Hoje, pus-me a perscrutar a história da humanidade, particularmente a nossa sociedade santomense partindo deste tema que enunciei no titulo acima o “peixe grande come peixe pequeno”. Como sabemos, no mundo marinho os peixes têm alimentação diferente, segundo a sua espécie. Uns alimentam-se de algas, outros de argila e outros contentam-se com as plantas que se criam nas redondezas das águas. E também sabemos que a maior parte dos peixes são alelófagos. Isto significa que são peixes que se comem uns aos outros, ou seja, o mais pequeno é comido pelo maior. Usei esta pequena metáfora para explicar a situação atual do nosso mundo, da nossa realidade quotidiana, ou seja, das nossas relações humanas.
Esta metáfora dos peixes leva-nos a pensar que praticamos o mesmo ato dos peixes alelófagos quando exploramos aqueles que são pobres; quando nos apoderamos daquilo que é comum; quando hipotecamos o futuro de um país; ou quando ocultamos o desenvolvimento daquele ou daquela que está ao nosso lado. Quando realizamos estes atos, estamos a ser injustos, em última análise estamos a ser tiranos.
Por outro lado, não há critério contra a tirania arbitrária sempre que nos afastamos do fundamento ontológico da justiça e adotamos uma interpretação positiva do direito. Uma vez que a tirania, procura sempre anular a diferença ontológica própria de cada ser, é uma tentação perene da história da humanidade, sendo que só pode haver real humanidade na ausência de tiranos.[1]
Retomando o exemplo, descrito em cima, a grande parte da nossa sociedade, encontra-se nesse estado. Devido a injustiça que muitas vezes tem a sua origem na maneira como vivemos, olhando somente para nossos interesses particulares. Também temos como exemplo, a forma como os governos fazem as leis, visando os seus interesses, determinando assim o que é justo e punindo como injusto aqueles que transgredirem essas mesmas leis.
Para os tiranos a justiça consiste no cumprimento das leis que rege o bem da tirania como fim único e possível. E é nesses pequenos atos que começa a florescer a injustiça, ou seja, a tirania. Na medida em que, em vez dessas leis e normas regerem o bem de todos os relacionados, apenas regem o bem de um ou de alguns. Daí podemos dizer que há tirania sempre que o bem-comum não é servido no seu todo. Quando nas relações entre dois ou mais seres humanos não é servido o bem-comum há tirania em ato.[2] Já que, uns se servem dos outros para seu benefício próprio, negando, assim, aos outros a possibilidade, que era sua, isto é, de poderem crescer e desenvolver como verdadeiros Homens.
Portanto, acredito que a melhor forma de lutar contra os males das nossas sociedades é defender o bem-comum, a Justiça e uma democracia livre. Na medida em que só o bem-comum é entendido como bem possível e real de tudo, é isso que impede a injustiça, pois implica necessariamente que cada ato de bem realizado seja um ato de bem universalmente vocacionado, sem exceção.[3]
Vicente Coelho
[1] PERIRA, Américo, conferência sobre a essência da tirania, na Politeia, de Platão, 18.
[2] PERIRA, Américo, conferência sobre a essência da tirania, na Politeia, de Platão, 18.
[3] PERIRA, Américo, conferência sobre a guerra, 9.
Bom
4 de Dezembro de 2017 at 11:14
Texto muito interessante.Tudo que disseste no texto são coisas que são visíveis aos nossos olhos. A cada dia tendem a piorar.
Isabel Ribeiro
17 de Fevereiro de 2019 at 17:44
Vicente a tua metáfora está muito bem aplicada e em relação a São Tomé se as coisas não melhoraram desde 2000 quando me vim embora. Então tens toda a razão as diferenças sociais são abruptas.
Tudo de bom para ti
doxi
4 de Dezembro de 2017 at 22:41
Eu gosto de ver jovens a pensar. tenho vindo a acompanhar o teu texto e vejo o quanto pensas nas questões sociais.Isso é bom.
helder teixeira
5 de Dezembro de 2017 at 9:55
cada um de nós podemos dar a nossa contribuição para o desenvolvidamente deste nosso nobre pais, cada um a sua maneira, mais fico bastante satisfeito da forma como espelhaste a sua visão em prol de bem comum ” como espelho da cidade” e a Unidade como factor de desenvolvimento” e que cada dia que passa tem sido bastante notável no nosso páis; falta de unidade tem havido pouco ou quase nada o desenvolvimento desejado.
beto
5 de Dezembro de 2017 at 21:58
muito interessante este texto, Se cada um dos nossos políticos contentasse com o que lhe é necessário e deixa o supérfluo para os necessitados, ninguém seria mais rico, mas também ninguém seria pobre. Falta-nos o sentido do bem comum.
Gervasio Agostinho das Neves
6 de Dezembro de 2017 at 16:02
Em meu nome residente em Libreville Gabão . Não é tudo , pelo menos é o que pensei na vida !!!Oque passa nas aguàs riacho ou mar ( aguà salgada ) .Hoje , pus-me a perscrutar a historia da humanidade a nossa sociedade santomense partindo deste têma que enuncei no titulo acima o ” peixe grande come o peixe pequeno!!Como sabemos no mundo marinho os peixes têm alimentação diferente ,segundo a sua espéce-uns alimentos de algos , outros de argila , (lama )outros contentam-se com plantas que se criam nas redondezas das aguàs . E também sabemos que a maior parte dos peixes são alefofagos . Significa que são peixes que comem uns aos outros , ou seja , os mais pequeno é comido pelo maior . Utilizei tudo isto ( metàfora ) porque a situação que se encontra neste pequeno arquipélago acho-me que sera uma realidade de dia a dia ( ctidiano )em São-Tomé . Quando o peixe grande utiliza!!! Acho-me injusto em todo caso.São eles os distruidores .Até mais