A Cooperativa de Exportação do Cacau Biológico (CECAB), é o baluarte da produção de cacau de alta qualidade em São Tomé e Príncipe. Representa mais de 3 mil agricultores de 41 comunidades agrícolas.
A cooperativa que nasceu do esforço conjugado dos sucessivos governos da república, das ONG, e dos agricultores, cresceu e tornou-se autónoma administrativa e financeiramente a partir do ano 2012. Através da produção biológica e sustentável do cacau, a cooperativa recebeu a missão de combater a pobreza no meio rural.
A par da exportação do cacau de alta qualidade, a cooperativa dos agricultores evoluiu para a produção de chocolate. A fábrica de chocolate funciona como uma fonte de renda para alimentar os projectos de luta contra a pobreza no meio rural.
«Quando percorremos o país vimos no rosto das pessoas o desencorajamento, a desmotivação, enquanto a nível da CECAB é o inverso. Constatamos grande motivação, e sonhamos que amanhã será muito melhor», assegurou o director executivo, António Dias.
Projectos de saneamento de meio estão a avançar nas 41 comunidades que integram a cooperativa. Pistas rurais estão a ser reabilitadas. O exemplo palpável é a estrada que dá acesso a Roça Monte Forte, no norte da ilha de São Tomé. Em avançado estado de degradação, a estrada de Monte Forte está a ser calcetada.
«Na roça Queluz que visitamos com o Ministro da Agricultura, volvidos 20 anos Queluz mudou completamente…Há saneamento do meio, muitas construções que apareceram, e há organização. Quando na nossa cidade capital é o contrário. Eu ainda era criança e ouvia que era a cidade mais linda de África. Volvidos meio século constitui uma vergonha. Enquanto isso, a CECAB está a mudar o rosto das comunidades agrícolas», denunciou o director executivo da CECAB.
O papel social da Cooperativa determina que as grandes obras são da responsabilidade do governo, as medianas devem ser realizadas pelas câmaras distritais, e as pequenas obras pela CECAB. «Mas estamos a crescer a uma velocidade em que já estamos em condições de fazer as obras medianas», pontuou António Dias.
50 anos após a independência nacional, CECAB bate o peito, e faz o contraste entre a cidade e a Roça em termos de organização e saneamento básico. Conquistas alcançadas pelo cultivo e produção do cacau de alta qualidade.
Numa altura em que o preço do cacau atingiu o patamar de Ouro no mercado internacional, a CECAB constata a agudização da ameaça. O furto do cacau nas parcelas agrícolas tornou-se selvagem. «O cancro que temos no mundo rural é a questão do furto do cacau», frisou.
Para garantir a alta qualidade do cacau, para além da conservação do ecossistema agrícola, os mais de 3 mil agricultores da cooperativa colhem e quebram as cápsulas de cacau de 15 em 15 dias. No entanto, a procura do cacau de São Tomé e Príncipe aumentou de tal maneira que os compradores buscam o produto diariamente.
«Basta um parceiro externo vir a São Tomé e dizer que quer investir no cacau, o governo entrega 10 ou 20 hectares de terras, e permite que este comprador de cacau ande aí a fomentar o furto do cacau, a penalizar os agricultores. Questiona-se o quê que o governo pretende. O governo constrói e ajuda a destruir?», interrogou o director executivo da CECAB.
António Dias, explicou que ao longo dos anos a cooperativa investiu bastante na renovação do cacauzal. A produção de alta qualidade já está a atingir a velocidade cruzeiro. Mas os agricultores não colhem os frutos.
«Só de janeiro a março investimos qualquer coisa como 80 mil euros, para apoiar os agricultores na poda de 1700 hectares de terra, para que a produção não diminua. Investimos no cultivo de 40 mil plantas de cacaueiros enxertados. Com essas acções, o nosso objectivo é atingir 2000 toneladas de cacau no próximo ano. Mas, com essa situação de furto talvez esse objectivo só será alcançado em 2030», esclareceu.
No terreno o Téla Nón constatou que a frota de carrinhas que compram o cacau aumentou significativamente. Compradores de praticamente todas as nacionalidades buscam o cacau no interior de São Tomé, nomeadamente portugueses, franceses, russos, italianos, chineses, japoneses e também operadores de países africanos.
Apesar do furto que não pára de aumentar, os mais de 3 mil produtores de cacau biológico, somam conquistas. Esta quarta- feira lançam pedras na cidade de São Tomé, para a construção de um prédio de 3 andares onde vai funcionar a sede central da CECAB.
Obra financiada exclusivamente pela própria cooperativa, e resultante da transformação do cacau de alta qualidade em chocolate.
Abel Veiga
