Opinião

Para quando a clarificação no seio da oposição são-tomense?

Referindo-me ao Partido ADI, escrevi num dos meus post-it no Facebook, em dezembro de 2018 que: “TODO PARTIDO POLÍTICO QUE TEM UM DONO NÃO TEM PERNAS PARA IR MUITO LONGE. JÁ TIVEMOS UM EXEMPLO EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE”. Não se tratou de uma frase profética mas sim uma questão lógica, até porque não tenho o don de ser profeta.

A situação política de São Tomé e Príncipe evoluiu depois das últimas eleições legislativas regionais e autárquicas, de tal forma que hoje o ADI está na oposição e numa situação complicada depois da fuga de Patrice Trovoada.

De resto, esse Senhor já nos habituou a não saber estar na oposição, pois, sempre que é obrigado a deixar o Poder ausenta-se do Pais sem explicações plausíveis. Essa atitude arrogante demonstra o caracter de um político sem qualidade, imbuído de outras intenções que não a de servir o Pais.

Se duvidas houvessem, é só ouvir as declarações do antigo braço direito do Patrice Trovoada durante os últimos 4 anos, o ex-Secretário Geral do ADI, Levy Nazaré, que o acusou de praticar uma “política obscura de interesse pessoal “ e “usar a pátria para se enriquecer”. São realmente acusações muito graves, se tivermos em conta a forma como foi gerida a economia e os destinos do Pais, que teve como consequência muitos processos de desvios de fundos que se encontram na barra dos tribunais. Na verdade, Patrice Trovoada atuava como o dono do ADI. Mas o mais grave é que ele tinha também esse comportamento em relação a gestão da coisa pública.

Nunca cheguei a entender como é que um grupo de pessoas intelectuais, bem formadas, algumas com muita experiencia profissional e de vida, seguia cegamente um indivíduo que agia de forma autoritária, desrespeitando as Leis, regras e procedimentos da Republica, num contexto que se dizia ser democrático. Há um velho ditado que diz: “quem cala consente e também é cúmplice”.

É verdade que nem todos no ADI se calavam perante tanto desmando. A precessão que sempre tive era de que Levy Nazaré sempre foi uma pedra no sapato de Patrice Trovoada, mas nunca o mesmo ousou em afasta-lo da direção do Partido e muito menos coloca-lo no Governo para não perturbar as suas políticas económicas obscuras. Levy foi sempre um rebelde agitador e Patrice tinha a consciência disso. Uma decisão de afastá-lo do Partido seria um autêntico terramoto dentro do ADI, pelo que, isto não convinha que acontecesse antes das eleições. Por isso é que Patrice Trovoada foi engolindo todos os sapos produzidos pelo Levy.

Mas garanto-vos que, se o ADI [ganhasse as eleições com o mandato suficiente para formar o Governo], Levy seria o primeiro alvo a abater dentro do Partido. Tendo consciência disso, Levy jogou a última hora uma cartada inteligente junto do MLSTP e outros Partidos que formam hoje a maioria, com objetivo de inviabilizar os objetivos maquiavélicos do Patrice.

Agostinho Fernandes é mais moderado, mas apesar disso, a partir de um determinado momento, o ex-líder do ADI o colocou longe da governação devido as suas posições incómodas. Acomodou-lhe no BISTP como Administrador desse Banco e conseguiu resolver o problema.

Patrice Trovoada lida muito mal com as críticas dentro e fora do Partido. Basta só ver como é que ele maltratou toda a oposição parlamentar e os opositores ao seu Governo. Usava também muito dinheiro que não se sabe onde ‘é que vinha, para silenciar os opositores. Foi o caso da antiga direção do MLSTP que estava completamente manietada pelo Patrice Trovoada. Valeu o movimento renovador que surgiu nos últimos meses antes das eleições e que afastou alguns Gurus caducos e viciados que aproveitavam o nome do Partido para resolver os seus problemas pessoais.

Não me estranha a situação em que vive o ADI. Segundo o meu ponto de vista, neste momento o ADI é composto por três grupos a saber: Primeiro, o de Agostinho Fernandes, Levy Nazaré, Ekineide dos Santos e outros que claramente romperam com a política caduca do Patrice. Forçaram a realização de um Congresso e constituíram uma nova direção do Partido; Segundo, o grupo que, embora tivesse participado no Congresso que elegeu Agostinho Fernandes, parece-me que ainda não clarificou o seu posicionamento.

Se calhar é uma questão de vergonha ou sentimento de orfandade, porque não é fácil ontem estar a favor e hoje estar literalmente contra. Neste sentido o grupo de Agostinho e Levy soube sem complexos e de forma inteligente, justificar essa mudança de posicionamento; Terceiro são os patricistas radicais constituídos por Abenilde de Oliveira, José Diogo e outros que continuando a receber instruções do “Chefe”, aproveitam as suas condições de deputado, para defenderem a manutenção do “dono” do ADI, em contradição com a nova direção e têm feito claramente uma política de terra queimada, no Parlamento, comunicação social e redes sociais, em vez de uma oposição construtiva e responsável com vista ao desenvolvimento harmonioso do Pais. É um problema que Agostinho Fernandes tem que resolver rapidamente.

A questão que se coloca agora é de saber se o grupo liderado por Abenilde de Oliveira tem condições para continuar a defender Patrice Trovoada, porque para esse grupo o ex-líder do ADI deve continuar a comandar o Partido ou na pior das hipóteses encontrar uma figura provisória que deve obediência ao “Chefe”.

No meu entender, o espaço de manobra desse grupo continua a estreitar-se sobretudo se o braço de ferro continuar com a nova direção ao ponto de ser instaurada um processo disciplinar ao Líder da bancada de ADI no Parlamento. Uma situação de bicefalia prolongada num Partido Político é insuportável. Que haja antes de tudo, o necessário bom senso recomendado nessas circunstâncias.

Quanto ao novo Líder, parece-me que está a conquistar o terreno e fazer o seu caminho. Já foi recebido pelos alguns Órgão de soberania e curiosamente também pelo Embaixador de Portugal em São Tomé e Príncipe. Estou expectante para saber quando é que o mesmo será recebido pelo Presidente da Republica, Evaristo Carvalho, sendo que, se vier a acontecer, terá um enorme significado político. A ver vamos!

São Tomé, junho de 2019
Fernando Simão

6 Comments

6 Comments

  1. Sotavento

    1 de Julho de 2019 at 7:17

    Bom artigo.

  2. De Longe

    1 de Julho de 2019 at 9:30

    Obrigado, meu conterrâneo.

  3. Carlos Miguel

    1 de Julho de 2019 at 9:50

    Análise muito interessante e real em.relacao a conjuntura dentro do maior partido da oposição que infelizmente vem perdendo forças por brigas internas.
    Se o ADI quiser um dia voltar a ser poder precisa urgente tratar suas mazelas internas e trabalhar como uma oposição coesa e construtiva.
    Partidos não podem ter Donos. Partidos precisam ter Líderes.!!!

  4. Gerhard Seibert

    1 de Julho de 2019 at 12:58

    Caro Fernando,

    Excelente artigo com uma análise muito adequada. Os meus parabéns!

    Um grande abraço

    Gerhard

  5. Seabra

    1 de Julho de 2019 at 14:16

    Senhor Fernando Simão, o seu texto é uma delícia. Li com a maior atenção, e achei -o excelente,com uma descrição LÚCIDA , IMPARCIAL, TRANSPARENTE e ousada. Como diz o provérbio “mais vale tarde do que nunca ” , pois que cheguei a sentir-me isolado no meu combate de DENINCIAÇÃO contra a política catastrófica e ditadora do regimeTOTALITÁRIO do Patrice Trovoada. Apraz-me mais ainda o seu texto, quando me deparei com as terminologias que muito tenho usado nos meus comentários ASSUMIDOS contra o corrupto Patrice Trovoada , que são os seguintes na mesma ordem que as utilizo:
    GURU – CADUCOS – VICIADOS,as vezes PERVERSOS.
    Quantos aos SUB-grupos ADI , o menos credível é o do Lévy Nazaré, pois ele foi o braço mais que DIREITO do Patrice Trovoada, porque era ele quem representava a violência do guru criminoso Patrice Trovoada….Lévy Nazaré foi ao extremo imperdoável na ASSEMBLEIA NACIONAL e na insolência que não tem nome junto do representante do governo sãotomense, na pessoa do 2o ministro Gabriel Costa. É de uma importância capital que ela peça desculpa PUBLICAMENTE, pelo posto que o Gabriel Costa ocupava ( não aprecio o Gabriel, mas é necessàrio reconhecer este enorme ÊRRO ).
    O mais credível para mim é o Agostinho Fernandes, por ser o mais moderado e sério ( concordo com o senhor Simão ).
    Os patricistas radicais, que para mim são “os Trovoada fondamentalista ” , são os mesmos citados no seu artigo, mas eu acrescentaria os MAIS PERIGOSOS : o Evaristo CARVALHO , o Afonso da Graça Varela ( este último , é suficientemente inteligente e ASTUTO ). Eles devem ser citados e nunca esquecidos.
    Mais uma vez ,agradecemos pelo artigo denunciador e autêntico.

  6. Peter Lopes

    5 de Julho de 2019 at 8:43

    Cota Fernando granda Artigo e gosto de seguir is teus artigis

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