Opinião

O Rabo da Lagartixa

Patrice Trovoada tinha todas as condições para inaugurar uma nova forma de fazer política no país dotando-o de condições, objetivas e subjetivas, após o exercício do seu mandato governativo, suscetível de abanar o statu quo prevalecente e criar condições para a dinamização política, económica e social do país tendo em conta, até, o estado de degradação do nosso sistema partidário cujos traços mais característicos estão relacionados com a incapacidade organizacional, conceptual, metodológica e estratégica, dos principais partidos políticos nacionais e, cada vez mais, maior insignificância mobilizadora dos mesmos, com reflexos no aparecimento, aqui e acolá, de comportamentos e atitudes populistas que encerram preocupações.

Alguns discursos demagógicos de bajulação popular e de vitimização, com recurso a um estilo simplificador do debate político que dificulta articular institucionalmente o longo prazo, denunciam a presença desta marca que começa a fazer escola no país.

Todos os principais partidos políticos nacionais estão transformados, momentaneamente, em autênticas seitas de suicídio coletivo ou, em alternativa, hibernaram-se desde a gravana da primeira metade dos anos noventa do século passado ou, ainda, foram capturados por interesses privados, nacionais e/ou estrangeiros, para os quais existem e trabalham informalmente. Por isso, o fenómeno relacionado com a nomeação e posterior exoneração da ex-Procuradora Geral da República, Elsa Pinto, sendo grave, reflete, em primeiro lugar, indiretamente, a vulnerabilidade deste mesmo sistema partidário e não me surpreendeu nada.

Não são a política e a indignação, mais ou menos generalizada ou pontual, decorrente da nomeação e posterior exoneração da referida figura ou de casos idênticos, no passado ou no presente, nem tão pouco o nosso ordenamento jurídico, que mudam o que num sistema tiver que mudar para responder às insuficiências deste mesmo sistema. Só o sistema se pode mudar a si mesmo.

Não nos podemos esquecer que, os partidos políticos são entidades mediadoras coletivas, inseridos no sistema, que ajudam os indivíduos a formarem uma visão do seu interesse social. Sendo assim, para além de terem um papel importante na coordenação das nossas ações individuais, ajudam a instituir, pelo menos simbolicamente, o nosso interesse comunitário. Não será a degradação temporal dos mesmos e sua capturação por interesses privados a principal razão para a emergência cíclica de fenómenos como a recente nomeação e exoneração da ex-Procuradora Geral da República com consequência direta na fragilização das instituições da República? Sendo assim, por que razão se perde tanto tempo a discutir as consequências de um epifenómeno político como este, menosprezando, a montante, as suas causas?

Tudo isto é dramático para um país: que depende significativamente da ajuda externa, pois o seu orçamento de Estado é constituído em mais de noventa por cento desta ajuda; que apresenta uma estrutura produtiva frágil, pouco competitiva e diversificada; que ciclicamente é abalado por crises políticas, de origem político-partidária, que abalam todos os alicerces das suas instituições e minimizam as possibilidades de aplicação e continuidade de políticas públicas tendencialmente dirigidas para a correção de problemas estruturais existentes; que reduz o debate e tratamento de temas políticos aos assuntos e dramas pessoais; onde os políticos não abdicam do seu principal instrumento de ação e luta política que é de natureza panfletária e realizada sob alicerces de simulação de autenticidade com a finalidade tática destinada a conseguir o poder ilimitado ou a manter-se nele; onde a comunidade de atores políticos e institucionais, que sustentam a referida sociedade política, digladiam-se em torno de ambições pessoais e projetos de afirmação e dominação para proveito de clientelas e amigos em detrimento da formação e desenvolvimento de uma comunidade nacional dotada de um vínculo humano com algum sentido e onde o personalismo partidário, proclamado e praticado, estende a sua raiz, um pouco por toda a parte, e sustenta a resistência ao institucionalismo na participação política.

Um país com este diagnóstico só poderia esperar, do seu máximo governante executivo, para além de preparação política, alguma destreza e espírito congregador, sobretudo, tolerância, capacidade institucionalizadora e reformadora sustentada por um projeto que alimentasse esperança aos cidadãos.

Patrice Trovoada, qual lagartixa rebelde e solitária, mal aconselhado, desde o principio, preparou-se para uma guerra, em vez de preparara-se para governar o país, e rapidamente esqueceu-se dos problemas do país, se é que os conhecia, reduzindo toda a sua ação política a uma agenda de neutralização das diferenças partidárias existentes com o propósito de crescer e afirmar-se tendo como referência polar Pinto da Costa, por um lado, e o MLSTP, por outro. Os seus conselheiros políticos deram a este fenómeno tático, ou estratégico, levado ao extremo, o nome de bipolarização e aconselharam-no a levá-lo até ao fim, como as lagartixas quando perseguidas por predadores, nem que tivesse de perder a cauda ou rabo, em prol da sua materialização.

Todavia, Patrice Trovoada e os seus conselheiros, esqueceram-se de três coisas essenciais e básicas:

a) não se transforma uma minoria política em maioria absoluta por atos radicais de automutilação institucional, com propósitos eleitorais, minimizando ou desprezando a importância de toda a estrutura de poder político do contexto bem como as leis da república;

b) existem critérios, formais e informais, numa sociedade ainda fechada e com um percurso histórico de instabilidades cíclicas, desde a instauração da democracia no país, que devem contribuir para definição e interiorização de procedimentos de coabitação política e institucional, e de concertação, em prol do aprofundamento da nossa embrionária democracia e os responsáveis políticos têm que ser os primeiros a darem o exemplo de cumprimento destes critérios, pois, nem tudo pode valer como arma ou instrumento da ação política;

c) independentemente das querelas político-partidárias, decorrente da conversão das opiniões dos diversos partidos em discussão pública, das flutuações estratégicas partidárias para a manutenção do poder , ou, ainda, do protagonismo pessoal e institucional, decorrente do papel e intervenção dos vários órgãos de poder no sistema, deve existir sempre, e até deve ser alimentado, pelos diversos protagonistas e responsáveis políticos nacionais, um certo compromisso inviolável em relação aos mais altos interesses da comunidade no seu todo.

Tendo-se preparado para a guerra, Patrice Trovoada esqueceu-se ou negligenciou o cumprimento destas premissas básicas, em democracia, em prol do estrito cumprimento do programa que suportava a sua estratégia de bipolarização, próprio de quem se armou até aos dentes para derrotar um inimigo feroz, independentemente das regras desta mesma guerra. Para além disso, mesmo para quem se limitou a preparar para uma guerra, Patrice Trovoada deveria ter assegurado a sua invencibilidade, em primeiro lugar e, posteriormente, aguardar a oportunidade mais vantajosa para derrotar o hipotético inimigo. Não teve, no entanto, esta preocupação. Pinto da Costa, exímio general antigo, avisou-o:”Blublublú na ça lutáfa; Colê Flontadú na ça têfa”. Estava lançado o desafio.

Tudo isto foi feito sob pressupostos motivacionais de um amadorismo e risco político inacreditável sobretudo porque as pessoas, de uma forma geral, já estavam cansadas de guerras e instabilidades políticas, característica mais marcante do nosso regime democrático, e uma das coisas que levaram muitos eleitores a votarem e elegerem Pinto da Costa, como presidente da República, é exatamente a ideia de que ele traria maior estabilidade ao regime e que determinados comportamentos políticos de guerrilha institucional declarada não mereceriam compreensão em detrimento de um compromisso razoável e coabitação entre os diversos atores políticos e institucionais.

Um dos sucessos da guerra é, exatamente, adaptarmos com todo o cuidado, às intenções do inimigo. É isto que Pinto da Costa fez com mestria esboçando o provérbio anterior em pleno campo da batalha o que enfureceu, ainda mais, Patrice Trovoada. Este, lançado no seu ato guerreiro, transformou todas as suas ações políticas em reivindicações absolutas, foi incapaz de negociar com qualquer partido para a ampliar a sua base política, afrontou tudo e todos e, como é óbvio, acabou por não obter nada, nem mesmo aquilo que poderia e deveria ter conseguido com uma estratégia política mais inteligente e tolerante.

Neste ato tresloucado de sobrevivência, numa guerra que começara, desde as eleições presidências, Patrice Trovoada não se coibiu de ensaiar experiências novas no país relacionadas com o processo de judicialização da política, como forma de salvar a pele, metendo o sistema Judicial no ruído guerreiro que ele próprio criou, depois de ter garantido ao país, em sessão solene, que o mesmo Sistema Judicial que ele recorreu era, radicalmente corrupto, de cima a baixo e, por isso mesmo, eventualmente sujeito a uma sindicância internacional que todos nós ainda aguardamos pela sua concretização.

Como é que se pode transferir para os órgãos do Poder Judicial, nomeadamente para o S.T.J ou S.T.A., menosprezando as instâncias políticas detentoras da paternidade da iniciativa em causa, designadamente, a Assembleia Nacional, a responsabilidade de dirimir conflitos interpartidários e expressar-se sobre a legalidade do ato decorrente da apresentação e votação de uma moção de censura contra um partido minoritário desta mesma Assembleia Nacional, mais concretamente, o ADI, depois do responsável máximo deste mesmo partido ter avaliado, meses antes, toda a estrutura do referido poder judicial do país, de cima a baixo, como pouco competente e corrupta e, como tal, sujeita aos contornos de uma sindicância internacional, mandada realizar pelo seu governo, num curto intervalo de tempo?

Por que razão tem de ser o S.T.A ou S.T.J a se pronunciar sobre o lugar, como deputado de uma bancada, de um político que se queria transferir da bancada do PCD para a bancada do ADI, contribuindo com este ato para transformar uma minoria parlamentar numa eventual maioria?

Como pode um órgão do poder judicial, avaliado como corrupto e pouco competente e eventualmente sujeito a uma sindicância internacional, meses antes, passar a poder interferir e decidir sobre questões de grande magnitude política, em detrimento da instituição parlamentar com competências nesta matéria? Este processo embrionário de judicialização da política é potencialmente perigoso porque pode indiciar a preparação de um caminho, para a politização da justiça, mais tarde, com todas as consequências negativas que tal acarretaria num sistema partidário parcialmente moribundo como o nosso.

Num momento em que o país agonizava pelo diálogo e estabilidade, Patrice Trovoada oferece-o, em contrapartida, guerra; num contexto em que todos rezavam pela concórdia e liberdade, Patrice Trovoada vociferou, do alto da sua legitimidade, que queria o caos.

A estabilidade deveria ser, desde o princípio, um dos elementos corporizadores da estratégia de Patrice Trovoada, debitado até a exaustão, como forma de amarrar Pinto da Costa ao seu próprio compromisso eleitoral. Patrice Trovoada proclamou-se, variadíssimas vezes, defensor da estabilidade, todavia, ninguém se lembra, hoje, de uma única ideia ou gesto político realizado, pelo próprio, em prol da materialização desta mesma estabilidade, para além de sons de tambores com o objetivo de mobilização do ADI para a sua guerra.

Estas contradições só podem ser avaliadas num contexto de improvisação tática e metodológica, de uma lagartixa que quis fazer a guerra e afrontar os seus eventuais predadores, sem acautelar a preparação das batalhas que tinha pela frente, confiando unicamente na sua estratégia de automutilação.

Encurralado, como qualquer lagartixa, numa rixa que se iniciou com a presidência aberta de Pinto da Costa pelo país, Patrice Trovoada decidiu salvar a pele, automutilando-se como qualquer lagartixa, diante de predadores, perdendo a sua cauda ou rabo, convencido que se salvaria desta contenda somando apoios e solidariedades em vez de subtrair.

Sendo assim, deu ordens ao Presidente da Assembleia Nacional, Evaristo de Carvalho, que se demitisse, no calor da discussão e votação da moção de censura política ao ADI, convencido que este ato radical de automutilação institucional fosse sinónimo de desagregação de toda a estrutura institucional da Assembleia Nacional e do próprio governo da república, suficiente para impressionar e influenciar os cidadãos em geral e a comunidade internacional, em prol do seu desejo de transformar uma minoria numa maioria absoluta decorrente da realização de novas eleições legislativas.

Nunca tal coisa tinha acontecido no país e há limites para a banalização dos atos dos responsáveis de instituições tão importantes no país como a Assembleia Nacional. Como é possível que o mais alto responsável de uma instituição democrática, legitimada pelo voto popular, pode colocar-se numa situação de subalternidade partidária, obedecendo orientações do seu líder, contribuindo com tal ato para a banalização dos poderes da referida instituição?

A partir de agora, os Santomenses ficam assim informados que, sempre que um responsável político não concorde com o resultado de uma disputa política legal ou eleitoral, no seio de uma instituição qualquer do país, deve pedir a demissão do referido cargo, com o objetivo de criar uma nova oportunidade, de transformar uma derrota numa eventual vitória, decorrente da realização de um novo ato eleitoral para a referida instituição.

Seria, contudo, pertinente lembrar a estes senhores que as instituições representativas da república não são abstrações da vontade popular; muito pelo contrário, a institucionalização de procedimentos democráticos é que contribuem para transformar a dita vontade popular em algo formalmente observável cujo vínculo não podemos negar, banalizar ou menosprezar.

Desprovido do rabo ou cauda, Patrice Trovoada fugiu e deixou a tarefa de continuação da sua guerra santa, nas mãos de meia dúzia de lagartixas-anãs que estão dispostas a qualquer sacrifício pessoal e político em prol da intensificação da guerra que acreditam piamente que serão vencedores. Por isso, os deputados do ADI abandonaram as suas funções para levarem avante este propósito de guerra que declararam ao país enquanto a lagartixa-mor engorda e recupera o rabo e forças para as próximas batalhas.

Da mesma forma que o ex-presidente da Assembleia Nacional, Evaristo de Carvalho, preferiu morrer, no campo da batalha, em prol da eventual glorificação do seu chefe; os deputados do ADI, por sua vez, estão dispostos ao sacrifício semelhante para que o tempo cure as feridas e faça crescer o rabo da lagartixa-mor que idolatram.

Este é um exemplo flagrante da influência excessiva do personalismo político na nossa terra, com todas as consequências negativas que acarreta em prol da consolidação das nossas instituições. Entretanto, o país continua mais pobre, com instituições mais fragilizadas decorrentes deste ato guerreiro, descabido e inapropriado, e com um maior divórcio entre os cidadãos e a política.

O que é, entretanto, que nos resta deste desastre guerreiro? Todos sabemos que as lagartixas, quando perseguidas por um predador qualquer, por culpa própria ou alheia, normalmente partem, por vontade própria, uma parte considerável do seu rabo ou cauda, como forma de escapar ao iminente perigo daqueles e poderem fugir enquanto os ditos predadores vão-se entretendo com o referido rabo. Este processo de automutilação espontânea é conhecido como autotomia. A lagartixa fugiu e a única coisa que temos, momentaneamente, é o dito rabo. O que é que nos revela este rabo?

Revela-nos, por exemplo, que o primeiro-ministro e o seu governo, num ato guerreiro de total irresponsabilidade política e institucional, aprovou uma proposta de reconhecimento internacional da República do Kosovo, como Estado soberano e membro de pleno Direito Internacional, sem dar qualquer informação de tal facto ao presidente da República.

Em nome de uma guerra privada qualquer, com todas as consequências negativas para a consolidação das instituições da república, o país baixara até este ponto crítico de relações institucionais entre órgãos da república. Por ironia de destino, é bom lembrar, que, uma das justificações do então presidente da república, Miguel Trovoada, para a demissão do primeiro-ministro, Norberto Costa Alegre, em Julho de 1994, era exatamente a acusação de que o referido governo não tinha cumprido uma das suas obrigações, designadamente, a de informar o presidente em causa sobre importantes acordos bilaterais assinados com estados terceiros.

O rabo da lagartixa revela-nos também que, no percurso da sua guerra santa, Patrice Trovoada, qual general distinto, cuidou mais dos gestos, do vestuário e da retórica, ou seja, da imagem, em detrimento dos procedimentos institucionais para a resolução dos nossos problemas coletivos. Por isso, resolveu pagar, com dinheiros públicos, uma quantia avultada de centenas de milhares de dólares, a um jornal estrangeiro, para promover a sua imagem, como estratégia para ganhar a guerra que declarara ao país.

O rabo da lagartixa revela-nos ainda que, Patrice Trovoada, qual general desesperado em guerra, perdeu a sensação de medo e também da responsabilidade, tendo, por isso, após a exoneração do seu governo, rejeitado qualquer ato formal ou informal que permitisse ao governo atual o conhecimento dos principais dossiês temáticos da sua governação de forma a permitir e facilitar os mecanismos de transição governativa, normal em qualquer sociedade civilizada.

Isto é dramático para um país cuja organização orçamental depende em mais de noventa por cento da ajuda internacional, com uma administração tendencialmente desorganizada e cujo primeiro-ministro cessante reduziu à insignificância o papel dos seus principais ministros concentrando, nele mesmo, todo o protagonismo diplomático, procedimental e de autoridade transversal na definição e materialização de políticas públicas.

Ninguém percebe que alguém que tenha reclamado dos outros sentido de Estado e elevação no tratamento da coisa pública tenha procedido com tanta falta de impessoalidade, civilidade e honestidade no cargo maior da governação do país dificultando a eficiência governativa de outrem e do próprio, quando um dia, eventualmente, lá voltar. Ou seja, Patrice Trovoada, preocupado com o controlo e efeitos da guerra que lançara ao país, transferiu para o governo da república todos os tiques caracterizadores da autoridade vertical existente nos partidos políticos nacionais, com consequências nefastas para o nosso sistema partidário, designadamente, o excesso de personalismo e aquilo que o filósofo Daniel Innerarity descreve como personalização do político, ou seja: “as personagens políticas sobrepõem-se aos temas políticos e os temas políticos são tratados como questões pessoais”.

Entretanto, o país continua esperando a construção do maior centro comercial de África; a construção de uma autoestrada que ligará Guadalupe ao aeroporto internacional de S.Tomé; a requalificação de toda a marginal da capital do país; a fábrica de construção do computador Magalhães e a construção do porto de águas profundas. Tudo isto, o vento levou e só nos resta, neste momento, um rabo de uma lagartixa. Chega!?

Parece-me que não. É pouco para alguém que, reconheço, tem alguns defeitos, como qualquer político nacional, mas já demonstrou possuir, também, muitas qualidades num contexto talhado para mortes precoces de políticos ambiciosos.

Por paradoxo que pareça, Patrice Trovoada, não tendo passado grande parte da sua vida no país, é, no entanto, talvez, o político nacional, da sua geração, que melhor conhece o povo de S.Tomé e Príncipe, designadamente, as suas fraquezas e idiossincrasias, num contexto sociocultural em mudança acelerada, e nunca abdicou de transformar este conhecimento em orientação básica da sua ação política. Se esta é a sua principal virtude, também converte-se, em casos extremos, no seu principal defeito na medida que perante cenários de luta e decisão política Patrice Trovoada tende a valorizar a espontaneidade, em detrimento da razão.

Esta fixação para a guerra, para a aniquilação total de adversários que eventualmente incomodam, em detrimento de um razoável consenso em prol dos maiores interesses do país, é potencialmente perturbador, gerador de instabilidades e fragiliza as lideranças políticas marcadamente personalizadas. Espero, sinceramente, que o ADI recupere rapidamente deste propósito de automutilação e que o rabo da lagartixa cresça sem problemas ou defeitos. Todavia, todos nós sabemos que a cauda de uma lagartixa regenerada, nunca mais será a mesma.

O rabo substituto normalmente é menor e eventualmente pouco endireitado para além da parte óssea do mesmo nunca mais se recuperar. Além disso, a energia gasta pela lagartixa para a regeneração do referido rabo tem custos, designadamente, na menor produção de ovos que garanta a sustentabilidade de gerações posteriores de lagartixas vindouras. Todavia, o país precisa de um ADI forte e vivo, bem como a generalidade dos partidos políticos nacionais.

Adelino Cardoso Cassandra

31 Comments

31 Comments

  1. sún arê conhã!

    21 de Março de 2013 at 12:11

    Oh Didi!
    Gostei.

  2. emigrado

    21 de Março de 2013 at 12:12

    bravo

    • Sousa

      21 de Março de 2013 at 12:46

      Senhor Adelino Cardoso. Muitos parabéns pelo seu texto. Uma grande análise sobre a situação política nacional. Muitos parabéns mesmo.

    • Tiago

      21 de Março de 2013 at 13:00

      Sinceramente que é das coisas lúcidas que li ultimamente. Eu próprio quando era criança em Almeirim cortei muitos rabos de lagartixas. Não tenho boas recordações deste tempo porque nós não tinhamos consciência daquilo que fazíamos.
      Este conterrâneo ao trazer esta lembrança num artigo tão bem feito fez-me lembrar a minha infância.
      Muitos parabéns pela beleza do seu texto.Continua assim meu caro.

    • Pão com Chouriço

      21 de Março de 2013 at 18:29

      Congratulation, meu caro. Continua a brindar-nos com estas maravilhas.
      Abraço

  3. "ÓH POVO, Presta ATENÇÃO!"

    21 de Março de 2013 at 12:38

    Concordo plenamente com esse artigo.

    “PURA E SIMPLESMENTE FORMIDÁVEL!”

  4. Zeme Cangôlô Almeida

    21 de Março de 2013 at 12:48

    Esse artigo merece nota 10. Sem comentário!!”” Deixou claramente todas as características do Patrício Trovoada.”””
    Continua assim!!!

  5. Ledji milondó

    21 de Março de 2013 at 12:52

    Valeu, li e gostei, a política deve ser feita sem rancor, sem ódio e sem perseguição ideológica, cultural nem de raça, deve haver liberdade de escolha partidária de uma forma saudável e civilizada porque afinal de conta nós todos somos santomenses e todos, penso eu queremos que a nossa linda pérola se desenvolva e de uma forma harmónica onde cada um tenha orgulho de pertencer a esta paradisíaca ilha do Equador.
    a época do absolutismo real já passou há séculos. O povo unido jamais será vencido, cultivemos e exerçamos a nossa cidadania.
    Bem haja.

    • Flor de Chácara

      21 de Março de 2013 at 13:05

      Simplesmente magistral. Muito bem articulado, com cabeça, tronco e membros e sobretudo muito pedagógico. Os políticos deviam ler este artigo pois ele tráz grande contributo para a reflexão sobre a forma de se fazer política no nosso país. Eu tiro-lhe o meu chapéu pela arquitetura do artigo.

    • C.P

      21 de Março de 2013 at 13:10

      Simplesmente formidável. Parabéns.
      C.P

    • Diogo Martins

      21 de Março de 2013 at 13:22

      Concordo que a política deve ser feita sem rancor nem radicalismos. Num país pequeno como o nosso, com poucos recursos devia existir mais tolerancia e compreensão entre os políticos para o bem de desenvolvimento do povo. Mesmo se cada um dos partidos políticos defender a sua posição e ideias deve sempre existir canais de comunicação abertos e flexíveis que ajudam a encontrar o melhor caminho para o desenvolvimento do país. Agora se cada um começa com radicalismos daqui, radicalismos dali, nós não vamos a lado nenhum e só nos destruiremos como povo. Eu não percebo muito de política mas no entanto acho que os partidos políticos existem para ajudar a resolver os problemas do povo e não para complicar os problemas do povo. Porquê que o MLSTP, o ADI, o PCD, o MDFM e todos os outros partidos, independentemente das suas ideias políticas e estratégias não colocam em primeiro lugar o desenvolvimento do país encontrando consensos quando tiver que ser encontrado? Ninguém está a dizer que eles todos têm que defender a mesma ideia e soluções para o nosso S.Tomé. Simplesmente o que se pede a estes partidos é que em momentos cruciais da vida do país tem que existir um mínimo de consenso para que o país possa ultrapassar fases mais difíceis de problemas.
      Desejo os mais ardentes sucessos ao autor do artigo de opinião que soube muito bem retratar os nossos principais problemas com uma linguagem muito bem elaborada. Muitas felicidades e sucessos.

    • Fefé

      21 de Março de 2013 at 14:37

      Interessante e fabuloso. Parabéns!!Nota 10 como disse o outro.
      Um abraço

  6. Eusébio Pinto

    21 de Março de 2013 at 13:06

    Caro compatriota Adelino Cassandra,

    Primeiro, deixa-me parabenizá-lo pelo seu texto, que como sempre, pelos metaforísmos dos seus títulos e riqueza de conteúdos, acabam por proporcionar-me uma leitura com o mesmo sabor do pão para a boca!

    Oxalá que as lagartixas, gitas, sassuás, clongogis e vários outros bichos que abundam na “fauna política” santomense tenham a paciência de lêr este artigo do princípio ao fim e fazer reflexões!

    Eusébio Pinto
    Luanda – Angola

  7. carlos almeida "camucuço"

    21 de Março de 2013 at 13:31

    Caro amigo,
    Publicamente, e para que conste, subscrevo na íntegra.

  8. Beto Dias

    21 de Março de 2013 at 15:22

    “Pinto da Costa, exímio general antigo”…. palavras para que?…. ah talvez para dizer que o autor do texto um exímio general, com experiência de combates políticos sabe distinguir um grande estratega de um outro estratega mais fraco… ate quando comentários imparciais? que denotem uma total separação a cor partidária? Se governar fosse fácil qualquer um poderia fazê-lo, mas num pais pobre como nosso em que cada um pretende buscar mais brasa para sua sardinha é difícil… mas prontos os sabichões é que sabem de tudo

    • F.F.F

      21 de Março de 2013 at 18:14

      Sem palavras…
      Um texto muito bem feito. Objectivo e traduz bem a realidade do país.
      A forma de se fazer a paolítica em S.Tomé e Príncipe é que tem de mudar. As pessoas têm que manifestar mais responsabilidades nos cargos que ocupam, quer no governo, quer na Assembleia, quer nos partidos políticos, quer nas outras instituições do nosso querido país. Uma coisa é gerir uma empresa privada onde cada um faz o que lhe apetece porque o dinheiro investido é seu,outra coisa diferente é ser dirigente de um partido político ou desempenhar altos cargos na governação do país. Neste caso as pessoas têm que ter a consciência que estão a trabalhar para o bem de toda a população, de um país inteiro. A responsabilidade tem de ser diferente porque aquilo que está em causa é uma nação inteira. Por isso têm que ir a busca daquilo que melhor serve os interesses do país e deixar rancores ou radicalismos para o lado. Se toda a gente pensasse assim este país avançaria. Há momentos para a luta política mas também deve haver momentos para se chegar a acordos ou consensos para o país sair a ganhar. Não se pode estar eternamente na luta, em intrigas, em guerilhas. O país não aguenta uma coisa assim.

  9. Barão de Água Ize

    21 de Março de 2013 at 21:41

    Temos que ser bioecológicos. Não fazer mal aos animais incluindo lagartixas.
    Quando estas se tornam atrevidas, há duas soluções: Deixá-las mexer e remexer até que se vão embora ou então arranjar uma lagartixa maior de outra côr.

    • F.F.F

      21 de Março de 2013 at 22:27

      hehehehehehe, Barão de Água Ize. As lagartixas é que fazem mal a si mesma deixando o seu rabo nas mão de animais predadores para escaparem do perigo sem morrer. É a única forma que têm de fugir. É o seu mecanismo de defesa. Eu gostei desta comparação feita no texto pelo articulista do artigo. Os inimigos ficam com o rabo enquanto ela foge para longe.
      Esta parábola encaixa na perfeição na realidade que se vive em S.Tomé.

    • Blublublú na ça lutáfa Colê Flontadú na ça têfa

      21 de Março de 2013 at 23:02

      Eu sempre pensei que os partidos de uma forma geral cá em S.Tomé só estão preparados para defenderem os interesses dos seus dirigentes. Não se vê aquela vontade de defender o país e o povo de S.Tomé e Príncipe. Qualquer pessoa pode ser ministro. Qualquer pessoa pode ser director. Qualquer pessoa pode ser alto dirigente ou deputado. Não existe aquele compromisso para defender em primeiro lugar o país e o povo. Reparem que o ADI em vez de estar a discutir ou a falar nos problemas do país e a fiscalizar o governo está mais preocupado com os lugares dos seus deputados na Assembleia ou com o facto do Patrice Trovoada já não ser primeiro-ministro. O orçamento foi aprovado e não se ouviu uma palavra do ADI sobre o orçamento do estado. Para quê que eles foram eleitos? Foram eleitos para estarem a defender o seu tacho? Passa-se a mesma coisa com outros partidos políticos. Dizem aqui em S.Tomé que houve muita pressão para o primeiro-ministro nomear Elsa Pinto como procuradora da república. Mais uma vez o MLSTP só estava preocupado com um lugar para a sua dirigente. Dizem aqui em S.Tomé que existe muita pressão para o actual governo nomear muitos quadros do MLSTP e PCD para administração do estado.

    • J.B

      21 de Março de 2013 at 23:06

      Exclú, meu amigo!!! Mais uma vez me surpreendes com esta grande maravilha.
      Parabéns meu colega e amigo. Um grande abraço para ti e para a tua família.
      J.B.

  10. Mario G. B.

    21 de Março de 2013 at 22:58

    Toda esperteza alheia acaba assim. De facto Patrice criou muita expetativa mas depois borrou a pintura toda com alguma arrogância. Não havia necessidade. Ainda por cima estes deputados do ADI estão a fazer greve sem necessidade a desgraçar a imagem do partido. Eles é que sabem coisa deles.

  11. João Rodrigues Serodio

    22 de Março de 2013 at 0:12

    Sr.Adelino Cassandra,tenho sérias dúvidas que a Associação de Malfeitores,que tem governado este País ao longo destes anos,tenha discernimento e inteligência suficiente,para perceber o alcance das suas palavras.Quem nasce lagartixa,jamais chega a crocodilo.

  12. TAYSON

    22 de Março de 2013 at 9:31

    Podemos claramente constatar que é consensual que o texto está muito bem elaborado, pessoalmete concordo com grande parte do que foi aqui descrito pelo autor mas lamento sériamente por pecamos sempre pelo mesmo: CONTIUAMOS A FALAR E A DISCUTIR PESSOAS E NAO DE IDEIAS CONCRETAS QUE SUISCITEM RECOLHAS DE SUBSÍDIOS VÁLIDOS PARA QUE POSSAMOS AJUDAR O PAÍS A SAIR DESSE SUFOCO.
    Tudo o que o Sr. Cassadra focou e retratou no seu magnífico texto, nao é mais novidade nehuma para nenhum de nós leitores e por isso, está na altura de passarmos a uma nova etapa: enfrentar o presente e projectar o futuro.
    Até quando cotinuarmos a falar e a viver do passado, quando nao se faz essa mesma reflexao em relaçao ao Futuro?

    Por vivemos do passado e de pessoas é que nao saimos da actual situaçao.
    Que textos elaboradamente brilhantes como este sejam regularmente expostos mas com outros temas que realmente fazem falta ao País.

    • João

      22 de Março de 2013 at 14:59

      Eles só não fazem porque não querem fazer. Querem defender só os seus interesses pessoais. Temo que rste país nunca mais endireita. Enfim…

  13. so gregório rei das conas

    22 de Março de 2013 at 9:57

    granda pensamento

  14. E. Santos

    22 de Março de 2013 at 13:58

    A coerrência do texto está, no meu entender, bem conseguida. Mas não deixa de ser uma opinião, um julgamento pessoal do autor a que os polítcos, os partidos e toda a sociedade está sujeita. Sendo apenas a sua opinião, permita-me não concordar na totalidade consigo.
    Vejo de facto um ADI que radicaliza ou assume posições extremas em determinadas circusntâncias, mas sou de opinião que o remediar também não nos ajuda em nada.
    Como já tenho dito, o povo deste país vive de remediar, de pelo menos, de uma falsa unidade nacional que não abona a favor de ninguém e muito menos do próprio país.
    As vezes é preciso “deixar o corpo bater no fundo para ganhar impulso para voltar a superfície”.
    Pode ser que seja uma estratégia válida e porventura mais vantajosa para a estabilidade que o país precisa.
    Mas por agora o nosso foco não pode ser o ADI e Patrice Trovoada. O nosso foco é sim a acção governativa em curso e São Tomé e Príncipe, que futuro????
    Vamos deixar de fazer campanha para Patrice Trovoada e ADI.

  15. Minuye

    23 de Março de 2013 at 17:35

    Sábias palavras! Parabéns!

  16. Charlles Ceita

    24 de Março de 2013 at 15:19

    Meus parabéns, boa reflexão!

    • Mário

      25 de Março de 2013 at 15:20

      Depois da leitura deste texto eu, sinceramente, não compreendi as palavras do senhor Patrice Trovoada na RDA-ÁFRICA. Este senhor passou quase uma hora de entrevista a se vangloriar de ser único líder de S.Tomé e Príncipe, a criticar o senhor Presidente da República utilizando palavras pouco adequadas para um presidente da república e no entanto não disse uma palavra sobre os disparates que ele cometeu na sua governação. Eu como Sãotomemse fiquei muito triste com esta entrevista. Este senhor destilava ódio contra o presidente da república. Como é possível um ex-primeiro ministro ter este comportamento???? Eu acreditava muito neste homem mas a partir de agora saiu-me uma desilusão. S.Tomé não tem concerto possível. É muito triste tudo isto.
      Por isso, depois de ler este artigo pareceu-me que o seu autor entrou para dentro da minha cabeça e escreveu tudo aquilo que está escrito ai. Muito parabéns pelo seu texto. É das melhores coisa que li sobre S.Tomé.
      Bem haja
      Mário

  17. João Martins

    25 de Março de 2013 at 17:50

    Sinceramente, Adelino Cassandra, sinceramente, Pinto da Costa eximio general em quê? Não sei se se lembra que o pedreiro, aliás economista, que abriu o cabouco para essa situação vergonhosa que nós todos os santomenses vivemos chama-se Pinto da Costa!
    Tudo o que nós somos agora, deve aquela preparação dos 15 anos, em que só o general podia e sabia todos os outros eram meramente bobos do general. Vivemos o danço congo. a pergunta é em qual personagem enquadras o teu general Pinto? Seja sincero, sem lamber botas e responde-me por favor com a verdade.

    • Nicolau Brigada

      26 de Março de 2013 at 14:05

      Grande artigo, sim senhor! Muitos parabéns, mais uma vez. Este Patrice Trovoada deveria ler este artigo. Governar não é só mandar bocas, fazer confusão, etc. É preciso saber governar, ter experiência e espírito de estadista. Eu também ouvio entrevista deste senhor na RDP-ÁFRICA, aqui em S.Tomé, e sinceramente que não gostei nada. Só ódios e manias de grandeza.

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