Opinião

A coesão nacional precisa-se

A questão da coesão nacional tem vindo ao baile, sobretudo, recentemente, durante o período de comemoração do quadragésimo aniversário da nossa independência. Trata-se de um tema que sugere discussão e comentários.

Antes de começar a traçar consideração sobre o tema, pretendo levantar alguns questionamentos inseridos no âmago da questão:

Como falar da coesão nacional, se a primeira acção do ADI, levando ao extremo a atitude dos Governos anteriores, foi substituir grande parte dos directores da Administração pública sem ter em conta o critério de competência?

Como falar da coesão nacional, quando durante o mandato do governo anterior o Afonso Varela, Carlos Vila Nova, Silvestre, Óscar Medeiros e outros foram convocados várias vezes a comparecer ao Ministério Público, fincado nalguns casos, com termo de identidade e residência, sem que nada fosse provado contra os mesmos?

Como falar da coesão nacional, se a TVS e a Rádio Nacional estão extremadamente divididos, e se transformaram na bala de arremesso contra aqueles que não comungam com a doutrina de qualquer governo instituído, mal este chega ao poder?

Como falar da coesão nacional, se em plena semana de comemoração de 12 de Julho, o Dr. Carlos do Espírito Santo “Béne” veio brindar-nos com o seu livro a Primeira República, trazendo a memória algumas reminiscências do passado?

Como falar de coesão nacional, se a excelente reportagem do Jerónimo Moniz e o livro do Dr. Guadalupe de Ceita vieram demonstrar, de forma inequívoca, que nunca houve coesão nacional na intenção dos indivíduos que lutaram para a nossa independência?

Como convencer o ADI que venceu com a maioria absoluta a promover o processo de  coesão nacional?

Como falar da coesão social quando os Jovens de década de 60 – 70 que tanto criticavam os mais velhos, desde que conheceram o sabor do poder, esqueceram a teoria da coesão nacional?

Como falar de coesão nacional se existem indivíduos a procura da sua oportunidade, uma vez, que se sentem marginalizados pelos grupos (ADI, MLSTP, PCD e MDFM) que tem tido acesso ao poder?

Passado

No meu entender, só poderemos falar da coesão nacional se todos tivermos a capacidade de perdoar e entender os factos acima narrados como acções do passado, e juntos construir um país de futuro.

Mas, durante a reflexão sobre o tema, fui confrontado com um outro problema, trata-se da discussão conceptual.

Em que consiste a coesão nacional?

Quem deve dar o primeiro passo para construção da, tal almejada, coesão nacional?

Quais são os primeiros passos para a sua aplicabilidade na prática?

Porque no meu entender, a problemática não se esgota em painel e palestras nem em discursos. Mas sim, em propostas de acções concretas que contribuem para a resolução, ou melhor, integração do conceito na vida colectiva.

O conceito de coesão social é mais fácil de se explicar, em sociologia, o conceito de Coesão Social é comummente aceite, em termos de dinâmica da vida social, designando a harmonia, a união das forças sociais e das instituições que as sustentam e que concorrem para um fim harmonioso e coerente de vida em comum.

A Coesão Social implica, por isso, e necessariamente, um certo grau de solidariedade e integração social. O conceito está relacionado com o sentido de pertença a um espaço comum ou o grau de consenso dos integrantes/membros de uma comunidade. Dependendo da interacção social no seio do grupo social, haverá maior ou menor coesão.

Estaremos a falar de uma sociedade mais igualitária (equitativa) e justa, onde será promovido um grau substancial de coesão social, uma vez que os integrantes fazem parte de um só e mesmo grupo com interesses e necessidades comuns. No entanto, se a sociedade apresentar uma grande desigualdade, não haverá coesão e os cidadãos terão condutas contraditórias.

Um conceito que o sociólogo francês Émile Durkheim, explica no seu livro A Da divisão do trabalho social.

Termino, ilustrando o seguinte pormenor: muitos jovens, com menos de quarenta anos, promovem separatismo, marginalizam os outros, pelo simples facto de pertencer a cor política diferente, mas se esquecem que a sua caminhada para vítima de marginalização acontecerá dentro de dez anos, quando, eles mais precisarão, como está sendo, para muitos daqueles que hoje clamam a coesão nacional.

Meus amigos me perguntam, por que me preocupo tanto com isso? Eu respondo, simplesmente, porque amo este país.

Olívio Diogo

9 Comments

9 Comments

  1. Deodato freitas

    22 de Julho de 2015 at 9:52

    EXPLICAR SEM COMPLICAR.
    Muito bem Olívio.
    Isso sim é ser isento.
    ABRIR OS OLHOS DOS CEGOS.

  2. Jaime Toancha

    22 de Julho de 2015 at 10:03

    Caro Dr. Olivio Diogo,

    Muita força e coragem, nesta senda da vida

  3. Jão Pinto

    22 de Julho de 2015 at 10:23

    Para que haja a coesão nacional torna necessário a coesão entre os poderes da República Democrática de S. Tomé e Príncipe.
    A coesão é também “coesão social e geracional todas as políticas públicas têm de ser norteadas por “um princípio de justiça social, quer na distribuição dos recursos, quer na repartição dos sacrifícios”.

  4. REFLEXÃO IMEDIATA

    22 de Julho de 2015 at 12:20

    Estás de parabéns!!Bom trabalho.Até prefiro «perder tempo» e ler reflexões como estas.!!
    Se todos estivessem a ver as coisas deste pormenor…!!!?
    É que o alívio de muitos é estar com o poder durante 5 anos ou 10, mas esquecendo que amanhã ele estará também despido e outros vestidos.O problema de S.TOMÉ e Santomense é muito grave. Estamos a ver interesses e estamos a esquecer que a vida continua. Muita gente, e principalmente o povo está a ver S.Tomé de cima como que eles não fizessem parte dele.Eu acho que o povo deveria ter uma palavra e não estar a pactuar com ganâncias e má fé de Governos. O povo é culpado!!!

  5. original

    22 de Julho de 2015 at 12:25

    Resumindo e concluindo,Digo:Quem não consegue construir sobre cinzas lembrado sempre o fogo,não é digno de governar um País porque vai transmitindo o seu sentimento ao outro ,alastrando como uma praga e muitos que distiguem mão direita da esquerda sem certeza,absorvem este suco malígno que é ódio.Pessoas mobilizam os outros inocentes para participarem na sua luta e coesão é o que estamos a ver:dizer uma coisa e fazer outra.

  6. pascoal de carvalho

    22 de Julho de 2015 at 14:56

    pois é, falar de coesão fácil é, tão fácil caro amigo Olívio Diogo, que duvido que aqueles (todos) que discursaram sob o pretexto da tal coesão, nunca deram, não estão a dar, e nem darão passos que se justifiquem ou proporcionem essa mesma invocada “coesão”. eles se quer responderão no seu íntimo as perguntas levantadas pelo Dr.Isso digo eu.

  7. falar sem papas na língua

    23 de Julho de 2015 at 8:21

    A ADI não desvalorizou apenas o critério da competência,mas foi mais longe ou seja violou gravemente as leis da república, nomeiando diretores gerais e diretores de administração central de Estado sem requisitos minimos.Havemos de tomar medidas severas sobre essas atrocidades.Viva democracia e viva STP!

  8. pastor

    24 de Julho de 2015 at 9:52

    Será que a RDSTP ainda é uma Estado?
    Acabo de ouvir que o Patrice demitiu ontem alguns membros do Conselho de Administração do Banco Central., para colocar lá as seus “boys”. Ou Seja, ele já fechou o ciclo. A governadora é cota direta dele, O tribunal está com ele, o Tribunal de contas também entrou no ciclo. Falar para quê?

  9. LÔÇÔ TLÊZÊ CONTO - IRMÃO P.TROVOADA

    2 de Agosto de 2015 at 18:56

    Parabéns Olívio pela coragem em colocar o dedo na ferida! ADI + Patrice Tovoada, em vez da coesão social, com o seu radicalismo vão acabar provocando uma convulsão social capaz de arrastar uma boa franja da população a uma situação de desespero total com consequências muito negativas para a economia do país! O q + interessa o Patrice é dividir para reinar, criando espaço apenas pra os negócios obscuros! Senã vejamos: promete competências, mas promove incompetências, fala da justiça, promove injustiça, fala d democracia, mas coata a todos o acesso a comunicação social, alé doutras aberrações!

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