oriental, a ilha de Páscoa está no estado que está porque os nativos da ilha devastaram as florestas do lugar para abrir espaço para a agricultura, acreditando que as árvores voltariam a crescer rapidamente. O crescimento populacional piorou o problema e a ilha não era mais suficiente para suportar seus habitantes. Com isto, veio uma catástrofe geral que não poupou nem os próprios nativos e hoje lá, só restaram as estátuas!

    • Ralph

      14 de Outubro de 2015 at 0:24

      É muito verdade. O que está a acontecer hoje em dia também se realizou na Ilha da Páscoa, como você diz. Eles pensavam que podiam controlar a situação, tentando implementar medidas corretivas quando ficou óbvio que estavam a arruinar a sua terra, mas era demasiado tarde. Os danos foram efetuados e não conseguiam recuperar. O mesmo está a decorrer numa escala mundial hoje em dia. Acreditamos que descobriremos as soluções necessárias, quer por tecnologia que por inovação e ingenuidade. Talvez. Mas como foi o caso com o povo na Ilha da Páscoa, talvez não vamos começar a agir até que seja demasiado tarde. Como uma raça de pessoas, a sociedade moderna creia que é mais inteligente do que aqueles selvagens e que os mesmos problemas não vão acontecer-nos. Suspeito que não mas suponho que vamos ver.

  4. luisó

    12 de Outubro de 2015 at 18:11

    O problema não são só as marés vivas.
    É também a floresta que vai desaparecendo sem ninguém se aperceber ou dar por conta. Daqui a 20 anos vai-se perceber dos buracos deixados pelas arvores abatidas para óleo de palma ou para fazer carvão e arvores com 30 ou 40 anos não vão voltar mais.
    Com isto vai haver enxurradas com deslizamentos e poderá haver sérios problemas e até mortes, para não falar da floresta que não volta mais.
    é tempo de acabar com isto do carvão e fazer uma politica de gás engarrafado para toda a gente.
    O futuro da terra começou ontem.

    • Santola

      13 de Outubro de 2015 at 1:07

      Concordo contigo luisó, temos que acabar com esse sistema de carvão e fazer uma politica de gás engarrafado, senão não vai restar nada da nossa floresta principalmente em São Tomé que pouco a pouco está desaparecendo, a Ilha do Príncipe ainda se salva, grande exemplo Príncipe.
      Já agora pra quem tiver interessado em dar uma olha na minha página que fiz sobre a floresta, fauna e flora de São Tomé e Príncipe aguardo o vosso apoio comecei agora o projecto espero estar ajudando em alguma coisa. a página é esta https://www.facebook.com/%C3%94bo-de-S%C3%A3o-Tom%C3%A9-e-Pr%C3%ADncipe-1723383687884243
      Fiquem bem.

  5. olinda beja

    12 de Outubro de 2015 at 23:22

    Ainda bem que vejo aqui comentários de gente responsável e que pensa no futuro da ilha. Pena é que para estes problemas gravíssimos só aparecem 4 comentários…
    Espero que os responsáveis do governo comecem a introduzir nas escolas a disciplina “Natureza” onde as crianças comecem a ver os estragos que podem advir do desmatamento desenfreado, da extração abusiva das areias das praias, da construção em locais onde nunca deveriam ser permitidas casas, enfim… se não for feito um trabalho de sensibilização como já se está a fazer em muitos países estaremos condenados ao fracasso! O homem esquece-se de que com a natureza não se brinca! As marés vivas são apenas um pequeno aviso! Oxalá estes avisos não sejam em vão para bem de todos.

  6. Manuel Jorge de Carvalho do Rio

    13 de Outubro de 2015 at 9:00

    Meus caros,
    Trabalho com as comunidades costeiras e sei o quanto estes padecem com a invasão das aguas do mar e das aguas do monte derivadas das chuvas. Ficam “Boiadas” e perdem muitos dos seus haveres. Nas comuinidades costeiras de Santa catarina, Ribeira Afonso e Malanza, onde o Projeto de Adaptação as Mudanças Climáticas tem feito um importante trabalho de protecção, os residentes continuam a erguer novas casas em zonas costeiras muito pegadas a linha do mar quando o proprio projecto já identificou nestas comunidades novas araes para expansão. Ora creio que as autoridades locais perante este tipo de situação devem também contribuír para evitar tal situação. Construír residencias a beira mar deve obdecer critérios e não fazer-se de forma aleatória. Penso que já chegou o momento do ESTADO começar a agir, sancionando as pessoas que desrespeitem as normas.
    Em muitas localidades ações endogenas têm contribuído para a degração do nosso belo território que Deus nos deu com quase tudo para vivermos dentro da paz, harmonia e respeito.
    Tornamos um povo que só sabemos colher mal o que a natureza nos dispôs.
    Motoserras pela floresta a dentro, camiões carregando de forma desorganizada todo tipo de inertes deixando as praias nuas, maquinas abrindo crateras para extração do basalto e argila no interior, em zonas residenciais sem limites e sem control.
    Espécies animais em vias de extinção sem proteção, apesar da existencia de algumas legislações.
    Caros santomenses perante tais situações o que fazermos? Ao meu ver penso que deve haver a autoridae de Estado. Somente com sensibilização não vai ser suficiente.
    Os infrectores devem pagar pelos males causados a natureza e sem tréguas porque, tudo isto a curto e longo prazo só vem provocar prejuízos inormes ao Estado, penalizando obviamente no futuro a nossa propria economia.

  7. ANCA

    13 de Outubro de 2015 at 10:55

    Tomando em consideração aquilo que se escreveu acima;

    “A atitude do homem são-tomense em relação ao ambiente tem que mudar.Caso contrário as mudanças climáticas já de si agressivas, podem ser mais devastadoras. «Tornam-se mais graves quando estão associadas a má gestão dos recursos naturais. Nas zonas costeiras deve-se evitar a extracção ilegal e abusiva de inertes, evitar o corte das plantas que protegem as zonas costeiras. No interior deve-se evitar a desflorestação acelerada», sublinhou.”

    Extraindo;

    “A atitude do homem são-tomense em relação ao ambiente tem que mudar.”

    Eu que primeiramente a atitude do Homem SãoTomense deve mudar em relação a si mesmo( suas fraquezas e vicios culturais) diria em relação a adiminitração, gestão e organização do Território(Administração do Estado, Mar, Água, Terra, Ar), População á nivel social, cultural, ambiental, desportivo, político, economico e financeiro.

    Caso para perguntar;

    Será a atitude do Homem(População) São Tomense a causa ou consequência?

    Quem deve prever, planear, gerir, administrar, organizar, a atitudes do Homem de São Tomé e Príncipe?

    O Estado que somos todos…

    O País é constituído por Território e População, quem administra quem gere deve ter sentido de Estado, Humildade, Responsabilidade, Responsabilizar, tanto faz ser o actual Presidente da República ou os futuros, actual governo ou futuro, actual governo regional ou futuro, instituições do estado, Tribunais, Polícia Nacional, Forças Armadas, Partidos Políticos, ADI, MLSTP, PCD-GR, MDFM, CóDo´ ou raios que partam, sociedade cívil organizada, cidadão Sãotomenses,…

    A casa onde jamais a pão todos ralham e ninguém tem razão é pobreza, miséria fome, anarquia, caos a reinar…

    Pedir a população já de si, pobre, na miséria, com fome, para;

    “Nas zonas costeiras deve-se evitar a extracção ilegal e abusiva de inertes, evitar o corte das plantas que protegem as zonas costeiras. No interior deve-se evitar a desflorestação acelerada», sublinhou.”

    Será de quem pouco reflete antes de excutar,…

    Andamos a apanhar a agua com gestos a muitos anos,…desde 1975.

    De algo lago temos que começar o tempo é hoje e agora.

    Pratiquemos o bem

    Pois o bem

    Fica-nos bem

    Deus abençoe São Tomé e Príncipe

  8. jorge de jesus

    13 de Outubro de 2015 at 23:19

    Quero parabenizar ao Tela Non pela reportagem e ao Eng. Arlindo pela reflexão feita e o resultado de estudos feitos sobre o futuro do país em relação à mudanças climáticas.
    Estamos conscientes que alguma coisa tem sido feita, no entanto, a nossa população também tem que colaborar. O Estado tem que buscar mais alternativas, dando aos que cortam madeira, outras alternativas para construção, sinão irão continuar a cortar madeira. Dar alternativas para areia sinão, vão continuar a tirar areia. Porque não uma fábrica de tijolos para substituir blocos fabricados com areia. Mas esta já deve ser uma iniciativa privada. Onde estão os nossos empresários.
    Santopé modê mancthin, tlabadô cá vijia ubuê dê.
    Bem Haja STP
    JJ

  9. Ralph

    14 de Outubro de 2015 at 0:03

    Gostei de ler o próprio artigo e todos os comentários acima. Países em todo o mundo lutam com como lidar com este problema. Os cientistas dizem que o clima está a mudar, mas muita gente acha que eles sabem melhor e negam o dizem os especialistas na área. Acho que uma razão por este comportamento é que os desfechos possíveis, embora trágicos, são tão longe no futuro que é difícil imaginar que é necessário agir agora. É mais fácil ignorar o que dizem os cientístas porque é mais conveniente deixar o problema por as gerações futuras enfrentarem. Chateia-me muito que na minha nação de Austrália, muita gente não leva o problema ao sério e o nosso ex-primeiro ministro costumava evitar tomar quaisquer ações significantes para prevenir as mudanças climáticas. Felizmente, ele foi expulso da carga recentemente pelo seu próprio partido porque ele foi visto como inconsistente com o futuro do país. Tinhamos mesmo um ministro de imigração que gracejou na televisão nacional que as nações pequenas de ilhas no oceano pacífico não dão muito atenção ao conceito de tempo (o leve-leve por vocês) porque os seus povos poderiam logo ter àguas a baterem às suas portas. Verdadeiros dinossauros estes políticos.

    Na minha opinião, mesmo se as proclamações dos cientístas acabassem por não ser verdadeiras, ainda é prudente agir agora, como alguma forma de seguro contra resultados possíveis no futuro que poderiam ser desastrosos. Será um preço pequeno para ser pago hoje em turno por um dividendo frutífero muitos anos ao futuro. E se os cientístas acabam por serem errados, pelo menos teremos feito algumas mudanças que beneficiarão o meio ambiente e a sociedade de forma geral.

  10. DENISE L

    14 de Outubro de 2015 at 17:52

    Acho bem que olhem pra este tipo de acontecimentos, porque depois quem sofre e paga sao aqueles que nao tem pra onde ir a acabam por perder o pouco que conseguiram adquirir a vida toda com tanto sacrificio.Gostaria que o nosso governo olhassem mais para o nosso povo que tanto precisa.

  11. Anesilina Carvalho

    30 de Novembro de 2015 at 12:12

    Sao realidades que ja estamos a constatar. Essas consequencias sao abarcadas no meu video de Youtube https://youtu.be/eI5x_jPkPqs, onde apelo aos nossos lideres para tomarem decisoes corretas na conferencia de Paris COP21.

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