«Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, grão-mestre da Ordem dos Templários e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos: a ignorância, o fanatismo e a tirania». Fernando Pessoa, um pouco antes de expirar.
Estou a vir de um longo sonho. Durante o tempo da minha anestesia, percutiram sempre a minha pele e despertaram-me a dar nova da minha jorna. E isso aconteceu durante trinta anos a eito. Acordei e comecei a conviver. Contudo, de há um tempo a esta parte, tenho notado claros sinais de atroz hostilidade à minha proba pessoa de bem.
Depois, desatei a viver a saga de uma mirabolante anastasia. É como se nunca tivesse deixado de soprar e de acompanhar a dinâmica social da minha envolvência. As picardias e importunações têm vindo da banda dos que nunca saíram da casca de uma miserável configuração. Emerge de dentro da minha ingente comunidade uma falange de estultos energúmenos. Sim, uns bimbos azedados e cangaceiros da chamada “estúpida feição”. Tudo para exponenciar aquilo que a leviana verborreia tem de mais sinistro, esconso e abominável, que é a obsessão pela vaga perceção e pela apresentação de pacotes truncados, obtusos, anacrónicos, crus e rudes.
Os tais transumantes e sinecuristas à volta do trono sazonal não pretendem nada com vista à elevação moral do debate político e à verdadeira cidadania, nesta ingrata terra de promissão. Esses jagunços e lapuzes são uma caterva de escoriadas flanelinhas, a soldo de um fascismo serôdio e assaz bacoco, de insipiente modalidade, da casta da horda dos trumpistas, bolsonaristas e venturistas, mas sempre manhosamente dissimulados na pele de democratas.
Enfim, uma pochade a pool de coque no pantanal, para pacóvios. A atabalhoada ideia é não deixar pensar pela própria cabeça, mui ao contrário daquilo que eximiamente apregoava o cosmopolita e visionário líder da nossa emancipação, Amílcar Lopes Cabral. Especializados no diz que disse, notabilizam-se na ofensa verbal gratuita e no vazio boçal de preconceitos, na negação factual de eventos, no alucinante terrorismo da palavra e noutros virulentos quejandos abrenunciáveis. E esses bichinhos da terra não há nada que não façam, escudando-se por detrás do enjoativo “Fladu fla”.
Claro, um matumbo ou mainato ao quadrado, que nada lê, só pode reproduzir os maneirismos dos da rua e das achadas de alimária. São uma cambada de idiotas prepotentes e galopantes, uns arrogantes gabarolas de natura, compulsivamente mentirosos e desonestos. Uns avarentos polichinelos e escudeiros da detestável corte do belzebu.
Embora já decadente e quase no ralo, um tanto fora de moda, a tal hedionda selvajaria, os seus cães de fila e lacaios contumazes da lei e ordem, empenhados na falcatrua e na adulteração da realidade, continuam excitantes a espalhar o ódio pela comuna, a disseminar mentiras e calúnias entre as boas mentes do território, para abrir as pessoas e pô-las umas contra as outras, sem nenhuma isca de patriotismo e senso de irmandade.
A tática funesta é dividir para reinar. Uma façanha assaz inglória e peregrina, porque quando a coisa der para o torto, a casa vai cair, implacavelmente e sem remissão. Os boias frias ficam murchos, tais que uns galos ensopados de lamaceira. Felizmente, a comunidade está de olho. Exacerbados nas hilariantes patacoadas, os tais excêntricos javardos e ativistas de hedionda agremiação deviam perceber que a república não é só deles, mas sim de todos os cidadãos e também dos adventícios, legalmente estabelecidos. Se calhar, os capitis diminutio não conseguem divisar a derrocada que aí vem.
Gente míope nunca jamais viu coisa alguma, ainda que da alçada de uma verdade de La Palice. Nem mesmo com suporte de uma lupa do tamanho de candelabro e da mais alta resolução. A horda de símios e sus scrofas imbecis não precisa das lições da História, aperitivo reservado a apenas magníficas figuras, a personas instruídas e miríficas, amigas da ciência e da cultura. Tais matacões embrutecidos são uma coutada de primatas e matutos, sem nenhum construto teórico na craveira e sem expertise de espécie alguma. O que sabem é berrar, com tonitruante voz de fera e com a miasma na garganta, contra a dignidade dos semelhantes.
Ainda por cima ousam falar, corriqueiramente, da democracia e da Constituição, sem nunca se preocuparem em enxergar o que significa a Constituição de um Estado Democrático de Direito. Porém, isto é, com certeza, lá com eles. Cada um escolhe o que quer. Eu, por bom gosto e por bom senso, preferiria colher modelos de conduta na Escandinávia e no pujante Canadá.
Não ficaria enleado ao atrasado mais do mesmo provincianismo. Uns marmanjos desajeitados e frustrados de taberna, a leste de qualquer epifania, vivendo da prebenda do efémero poder, com a missão fundamental de serem veados ao serviço dos chefões ou padrinhos da ingente “cosa nostra” da nova era. Desperdiçam o tempo com o mesmo frenesim com que se engaja um moço de recado ou animal de espúria carga, para difundir o boato no meio de alguns incautos e marsupiais, com o fito de minar a credibilidade de quem só sabe trabalhar, desde implume gatinhar.
Essas infestadas criaturas vegetam em torno do partido no poder e querem silenciar a massa pensante da nossa herdade. Da mesma forma que alguns fizeram ao meu nitente inspirador e líder espiritual, da poesia, do direito e da pulsante integridade, o memorável compatrício, Kaoberdiano Dambará, o mais notável vate da língua cabo-verdiana, de todos os tempos, ou seja, o eminentíssimo Dr. Felisberto Vieira Lopes.
Eu, pessoalmente perseguido, apoquentado e esculachado, por todas as franjas da cidade, nunca jamais me deram tréguas. Sou frequentemente bombardeado por todas as bandas de sol e vento, tal que uma revoada de milhafres a cair, em campo aberto, sobre a couraça de imbele pintainho, a partir dos longínquos e turbulentos anos de 1993/94.
Os insultos e calúnias e mentiras, as mais disparatadas difamações a meu respeito, não param de crescer. Em Cabo Verde tudo muda. Só não muda a minha relação com os abutres e capachos do entourage, que há muito me mataram. Tudo porque na altura disse de plena viva voz – O meu domínio não é espaço para política- Pois assim estava e continua a estar na lei. Foi exatamente por causa disso que o ora cronista se afastou. Certo que não me deixaria manipular a bel talante do impositor freguês da conturbada ansiada altura.
A minha validade, enquanto cidadão deste país, não dependerá da cor de nada e de ninguém, a não ser a de bandeira nacional. Apesar da minha relativa juventude da época e da minha impulsiva franqueza de alma, os tenebrosos do poder não entenderam a minha escusa. E agora pergunto aos esmirrados folgazões: para quê me estarem a matar constantemente e sine die?
Um gritante motivo para explicar, mais uma vez, junto dos meus algozes e cangalheiros – Senhores leviatãs, sou um triste pobre poeta, um intelectual apaziguado e resolvido, como ene vezes já cheguei a esmiuçar. O que é que vocês querem, afinal? Não somos concorrentes em tempo algum e não há nenhuma interferência dos nossos voos. Nem nenhuma curvatura do espaço para nos colocar no mesmo sítio. Portanto, deixai-me ser apenas poeta e prosador, um tanto sofredor – “Se tão sublime preço cabe em verso”.
Parai de me matar, a não ser que adoreis viver da sombra do finado ou de fantasma. Pois, como sabeis, eu já morri sob as patas da vossa ardilosa senhoria, há bué de tempo. Trinta anos seguidos a trucidar-me, horrorosos bandoleiros e meus carrascos? E sempre com argumentos atribuíveis aos pais e avôs dos próprios desalmados provocadores. Quem foi sipaio dos colonialistas tem que ser bufo dos seus atuais infelizes conterrâneos.
Aliás, nunca houve tantos bufos e sicofantas como agora neste país. Nada de estranhar nesta matéria. Entretanto, convém indagar: que sanha e que esbirro de depravados que não termina? Se ainda me achais vivo, tenho de dar graças a Deus e à minha própria iniciativa de viver fora do alcance dessa gentalha inescrupulosa, por quase 20 anos a fio. A barganha tem início em 1993, quando subitamente decidi abandonar a carreira, para não ser nunca industriado a bel prazer dos poderosos da então falsa promessa de dias melhores.
A mania de me atormentar, para tirar a paz de espírito e manter-me sob as patas de lampiões, com agruras e sevícias, apupos e gritos insolentes dos sicários do poder, para me prejudicar e destruir, ainda mais, nunca deixou de agudizar, por mais de 30 anos a eito.
Que pachorra e que ganância, na senda de obstruir o meu nitente caminho bom? E apesar de ter estado “no etéreo topo” de vários sítios, nunca me deixaram divisar “o lume santo”. Por isso, acabo sendo, por vossa inteira responsabilidade, um mártir da esquerda, sem o mínimo proveito e em nome de todos aqueles que não sofreram com o vosso despotismo e só usufruíram da vida regalada, negociando com os talibãs oportunistas de radical feição de ser, os benesses e oportunidades de sobrevivência, os chamados ambulantes do meio da chuva.
Domingos Landim de Barros*
*Um dos mártires da esquerda
Quenilson Marques
28 de Maio de 2024 at 14:44
Como faço para ter a minha opinião públicada neste jornal?
Sousa de Zebedeu
28 de Maio de 2024 at 23:08
Faz sempre falta dar uns murros na mesa de vez enquanto. É preciso combater o neofacismo radical, para honrar a trajetória dos que lutaram pela independência dos africanos. Há coisas bastantes estranhas em algumas terras das antigas províncias ultramarinas.