Opinião

A problemática da escassez de água em STP

Hoje, vou refletir um pouco sobre a problemática de escassez de água em São Tomé e Príncipe.

Queixa-se com muita frequência da falta de água potável nas torneiras. Realmente é um grande problema que afeta quase todas as zonas residenciais das cidades bem como das comunidades rurais, porque de facto a água é vida.

Já se sabe que por enquanto o problema não é a falta de recursos hídricos, porque o Pais dispõe de muita chuva, muitos rios e ribeiras, nascentes e lençóis freáticos, em todo o território nacional. O problema é o seu mau aproveitamento por desperdício e sobretudo por falta de investimento no sector.

Ultimamente o jovem Adelcio Costa através da sua página no Facebook tem apresentado vários vídeos retratando a forma como se tem desperdiçado a agua no Pais, sobretudo nos fontenários públicos. Ele tem demonstrado que os fontenários públicos instalados em diversas localidades têm sido uma das formas desse desperdício devido a negligência, mau uso e pouco cuidado da população desses bairros. Trata-se de um trabalho meritório que tem como objetivo sensibilizar e chamar a atenção da população para a problemática do desperdício de água nos fontenários públicos e não só.

Curiosamente esses vídeos não têm suscitado debates calorosos nas redes sociais como acontecem com assuntos as vezes de menos importância. Isto é sinal da pouca atenção que ainda se dá as questões ligadas a recursos hídricos, apesar de ser um problema que aflige quase toda a população são-tomense.

Basta dar uma volta na periferia para vermos torneiras avariadas, com agua a correr abundantemente pelo chão, sem que os moradores façam algo para resolver o problema. Provavelmente ficam a espera para que a EMAE – Empresa de Água e Eletricidade resolva um problema provocado por eles próprios, por vandalismos ou negligencia. Por vezes, trata-se apenas de um mero esquecimento de fazer esse gesto simples de fechar a torneira depois de não precisarem a água.

Outra circunstância decorre de roturas da tubagens, por alguma razão, e que a água perde-se por vários dias sem que os técnicos da EMAE se desloquem ao local para proceder a reparação da avaria. Também é verdade que tem havido ligações ilegais muitas vezes danificando a conduta de água.

Para além destas causas existem muitas outras que contribuem para o desperdício desse precioso líquido.

Se continuarmos a agir dessa forma, por mais que se construam depósitos de todo tamanhos, continuaremos a ter problemas de falta de água aos domicílios. Imagino que se desperdiça muito mais água do que se consome.

Na minha opinião, os fontenários e as lavandarias públicos são incentivos ao desperdício do recurso hídrico no Pais. Por isso é que defendo que já não são a melhor forma para a distribuição de água a população pelas razões acima referidas.

Em vez disso, a EMAE devia criar um programa/projeto de ligação domiciliária para toda a população. Dever-se-á estabelecer um prazo para que o programa seja cumprido, de modo a que todas as pessoas interessadas possam solicitar a ligação de água ao seu domicílio. Depois do prazo estabelecido, deverão ser desligados todos os fontenários e lavandarias públicos, salvo situações devidamente justificadas.

Não deverá ser utilizada a velha modalidade de pagamento de taxa única, como por vezes acontece, porque desta forma não se evita o desperdício. Em cada ligação deve ser instalado um contador para que o valor pago pelo utente seja em função do seu consumo. Para as pessoas de baixa renda, dever-se-á estabelecer tarifas especiais.

Mesmo as aguas utilizadas nas zonas agrícolas resultante do apoio dado aos agricultores pelo Governo através do OGE ou financiamento dos nossos parceiros, na construção dos depósitos e a respetiva canalizações, devem ser colocados contadores em cada parcela de terra, de modo a que os seus proprietários paguem uma taxa própria para a agricultura, horticultura e pomicultura. Até porque, para efeito de estatística as autoridades precisam saber a quantidade de água que se consome no Pais, para irrigação, pecuária, industria e consumo doméstico, de modo a melhorar as suas políticas nessas áreas de forma sustentável.

Com essas medidas haverá menor desperdício e uma distribuição mais equitativa e mais racional desse recurso.

Atualmente, devidos esses desperdícios, quem paga é que acaba por ser prejudicada porque nunca tem agua, ou se tem, é com pouca frequência ou o caudal muito fraco, o que obriga a maior parte das pessoas a gastos suplementares com a construção de reservatórios para armazenamento do líquido, para além de outras despesas com aquisição de eletrobombas, motobombas, tubos e outros acessórios.

Apesar de esse bem precioso não constituir ainda grande problema em São Tomé e Príncipe, contudo, tem que se fazer investimentos, utilizando técnicas modernas de captação de água, de modo a que o mesmo chegue a casa de todos.

Há ainda o fator [crescimento da população] a ter sempre em conta.

Por outro lado, tendo em conta que o Pais precisa de desenvolver os sectores agropecuário, indústria para satisfazer as necessidades de desenvolvimento da economia, a água será sempre uma componente fundamental nesse processo.

Há coisa que não consigo entender. Como é possível que um país como São Tomé e Príncipe com tanta água, 45 anos depois da independência ainda não tem a funcionar uma fábrica de engarrafamento de água? Diz-se que já existe uma fábrica nova há muito tempo e por causa de alguns detalhes ainda não entrou em funcionamento.

Enquanto isso, gastamos rios de divisas com a importação de águas engarrafadas. Sinceramente, se um fosse um governante deste Pais nesses últimos 45 anos, teria vergonha dessa situação que espero venha a ser resolvida com sucesso, com a inauguração e entrada em funcionamento da nova fábrica.

Importa referir, sobretudo para os mais novos, que o Pais já teve uma fábrica de água gasificada e sumos, a famosa “fabrica Flêbê”, cujos produtos tinham muita aceitação no mercado local.

Por isso é que se deve conciliar todas essas necessidades, considerando que é um recurso que está a diminuir em todo mundo e São Tomé e Príncipe não tem escapado essa tendência.

São Tomé e Príncipe têm chovido muito menos do que antigamente e os caudais dos nossos rios tem diminuído significativamente. Apesar disso, grande parte das águas dos rios vão parar ao mar porque não são bem aproveitadas.

As nascentes que temos utilizado até agora para abastecimentos de água potável a população, têm diminuído consideravelmente. É necessário encontrar-se outras fontes e técnicas mais evoluídas de captação, condução e tratamento de água, para a satisfação das nossas necessidades.

Em alguns Países de Africa, a falta de água é dramática. Morre pessoas e gados porque não se pode fazer a agricultura devido a ausência de chuva que resulta em secas prolongadas. Não acontece apenas em Africa mas também em algumas partes do mundo.

Segundo a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), menos da metade da população mundial tem acesso a água potável. A irrigação corresponde a 73% do consumo de água, 21% vai para a indústria e apenas 6% destina-se ao consumo doméstico. Tem que se reverter essa situação urgentemente!

Por isso é que o desafio é cada vez maior e temos que nos precaver, evitando desperdícios, utilizando as práticas mais modernas de captação de água, evitar derrube descontrolado de arvores, plantar muitas árvores em áreas com problemas de desflorestação, de modo a que não venhamos a chegar a essa situação dramática, aqui em São Tomé e Príncipe.

Bem haja!

São Tomé, 31 de Julho de 2020

Fernando Simão  

8 Comments

8 Comments

  1. SANTOMÉ CU PLIXIMPE

    4 de Agosto de 2020 at 11:06

    Limpeza nos rios ……….

  2. Margarida Pereira

    4 de Agosto de 2020 at 11:53

    Concordo a 100% com tudo aquilo que diz e com as suas sugestões para resolver a situação do desperdício de água. Na minha experiência pessoal, só quando pagamos ou trabalhamos para um fim é que apreciamos as coisas. Dar gratuitamente não funciona. A água é o maior exemplo disso.

  3. A. Correia

    4 de Agosto de 2020 at 13:05

    Lindo e útil artigo Simão. Pelo despertar de consciência, pelas informações e para ação.

  4. pais real

    4 de Agosto de 2020 at 15:15

    Ainda bem que o autor aborda este problema. Também em minha casa não corre água. Por isso exijo a Emae agua todos os dias porque pago mensalmente as minhas facturas. Cabo Verde não chove e tem água nas torneiras todos os dias. Brincadeira tem hora.
    Esse é tão somente um problema de falta de gestão coerente da EMAE…

  5. SEMPRE AMIGO

    4 de Agosto de 2020 at 18:09

    OBRIGADO, muito obrigado pela sua contribuição.Compartilho inteiramente a sua refleção sobre a problemática de escassez de água em STP. As propostas que avança,são razoáveis e exequíveis.Não se esqueça porém que a demagogia de fontenários e lavandarias vem sendo utilizada sem vergonha pelos partidos políticos durante as campanhas políticas para caçar votos.De imediato o Governo deveria impedir, legislando,a construção dessas infraestruturas sem o acordo prévio das entidades(desratizadas) competentes.A sua reflexão está recheada de propostas que, no meu entender, deveriam merecer a reacção do Governo.Aliás um Governo ao serviço do povo não fica indiferente ás opiniões dos cidadãos.(voz populi, vou dei).A voz do povo é a voz de DEUS. Daí a minha proposta, senhor primeiro ministro, senhor ministro ABREU :”Analisem atentamente as propostas avançadas pelo sr.Fernando Simão.

    • Como será

      5 de Agosto de 2020 at 9:37

      Ahhh.amigo Simao tocaste num assunto muito serio,e que talves o governo nem se quer olha para isso, apenas acham que construir chafariz, lavandaria publica é tudo. Se desperdiça muita agua, nao sei se os nossos governantes acompanham as alteracoes climaticas que vêm surgindo no planeta, onde a escasses da agua tem sido um problema grave. Dai que o GOVERNO deve analisar a proppsta do sr Simao sobre esta situacao de má uso de agua no pais.

  6. SEMPRE AMIGO

    4 de Agosto de 2020 at 19:43

    A corrigir: em vez de (desratizadas)queria dizer(despartidarizadas)…….obrigado.

  7. SEMPRE AMIGO

    4 de Agosto de 2020 at 19:46

    e…vox populi vox dei

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