Opinião

A Generosidade de Marcelo Rebelo de Sousa em S.Tomé e Príncipe

O país está numa encruzilhada que pode comprometer, irremediavelmente, o futuro das gerações vindouras. Ou desenvencilhámos, como comunidade, deste processo de “suspensão da democracia” que nos querem impor, aproveitando, posteriormente, a oportunidade rara para a criação de condições de aprofundamento do Estado de Direito Democrático; ou, em alternativa, solidificaremos, após as eleições que brevemente serão realizadas, um caminho, com regresso muito complicado, de uma autêntica ditadura.

Estamos perante duas escolhas e só a nós cabe a tarefa de escolher o caminho que pretendemos trilhar, com todas as consequências positivas ou negativas. Neste âmbito, não há meio-termo: a escolha será, sempre, boa ou má.

No futuro, ou aprofundaremos a nossa democracia ou teremos uma ditadura, legitimada eleitoralmente, como todos os sinais, momentaneamente, parecem denunciar. Ninguém pode dizer, posteriormente, que não sabia o que vinha ou, simplesmente, que é uma vítima inocente do sistema ou regime.

Faz-me, por isso, alguma confusão e, até, incompreensão, a demonstração de passividade e alheamento que apoderou de certas pessoas, algumas das quais, auto-proclamam-se defensoras dos valores da democracia e do Estado de direito.

É muito grave aquilo que está a acontecer no país, nos últimos tempos, configurador de um caminho espinhoso para todos nós como comunidade.

E é bom que as pessoas tenham a ideia que vivemos, após os primeiros anos da independência nacional, uma experiência similar, com consequências que todos conhecemos e, que, neste âmbito, as coisas não são finitas, tendo em conta aquilo que permanece, ainda, na nossa sociedade, como herança traumática, decorrente deste processo, ou,  também, como influência que o referido regime exerceu no imaginário da nossa comunidade.

As pessoas identificam-se com o regime, qualquer que ele seja, e com as suas instituições, através do processo de socialização política, ou seja, aprendem a fazê-lo através de processos sucessivos de interiorização e transmissão do seu significado geracionalmente.

Constituindo o anterior regime uma herança traumática para grande parte da nossa população, não obstante os condicionalismos de natureza histórica, política e geoestratégica que o suportavam, aquilo que, transversalmente, nos deveria unir, neste momento, apesar das diferenças ideológicas e diversidade, caracterizadora da nossa riqueza como sociedade,  deveria ser  os ensinamentos históricos extraídos desta experiência que permitiriam, paulatinamente, a eliminação dos resquícios da sua manifestação em contexto democrático evitando, deste modo, a repetição de uma receita que foi má para a nossa comunidade.

Por mais que eu tente descortinar as razões objetivas que possam suportar, racionalmente, algumas decisões e ações, do atual governo e maioria, ultimamente, não encontro justificação para esta deriva antidemocrática que nos envergonha como povo e coloca  em causa algumas pequenas conquistas democráticas, no nosso país, desde a instauração do referido regime.

De facto, desde a instauração da democracia, não me recordo de um governo que tenha ido tão longe na afronta aos pilares e valores da democracia no nosso país. Ter uma maioria, um governo, um presidente e a generalidade das autarquias do país não pode ser, em circunstância alguma, sinónimo de que se tem, também, razão, e, consequentemente, transformar este propósito no objetivo de colocar em causa o princípio fundamental, da separação e interdependência de poderes, num Estado de Direito Democrático, como eu tenho, repetidamente, ouvido da boca de alguns líderes do ADI, designadamente do líder da referida bancada parlamentar,  que não se cansam de afirmar, erroneamente, que, pelo facto de terem a maioria absoluta na Assembleia Nacional, um governo e um presidente têm, também, toda a razão e legitimidade, para decidirem sobre o nosso destino coletivo da forma e com os meios que bem entenderem.

A contaminação do espaço público, com um conteúdo discursivo e práxis onde prevalece o ódio profundo aos adversários políticos, a humilhação pública de protagonistas institucionais de outros órgãos de poder democrático e a obsessão em aniquilar os partidos políticos da oposição, denunciam um propósito invulgar de que há interesses e objetivos que ultrapassam a fronteira da ação política e razoabilidade num contexto de pluralismo democrático.

A ação política, num contexto supostamente democrático, como o nosso, que passou por uma experiência negativa recente, em termos de “colapso moral”, deveria estar ligada ao propósito da formação de uma comunidade que rejeitasse todas as formas de ódio, de perseguição, de humilhação, de exclusão e, até, de neutralização de pluralidade.

O que é que o país e a sua comunidade podem ganhar com a intenção do poder instalado, momentaneamente, em S.Tomé e príncipe,  em destruir os partidos políticos da oposição, como tem sido sistematicamente verbalizado pelos líderes do ADI?

O que é que o Estado de Direito Democrático pode ganhar com os sucessivos expedientes do senhor primeiro-ministro, Patrice Trovoada, em usurpar os poderes de outros órgãos do Estado, transformando-os numa extensão do seu já vastíssimo poder e influência?

O que é que a nossa embrionária democracia pode ganhar quando o senhor primeiro-ministro, Patrice Trovoada, tenta humilhar os detentores de poder de outros órgãos de soberania como aconteceu, recentemente, com o presidente do Supremo Tribunal de Justiça que foi proibido de frequentar a sala VIP do aeroporto Nacional ?

O que é que ganhamos, como coletividade que almeja um imaginário positivo de vivência em comunidade de pertença, quando a competição política é viciada, à partida, com eleições de juízes para o Tribunal Constitucional, eleitos por um único partido político, sem qualquer esforço para criação de consensos interpartidários que suportassem tal decisão política?

O que é que ganhamos, como contributo para o reforço da nossa democracia, quando todos os esforços são feitos, pelo atual poder instalado no país, para que não  exista a liberdade de expressão, no sentido amplo do termo, ou seja, o direito de se fazer ouvir mas, também, o direito de ouvirmos o que os outros têm para nos dizer sobre variadíssimos assuntos da nossa vida comunitária que não passam, necessariamente, pela agenda governativa?

O que é que ganhamos, como comunidade, quando os nossos melhores quadros, em diversos sectores, são perseguidos, excluídos, marginalizados e humilhados, só pelo facto de ousarem manifestar a sua liberdade e independência?

Como já disse anteriormente, não encontro razões para este tipo de comportamento e ação política tendo em conta, até, a conjuntura internacional que desaconselha este propósito suicidário. Basta ver o isolamento que alguns países, do nosso próprio continente, estão a sofrer, fruto desta experiência, para se constatar as consequências da escolha deste caminho para a nossa afirmação como país, tendo em conta os níveis da nossa dependência externa.

Neste âmbito, tendo em conta a associação, à ação política em causa, de um discurso de ódio, desprezo, exclusão e humilhação pública dos adversários políticos, só posso encontrar motivações políticas, para este comportamento, nas consequências decorrentes da manifestação de um certo recalcamento inultrapassável, com génese nos problemas políticos e de natureza familiar manifestados no anterior regime que tinham Miguel Trovoada, pai do atual primeiro-ministro, como epicentro.

Tal propósito, torna-se mais incompreensível, ainda, para muitos Santomenses porque, Patrice Trovoada já fora primeiro-ministro, em contextos políticos anteriores, e não demonstrara, nestas condições, tanta voracidade antidemocrática, apesar da manifestações, aqui e acolá, de alguns excessos. A sensação que muitas pessoas têm é que Patrice Trovoada estava à espera destas condições políticas únicas, ou seja, uma maioria absoluta, um governo e um presidente da república, submisso e manietado e, por isso mesmo, escolhido por ele para esta missão e contexto específico, com o objetivo de concretizar o seu grande sonho de desforra ou ajustes de contas. Por que razão devemos estar sistematicamente presos a este situacionismo dual, incómodo, paralisante e prejudicial aos interesses comunitários?

Não encontro outra explicação para esta deriva antidemocrática e tem de ser o próprio Patrice Trovoada e o ADI a  demonstrarem-nos, no futuro, por atos e ações políticas, opostas àquelas que ele tem tomado ultimamente, que estamos enganados. Como diria António de Oliveira Salazar: em política, o que parece é!

Hoje, paira sobre o país, como nunca aconteceu em contexto democrático, a sensação de temor, apatia e bufaria, decorrente das consequências do terror instalado que ameaça não só as pessoas, individualmente consideradas, como até as instituições que estas representam.

Estamos, por isso, provavelmente, neste momento, num reencontro com a História em que alguns carcereiros e presos, vítimas e ditadores, trocaram de posições, num exercício anacrónico de ajustes de contas que nem sequer poupa os inocentes e os mais qualificados da nossa terra.

Vivemos uma espécie de “paradoxo do poder” em que a manifestação e verbalização de práticas que permitiram a ascensão ao poder de Patrice Trovoada e seus apoiantes, designadamente a apresentação de uma queixa no Tribunal Penal Internacional, com o fundamento de que eram vítimas de perseguição política, naquele contexto temporal concreto, por parte do anterior governo da república, desapareceram, posteriormente, no exercício e experiência  do poder por parte de Patrice Trovoada e do ADI, dando origem a um projeto pessoal de poder mais musculado, mais excludente, mais persecutório, mais autogratificante e humilhante.

Patrice Trovoada e alguns dos seus principais colaboradores parecem estar, neste momento, muito compenetrados numa espécie de ajuste de contas, imbuídos de um propósito revanchista, que faz com que apenas concentrem a atenção neles próprios e nos seus interesses, perdendo, desta forma, necessariamente, a concentração desejável na resolução dos  problemas dos outros. Com isto, perdemos, como país, relevância e interesse, regional e internacional, e desaparece, entre nós, a noção de projeto como entidade comunitária.

Estamos, infelizmente, neste momento, individual e coletivamente, a pagar um preço muito alto por questões de natureza lateral e, até, pessoal ou familiar, em detrimento de desenvolvimento de um projeto que contemple os interesses gerais.

Vai ser muito difícil sairmos deste buraco porque todo o processo de construção e consolidação do poder absoluto, vigente momentaneamente no país, está alicerçado em questões pouco significantes de caráter estrutural que: divide em vez de mobilizar; exclui em vez de incluir; afasta em vez de aproximar.

Parafraseando Dacher keltner, <…construímos um poder duradouro contando histórias que unem, mas logo que nos sentimos poderosos contamos histórias que dividem e rebaixam…>. Este é o exemplo mais flagrante do paradoxo do poder, que momentaneamente vivemos no país, demonstrativo da nossa condição de vulneráveis como humanos, (Patrice Trovoada não é exceção) e que, numa sociedade como a nossa, com níveis elevados de iliteracia, com instrumentos de intervenção política pouco eficazes, com problemas socioeconómicos complexos e uma grande incapacidade de organização e desenvolvimento das instituições, nos torna impotentes, através de processos coletivos,  na tarefa de controlo do tal poder absoluto que concedemos aos nossos dirigentes.

Neste âmbito, infelizmente, cabe aos outros, nossos próximos ou longínquos aliados e amigos, ainda que de forma simbólica, a tarefa de “domesticação deste poder absoluto” em formação na nossa terra, já que o medo, o silêncio, a apatia e a desesperança tornaram-se, nalguns casos, aliados inseparáveis daqueles que mais sofrem na nossa terra com o terror dissimulado instalado.

Foi esta a missão, felizmente, (volto a repetir, de forma envergonhada, felizmente) que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e sua delegação, voluntariamente e imbuído de uma grande generosidade para com aqueles que são vítimas deste terror dissimulado, foram cumprir na recente visita de Estado que realizaram ao nosso país.

Marcelo Rebelo de Sousa dançou com o povo, falou com a juventude, deu mimo às crianças e, sobretudo, esforçou-se na árdua tarefa de “domesticação do poder absoluto” instalado no país, ainda que de forma astuta e extremamente criativa, fazendo-se de árbitro de um jogo de futebol e, posteriormente, cantando a mítica canção de Zeca Afonso, “Grândola Vila Morena”,  num registo em que ele mesmo vestiu a pele de chefe da orquestra, embalando toda a delegação portuguesa que o acompanhava, numa breve sessão de cantoria, que ficará nos registos da nossa História coletiva recente como um ato simbólico e político de grande significado, apesar dos esforços governamentais para diluir a importância e os efeitos do mesmo.

É óbvio que sendo Marcelo Rebelo de Sousa, professor de Direito,  para além de ser dotado de uma inteligência rara e de uma personalidade que, sem grande esforço, vai cultivando entre nós, no exercício do seu mandato, a prática de gratidão (basta ouvi-lo dizer, no ato de despedida da referida visita de Estado que regressava com a alma cheia) para percebermos que ele, por contraponto ao Mário Soares, (outro grande político) em termos de personalidade, iria tentar, à maneira dele, “domesticar o poder absoluto”, entre nós, mas com muita subtileza, para não colocar em causa as relações entre os dois Estados.

Num mundo global onde predomina, essencialmente, o egoísmo nacional e o salve-se quem puder, e as relações entre Estados e países amigos são feitas, predominantemente, em função dos interesses prevalecentes, Marcelo Rebelo de Sousa levou a sua generosidade e gratidão ao extremo, sem correr riscos de ser acusado de estar a praticar ingerência nos assuntos internos do nosso país.

Por isso, ao assumir o desafio, entre tantas outras coisas que ele prefereria fazer nesta visita de Estado, de arbitrar um jogo de futebol, estava a querer transmitir a ideia, ao poder absoluto embrionário na nossa terra, e em especial ao presidente Evaristo de Carvalho, que, em democracia, num sistema semipresidencial como o nosso, um presidente da república, como ele é, de facto, embora não tenha responsabilidades governativas e, como tal, esteja acima do necessário confronto Governo versus oposição, (em comparação com as duas equipas de futebol que jogavam enquanto ele arbitrava o jogo) deve ser, no entanto, árbitro e monitorizar o funcionamento de todo sistema, designadamente, o controlo e cumprimento de regras estabelecidas e, se necessário, caso haja crises, como aquela em que vivemos momentaneamente, ele deve intervir munido de poderes que a Constituição da república lhe proporciona, com o objetivo de garantir o regular funcionamento das instituições.

Marcelo Rebelo de Sousa, escolheu a mais perfeita e simples metáfora, como se estivesse a lidar com adolescentes numa aula no Liceu Nacional, para explicar aos órgãos do poder da nossa terra, especialmente ao presidente Evaristo de Carvalho e ao primeiro-ministro, Patrice Trovoada, simbolicamente, como é que um Estado deve funcionar e quais são as atribuições de um presidente da república num sistema como o nosso.

Não creio, contudo, tendo em conta o comportamento posterior dos dois protagonistas políticos, após o término da referida visita de Estado, que tenham feito algum esforço para aprenderem a lição em causa ou, se, pelo menos, manifestaram algum espírito de abertura e empenho para para arrepiar caminho, decorrente deste ato pedagógico.

Mas Marcelo Rebelo de Sousa, com o seu espírito de irrequietude constante e contagiante, não quis ficar só pelos órgãos de soberania, no seu esforço de “domesticação do poder absoluto” em construção na nossa terra. Quis também, simbolicamente, passar a mensagem ao povo, vítima do terror dissimulado instalado, que vive com medo, em silêncio, apatia e  desesperança, que é sempre possível despertar, continuar a sonhar e caminhar, até, como resposta de gratidão, pela forma como, este mesmo povo, o recebeu, entre abraços, beijinhos, muita música e manifestações de afeto.

Vai daí, Marcelo Rebelo de Sousa decidiu cantar, num encontro com a comunidade Portuguesa instalada em S.Tomé e Príncipe, a mais improvável canção, tendo em conta o seu simbolismo, para um contexto político como aquele que atravessámos, momentaneamente, em S.Tomé e Príncipe, ou seja, “Grândola Vila Morena”.

Para quem não sabe, “Grandola Vila Morena”, foi uma das canções que serviu de senha para o avanço dos militares no 25 de abril de 1974, em Portugal, e que, ainda hoje, em contextos excecionais de contestação política e social aos governos, é utilizada como arma de luta e de mobilização popular, dentro e até fora de Portugal.

Basta ver aquilo que aconteceu, recentemente, um pouco por todo o Portugal, aquando do período de implementação de medidas de austeridade devido à intervenção externa da troika (FMI, Comissão Europeia e BCE).

Basta ver aquilo que aconteceu, recentemente, em Espanha, quando os Catalães ofereceram cravos e cantaram “Grândola Vila Morena” em defesa do referendo e independência de Catalunha.

Não sei se o poder vigente, momentaneamente, em S.Tomé e Príncipe, percebeu o essencial da mensagem de Marcelo Rebelo de Sousa que, também, é a mensagem de uma parte importante ou maioritária do povo de S.Tomé e Príncipe.

Agora, há seis meses, sensivelmente, para as eleições legislativas, e perante o descrédito internacional que cada vez é mais nítido, e sem saber, muito bem, o que há de fazer, tendo em conta as manifestações, internas e externas, aos atropelos às regras do Estado de Direito Democrático, o governo do ADI, decidiu dar um passo em frente, propondo aos partidos da oposição a celebração de um pacto que permitirá realizar a reforma da Justiça no país, porque, segundo o senhor Levi Nazaré, líder da respetiva bancada parlamentar, o país não consegue atrair investimentos estrangeiros com a Justiça num caos.

É óbvio que o país precisa de uma grande reforma no sector da Justiça e ninguém, razoavelmente informado, pode negar esta evidência. Mas, a deriva antidemocrática da própria atual maioria, no nosso país, tem feito muito mais para afastar o investimento estrangeiro do país do que todo o nosso atraso em todos os sectores de organização da nossa vida em comunidade. Se o líder da bancada parlamentar do ADI não sabe isto seria conveniente que ele começasse a pensar em fazer outra coisa qualquer em vez de estar na política.

Para além disso, se o ADI quisesse, de facto, uma reforma do sector de Justiça, contando com a colaboração dos partidos da oposição, deveria começar, em primeiro lugar, por redimir-se dos atropelos às regras do Estado de Direito que cometeu, ultimamente, quando mandou as tropas de elite avançar sobre os deputados da oposição na Assembleia Nacional ou; quando, mandou tropas estrangeiras invadirem a Assembleia Nacional para fazer vistoria aos deputados da oposição num exercício de segurança ou; ainda, quando sozinhos, os deputados do ADI aprovaram a lei orgânica que permitiu a institucionalização do Tribunal Constitucional Autónomo.

O ADI fez tudo isto sozinho, vangloriando-se da sua grandeza e razão, contando com a colaboração do senhor presidente da república que, calado e submisso, permitiu que tudo isto e muito mais fosse feito e, agora, há seis meses de eleições legislativas, quer, no entanto, a colaboração da oposição para fazer a reforma da Justiça no país? Por que razão só agora, há seis meses, sensivelmente, das eleições legislativas?

Não conheço país democrático nenhum no mundo, que tenha governos que ambicionam fazer uma reforma estrutural da Justiça, há seis meses de eleições legislativas, nas condições de tensão e crise política como aquela que vivemos, momentaneamente, em S.Tomé e Príncipe, decorrentes de vários atropelos às regras do Estado de Direito Democrático, perpetrados pelo próprio poder vigente e, encontre abertura, neste propósito, por parte da oposição política.

Ou tudo isto é revelador de muita ingenuidade, coisa que não acredito ou; em alternativa, denuncia a preocupação do ADI, no contexto pré-eleitoral, com as consequências dos seus atos anteriores, denunciadores de atropelos aos pilares do Estado de Direito Democrático que, entretanto, uma hipotética reforma da Justiça, feita em colaboração com todos os partidos da oposição, tenderá a diluir.

Se os partidos da oposição envolverem-se neste jogo do ADI, sem que este, atempadamente, se redimisse de todos os atropelos às regras Estado de Direito Democrático que cometeu estariam, consciente ou inconscientemente, a legitimar estas ações em nome da tal reforma de Justiça.

Neste processo todo, só tenho pena, que, um ato de cidadania, tão invulgar entre nós, que permitiu que um trabalho extraordinário, relacionado com subsídios para a reforma do nosso sistema de Justiça, que tive a oportunidade de ler, realizado pelo Filinto Costa Alegre, Celiza de Deus Lima e Adelino Pereira, cidadãos a quem nutro o maior respeito e admiração, intelectual e profissional, esteja a ser utilizado como o principal instrumento de branqueamento aos atropelos às regras  do Estado de Direito Democrático, que o poder vigente foi cometendo ao longo dos tempos, quando, pelo contrário, deveria servir de âncora aos propósitos de uma verdadeira reforma da Justiça na nossa Terra.

Adelino Cardoso Cassandra

26 Comments

26 Comments

  1. Sofia

    14 de Março de 2018 at 22:10

    O senhor seria melhor ministro de justiça, melhor do que essa incompetente ministra da justiça. Essa ministra poderia ir pedir ajuda a Dr Raposo. Isto sim era um ministro. Como Raposo atacou a juíza k é irmã desta ministra, foi logo despedido. Com essa mulher td a justiça ficou um caos. Grande Silva. Com o Silva a água de patrice parece que tem libô.esta amargo. O Silva não brinca.

  2. Grave

    14 de Março de 2018 at 22:14

    Gosto muito de ler o que o senhor escreve. Talvez uma funcionária do Conselho superior de imprensa, k vende informação, se for verdade, k essa senhora foi contratada para trabalhar Na comissão eleitoral é muito grave. Um órgão desse nível, os funcionários têm que ser isento. A oposição tem que ver isso.

  3. Paula

    14 de Março de 2018 at 22:17

    Obrigada… Não ligues levy, se calhar a osga dele está com problemas. Esses gajos são inconsequentes.

  4. mezedo

    15 de Março de 2018 at 7:29

    Grade artigo.
    Espero que os lideres políticos tenham compreendido.
    O mais ainda o exemplo de Marcelo, foi muito claro, mas e não acredito
    que Evaristo entendeu porque ele deve ser mais burro do que parece.

    Obrigado, o Povo esta alerta e as eleições, vão resolver isto td.

  5. Juntos podemos

    15 de Março de 2018 at 8:20

    Bufaria esta em todo lado, credo, uma secretária de um órgão como o Conselho de imprensa, a fazer isso. Isto se for verdade, essa senhora tem que ser demitida. Rapidamente. Quanto a Sílvia, esta a fazer um grande trabalho. Marcelo Rebelo também.

  6. Venâncio

    15 de Março de 2018 at 8:56

    Bem dito senhor Cassandra!! Isto faz-me lembrar aquelas turmas do Liceu em que alguns alunos piores comportados, que não cumprem as regras, perturbam as aulas e depois aparecem a pedir aos outros colegas, aos professores e Direção da escola para mudarem as regras do regulamento interno para que eles passem a se comportarem melhor. Se o ADI é o partido que está em todos os órgãos do estado, neste momento, tem infringido todas as regras do estado de direito, não cumpre as leis, etc, como é que o próprio ADI quer chamar os outros partidos para fazerem uma reforma da justiça no país sabendo que eles são os principais incumpridores das regras da Justiça e do estado de direito? Brincadeira tem hora. Xiê…

  7. Justiça

    15 de Março de 2018 at 8:57

    Patrice vai arrebentar com este país. Escreve aquilo que eu estou a dizer. Fui

  8. explicar sem complicar

    15 de Março de 2018 at 9:03

    Viva Silva CRAVID,
    Presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
    Este sim.
    Patrice Trovoada quis a todo custo através dos fantoches que se identificaram por sociedade Civil mais que não é o caso, nomeadamente Filinto, Adelino Pereira e Celiza Deus Lima para implementarem um dos desejos de Patrice Trovoada para curar este Conselho Nacional de Justiça,que viria fazer cerco geral a justiça santomense para vir camuflar as bandidagens de ADI e Patrice Trovoada quando ele ja não estiver no poder; mais a voz de Deus falou mais alto e a proposta morreu mesmo assim que o ADI assumiu publicamente esta proposta.
    Bandidos.

  9. F.P.L

    15 de Março de 2018 at 9:07

    Soberbo. Congratulations!!!
    F.P.L

  10. helia

    15 de Março de 2018 at 9:10

    Presidente da república parece coisa que está escondido, homem não fala, homem não aparece, homem não diz nada e o país está entregue aos bandidos. Enfim…

  11. Bem de S.Tomé e Príncipe

    15 de Março de 2018 at 9:41

    Sempre com boa radiografia política sobre o país.De facto, o presidente de Portugal deu indireta à nossa classe dirigente sobre a democracia num estado de direito.Sobre a reforma da justiça, acho que os ilustres advogados, Celisa, Filinto e Adelino, entraram infelizmente num periodo conturbado da nossa vida politica, e o ADI estão aproveitando e bem essa reforma da Justiça proposto por estas figuras civis da sociedade.

  12. Atento

    15 de Março de 2018 at 10:32

    Qual reforma de Justiça qual quê? Bando de incompetentes e usurpadores de poder.

  13. Hermingarda

    15 de Março de 2018 at 11:34

    Não digo nada. só observo. não se pode falar aqui.

  14. luisó

    15 de Março de 2018 at 11:45

    Muito bem pensado e escrito.
    Faço minhas estas suas palavras.
    Tenho muitas dúvidas se o País percebeu estes “recados” do prof. Marcelo e poucos do governo o entenderam porque também não precisam, vão atrás da carroça.
    Na USTP aquando de uma pergunta sobre a situação do País o prof. e bem falou sobre a não ingerência nos assuntos de outro Pais mas rematou dizendo que o futuro dos países está nas mãos das pessosas….
    Quem percebeu, percebeu……..

  15. Bom rapaz

    15 de Março de 2018 at 14:12

    Uma vez mais obrigado Adelino Cassandra por passar para o papel, para as redes sociais e consequentemente para os outros o seu pensamento, o seu ponto de vista,a analise que faz das coisas, das pessoas e do país, pois que atravessamos um momento dos mais críticos da nossa história em que na verdade o que esta a prevalecer é uma politica de tudo fazer para desunir os santomenses.
    Ora bem…
    A par disso, seria bom que tanto o Patrice Trovoada como Evaristo carvalho tirassem proveito das aulas que Marcelo Rebelo de Sousa deu em S. Tomé e Príncipe. Algumas dessas aulas obedeceram o padrão clássico de ensinamento, como a palestra produzida no ISP, que que Rebelo de Sousa preferiu distanciar-se de algumas questões de consumo doméstico – diga assim. Mas outra aula dada por Rebelo de Sousa, uma forma de puxar Orelha ao Patrice e ao Evaristo carvalho, foi quando ele foi arbitrar uma partida de futebol com casaco e gravata. Ele quis dizer ao Evaristo isso mesmo, que Evaristo deve ser arbitro e não jogador, porque se quiser ser jogador dispa e vá a um campo de jogos e posicione-se como jogador de uma das equipas. tanta humilhação por que esta a passar esse Evaristo. Mas coitadinho dele, ele nem é culpado…..

  16. Porco de India

    15 de Março de 2018 at 14:23

    Viva a DITADURA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  17. Zani

    15 de Março de 2018 at 15:12

    Sinceramente eu não vos entendo!
    Tudo bem que criticas são Benvinda tanto de ponto de vista construtiva como contraditório. Fazem parte de um sistema democrático! Agora vir dizer e querer fazer as pessoas acreditarem que todo esse processo de mudanças na justiça e ou em outras áreas da governação santomense é com único e exclusivo objetivo do partido no poder se perpetuar no poder?
    Que triste conclusão?
    Então querem dizer então que melhor é voltarmos aos anos 80 e 90 em que se tinha derruba governos, investe governo novo? Isto em menos de 8 meses de governo meus senhores! Isso é que era bonito, exemplar, todos mamando a custa do país pobre e delapidado por gente que diz santomense de raiz!
    Não sabem as tristezas e vergonha que santomenses radicados fora do país sentiram com essas novelas de corrupção, nepotismo, incompetência na justiça, parlamento, entre outros nos causaram.
    Agora que temos finalmente um governo que terminará sua legislatura ao fim de 4 anos sem derrube de gananciosos por poder, queremos mais é que esse governo seja eleito por mais 4, mais 4 até o povo cansar e pôr outro no lugar. Isso sim é democracia! O resto é demagogia barata!

    • WXYZ

      16 de Março de 2018 at 2:36

      As pessoas escrevem sem primeiro consultar ou conviver pelo menos um bocado d aquilo que e realidade ca no pais, como e que as populacoes estao a sentir, emitem opinioes escritas longas contrarias as realidades que se vive ca no pais. Aconselharia ao Sr. Adelino a fazer uma sondagem sobre quem ganharia as eleicoes se elas fossem realizadas hoje. Acham mesmo que a populacao santomense ira de novo aceitar ditadura ou conviver com ela ca nesse nosso solo patrio?

    • joao padre

      16 de Março de 2018 at 10:38

      a coisas que nos nao sabemos e melhor calar,ja vi voce e um deles,e a tua forma de ver e a mesma forma de pt.entao quando fala nao fala so.um bom concelho.

  18. almeida joaquim

    15 de Março de 2018 at 16:17

    Uma pergunta aos entendedores em matéria :
    O governo como órgão de soberania, está corrompido até ao pescoço;
    Está envolvido em corrupção 100%.
    Será que é possível se contratar políticos reconhecidos da CPLP para virem assumir cargo de Primeiro Ministro em substituição de Patrice Trovoada até que o país seja scaneado?

  19. seabra

    15 de Março de 2018 at 16:20

    Onde se encontram os ditos juristas, magistrados etc?
    O que é feito do Gabriel da Costa, do Afonso Varela…os mais pretenciosos e ilustres traiçoeiros da pàtria STP.
    Viajaram como JOTA, beneficiaram de formaçao superior (bolsas de estudos…),como militantes do MLSTP, hoje estao a servir os outros partidos, tendo traido desenvergonhadamente o MLSTP e o Manuel Pinto da Costa.
    Espero que nunca venham a ser presidentes, ou até mesmo ministros ou embaixadores…em todo o caso, espero que nao voltem a ter um cargo que represente STP, porque sao INDIGNOS….eles sao muitos que se encontram nesta desgraçada posiçao.

    • Sotavento

      16 de Março de 2018 at 9:34

      Caro(a) Seabra
      Nao estou de acordo quando diz que Gabriel e Varela sao pretenciosos e ilustres traicoeiros da patria STP só porque hoje vestem camisolas de outros partidos.Conheci os dois no tempo da jota e eram jovens que olhavam os outros que nao comungavam os mesmos ideiais como eles de forma arrogante ameacador e de certa forma com alguma prepotencia.Havia mais , a Alda Melo , o Salvador e muitos mais.O mundo muda as pessoas também isto de hoje estarem de costas viradas ao MLSTP é normal e eu pessoalmente hoje os considero como grandes oportunistas na altura que só queriam sacar dividendos dessa bajulacao.Foram estudantes bolseiros em Franca donde se formaram superiormente e logo adeus a quem os sacou da lama.Mas isto de estar militando em outras formacoes politicas nao constitui problemas.Problema é nao defender o desenvolvimento de STP e ser insensato ao que se passa em STP

  20. C. Fonseca

    15 de Março de 2018 at 18:20

    Bom tarde,

    Toda a opinião fundada em argumentos válidos é benéfica e ajuda a construção civil ativa e participativa. Afinal, isso é cidadania, isso é ser colaborador – beneficiário, na medida em que todos saímos a ganhar.

    Mas façamos essa discussão com elevação e responsabilidade.

    STP é um estado de direito democrático e o povo é livre, sendo que a questão da literacia ou conhecimento não deve ser impeditiva do pensamento crítico.
    Com maior ou menor certeza, fomos nós que elegemos esse governo. Dita as regras a democracia, que deve ser o governo o principal responsável pelas políticas seguidas no país.
    Por outro lado, temos os tribunais, com os seus poderes próprios mas que em matéria de política da deve ouvir o Governo.

    Não sei se a ministra é ou não competente mas é da sua responsabilidade conduzir as políticas estruturais desse ministério. A definição das políticas que os países devem seguir, é durante esses 4 anos da responsabilidade do Governo, goste-se ou não. Os tribunais fazem parte e é um dos serviços mais importantes da Administração Pública.
    Por isso, esses vários órgãos devem dialogar … é impensável uma decisão como contratar novos juízes sem falar com o Governo – quem controla as contas do país.

    Mesmo reconhecendo a natureza soberana dos tribunais, pergunto-lhe se ainda assim não é da responsabilidade do poder executivo definir as políticas estruturais do país?
    Por mais necessidades que os hospitais tenham, nunca decidem contratar novos médicos, pessoal de enfermagem e auxiliares, sem antes conversar com o Governo?

    O presidente do Supremo decide por exemplo abrir novo concurso para admissão de novos magistrados. Essa decisão não deveria ser tomada em conjunto com a ministra da justiça? Quem vai pagar os honorários aos novos magistrados, é o sistema judiciários ou essa verba provém do orçamento de geral do Estado?

    Em democracia, tem que haver responsabilização, sendo que, as instituições devem estar acima das pessoas, devem dialogar, nem o primeiro ministro manda no presidente do supremo, nem este último deve fazer o quer e bem entende.

    Os comentários sobre quem gosta mais ou menos de um e de outro, do meu ponto de vista, interessam pouco e não contribuem para o melhor esclarecimento.
    Gostaria de ouvir a sua opinião sobre essa temática, da falta de diálogo entre as nossas instituições.

    É pena que todos tenham um ego tão grande e não estejam dispostos a contribuir para real desenvolvimento do país.

    Cumprimentos patrióticos

    • Justiceiro

      17 de Março de 2018 at 18:08

      Caro senhor C. Fonseca os Tribunais não fazem parte da função pública como o senhor afirmou. Os Tribunais são orgãos de soberania. Não é a ministra de Justiça que manda nos tribunais. O senhor está a fazer muita confusão na sua cabeça. Não estamos no domínio do partido-estado mas sim numa democracia em que existe orgãos de soberania que devem todos ser respeitados. É verdade que o senhor primeiro-ministro não manda do presidente do supremo tribunal de justiça mas também é verdade que o senhor primeiro-ministro não pode tratar da justiça da mesma forma que ele trata dos seus ministérios. Em democracia não é assim. Fui

  21. Lei

    16 de Março de 2018 at 9:41

    Esse país precisa de uma grande revolução. Só digo isto e mais nada.

  22. PT TROVOADA

    16 de Março de 2018 at 10:45

    Grande pensamento, não pare de nos fazer pensar sobre a nossa vida futura.

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