O guia Ju do museu recomendou-me ir encomendar o almoço aqui ao restaurante, antes de ir à Praia dos Tamarindos. A rapariga que me atendeu deu uns 5 ou 6 nomes de peixes que têm disponíveis. O menu, que inclui a sobremesa, custa 200 dobras (8€). Uma das refeições mais caras que comi até agora. Mas não há escolha, dado que não existem mais restaurantes por aqui. Encomendei um peixe que ainda não provei: Peixe Azeite.
Antes de enveredar por esta estrada, a caminho da Praia dos Tamarindos, fui abordada por um grupo de raparigas. Uma delas é irmã do Ju, disse-me. Também me disse para ter cuidado ao ir sozinha para a praia. (Eu não disse nada, mas pensei: “Então? Esta praia é perigosa?”)
A placa diz: “Seja bem vindo. Usem-me, mas não me deixem suja”.
Está ali um grupinho de branquelas como eu!!
À força de tanto os rondar, para trás e para a frente na praia, acabei por chamá-los à atenção. Cumprimentámo-nos. Perguntei-lhes se podiam tirar-me uma foto. Perguntei em inglês. E perguntei-lhes também de onde são.
Do Porto, carago! São portugueses e são do Porto!! Estão cá uma semana de férias!
E foi um dos meus compatriotas que me tirou uma de dúzia de fotos aqui a andar na praia dos Tamarindos.
É meio dia, vou almoçar. Recordo que acordei e tomei o pequeno-almoço às 4 da manhã. Já lá vão 8h. Despedi-me dos meus amigos branquelas iguais a mim, desejei-lhes continuação de boas férias, e fui almoçar o meu peixe Azeite. Como será o meu peixe Azeite.
Aqui é a escola primária de Morro Peixe, e estão a fazer as matrículas para o próximo ano letivo. Cada aluno paga cem dobras (4€), disseram-me. 20 pela matrícula, 80 pela cantina.
Que grande pratada de comida. Bom, já percebi porque são 200 dobras.
Não consegui comer nem metade, mas estava tudo delicioso. Sobrou muito peixe e muito arroz, e agora não tenho nenhum cão por aqui, para dar, que pena. Curiosamente não me lembro de ver cães em Morro Peixe. A empregada que me atendeu, e que se chama Ju (também, como o guia do museu!).
São 13h09. Tenho um problema: estou com 31 km na bicicleta, a pedalar desde as 6 da manhã, e agora de barriga cheia. Regressar ao hotel na bicicleta?… Tudo a subir? Uma porção de quilómetros a subir? Ainda por cima de barriga cheia? Não quero. Estou aqui para passar férias e divertir-me, não para sofrer. Só esta estrada de pedras, em construção, até Guadalupe, sempre a subir, já será uma tortura. Perguntei então à Ju se não conhece ninguém que me leve de carro até à cidade de São Tomé.
A mim e à bicicleta. Ela foi saber. Voltou pouco depois e disse-me que são 150 dobras até Guadalupe. São 2,5 km até Guadalupe, tenham dó. De mota são 10 dobras. Se fosse até à cidade de São Tomé, ainda vá. Eu fiquei muito aborrecida e disse que já não gosto do restaurante nem do dono, pela exploração. Mas a Ju respondeu-me que o dono está em São Tomé, aquele é o jardineiro.
Ah é o jardineiro que quer levar-me 150 dobras por 2,5 km?! Perguntei-lhe então se não tem nenhum amigo que me leve. A Ju sugeriu-me ir de moto-táxi, e que eu levaria a bicicleta pela mão, a andar ao meu lado. Bom, isso parece-me difícil. Depois a Ju lembrou-se que conhece o Naí, foi lá fora e viu a moto dele estacionada lá à frente, ao longe. Eu fui lá de bicicleta e chamei-o: Naí! (Até parece eu que eu o conheço também).
À esquerda está o Naí, que é motoqueiro de profissão, afinal. Mas temos o problema da bicicleta. Nisto apareceu um jipe – era o Wilson Pires, o dono da residencial onde eu fui à casa de banho, com o casal de turistas espanhóis, e mais uma senhora dentro do carro, talvez a mulher. Vieram passear a Morro Peixe. E o carro vai bem cheio, não há espaço para a bicicleta. E nisto apareceu este segundo motoqueiro, à direita, todo decidido e desembaraçado, que disse que me leva a bicicleta por 15 dobras até Guadalupe. E eu vou na outra mota com o Naí, também por 15 dobras. Negócio fechado.
Acabei por não ficar com o nome deste motoqueiro da direita. Ele prendeu a minha bicicleta tão rapidamente que eu nem dei conta. Fez tudo sozinho, nem quis ajuda. Até lhe perguntei se ele já está habituado a isto. Parece que sim, que já tinha levado outras bicicletas, pelo que percebi.
Só que antes de arrancarmos ainda tenho uma sessão fotográfica com estas duas santomenses.
Ao chegar a Guadalupe, o Naí encontra este seu amigo (ou primo?), chamado Pajó, com esta moto carrinha, e que pediu 350 dobras até a cidade de São Tomé. São 14 km. Eu achei muito e preparava-me já para pedalar (a partir daqui é alcatrão e mais ou menos a direito), quando ele sugeriu 200. Aceitei.
Neste cruzamento de Guadalupe existem muitas motas e carros de transporte público, que assistiam a tudo isto, e ouviram-se muitos gritos e risos quando o Pajó tirou esta foto comigo, e meteu o bracinho no meu ombro.
O Pajó, à esquerda, e o seu amigo Quito, também motoqueiro, que ajudou a segurar na bicicleta durante a viagem. Chegámos ao hotel, em Belém. São 14h30. O Pajó deixou-me o seu contacto para transportes futuros que eu queira, contacto esse que anotei num papel, pois o meu telemóvel não se liga, recordo – está aparentemente morto – andei durante o dia de hoje a tirar notas num papel que o Wilson Pires me deu. Sim, porque eu tenho de tirar notas durante o dia para lembrar-me disto tudo.
Fiz 32,7 km na bicicleta, e 23,5 km de moto.
O Célio Santiago, dono do resort.
Estivemos a ver preços de telemóveis junto dos seus conhecidos. Havia um Galaxy qualquer coisa por 4.000 dobras (160€). No segundo telefonema para saber se era novo ou em 2ª mão já eram 5.000 dobras.
E entretanto o meu telemóvel ligou-se. Ressuscitou. Voltou a funcionar às 15h quando o liguei à tomada para carregar. Esta é boa. Enviei novamente mensagens a várias pessoas em Portugal avisando que o telemóvel está mesmo a dar o berro, e que esteve morto hoje durante seis horas. Um amigo respondeu-me (por Whatsapp) que o meu telemóvel é bipolar.
Nesta foto o Célio Santiago está a ligar o gerador porque faltou a luz, eram 17h30. No entanto o resort fica no meio de duas ligações: falhou a de cima em direção ao Monte Café, mas a que vai para baixo em direção à cidade, mantém-se a funcionar. O Célio chegou a ligar o gerador (que faz muito barulho), mas desligou-o logo porque mudou o cabo para a ligação de baixo. Esta é boa também.
O meu quarto. Enquanto tomo banho fica assim tudo escancarado. Aliás, a casa e o quarto ficam abertos durante todo o dia. Eu não fecho à chave o quarto, até porque a Virgínia vem fazer a cama e mudar frequentemente os lençóis.
Continuo sem adesivos. Já fui a duas farmácias, na Trindade e em Guadalupe, e nenhuma tinha. Só deve haver na cidade, está visto. Voltei a tomar banho com estes, e não posso tirá-los. Já estão a descolar-se.
Preciso de voltar a Morro Peixe para fazer um passeio de barco e ver golfinhos e baleias. Tem de ser logo bem cedo, às 6 ou 7 da manhã lá. Perguntei ao Arcelino (das crónicas 38 e 39) quanto leva para transportar-me de carro até Morro Peixe. 30€ (750 dobras). O Arcelino é guia turístico e fala-me em euros, nem fala em dobras.
Mas eu começo a funcionar melhor com dobras, por aqui, já estou a habituar-me aos valores e aos cálculos. Ora se eu paguei 330 dobras, hoje, para me trazerem a Belém desde Morro Peixe, ida e volta seriam 660 dobras. O preço que o Arcelino me pediu pelo carro (750 dobras) é perfeitamente justo. Mas é muito caro. Relembro que tenho 29 dias de férias. Alojamento, comida e agora transporte, durante 29 dias, sai demasiado caro. Não me interessa gastar tanto dinheiro em transportes, tendo uma bicicleta.
O Célio já me tinha indicado que posso apanhar um táxi partilhado na rua, dividindo assim a despesa entre várias pessoas, mas eu não gosto de apanhar táxis sozinha. Tenho algum receio. Hoje foi uma verdadeira aventura. Neste caso de Morro Peixe seria um táxi desde o hotel até à cidade de São Tomé, e depois outro até Guadalupe.
E depois uma mota até Morro Peixe. Sim, porque os táxis partilhados funcionam como autocarros: têm um percurso fixo e não saem dele. Têm inclusivamente paragens fixas também, para apanhá-los. Depois no caminho podem fazer pequenos desvios aqui e ali, para levarem as pessoas até mesmo à porta da sua casa, mas a primeira paragem é num local fixo. E vão 5 pessoas num carro: quatro atrás, e uma à frente. Este lugar da frente é o melhor, claro. Também existem as carrinhas, que levam mais pessoas, mas aqui em Belém só há carros.
Deixo a nota, nesta despedida do 14º dia, que quase todos os dias tenho sms automáticos a pedir para eu ligar. Os chamados “Call Me”. Agora foi o Pajó, da moto-carrinha. Mas eu já gastei 50 dobras no Príncipe e carreguei outras 50, ao chegar a São Tomé. Foi o Célio Santiago quem mas carregou, no portátil. Eu dei-lhe o dinheiro, e ele carregou. Se eu me ponho a ligar a toda a gente que não quer gastar dinheiro a ligar-me, estou tramada. Estes tarifários existentes em São Tomé e Príncipe são maus. As pessoas andam sempre a conter-se para não gastar dinheiro. Conforme referi na crónica 3, existem duas companhias em São Tomé e Príncipe: a Unitel, que é a mais recente, e a CST, Companhia Santomense de Telecomunicações. O sistema que existe na Europa, de pagarmos uma mensalidade fixa que inclui chamadas (praticamente ilimitadas) para todas as redes, não existe aqui. Vim a saber que a CST tem um tarifário que inclui 60 minutos por dia de chamadas, mas apenas dentro da mesma rede. Ora há muita gente que tem Unitel. A Unitel não cheguei a saber se tem esse tarifário ilimitado, mas aparentemente não tem, senão as pessoas mudariam para ele, naturalmente. A guerra entre as operadoras aqui em São Tomé e Príncipe é feia e prejudica a população.
Ao final do dia comi este maracujá gigante, que entretanto amadureceu, três bananas-maçã e leite. E deitei-me tarde, quase às 9, depois de selecionar as fotografias, fazer o backup e preparar tudo para amanhã. Tendo em conta que irei levantar-me às quatro, 21h é muito tarde. Convém dormir 8h.
Crónica de viagem de Rute Norte
Elton Santo
3 de Novembro de 2019 at 14:23
Prestadores de servico publico, certifique de que voces nao pratiquen discriminacao no preco dos vossos produtos…
Edgar Rodrigues
4 de Novembro de 2019 at 0:34
maravilha