Sociedade

A casa que trouxe de volta a esperança: Maria José e a força da solidariedade

 Durante anos, a chuva foi o seu maior pesadelo. Não pela água em si, mas pelo que ela arrastava com cada goteira que atravessava o teto improvisado de chapas velhas e madeira podre. Maria José, uma senhora de fala mansa e olhar carregado de memórias, viveu quase duas décadas em condições sub-humanas no Bairro da Liberdade, nos arredores do Pólo Desportivo, em São Tomé.

A sua história é parecida com a de muitas outras famílias esquecidas nos bairros periféricos do país — mas esta sexta-feira, 30 de maio, ela ganhou um novo capítulo. E, desta vez, com final feliz.

Com lágrimas nos olhos e um sorriso difícil de conter, Maria José recebeu as chaves da sua nova casa. Uma moradia modesta, mas segura, com paredes sólidas, telhado novo, casa de banho funcional e, sobretudo, dignidade. A casa foi construída por formandos do Centro de Formação Profissional de Budo-Budo, no âmbito do programa de melhorias habitacionais promovido pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

O ministro Joucerll Tiny dos Ramos esteve presente na entrega oficial da habitação e destacou que ações como esta devem ser mais do que pontuais: “Temos de transformar o espírito de solidariedade numa política ativa e contínua. Cada casa entregue é um passo para devolver o sorriso às famílias que vivem em extrema vulnerabilidade.”

A construção, feita em tempo recorde e com materiais de base locais, foi coordenada pelo diretor do Centro de Formação, Nilton Lima, que não escondeu o orgulho da sua equipa: “Para os nossos formandos, não foi apenas uma tarefa de aula prática. Foi um gesto de cidadania. Eles sentiram na pele o valor de aplicar os conhecimentos para mudar a vida de alguém.”

Segundo José Luís Rita, diretor do Instituto de Habitação e Imobiliária, há mais de 1.500 famílias em São Tomé e Príncipe vivendo em condições que ferem qualquer conceito mínimo de dignidade humana. “Não podemos continuar a normalizar o inaceitável. Temos de agir com urgência. Esta entrega é simbólica, mas representa a direção que devemos seguir”, afirmou.

A nova casa de Maria José não é apenas uma construção física. É um símbolo daquilo que pode ser feito quando políticas públicas, formação profissional e solidariedade se encontram. É o resultado da união entre o conhecimento técnico dos jovens aprendizes e o compromisso social do Estado.

Quando eu vi a casa pela primeira vez, pensei que fosse um sonho. Eu só queria um lugar onde a água não entrasse mais, mas ganhei muito mais do que isso. Ganhei respeito. Ganhei paz”, disse Maria José, emocionada, à nossa reportagem.

O programa de melhorias habitacionais, do qual esta iniciativa faz parte, prevê a reabilitação e construção de mais de 300 casas até 2026, com prioridade para famílias chefiadas por mulheres, idosos e pessoas com deficiência. O Governo está, segundo fontes internas, a negociar novos financiamentos com parceiros internacionais para expandir o alcance do projeto.

Waley Quaresma

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