Hoje, a sociedade contemporânea depara-se com uma crise política, não só pelo facto de haver desconfianças em relação aos homens que ocupam o poder, mas também pela corrupção que vai existindo no seio da política, algo visível nos âmbitos nacional e internacional.
Hodiernamente, o critério último da ação ou do trabalho de um político é o sucesso, sem o qual não pode jamais ter a possibilidade de uma ação política efetiva; “mas o sucesso há-de estar subordinado ao critério da justiça, à vontade de atuar o direito e à inteligência do direito. É que o sucesso pode tornar-se também um aliciamento, abrindo assim a estrada à falsificação do direito, à destruição da justiça.”[1] Enquanto a política se deixar inclinar por este campo, continuaremos sem enfrentar os grandes problemas da humanidade. Assim sendo, o que nos resta são guerras ou acordos espúrios, onde o que menos interessa é preservar a justiça e o bem-comum. No entanto, podemos compreender que, sem a justiça, sem o bem comum, sem o amor político, a política se torna bárbara e intratável. E se quisermos ter provas, basta-nos abrir a televisão, a rádio ou o jornal, e havemos de encontrar muitas respostas.
Todavia, usando de novo as palavras do Ratzinger, podemos referir que o sucesso não deve ser o critério último da política. A política deve ser, isso sim, um compromisso em prol da justiça e do bem-comum.
Platão, na sua República, defende que, se o governante quiser mesmo trabalhar no sentido da justiça e do bem-comum, este tem de saber como o fazer, mesmo no mais ínfimo pormenor, como o “cibernauta”[2], isto é, o capitão do navio, sabe quando leva o navio a bom porto. Pode compreender-se que, para o capitão do navio, não há propriamente outra opção que não seja levar o navio a bom porto. Para que tal possa acontecer, diz Américo Pereira, ao comentar um trecho deste texto de Platão, “é necessário conhecer o navio, em toda a sua realidade, conhecer o mar em toda a sua realidade, o céu, os ventos, etc., tudo, o mais completamente possível.” Quer isto dizer que o governante deve conhecer toda a realidade que o envolve, isto é, “a atenção à realidade objetiva das coisas tem de ser total ou tendencial para essa mesma totalidade.”
Portanto, o âmago da política deve ser sempre o compromisso em prol da justiça e do bem-comum, ou seja, a política deve ser vivida com a moralidade, isto quer dizer consolidar ou inculcar na política a dimensão da gratuidade. Só assim é que um político consegue trazer à luz do dia um conjunto de riquezas capazes de responder às necessidades concretas de cada ser humano em particular. Desta forma, “a vida humana transforma-se num ato contínuo de busca de uma perfeição tanto segundo a ordem puramente espiritual quanto segundo a ordem da ação em que espírito e corpo manifestam, mais do que o produto da busca, a busca como forma de se produzir e de produzir o bem-comum.”[3] Uma política sã deveria ser capaz de assumir este desafio como seu. Assumindo-o, o nosso mundo teria um rosto mais humano e mais alegre.
[1] Bento XVI, conferência ao parlamento federal.
[2] Esta palavra que usamos, normalmente usa-se para falar dos utilizadores de internet, mas, contudo, etimologicamente ela pode ser usada para o queremos dizer, isto é, pode ser usada para referir o capitão do navio.
[3] Pereira. A. lições sobre “Os sofistas. Sócrates de Atenas”.
Vicente Coelho
Quaresma
30 de Março de 2018 at 13:00
Olha;obrigado pelas tuas reflexões. Gosto da maneira como escreves. Se a política fosse vivida como um compromisso ao bem comum e a juntar o mundo seria outro.
Tó
30 de Março de 2018 at 22:42
Bom texto
Ninguém
30 de Março de 2018 at 23:10
O texto tem classe e é puramente verdade o que dizes.
Ninguém
31 de Março de 2018 at 7:24
Um texto inquieto, pertinente, verdadeiro nas coisas que diz. Bom trabalho
Valdir
31 de Março de 2018 at 17:12
Pertinente o texto
Socrates
31 de Março de 2018 at 20:31
Meus srs e minhas sras: vocês até podem escrever Bonito e ter commentarios pertinentes. Nao adianta. A desorganizacão, a impunidade, a inoperancia dos orgaos judiciais, tudo isso ligado a um contexto politico socio cultural é e será o resultado do que esse Pais vive e viverá; Nao existe controle preventivo, nem fiscalizacao e transparencia, ambiente propricio para corrupçao, alarmes e esquecimento.
Povo
1 de Abril de 2018 at 7:52
Meu caro Sócrates,acho que a sua atitude é de quem se deixou vencer pelos problemas do mundo. O homem forte é aquele que acredita na renovação e na transformação. A renovação e a transformação faz-se ao longo do tempo e este processo é lento. Por isso, eu acho que deve haver artigos que questionem os problemas da sociedade em geral.É preciso haver mentes e pessoas que provoquem ou que estimulem a renovação e transformaçã da sociedade. Não seja pessimista meu caro Sócrates.
Platão
1 de Abril de 2018 at 13:54
Meu caro Sócrates,se cada um fizer a sua parte com transparência e verdade as instituições políticas e sociais imediata mente funcionariam melhor. Portanto faça a sua parte com verdade os outros farão os deles.
Descamisado da Conceição
3 de Abril de 2018 at 5:59
Valdir, ele não é teu irmão? Vocês se parecem?