Opinião

Pinto e seus refractários atentaram contra Trovoada  

Absurdo! No tempo da minha avó San Tilha, ela não hesitaria em cortar-me os olhos – bastaria isso para que eu despertasse que estava a pisar terreno movediço sob o risco de uma surra das grandes – na ousadia de vir ao público assumir o arremesso dos protagonistas de causas dos são-tomenses.

Como virar de páginas sem reflexão colectiva, se só agora, leve-leve, os nacionalistas e seus pupilos nos trazem para decifrar os códigos da memória?

«Começaram a andar pelas ruas. Uma marcha silenciosa. Ninguém se lhes dirigia. Nenhuma porta se abria. Todas aquelas famílias que iam a casa deles, que comiam, que festejavam, nada! Ninguém se aproximava. Nem mesmo outros elementos da sua própria família:

“Era como se tivéssemos a peste.”» Pág. 132

Não torna pista obrigatória recorrer a adolescência dos filmes de cowboy que nos chegavam em pano branco ou na parede projectados por longa fita magnética combinada entre duas bobines. Os deambulantes e em especial a criança, filho do americano cravado de flechas dos índios, iria crescer, formar na escola da vida, tornar-se atirador com o dedo no gatilho pronto a vingar-se como sentimento humano, se sim ou não, de pôr fim ao transtorno psicológico de infância aos olhos de mil e uma crianças que, ao contrário, jamais usufruíram da infância de estrela.

«No dia 8 de Outubro de 1979, Miguel Trovoada foi preso por Pinto da Costa, sob acusações falsas e ridículas.» Pág. 125

Recorro-me sempre a Ângelo Torres – pessoa que admiro e enobrece-me ser pertença de ilhas especiais e únicas no meio do mundo, mas quem apenas conheço dos grandes écrans – filho de um dos nacionalistas que os são-tomenses gravaram uma conflituosa expressão concluída nos dias de hoje da mais pura das verdades, o atrevimento de João Torres, para liderar uma longa-metragem da nossa travessia pelo Atlântico.

Haverá algum desequilíbrio ou alguma sustentação as afirmações de que os «Trovoada» não se cansarão até se vingarem dos são-tomenses?

Não! Longe dessa paranóia, têm uma dívida para com o povo pequeno a qual jamais desistirão em pagar com o sacrifício da própria vida.

«Reconforto, grande reconforto: algumas palaiês, as vendedeiras do mercado, vieram espontaneamente trazer-nos peixe, bananas… Durante aqueles dias não precisávamos de comprar comida. Isso foi muito tocante. Eram aquelas senhoras que minha mãe conhecia do mercado que nos apoiavam.» Pág. 133

Não era por acaso as mulheres (bobondo a Cívica) que levantaram as saias no dia 19 de Setembro de 1974 para enfrentar o governo colonial das ilhas exigindo a rápida e total independência de São Tomé e Príncipe, fossem as mesmas a dar o primeiro passo de solidariedade na turbulência de caminhos.

«A relação com meu pai foi sempre na política. Quando ele estava com os seus amigos e camaradas, nunca me proibiu de entrar na sala, mas nunca foi um pai sentimental. Porventura, a História e os seus compromissos nunca lhe permitiram. Para mim, ele era um político, um revolucionário. A minha mãe foi mais mãe e transmitiu-nos muito mais segurança, carinho, estabilidade emocional e, sobretudo, muita solidez. Sempre que estávamos numa situação de crise, ela era a figura da calma, de uma grande coragem. É algo, aliás, que notei em muitas mulheres são-tomenses. A minha mãe, não sendo alguém extravagante, sendo até bastante reservada, em termos de valores humanos, é uma referência para todos nós.» Pág. 81

Espectacular! Os antigos Presidentes Miguel Trovoada e Fradique Menezes na tribuna de quatro décadas na Praça da Independência e os abraços cúmplices de Pinto da Costa, Chefe do Estado, para são-tomense ver, crer e sorrir, testemunhados por Jorge Carlos Fonseca, o Presidente de Cabo Verde e demais convidados do mundo.

Ainda assim como não resgatar a penumbra, ajustar o presente e acertar o caminho na miragem da saída do túnel num actual patamar das duas altas figuras, Presidente de São Tomé e Príncipe e Representante do Secretário-geral das Nações Unidas para a Guiné Bissau, respectivamente?

Mas a vida tem desses socopés e tangos pa dançar kumba loda. Encontros e desencontros, práticas e falacias, prioridades e desejos, vitórias e derrotas, amizades e inimizades, perfeiçoes e defeitos, recompensa e ingratidão assim que: «Todos Trovoada, a insinuar as trovoadas que iriam ter pelos anos fora, bem como a força do trovão que é bem necessária para enfrentar algumas voltas deste mundo.» Pág. 31

Ingratos. Actualmente encaixados na governação, na administração e no petiscar do saboroso país, falta tempo aos meus primos para dístico partidário durante as 24horas no arbitral Tela Non de Abel Veiga.

Mas nunca é demais recorrer a história para ter os pés assentes na terra e ajudar a detectar o momento, os sítios e os personagens num olhar ao dia de amanhã com epicentro obrigatório por Mé-Zóchi.

«Ainda em 1960, durante as férias escolares, em São Tomé, “debaixo de uma coleira da roça de João d’Alva, no sítio de Bôbô Forro”, Miguel Trovoada com João Guadalupe de Ceita, Leonel d’Alva, João Junqueiro d’Alva, António Pires dos Santos (Honet) João Manuel Will, Manuel Nazaré Mendes, Armindo Monteiro e outros (lá tá o atrevimento de cola manga baço «outros» pelo meio de andala a meter-se com o fim) criaram o embrião que haveria de dar nascença, em 1961, ao Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe (CLSTP).» Pág. 53

Em que água navegava a figura que viria em 1975 tomar as rédeas da terra? Como o próprio, nos finais dos anos oitenta, na altura de ensaios democráticos sob a sua coordenação que deram no Referendo de 22 de Agosto de 1990, abertura do país ao multipartidarismo democrático, concluiria ao raciocínio de um dos jovens quadros licenciados: «o camarada anda na lua».

Não! «Naqueles anos, a causa de seus pais evoluiu poderosamente. Vários nacionalistas daquelas ilhas, em 1972, num encontro em Malabo, na Guiné Equatorial, fundaram o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP), que absorveria o anterior CLSTP e seria presidido por Manuel Pinto da Costa, um economista formado em Berlim-Leste, companheiro de infância e amigo de Miguel Trovoada, sendo que este continuaria a assegurar a representação internacional do Movimento.» Pág. 81/82

O tempo escuro sentado no tempo a olhar o tempo turvo na Baia de Ana Chaves tem explicação, não somente no solo sagrado da independência de todos os são-tomenses alimentando a temática da essência humana, luta pelo poder, mas também para lá das fronteiras.

«Este São Tomé e Príncipe, de 1978, confirmava, infelizmente, os piores indícios que o olhar de Patrice tinha detectado anteriormente. O país vivia um clima infecto de arbitrariedades, perseguições, afastamentos e inúmeras prisões.

No cerne dessa situação germinava um confronto dramático que tinha por alvo o seu próprio pai, primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, contra quem se desdobravam toda a espécie de manobras levadas a cabo pelo presidente da República, Manuel Pinto da Costa.

Este, já o dissemos, apareceu muito tardiamente no movimento de libertação são-tomense, vindo da Alemanha de Leste para o encontro de Malabo em 1972, que fundou o MLSTP, mas a sua estreita amizade com Miguel Trovoada vinha de infância, separados por escassos meses de idade, e continuou no Seminário de Luanda e em Lisboa, nomeadamente na famosa residência de nacionalistas africanos, a casa da Tia Andreza, na Rua Actor Vale, 37 em Lisboa, (esquecida, nem tida, nem achada nas recentes movimentações lisboetas para recompor a História Universal da UNESCO e recuperar a luta de décadas e das independências da África portuguesa) propriedade dos Graça Espírito Santo, uma família negra da pequena burguesia são-tomense, de que fazia parte a poetisa (Alda Espírito Santo), local da fundação e dos encontros dos membros do Centro de Estudos Africanos (CEA), nos seus salões literários de afirmação da negritude, onde ecoavam Nicolas Guillém, Sédar Segnhor ou Aimé Césaire.» Pág. 119/120

Tempos e outros que deram continuidade ao sentimento anticolonial da África portuguesa comandada pelos são-tomenses do séc. XIX e que muito orgulhava Carlos Graça – herança do pai – que ofereceu o testemunho no seu livro à terra.

Para não ficar refém da história, em Outubro passado e ainda no relampejar dos resultados eleitorais entrei num corta-mato até o Presidente Pinto da Costa para ter respostas as mil e uma tempestades que ofuscam a estabilidade política e o rimar de projectos de desenvolvimento de São Tomé e Príncipe.

Senhor Presidente. Para quando o fim da guerra Pinto da Costa e Miguel Trovoada?

«Não existe nenhuma guerra entre Pinto da Costa e Miguel Trovoada. Dos encontros que já tivemos, o meu amigo Miguel Trovoada repetiu sempre que foi um incidente do passado e não carrega recalcamentos da história.»

Todavia, estupefacto que na Pátria de Ama Dor, a dor de vingança corre no sangue até a quinta geração, contrariamente, não consegui subir aos olhos de Patrice Trovoada através do seu emissário que me antecedera compromissos de honra, mas a relação entre o “mais velho e o miúdo” tem cumplicidade e anticorpos sem mordomias que possam especular algum perfume de catinga de guembu.

«Aquela amizade entre Trovoada e Pinto da Costa foi retomada, então, a partir de 1972, em Libreville, onde este último passou a residir, não só na mesma casa dos Trovoada, como dormia numa cama extra que existia no próprio quarto de Patrice.» Pág. 120

Esmagado pela longa demora dos são-tomenses a adormecer na fila de espera da tomada de posse do XVI Governo, liguei à uma colega de férias em Lisboa, consagrada no lugar de segunda de um bispo de ADI para manifestar do meu desagrado ao banho-maria numa altura em que a dinâmica exigia o assumir imediato do país para devolução ao eleitorado do lema de “boa-vida” interrompida ao meio do percurso pela tróica, segundo testemunhos creditados, julgando eu de que estaríamos a viver momentos políticos excepcionais para medidas excepcionais de empurrar terra pa frente.

Ela, uma fanática de um partido do aniquilado elenco governativo que defende com unhas e dentes – normal de casal de bandeirola dupla no país democrático “pra gen comer em toda boca” – inquietou-me com mistério revelado na cúpula vencedora para o adiar com o país que lhe fora confiado pela maioria eleitoral.

«Golpe de Estado eminente» para contrariar a vontade popular e matar a democracia!?

Deu-me em levantar saia. Levei mãos a cabeça para gritar quidalê ô! Credo piquena! Um mês passado das eleições!? De que corrente ideológica teriam reinventado a retórica que o pastor e o rebanho conotam à Primeira República num passado engavetado pelos são-tomenses na Carta de 1990?

«Ao mesmo tempo que se desenvolveu este pavor contra mim, num autêntico ódio de morte por parte dessa elite que sempre gravitou em torno do poder, a população evoluiu para um sentimento nítido de que “ele quer fazer alguma coisa pelo país, quer fazer o país avançar, quer prender os ladrões… Se todos esses indivíduos que estão há mais de 30 anos no poder se juntam contra ele, temos de dar uma chance a esse senhor, para ver o que ele faz.” » Pág. 246

Vem aí a cadeia de alta segurança Dona Amélia, terminologia deselegante, contrária a convivência democrática e de nada benéfica ao nosso paraíso na caça de turistas e cativação de investimento estrangeiro para fazer frente as ondas criminosas e quiçá terroristas de Boko Haram (Alah, nos livre deles!). Muito mais que isso e aos olhos da oposição, mandar para as suas celas os agentes das forças de bloqueio que atentam contra a paz e o amor dos são-tomenses no olhar ao espelho do actual Primeiro-ministro.

«O Povo deu um salto muito importante seguindo um indivíduo que é muçulmano, que nasceu no estrangeiro, que tem uma mulher estrangeira, que não foi à escola com eles, que vive um pouco retirado, que esteve sempre no mundo, sempre a viajar, mas “esse homem é que queremos seguir, o caminho que ele nos indica é o que preferimos”. » Pág. 247

Entretanto, pelo rumo sequencial dos acontecimentos na terra, há um desafio que se impõe aos são-tomenses. A quem confiar a chave da dita cadeia?

Se Dr. Rafael Branco do MLSTP ou Dr. Patrice Trovoada de ADI que guardaram em casa milhões em maços de moedas estrangeiras de origem não declarada? Se Dr. Raposo ou Dr. Samba que «olho cegô eles» jamais viram um crime de profanação financeira (corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal) numa prática tão lesiva ao Estado? Se os dois seguranças beneficiados da amnistia «ladrão que rouba ladrão, cem anos de perdão»?

Anda na ribalta a negociata do actual governo que comprou ao sócio do Primeiro-ministro um “hotel” para a justiça que lhe andou a perseguir, exercer em pleno as suas funções de independência sem ser imiscuído pelo poder político. O edifício que não valia quinhentos mil dólares foi arrebatado pelo Estado por três milhões de dólares a juntar mais quinhentos mil de adaptação a justiça.

O livro «Reflexões Jurídicas» do Juiz Hilário Garrido esclarece: «…se alguém souber de um furto que ocorreu ou está a ocorrer em casa de outrem, pode participar disso as autoridades. O mesmo se passa com homicídio, peculato, corrupção, suborno, ou todos os outros de que a lei não faz depender da queixa ou da acusação.» Pág. 60

Com tantos telhados de vidro, Esperança e Indignados sucumbidos, como desvendar o dedo indicador?

«Aos que me traíram, me odeiam, me querem mal, eu entendo o sofrimento e o desamparo que os habita e tenho pena por nada poder fazer para os resgatar dessa infelicidade… Tento, contudo, que esses absurdos não me façam perder tempo útil ou, pior, a minha liberdade.» Pág. 282

Giro o saiote da minha avó materna, mulher negra e delgada como pau de bandeira presa ao kimone, sem calcinha (não se dava ao trabalho de kukunu pa mija) que só vestia para ir ao médico de desnecessária visita, talvez devesse ao seu calulu para a nossa delícia, só de folhas que, descalços, rotos e inocentes, nós recolhíamos a volta do quintal.

Analfabeta e em permanente «guerra não declarada» à minha adolescência prisioneira na Gaiola Aberta, nos livros socialistas e também de Guia e Cadernos do Terceiro Mundo, (não havia internet mas vim a conectar-me na 1ª República a VOA, Radio Deutsche Welle e RFI para contraditórios) pasmo pelo «Tempo», a revista moçambicana que me intrigava da ditadura de Samora Machel a deixar os seus jornalistas a solta, funcionando como um contrapoder ou o quarto poder nas críticas abertas ao próprio Estado e a sociedade, forjei a minha liberdade, óbvio, contornando o Cabo de Boa Esperança – prisão de Nelson Mandela – para chegar as ilhas de Maka Mblala.

Ela vaidosa com a “dependencha non” que a vida permitiu o gozo, o prazer e o sorriso, bastaram cinco anos para a terra vir a saborear-lhe a carne, quando observo a minha África, meu orgulho, Mediterrâneo sepulto de náufragos negros, “swarm” (a nova praga inglesa de africanos), decapitada com ou sem interferências e manipulações externas que destronam a caminhada deixando a deriva os milhões de africanos, já antes escravos e serviçais da Humanidade, fico também roto de palavras.

Humilhado de que a minha avó San Tilha nada entendia de escrita, leitura, matemática, ciências, política e jornalismo, confronto-me estupidamente com a expressão maldosa com que me chapava e jamais, por aquela altura, eu questionaria qualquer simbolismo: «Preto non sabe mandar no preto!»

Dá para entender o pessimismo da minha avó, partindo do inquestionável, a independência é a mais preciosa pedra de um povo?

«Nesta dupla de amigos, que iria marcar um país, Miguel Trovoada era, sem dúvida, o mais antigo, o mais culto, o mais capaz, o mais reconhecido nacional e internacionalmente.» Pág.. 121

Ham! Dívida tem os pés!

Façamos o esforço de virar de páginas no pressuposto de que nenhum país é viável ou não para ser independente pela dimensão territorial ou generosidade de recursos naturais. O homem!

Enquanto assistirmos a sucessão dos mesmos erros, estaremos bem servidos rasgando a história?

«Falei com o autor, como se costuma dizer, com o coração nas mãos, sem recados, sem receios e sem releituras, abri-me e contei-lhe a minha história.

Não irei olhar para trás. O que passou, passou… Teremos de saber largar as coisas, encerrar capítulos, concluir histórias e recomeçar permanentemente novas histórias.» Pág. 282

Um povo sem cultura de leitura padece gravemente da pandemia de obscurantismo ao ponto das palavras, aos olhos da realidade, chocarem permanentemente com os actos.

«Tal como em 1979, é, ainda, o mesmo Manuel Pinto da Costa a perseguir um Trovoada, com a cumplicidade de alguns políticos de segunda linha reincidentes e refractários a qualquer emancipação política, pacientes e potenciais herdeiros de um velho dinossauro…» Pág. 284

Reclamamos todos da necessidade de coesão nacional e reconciliação num projecto único para o desenvolvimento congregando todas as vontades, sinergias e contribuições num compromisso cronometrado tão almejado pelos são-tomenses longe dos umbigos partidários.

Tornará necessário algum cepticismo na duplicação de fronteiras que nem o GPS ajuda muito a desbravar o caminho para construirmos todos a auto-estrada para Dubai?

«A ditadura “pintista” não morreu em 1990, mas está a viver as suas últimas horas pela idade daquele que encarna o atraso económico e social do país, a intolerância e uma mentalidade do século passado e pelo facto de os seus seguidores estarem completamente desacreditados socialmente, mas também porque a juventude maioritária do nosso Povo está sufocada e já não suporta este anacronismo.» Pág. 302/303

Nada mais.

Mais não diria! Ta tudo escrito nas 338 páginas da biografia «Patrice Trovoada, uma voz africana» editada em 2014, repiso, ano de 2014, do português Carlos Oliveira Santos, de ascendência espanhola, nascido em 1953, ano de massacre, professor da Universidade de Lisboa e autor de 25 livros publicados.

Levei um ano após a edição do livro secreto de Patrice Emery Trovoada, obra desconhecida nas ilhas e, até dos altos dirigentes da extinta tróica, para conseguir por vias travessas mais um letrato que teimosamente venho reclamando aos são-tomenses que deram barriga a nossa causa e no dia 12 de Julho de 1975 pariram a nossa terra para escreverem das suas verdades, intrigas, extravagâncias e lutas de poder.

Ando na louca corrida para embebedar-me do livro do Dr. Guadalupe de Ceita – médico incansável e jogador-passatempo de bisca 61 com Marciel, Ângelo e Nóvito no rés-do-chão de Associação de Socorros Mútuos – recentemente lançado nas ilhas, a quem endereço os agradecimentos.

Trovoada, o filho, quem tentei vivenciar pessoalmente e conversar também em Outubro, respondera na biografia ao meu pedido a história e tirou as palavras da boca do seu pai. «Da minha terra, pela qual tanto lutamos, ninguém, nem os nossos próprios familiares nos acolheram.» Pág. 133

Os decisivos eventos de 1991, a vitória eleitoral do PCD no dia 20 de Janeiro e a presidencial de Miguel Trovoada no dia 3 de Março, se de um lado tiraram o MLSTP do mando dos quinze anos, vieram reacender as antigas rixas entre a Cívica e os Nacionalistas com o beneplácito de acertos constitucionais de um semipresidencialismo, mal interpretados e disputados pelos dois palácios das Forças de Mudança.

As fricções deram lugar a queda de governos e consequentemente engavetadas todas as promessas eleitorais longe de adaptarem aos compromissos internacionais passando ao nu o agravamento da vida económica e social dos são-tomenses.

«Não sei bem o que fazer e ligo para o presidente Omar Bongo, através de um número pessoal que eu tinha para ser usado em casos extremos. Ele atende logo e diz-me: =Acabei de falar com o teu pai. Houve um golpe de Estado. = Meu pai tinha sido levado preso, para um quartel. Bongo disse-me também que já tinha avisado os serviços permanentes (Françafrique) do Eliseu, em Paris, e recomendou-me que eu apanhasse um avião para Libreville.» Pág. 182

O calendário registava, 15 de Agosto de 1995, um mês passado das comemorações de vinte anos da independência das ilhas de kumba loda e nem precisou o escritor recorrer a rádio BB, muito vulgarizada na terra para ter da certeza absoluta dos fragmentos que ainda pudessem alimentar as discussões e fracturar a compreensão de memórias.

Como olhar ao lado de cara no chão e fingir que ta tudo a mil maravilhas, rebentar de abraços o champanhe dos quarenta anos e de vento em pompa rumar ao futuro triunfante sem que passemos pelo tribunal de confissão, consciencialização e moralização nacional?

«Tratava-se de um golpe militar «cirúrgico», exclusivamente contra Miguel Trovoada, (Presidente da República) patrocinado, ainda que encapotadamente, por Pinto da Costa e pelo MLSTP.» Pág. 182

São Tomé e Príncipe, as paradisíacas ilhas de Ama Dor, caía assim na boca do mundo pelas arbitrariedades de nada a ter à animação política do contagiante triénio 1989/91 que, de roupa de gala, exibiu a democracia multipartidária na África.

A comunidade regional e internacional saiu em defesa do Estado de direito democrático e a democracia saiu reforçada. A reposição e o funcionamento normais das instituições permitiram a Miguel Trovoada reaver no ano seguinte à “gravana militar” a confiança dos são-tomenses para a renovação por mais cinco anos do mandato presidencial.

Volvidos pouco mais de duas décadas de democracia, derrocada em cima de derrocada e, para a memória colectiva, dezoito Primeiros-ministros. Isto é obra de um país digno do livro de Guiness!

Enfim!

«Terra de chegar e de partir é esta.» Pág. 31

 

José Maria Cardoso

05.08.2015

 

13 Comments

13 Comments

  1. Terra de chegar e de partir do ADI e seu fanfarão Patrice T

    6 de Agosto de 2015 at 8:42

    Mais um José Maria que está a procura de tacho. Já começou as estratégias de tachos…

    Minha gente, a função pública está sufocando. Segundo os dados de Tribunal de Contas, no espaço de 7 meses, de Janeiro deste ano até a presente data, entraram mais de 900 (novecentas pessoas na função pública).

    Câmara de Água-Grande 68,Câmara Cantagalo 51, Câmara de Mé-Zochi 65, Câmara de Lobata 62, Câmara de Lemba 39, ENASA 40, ENAPORT 27, Finanças 27, EMAE 32, Ministério da Saúde 57, Ministério das Obras Públicas 69, Ministério de Ordem Interna 51, Agencia de Petróleo 7, Autoridade Conjunta 4, TVS 9, Bibliotéca Nacional 5, CIAT 4, GRIP 3, Assembleia Nacional 11, Radio Nacional 7, os Tribunais 8, Banco Central 7 incluindo os três boys administradores, Instituto da Juventude 5, Alfandega 4, Inspeção das Finanças 4, Ministério dos Negócios Estrangeiros 3, Centro Nacional de Endimias 4, Administração de Hospital Central 6, Direção de Ensino Superio 3, Direção Administrativa e Educativa do Ministério da Educação 3, Direção dos Impostos 5, COSSIL 3, DOPU 4, ENAE 4, Direção dos Desportos 3, as Secretárias efectivas dos Ministros 10 + Secretároas Particulares dos Ministros 10, Direção da Cultura 6, Direção de Comércio 7, Direção de Turismo 5, Direção da Industria 6, etc…, para além de mais de 100 funcionários com pastas acumuladas, ou seja, um indivíduo a auferir dois, três, quatro sálários na função pública e nada lhe acontence. Ex: salário na ENASsA, TV de toda gente, Consultor de Governo das Bananas, Assessoria Ministério das Finanças, mais RDP África, RFI e VOA, enfimm, enfim, e sem fim.

  2. Ké lumadu

    6 de Agosto de 2015 at 9:52

    Esse país não avança por causa dessas patetices.
    Porquê desenterrar o machado de guerra?
    Essas questões só fazem renascer o ódio e criam divisão.
    Favor, para o bem de STP,não publiquem esses tipos de artigos.

  3. Maria silva

    6 de Agosto de 2015 at 10:19

    Senhor José Maria Cardoso, de 1 a 20 , dou-lhe 21 , sempre a nos brindar com artigos que realmente valem à pena ler mesmo sendo longos.
    O senhor escreve com alma, e faz questão ” sempre nas suas escritas ” de usar os nossos palavredos, algo que deixa me particularmente como Santomense mt orgulhosa.
    Mas neste texto oque chamou-me atenção foi o seguinte : o povo deu um salto importante seguindo um indivíduo que é muçulmano, que nasceu no estrangeiro , que tem uma mulher estrangeira , que não foi à escola com eles, que vive um pouco retirado, que esteve sempre no mundo , sempre a viajar, mas ” esse homem é que queremos seguir, o caminho que ele nos indica é o que prefiramos “.
    E eu pergunto será que este povo tem uma vaga noção do que quer?
    Sumú ê livlá ancá n’boca di cassô ê…..

  4. Txe

    6 de Agosto de 2015 at 10:32

    As “verdades”, sobre tudo em tempos pré-eleitorais, sempre serão “retalhos incertos” de um relato para fabricar umas “histórias induzidas”. Com certeza, naquela altura do “Golpe de Estado militar contra o Presidente da República Miguel Trovoada o mais destacável era um grande mal-estar social e descontentamento com o Presidente pela sua atitude do “Golpe de Estado político” que tinha dado contra o seu governo liderado pelo PCD, demitindo-o. O “Golpe de Estado militar” contra o Presidente Miguel Trovoada pode ser entendido nesse contexto. A suposta intervenção de Manuel Pinto da Costa foi no sentido de que Miguel Trovoada fosse libertado. Esta é a outra verdade!!

  5. Governo corrupto e fanfarão

    6 de Agosto de 2015 at 14:42

    Ò senhor José M. Cardoso!!!
    O teu discurso só revela aquilo que teu chefe/dono de ADI está a implantar em STP. Ódio e rancor, fanfarismo e populismo. Tens que crescer para ser. Se não serás um conjugador de verbo safar e tachar:

    Tu safas
    Ele/ela safa
    Nós safamos
    Vós safais
    Eles/elas safam

    Eu tacho
    Tu tachas
    Ele/a tacha
    Nós tachamos
    Vós tachais
    Eles/as tacham

    Este Governo é um governo fanfarão, mais corupto da história de STP. Vejamos só o caso de compra do edifício ex-bar Benfica por parte do Governo nas mãos do senhor Ramy por 3.000.000 de Euros, um edifício que vale muito menos que 500.000 Euros. É um governo corupto ou não?

    O homem guarda sacos de milhões de euros e dólares em sua casa. Está cometer violação da lei e crime e fiscal ou não? É corupto ou não.

    Aonde é que está o arroz de 13.000,00Dbs?
    Onde é que está a cadeia de alta segurança?
    Senhor juntou com Ramy e sacou de Estado 3.000.000 de Euros para compra de um casa que valia apenas menos de 500.000 Euros. Isto é extorquir o dinheiro ao povo, o povo não merece isso. Isto é ser bandido e corupto. Aonde é que está mudança de atitudes e comportamentos?

    Senhor anuncia a construção da cidade administrativa cópia do projeto do anterior Governo, mas não revelou o montante necessário para implementação do projeto. Isto é bandidagem, é corupção.

    Com esse Primeiro Ministro, tarde ou cedo esse país estará entregue a um ambiente hostíl e com muita onda de tribulação e vandalismo. O senhor e coitado do povo vai colher aquilo que hoje está-se a plantar em STP.

    Exemplo disso, é isenção de vistos aos cidadãos troianos e beltranos europeus e americanos. Depois o senhor vai dar o povo razão.

  6. pascoal de carvalho

    6 de Agosto de 2015 at 22:22

    parece que jamais sairemos desse marasmo, a cada dia que passa desenterra-se passados que em nada contribuem para o tão falado desenvolvimento.Mas porquê?

  7. Francis Mekano

    7 de Agosto de 2015 at 9:20

    José Maria
    Porque de tudo isso?essas memórias transmitidas dessa maneira para consumo público só vem lançar mais ódio e divisão no país; Os teus filhos,os meus filhos e filhos de outros compatriotas nossos precisam é de paz e harmonia para fazer crescer o país e não reviver as contradições pessoais e individuais do tempo de Santa Isabel que já passaram a história.
    Ao trazeres essas reflexões se calhar já recebeste algum do P.Trovoada porque sabemos que ele é especialista em esbanjar dinheiro para comprar consciências.
    Um conselho José Maria,seja homem de paz e mostra que continuas a ser esse José Maria que era homem de luta e paz no temp da JOTa MLSTP.

  8. zekentxi mangluto

    7 de Agosto de 2015 at 17:55

    Todos sabemos destas cenas mas faltava detalhes. E quem sao as outras pessoas k pertenciam aquele tempo? Nao se pode construir o futuro esquecendo o passado. Bem,o primeiro golpe de estado foi dado antes da independencia. E eu, ja na casa dos dos 30 anos, com akilo k os nais velhos contaram-me e akilo vivi e vivo, ainda nao o galo costa movendo palhas para reconcelheacao. Ele tem sido muito teorico e nada mais. O povo tabem nao pode ficar refem desta historia, temos k virar a pagina. O miguel ja perduou mas nao esqueceu. O nassacre de 53 foi perdoado mas nao esquecido tanto e k temos tido boas relacoes con portugal. Agora e dar as maos e deixar de entrigas e politiquices e sair dessa zona de turbulencia. Bomo zunta fogo nzala xinja sossegadu, so sa kwa ku pivo mece.

  9. kwatela

    7 de Agosto de 2015 at 22:24

    Decepção
    Zé o que o mundo precisa é de homens que nao se compram nem se vendam e sao capazes de chamar água por água.
    Decepção meu amigo
    É o que sinto após ler o teu artigo.
    De outros esperava mas de ti????
    Companheiro de batalhas na mesma trincheira !!!!!

  10. Francis Mekano

    10 de Agosto de 2015 at 8:37

    Raul
    Como disse no meu anterior comentário ,devemos ultrapassar tudo e pensar no futuro do nosso país,mas tendo em conta a tua intenção de fazer do Patrice Trovoada e seu pai Miguel de heróis vivos e vitimas etc,etc,gostava de colocar uma última questão e prometo não continuar nesse debate: Quem foi o mandante do golpe de estado de 2003?o seu autor material foi recompensado ultimamente com um alto cargo no país,quem o recompensou? pergunte ao PT que te responderá e depois de saberes jamais escreverás as coisas que estás a escrever.

  11. SEABRA

    10 de Agosto de 2015 at 17:25

    Estarei sempre presente,para corrigir os “contadores da historia OPORTUNISTAS”, à busca de uma merenda, uma goluseima, junto do CORRUPTO n° 1,na pessoa do PT-ADI, pm + vagabundo, que STP jà teve, seguido do seu “kamba” VARELA .
    Senhor JC,creio que hà uma grande lacuna na sua descriçao sobre o facto ocorrido, aliàs, vocessemecê, nao é credivel, porque toma parte dos TROVOADA, na sua posiçao que é sem ambiguidade (ao menos nisso, você é honesto).
    Jà que quer relançar o debate sobre”o arco da velha”, faça-o bem, porque muita gente vai ler….uns que estao bem vivos e que assistiram ao tal acontecimento, constataram que o seu “relatorio sobre o aasunto” é falso, aqueles que estao descobrindo (os jovens que nasceram depois….), serao induzidos ao êrro, porque a descriçao do dito acontecimento(feita por si, é errônea).
    Quem foi que o Miguel TROVOADA pôs em situaçao inconfortàvel neste complot, atribuindo-lhe um papel de MAFIOSO, ora que o individuo em questao era considerado como um FILHO pelo pr.Pinto da COSTA?Porque razaoé que os TROVOADA, estao numa de odio, vingança etc, ora que eles também nao foram e nem sao santos, na vida politica de STP.
    O MT deveria era ficar em STP (jà que se estima ser um “sage”….), para aconselhar o filho PT e orientar para uma melhor saida , na vida do povo ….uma situaçao mais confortàvel em STP…!
    que faz ele na GUINE BISSAU? um pais como a GB nao precisa de pelintras como o velho “de RESTELO” (pelos que conhecem os Lusiadas de CAMOES)….vê tudo, prevê tudo, advinha tudo, analise tudo…. e nao sabe NADA ,so sao tretas.
    Senhor JC qual é o posto que lhe espera, no seio do governo ADI?
    O governo da podridao continua no PODER com a maioria absoluta, graças aos jornalistas e historiadores de ocasiao , que fazem a promoçoes, propaganda,elogios em troca de uma POLTRONA e alguns dolares! Força….VA PRA FRENTE, atras vem gente!!!

  12. Sidónio Pires

    11 de Agosto de 2015 at 12:37

    Francamente. O autor está se enloquecendo. Nem acredito no que leio. Mal fazes mal hás de encontrar. Aqui é mundo…

  13. fiquei triste

    23 de Agosto de 2015 at 14:57

    E quem sofre é o povo coitado.

    Meus Senhores e minhas Senhoras.

    Minha vontade era que nenhum descendente Pinto ou Trovada fica-se nem 1º ministro nem presidente de STP nem tanto conselheiro desses cargos durante 12 gerações.

    Seria menos uma história para justificar os males causados ao povo pelos governantes (todos)

    Mais o que acalma nesta hora de dor pelo povo pequeno e ainda inocente, é que Deus é Pai e ira cobrar com juros por todos os males feitos ao próximo por aqueles que não se arrependerem.

    Por isso meus manos , tal como eu fiquem calmos nesta hora .

    “Salmo 94

    1
    Ó Senhor, Deus vingador;
    Deus vingador! Intervém![a]
    2
    Levanta-te, Juiz da terra;
    retribui aos orgulhosos o que merecem.
    3
    Até quando os ímpios, Senhor,
    até quando os ímpios exultarão?

    4
    Eles despejam palavras arrogantes;
    todos esses malfeitores enchem-se de vanglória.
    5
    Massacram o teu povo, Senhor,
    e oprimem a tua herança;
    6
    matam as viúvas e os estrangeiros,
    assassinam os órfãos,
    7
    e ainda dizem: “O Senhor não nos vê;
    o Deus de Jacó nada percebe”.

    8
    Insensatos, procurem entender!
    E vocês, tolos, quando se tornarão sábios?
    9
    Será que quem fez o ouvido não ouve?
    Será que quem formou o olho não vê?
    10
    Aquele que disciplina as nações
    os deixará sem castigo?
    Não tem sabedoria aquele
    que dá ao homem o conhecimento?
    11
    O Senhor conhece
    os pensamentos do homem,
    e sabe como são fúteis.

    12
    Como é feliz o homem a quem disciplinas,
    Senhor,
    aquele a quem ensinas a tua lei;
    13
    tranqüilo, enfrentará os dias maus,
    enquanto que, para os ímpios,
    uma cova se abrirá.
    14
    O Senhor não desamparará o seu povo;
    jamais abandonará a sua herança.
    15
    Voltará a haver justiça nos julgamentos,
    e todos os retos de coração a seguirão.

    16
    Quem se levantará a meu favor
    contra os ímpios?
    Quem ficará a meu lado contra os malfeitores?
    17
    Não fosse a ajuda do Senhor,
    eu já estaria habitando no silêncio.
    18
    Quando eu disse:
    Os meus pés escorregaram,
    o teu amor leal, Senhor, me amparou!
    19
    Quando a ansiedade
    já me dominava no íntimo,
    o teu consolo trouxe alívio à minha alma.
    20
    Poderá um trono corrupto
    estar em aliança contigo?,
    um trono que faz injustiças em nome da lei?
    21
    Eles planejam contra a vida dos justos
    e condenam os inocentes à morte.
    22
    Mas o Senhor é a minha torre segura;
    o meu Deus é a rocha em que encontro refúgio.
    23
    Deus fará cair sobre eles os seus crimes,
    e os destruirá por causa dos seus pecados;
    o Senhor, o nosso Deus, os destruirá!”

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