Opinião

O dilema de energia em São Tomé e Príncipe

Em 2008 eu já havia produzido um artigo sobre a energia em STP, o qual foi publicado pelo TELA NON em 27 Outubro  – https://www.telanon.info/suplemento/analise/2008/10/27/505/juvencio-amado-d%E2%80%99oliveira/).

No entanto, tendo em conta que o problema energético persiste e prejudica a mim, a todos os santomenses e as empresas instaladas em STP, volto a repisar no assunto.

De lá para cá já passaram cerca de 15 anos. E a situação de crise energética continua.

Os vários Diretores-Gerais da EMAE bem como os vários Ministros tutelares de energia e quase todos os altos líderes dos órgãos de soberania têm afirmado que a capacidade de consumo nacional é de cerca de 20 (vinte) megawats.

A pergunta que se pode lançar sobre este aspeto é: COMO CHEGARAM A ESTA CONCLUSÃO? Em quê têm baseado para chegarem a tal conclusão?

Parece-me ser uma afirmação que, de longe, não reflete a realidade.

Senão vejamos alguns exemplos do que parece ser incongruência:

1.     O distrito de Caué tem algumas horas de energia fornecida pela EMAE

2.     A Região Autónoma do Príncipe também o mesmo.

3.     Os outros distritos têm o mesmo problema.

4.     Mesmo o distrito de Água Grande, que tem a maior fatia de consumo, se alguém constrói uma casa, faz nela a devida instalação elétrica e solicita em requerimento à EMAE o devido contrato, a EMAE simplesmente pode indeferir o requerimento, pois pode alegar que não tem condições de abastecimento.

5.     Uma boa parte das comunidades agrícolas do país não tem energia.

6.     Todas empresas, públicas ou privadas, têm sua produção de energia, pois os geradores que essas empresas possuem deixaram de ser de emergência e passaram a ser de abastecimento contínuo, com as consequências que tal situação tem para o sucesso económico dessas empresas.

7.     Todo o país tem problema de energia.

8.     O desenvolvimento de um país exige mais e mais energia.

9.     Não temos um grande aeroporto. Não temos um grande porto condigno. Não temos grandes frigoríficos para conservação dos nossos produtos, etc, etc, etc.

10. Em suma, quando a energia deixar de ser problema surgirão mais e mais grandes consumidores. E, assim, a crise energética ressuscita, exigindo aumento da capacidade. E se o país não programar o aumento paulatino de energia, a crise energética, certamente, voltará, pelo que, logicamente, surgirá de novo o problema energético.

Como se chegou então à conclusão que a capacidade de consumo nacional é de somente cerca de 20 (vinte) megawats?

A meu ver, a capacidade real de consumo nacional não é nem 20 nem 30 (trinta), nem 100 (cem) megawats. É, simplesmente, muito mais do que isso.

Enquanto continuarmos a ignorar a necessidade de mais e mais energia, sempre havemos de enfrentar crises. Enquanto continuarmos a não ter o valor exato da nossa capacidade de consumo, para agora e para depois, havemos de enfrentar crises. Enquanto continuarmos a ignorar a necessidade obrigatória de REPARAÇÃO, MANUTENÇÃO E REPOUSO, dos geradores e equipamentos energéticos adquiridos, havemos de enfrentar crises. Enquanto o Estado, no seu esforço para regularizar o fornecimento energético, não tomar em consideração essas necessidades obrigatórias de REPARAÇÃO, MANUTENÇÃO E REPOUSO, no processo de novas aquisições ou instalações, havemos de enfrentar crises.

Quando se projeta, por exemplo, a aquisição de geradores com capacidade de produção de 1 (um) megawat, é preciso equacionar uma realidade obrigatória, pois esses geradores nunca irão produzir 1 (um) megawat, senão uma média de 0,2 (zero virgula dois) megawats, tendo em conta que irá exigir REPARAÇÃO, MANUTENÇÕES e REPOUSO.

Os geradores, por mais novos que sejam, querendo ou não, vão avariar e precisarão de REPARAÇÃO. Precisarão de MANUTENÇÕES diária e do tempo exigido. Precisarão de REPOUSO, pois não trabalharão 24/24h e 366 dias por ano. Precisarão de funcionar não em 100%, mas em pelo menos 60% da sua capacidade a fim de poderem ser poupados. Portanto um gerador, em condições normais e na condição financeira e preventiva de STP irá, necessariamente, produzir, em média, somente cerca de 20% (vinte porcento) da sua capacidade.

O gerador, ou qualquer equipamento, não pode ser forçado a produzir 100% da sua capacidade. Um grande erro pensarmos que assim deve ser.

REPARAÇÃO, MANUTENÇÃO E REPOUSO, devem obrigatoriamente ser sempre equacionados.

Portanto, como a fraca produção energética e cortes constantes afetam a mim, a todos os santomenses residentes assim como empresas em STP, apesar de que no artigo atrás citado de 2008 eu já mencionava o facto, gostaria de acrescentar o seguinte:

1.Quando se está na oposição ou se é adversário daquele que estiver no poder, critica-se sempre o gerador e o consumo previsto de combustível sempre quando há crise energética.

2.     Quando se consegue atingir o poder, não se faz outra coisa senão a aquisição de gerador.

3.     Logo, a única solução encontrada, por qualquer governo, para a solução imediata da crise energética enfrentada, é o GERADOR.

4.     Aqueles que vivem em S.Tomé e Príncipe e criticam o gerador, ou criticam só para criticar alguma coisa, ou só falam de boca para fora. Pois precisam de energia em sua casa e no trabalho, hoje e agora.

5.     É claro que um governo que pensa, sabe que tem uma legislatura de quatro anos e não vai, de modo nenhum, apostar em uma solução que pode demorar vinte, trinta ou mais anos, sabendo ele que o povo que o elegeu e mesmo aqueles que criticam gerador e combustível, precisam de energia hoje e agora.

6.     E a única solução imediata mais lógica é somente a TERMOELÉCTRICA. 

7.     Sejamos claros sem demagogias e sem quaisquer preconceitos.

8.     Só que os vários governos têm optado sempre em remediar em vez de resolverem de uma vez por todas o problema de energia. Os governos insistem em remediar.

9.     Falta de poder financeiro? Falta de capacidade de negociação? Ausência de um interesse ou plano de produção adequada de energia?

10. Se se gaba que o país tem uma capacidade de consumo energético de vinte megawats, então, estando verdadeiramente interessado em resolver o problema energético, e não somente para remediar, há a necessidade de verdadeiramente buscar a solução financeira, solução negocial e um plano para o efeito.

11. Buscar as soluções FINANCEIRA, NEGOCIAL e PLANIFICAÇÃO para a aquisição de um conjunto de geradores com capacidade produtiva de cerca de 100 (cem) megawats, partindo do princípio que se propala que a capacidade de consumo do país é de cerca de 20 (vinte) megawats.

12. Algumas pessoas presas no seu modo crítico de pensar perguntarão? E onde se encontrar combustível para isso? Em primeiro lugar a lógica é que os geradores só consomem combustível enquanto estiverem a trabalhar. A existência de vários geradores em repouso, permitirá que não se vai esperar pela reparação ou manutenção para se produzir energia. Assim que um gerador entra em reparação, manutenção ou repouso, já há outro para substituí-lo.

13. Qualquer governo que assume o poder sabe que a energia é um problema crónico e é um dos problemas que vai ter de enfrentar.

14. Qualquer governo que se interessa pelas críticas em relação ao gerador e do combustível, nunca encontrará a devida solução.

15. Repito que aqueles que criticam são os mesmos que apoiarão a solução encontrada ou calarão em críticas quando verem que a solução energética fora encontrada.

16. O povo não precisa de energia hidroelétrica. O povo não precisa de energia fotovoltaica. O povo não precisa de energia eólica. O povo não precisa de energia termoelétrica etc, etc, etc.

17. O povo precisa é de ENERGIA. Desde que haja energia, a fonte não interessa. Só se critica, porque não há energia.

18. Tanto a HIDROELÉCTRICA como a SOLAR ou a EÓLICA não serão nunca de imediato senão em dez, vinte, trinta e muito mais anos que se conseguirá produzir a quantidade que o país precisa.

19.Uma central hidroelétrica que se tem sempre tomado como exemplo da eficácia da hidroenergia, é a do CONTADOR. Penso que a central do CONTADOR tem uma capacidade instalada de aproximadamente cerca de 2 (dois)megawats e, certamente, produz somente uma média de cerca de menos de 1 (um)megawat, julgo que por vários motivos. Ora, tomando em consideração os 20 megawats propalados, teriam que ser necessário a construção de mais de vinte centrais do tamanho e tipo de CONTADOR para abastecer o país de energia. Simplesmente penso que isso não será fácil.

20.Uma vez verificada a ESTABILIZAÇÃO energética com a TERMOELECTRICA, agora sim, isso vai permitir que doravante esforços sejam empreendidos, pelos governos,  para que outras fontes de fornecimento, HIDROELÉCTRICA, SOLAR, EÓLICA e etc, possam paulatinamente ir substituindo a existente, facilitando a TRANSIÇÃO ENERGÉTICA.

21.Aliás! A energia termoeléctrica não precisa somente utilizar combustíveis fósseis. Também pode haver o uso de bioenergia, desde que haja estudos e interesse nesse sentido.

22.Fala-se da transição energética como se isso fosse algo que venha do céu. A verdade é que a transição energética, sem cortes constantes, só será possível dentro de 10, 20 ou mais anos enquanto não houver estabilização. Poderá haver transição energética sim, mas com crises constantes, como hoje que não há estabilização.

23.A impressão que deve existir hoje no seio da população é de que a energia renovável e a transição energética são falsos, não são nada de bom, pois na sua aplicação, porque os governantes falam tanto nisso, não se conseguiu resolver o problema de crise energética. Por isso, os governantes devem ser aconselhados a nunca utilizarem os termos de energia renovável ou transição energética  enquanto não for resolvido definitivamente a questão de crise energética.

24.A verdade é que penso que deverá ficar bem claro que não será fácil haver transição energética sem cortes de energia, na ausência de uma verdadeira estabilização energética.

25.Lutemos e façamos esforços pela estabilidade energética no país.

Esta é simplesmente mais uma contribuição. Sei que os governantes nem passam cavaco às opiniões. Mas pode-se estar confiante que enquanto não se encontrar solução poderá haver mais contribuições nesse sentido.

Juvêncio Amado d’Oliveira

4 Comments

4 Comments

  1. ANCA

    15 de Março de 2024 at 11:05

    Bom contributo.

    Esta é situação tranversal ao país território/população/administração.

    Assim como a educação, a justiça, a saúde, infraestruturas, etc…

    Jamais deveria ser arma de arremesso político por nós São Tomenses, independente dos partidos, por nenhum país(território, população, administração), desenvolve sem estas preimissas e condições…

    Agora há que acompanhar a conjuntura e evolução quanto as fontes de energias, sobretudo aquelas que no presente e futuro implicaram menos custos sociais e de gestão ao Estado, que somos todos.

    Temos problemas de instituições fracas, ao longo dos anos, há que inverter esta situação, problemas de gestão, onde estão ligadas pessoas, que deixam andar, há que responsabilizar, se não é competente afasta se, ou enquadra se noutro sector, …por isso defendo auditorias interna, deve existir criterios organizacionais, cumprimentos de prazos, responsabilização, dentro do funcionamento da administração pública, doa a quem doer,…temos que inverter isto. Reforma da administração pública, mais trabalho e organização, rigor, regras bem definidas, …cumprimentos das mesmas, onde é chamada a instituições que devem ordenar estas governances, a tutela, os tribunais, …é urgente a transformação dos hábitos do homem, gestor São Tomense,…em São Tomé e no Principe, …em toda areas da nossa sociedade,…moralização social.

    Pratiquemos o bem

    Pois o bem

    Fica nos bem

    Deus abençoe São Tomé e Principe

    • ANCA

      15 de Março de 2024 at 11:26

      Necessário, urgente a reforma da administração pública, formação continua dentro administração pública, para sua responsabilização presente futura…para que possamos obter instituições fortes e credíveis…

      Reformulação de toda administração publica, o seu papel,…de lembrar as autarquias locais, suas atribuição e competências.

    • Luis semedo

      16 de Março de 2024 at 14:02

      Pois tem um bom profissional LUÍS SEMEDO

  2. Gualuberto Soares

    16 de Março de 2024 at 19:57

    Li a publicação deste senhor…não sei quem o aconselhou a publicar isso, algumas coisas ditas la são boas e para o governo refletir. Mas quando fala se da capacidade do consumo do país, os entendendores da matéria sabem que ele não entende nada do assunto . Eu particularmente o aconselho a procurar um técnico da area de energia para lhe explicar isso muito bem da próxima vez que tentar publicar algo de género.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

To Top