Sociedade

Desflorestação facilita a expansão de aves introduzidas em São Tomé

Um estudo recentemente publicado na revista científica Animal Conservation demonstra que a distribuição de aves introduzidas em São Tomé está associada à desflorestação causada pelo Homem. Os investigadores apelam à proteção da floresta nativa da ilha como medida mais importante para garantir a conservação da sua biodiversidade única.

As florestas de São Tomé, em São Tomé e Príncipe, têm uma das maiores concentrações de espécies endémicas – espécies que não se encontram em nenhum outro lugar do planeta. As suas florestas estão entre as mais importantes para a conservação de aves a nível mundial.

Tal como em muitas outras ilhas, em São Tomé foram introduzidas muitas espécies de forma acidental ou intencional, de diferentes grupos taxonómicos, ao longo dos últimos séculos. Perceber o seu impacto nos ecossistemas é fundamental para propor medidas de conservação mais eficazes. Será que estas espécies introduzidas estão a causar o declínio de espécies nativas? Ou estão simplesmente a aproveitar a perda de habitat causada pela ação do Homem – por exemplo pela desflorestação – para alargar a sua distribuição?

São Tomé estava completamente coberta por florestas ricas em espécies únicas no mundo, mas as atividades humanas, e em especial a agricultura, têm levado à conversão dessa floresta em ecossistemas que favorecem a presença de espécies introduzidas, como é o caso desta plantação de palmeiras.

Os resultados revelam que aves nativas e introduzidas surgem em locais distintos da ilha. “As aves nativas apareceram sobretudo nas florestas no centro e sul da ilha, nas zonas mais montanhosas e remotas, enquanto que as aves introduzidas surgem nas zonas não florestadas, mais secas e junto da costa. Esta preferência parece estar associada à alimentação – a maior parte das espécies de aves introduzidas alimenta-se de grãos, que aparecem sobretudo em zonas com maior influência humana”, explica Filipa Coutinho Soares, primeira autora deste artigo, investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. “Os resultados revelam que aves nativas e introduzidas ocupam nichos ecológicos distintos, o que reduz a competição entre elas. No entanto, não podemos descartar totalmente a existência de efeitos negativos sobre as espécies nativas”, acrescenta a investigadora.

Desde 2009 que tem vindo a ser recolhida informação sobre a distribuição de aves na ilha de São Tomé. Este esforço tem vindo a ser feito por uma equipa internacional, que contou com o apoio de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, da BirdLife International e de diversas entidades santomenses, como a Associação Monte Pico e o Parque Natural Obô de São Tomé. Vários pontos de contagem de aves foram realizados por toda a ilha. Em cada um destes pontos, todas as aves observadas ou ouvidas eram identificadas durante dez minutos. Entre as aves introduzidas contam-se algumas espécies que também foram introduzidas em Portugal, como o bico-de-lacre (Estrilda astrild), a viuvinha (Viuda macroura), bispos e tecelões (Euplectes hordeaceus, Euplectes aureus, Euplectes hordeaceus, etc).

Trabalho de campo em floresta nativa. O trabalho de campo contou com a ajuda essencial de assistentes de campo santomenses, com excelente conhecimento da ilha e das espécies e que foram treinados em metodologias de amostragem de aves. ©: Ricardo Rocha.

Filipa Coutinho Soares está a desenvolver este projeto como parte do seu doutoramento, no sentido de compreender quais os impactos das espécies introduzidas no funcionamento dos ecossistemas, quais os fatores que limitam a expansão das espécies de plantas introduzidas e, por fim, qual o impacto das alterações históricas do uso do solo na distribuição atual das espécies.

“É importante para a conservação da biodiversidade perceber que as aves introduzidas apenas conquistam novas áreas da ilha depois de haver desflorestação, pois realça a urgência de proteger os ecossistemas nativos, aqueles onde a influência humana é muito reduzida. A longo prazo só conseguiremos garantir a sobrevivência das aves nativas de São Tomé se aplicarmos medidas que se foquem na proteção da floresta”, salienta Filipa Coutinho Soares.

Texto de Filipa Coutinho Soares, editado por Marta Daniela Santos. Na imagem: Espécies como a garça-boieira (Bubulcus ibis) não existiam em São Tomé antes da chegada das primeiras pessoas e hoje em dia estão fortemente associadas aos ecossistemas antropogénicos. ©: ECOFAC6/BirdLife International/ Jean-Baptiste Deffontaines.

Referência do artigo:
Soares, F.C., Panisi, M., Sampaio, H., E. Soares, E., Santana, A., Buchanan, G.M., Leal, A.I., Palmeirim, J.M. & de Lima, R.F. (2020). Land-use intensification promotes non-native species in a tropical island bird assemblage. Animal Conservation. https://doi.org/10.1111/acv.12568

1 Comment

1 Comment

  1. Vanplega

    17 de Março de 2020 at 8:24

    Os causadores desta situacao em SAO TOME E PRINCIPE, tenhem nome e todos nos conhecemos.

    Sao os meus POLITICOS desgracados

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