Opinião

A Cidadania – O caso da Senhora Maria da Graça Amorim

Não é normal nem desejável que um governo, perante tantos problemas que tem pela frente para resolver, ande a responder aos cidadãos, de forma acintosa e enxovalhante, como fizeram com a senhora Maria da Graça de Amorim, só pelo facto desta ter escrito e publicado um texto crítico, no jornal “Telá Non”, denunciador da situação caótica em que se encontra a nossa diplomacia.

Devo, contudo, salientar, que não conheço pessoalmente a senhora Maria da Graça de Amorim e creio não ter estado com ela em nenhum lugar público em toda a minha vida. Por isso, a minha solidariedade, para com a mesma, neste âmbito, configura, sobretudo, um ato de cidadania, como o artigo crítico da mesma, sobre o estado deplorável da nossa diplomacia, deveria ter a mesma finalidade.

Só num país como o nosso, um governo responde, em forma de comunicado de Conselho de Ministros, de forma tão acintosa e enxovalhante, aos cidadãos que ousam dar a sua livre opinião sobre os problemas do país.

E aquilo que me preocupa, neste momento, não é este avulso, embora significativo, sinal político condenável, que tiveram para com a senhora Maria da Graça de Amorim mas, sim, um conjunto de práticas, mais ou menos publicitadas, com contornos históricos enraizados no modus faciendi desta nova maioria, que começam a emergir como princípio doutrinário com todas as consequências negativas para a nossa sociedade.

Começo a ter muito receio das consequências deste ato censório que começa a ter um efeito mimético, a jusante, na manifestação de “pequenos e obscuros poderes, não necessariamente da esfera política”, como aquele, por exemplo, que determinou que a obra do Historiador, Augusto Nascimento, intitulada “São Tomé e Príncipe: as tramas da política e a emancipação do saber histórico”, incompreensivelmente, não fosse apresentada em S.Tomé, após promessas iniciais neste sentido, tendo deixado desolado o referido investigador, que dedicou 40 anos da sua vida à historiografia do nosso país e ajudou a formar muitos quadros nacionais.

Não se deve tratar ninguém, que deu um contributo assinalável para o conhecimento e divulgação da nossa História, desta forma tão ignóbil, sendo nacional ou estrangeiro; da mesma forma que a senhora Maria da Graça de Amorim não pode ser tratada como uma delinquente só pelo facto de ter opinião própria sobre assuntos da nossa vida comunitária.

O senhor primeiro-ministro não pode andar a dizer, às segundas, quarta e sextas-feiras, em discursos empolgantes, que quer contribuir para aprofundar a democracia e às terças e quintas-feiras ter um contributo, pessoal e/ou institucional, de afronta aos pilares desta mesma democracia.

A atitude, tão agressiva e intempestiva, que o governo demonstrou perante um simples artigo da cidadã Maria da Graça de Amorim, denuncia a chegada de um tempo novo e complexo para todos nós. Eu não gosto disso!

Ninguém nasce cidadão, no sentido pleno do termo, e é preciso um esforço, por parte de todas as instituições, numa “democracia” embrionária como a nossa, na criação de condições para a consolidação e enraizamento deste processo. Não existem receitas ou fatos prontos-a-vestir que nos transformam em cidadãos, pois, este processo é fruto da educação e valores que se vão consolidando na sociedade e que conta com a contribuição de todos incluindo exemplos vindos das instituições que nos representam ou governam.

A cidadania, sendo um processo, é algo que está em permanente construção e, numa “democracia”, com os constrangimentos que a nossa apresenta, todo o contributo, pessoal e institucional, no sentido de a fortalecer, como aquele que a cidadã Maria da Graça de Amorim fez, deve ser valorizado e, até, enaltecido, tendo em conta as funções que ela desempenhou no nosso país, durante muito tempo, e as competências que deve ter no âmbito do exercício crítico que realizou.

Faz-me confusão, por isso, que seja o próprio governo a negar a uma cidadã este exercício de manifestação de cidadania plena, respondendo-a num extenso comunicado de Conselhos de Ministros, num tom vexatório, humilhante e inusual entre nós, como que sugerindo a todos os outros críticos do poder vigente que tenham medo, cuidado e contenção.

Esta é uma boa lição de cidadania que o governo dá aos nossos jovens que andam nos liceus ou nas faculdades sugerindo-os, com este extenso comunicado do Conselho de Ministros, que devem ser submissos, que devem ter pouca ou nenhuma preocupação com os assuntos da nossa vida em comunidade e que, sempre que forem confrontados com críticas construtivas dos colegas e/ou professores, devem ter uma atitude vexatória e humilhante para com estes. Onde chegámos!?

Adelino Cardoso Cassandra

33 Comments

33 Comments

  1. tudo está dificil

    4 de Março de 2020 at 9:23

    Meu caro Adelino, essa resposta do governo reflecte a mediocridade das suas acções de perseguições e ódios têm incentivado a violência nesse País. Mandaram incendiar carro de juiza, partiram as igrejas onde se matou uma criança ninguém foi responsabilizado. Os policias não fazem patrulha senão para incomodar taxistas motoqueiros com multas.
    Mataram uma cidadã portuguesa e indefesa no seu local de trabalho. os presos têm folgas para irem a casa como se estivessem no hotel. E o governo tem tempo para responder a opinião de uma cidadã. Muito triste…..

  2. Yuri

    4 de Março de 2020 at 10:21

    Uma vergonha o que fizeram com Maria da Graça de Amorim, não estamos numa ditadura.

  3. Vanplega

    4 de Março de 2020 at 11:42

    Mais uma vez, e o MLSTP, no seu melhor

    Cambardas de ladroes, andam a roubar e protegem seus comparsas.

    Na constituicao da Republica, esta la sinalizado PENA DE MORTE.

    Tirem para fora e atuem, para organizar este pais. Fuzilem os politicos ladroes e os criminosos, na praca publica.

    Acabem logo com esta impunidades nesta terra. Trabalhem, devolved casas compradas em PORTUGAL, com dinheiro roubado deste pais.

    O governo devem trabalhar, trabslhar em vez de responder os cidadao que os criticam

    Entao, a situacao dos doentes em Pirtugal, e boa senhor 1 Ministro?
    Anda viver nela para ver se aguentas.

    Olhe para se senhor 1 Ministro, entraste para o governo magrinho, veja como tu ti encontras? Pagamos tudo para ti, povo Ontario.

    • Manuela. Na diaspora

      26 de Março de 2020 at 14:05

      Eu acompanho muitos comentarios das pessoas neste jornal, acredito que ja e tempo dos govetnantes africanos para e pensar em trabalhar para o melhor dos seus paises, essa coisa de lutar para chehar no poder so para tirar os seus dividendo e guardar na europa a ser disfrutado nas ferias ou no.asilio, esta a ficar sem graça, porque Deus esta fazer cerco aos homens com surpresas mundias, ninguem vai consrguir fugir para exterior; VEja agora com esta pandemia que ninguem sai e nem entra.

  4. Militante Antigo

    4 de Março de 2020 at 13:35

    Este comportamento não é digno de um governo responsável. Sinceramente…

  5. Pcdteísta

    4 de Março de 2020 at 13:38

    Estamos a caminhar para uma ditadura do MLSTP e PCD. Este não é o meu PCD, por favor. Desculpem mas este não é o PCD do meu tempo. Onde se viu uma coisa desta? O PCD era um partido da democracia e não esta escumalha que está a acompanhar o MLSTP nestas torpelias.

  6. Viver com Calma

    4 de Março de 2020 at 13:40

    Nem perdoam Maria Amorim, Pinto da Costa, nem ninguém. É este o MLSTP do Jorge Bom Jesus.

  7. Pátria Amada

    4 de Março de 2020 at 13:48

    Muito obrigado senhor Adelino Cardoso.

  8. Olinto

    4 de Março de 2020 at 14:29

    É muito triste o caminho que o país está a tomar.

  9. Fernando Simão

    4 de Março de 2020 at 14:37

    O que há de novo no artigo da ex-Ministra dos Negócios Estrangeiros, Maria Amorim? Só os distraídos é que não sabiam essa situação. As dividas com as Embaixadas e as Organizações Internacionais já vem de muito tempo, provavelmente desde o tempo da ex Ministra. A única culpa que eu atribuo a este Governo é pelo facto de não fazer a diferença e continuar a deixar agravar a situação como os anteriores Governo a fizeram.
    Há que ter a coragem de enfrentar a situação, encontrando soluções que poderão passar provavelmente por encerramento de algumas Embaixadas e negociar a retirada de algumas Organizações Internacionais que não trazem muitos benefícios ao o Pais tendo em conta a nossa situação económica financeira.
    De resto não vejo o drama nenhum pelo facto do Governo dar a sua versão as criticas da ex-Ministra dos Negócios Estrangeiros, que para mim considero um dos melhores Ministros dos Negócios Estrangeiros que o Pais teve. Se o Governo ignorasse as criticas dessa personalidade é que seria, no meu ponto de vista, uma desconsideração.

  10. Manuel

    4 de Março de 2020 at 14:48

    Olá Adelino Cardoso.Li os dois artigos de opinião da Dra. Maria de Amorim. Não sendo a única cidadã que, no exercício da cidadania ativa, tem uma apreciação crítica da governação, atual e passada, o certo é que mereceu do governo uma reposta. Uma leitura possível para esta reação decorrerá, provavelmente, do reconhecimento da razoabilidade das críticas que autora faz e do crédito que outorgado à cidadã. Apesar do conteúdo acintoso da resposta e da tentativa de procurar beliscar o carácter da cidadã Maria de Amorim, por parte do governo,acho que a cidadã tem mais um incentivo para brindar os leitores do “Tela Non”com novos artigos. Viva a cidadania ativa. Stome e Príncipe agradece.

  11. Pagué

    4 de Março de 2020 at 14:51

    Adelino Cardoso Cassandra, o poeta revoltado….

  12. LIBREVILLE

    4 de Março de 2020 at 16:39

    Estes são comportamentos dos fracos e incompetentes. O fim dos 4 anos já estão a porta…
    ” Crianças a Governar o destino de um Pais”

  13. Marito Trovoada

    4 de Março de 2020 at 17:05

    Oh Senhor Adelino Cassandra, deixa-te de tretas.
    Qual Governo que não se defende quando as mentiras ou acusações são grosseiras? Portugal reagiu ou não ao caso da Venezuela?
    Angola reagiu ou não ao caso do passado recente com Portugal?
    Turquia reagiu ou não aos problemas com o Libano?
    O vosso mal é querer “cherretar” em tudo.
    Deixa o Governo fazer o seu trabalho. Governo é Governo e as liberdades são fundamentais num processo de governação. Deu a Maria Amorim na tola de escrever um artigo. Muito Bem. Tambem o Governo decidiu reagir. Qual o problema? Aonde é que isto te doeu? Pergunte ao To-Ze, seu irmão como é que ele reagiu alguns anos atras quando a então ministra da Defesa de STP foi la resolver um problema no Príncipe. Ele reagiu ou não? Convenhamos.!!!

    • Nunca vi

      5 de Março de 2020 at 12:56

      Que comentário mais sem sentido. Nenhum dos exemplos que deu não são comparáveis a este caso. Nos exemplos que deu são casos de Estado dirigido a Estado ou a organismo governamental. Aqui está em causa uma cidadã. Sem vínculo institucional. Quando é que Angola, Gabão, Portugal, Moçambique andou a responder a crítica de cidadãos? Dá um exemplo. Aqui o Estado Santomense baixou ao nível de uma pessoa singular. Vergonhoso. Isto mostra a visão, dimensão e ambição deste Governo: zero!

  14. Titi

    4 de Março de 2020 at 17:17

    O MLSTP infelizmente não engana. Já tinham este método e a afinal de contas mesmo no sistema democrático continuam a ser assim. Burro velho não muda. É muito triste ver o país assim.

  15. XYZ

    4 de Março de 2020 at 17:25

    Eu disse aos meus amigos que queriam ouvir que este não é um governo no sentido verdadeiro da palavra mas é um grupo de pessoas que está mais interessado em tratar da sua vida e dos seus familiares. É por isso que qualquer crítica incomoda estas pessoas. Mas é o país que sofre muito com estas coisas. Para além de andarem a roubar ainda acham mal que se faz críticas.

  16. SEMPRE AMIGO

    4 de Março de 2020 at 20:16

    Sr.Adelino Ca.Ca!Credo!O senhor tem que se libertar definitivamente da carga do PASSADO.Como sempre, nos seus artigos no TELA NON o senhor nunca esquece de dar umas alfinetadas no PASSADO.É assim que no quarto parágrafo do seu artigo lê-se:”E aquilo que me preocupa, neste momento, não é este avulso,…..,sinal político condenável,mas sim…(lá vem a alfinetada) UM CONJUNTO DE PRÁTICAS…COM CONTORNOS HISTÓRICOS ENRAIZADOS no modos faciendi desta nova maioria”. Liberte.se ,amigo Cassandra ,do fantasma do PASSADO!Concordo no entanto, inteiramente, com a sua opinião critica sobre a reacção do Conselho de Ministros, ou melhor,da senhora ministra dos Negócios Estrangeiros dr.Elsa Pinto,ao segundo artigo da senhora Maria Amorim no TELA NON.

  17. Arménio Camblé

    4 de Março de 2020 at 20:22

    A César o que é de Cesar….
    Verdade seja dita, no Governo de JBL os membros do Governo do lado da coligação têm dado provas mais solidas de competência em relação ao meu MLSTP.
    Fui…….

  18. Nelson pinheiro

    4 de Março de 2020 at 20:39

    Vergonha, muita vergonha!
    Por este andar da carruagem, não tarda nada, será preciso um um departamento de relações públicas, para andar em guerra com os cidadãos.

  19. Ralph

    5 de Março de 2020 at 4:53

    Como refere o autor, é um assunto de princípio. Em nações democráticas, todos os governos deveriam esperar ficar sob crítica de vez em quando dos seus cidadãos porque são eleitos para servir tais cidadãos. Precisamente porque gastam os impostos arrecadados do povo é porquê os governos precisam de explicar as suas ações aos cidadãos que os elegeram. Em vez de responder às críticas de forma acintosa e enxovalhante, usando as palavras do autor, um bom governo deveria aceitar o direito de qualquer cidadão de opinar sobre o desempenho do governo, respondendo à substância da reclamação. Se o governo tivesse errado, deveria admiti-lo – os cidadãos merecem isso e provavelmente apreciariam o gesto. Os governos não devem procurar conspurcar a reputação do acusador simplesmente porque um governo não gosta da ideia de ser criticado ou não quer aceitar culpa. Fazer ao contrário é para empregar a maneira impetuosa e desrespeitosa de Donald Trump – atacar o acusador porque não tem como responder construtivamente à queixa feita.

  20. Estevão

    5 de Março de 2020 at 13:07

    Concordo consigo Ralph em tudo que escreveu.

  21. Lucas Lourenço

    5 de Março de 2020 at 14:06

    Cada país contenta com aquilo que tem. E nós temos de reconhecer que somos um povo com dirigentes sem qualidade nenhuma neste momento. Estas pessoas não estão em condições de nos representar. Mas pronto é a nossa realidade. Quem não tem cão caça com gato. Só que damos uma imagem muito negativa do país.
    Abraços meus compatriotas
    Lucas

  22. Sol

    5 de Março de 2020 at 16:01

    Enfim… só vim ler os comentários. Que tristeza!!!!!!????? Como há gente que ainda acha que o governo fez bem nesta coisa????? A partidarite é um mal muito grave que nos está a destruir léve-léve. Quando despertarmos adêua congo. Acreditem meus amigos…

  23. Luis magro

    5 de Março de 2020 at 17:12

    Os artigos deste Senhor já começan a ser nefastos. Por favor Sr. Adelino Castanha mude de disco e escreva sobre a situação da Região Autónoma de Príncipe, particularmente da desastrosa governação do seu irmão Tomé Castanha.

    • Inconformado

      6 de Março de 2020 at 0:55

      Eu já não perco tempo a lê-los

    • Eu te conheço

      6 de Março de 2020 at 8:34

      Ó Borboleta deixa o homem escrever por favor. O senhor passa o tempo na avenida a comer e beber, numa vida de autêntico parasita, e ainda por cima é financiado pelo teu partido para andar a denegrir as pessoas. Deixa deste hábito. Toda a gente te conhece aqui em S.Tomé. Sempre viveste deste expedientes e já tens idade para ter juízo. Seja produtivo para a sociedade.

  24. Inconformado

    6 de Março de 2020 at 0:51

    Adelino, sai da tua zona de conforto e vem dar uma mão.Criticar é fácil.Voce foi um bolseiro do Mlstp por isto hoje tens uma carreira em Portugal e uma vida confortável, longe da bagunça.Se os que estão lá fossem como você alguns, STP seria governado por sapateiros. Quem não tem memória curta conhece muito bem o mal estar que está senhora deixou no ministério dos negócios estrangeiros. Porquê que ela não vai a S.tome dar a sua contribuição?!

    • Inconformado

      11 de Março de 2020 at 9:11

      Não me interessa os deslikes a verdade é que a carapuça serviu. Se vocês são tão iluminados assim porque não deixem a grota?! Só Par deixar claro estou fora de S. Tomé à vinte e quatro.

    • Inconformado

      11 de Março de 2020 at 9:45

      Correção:… desçam a grota.
      …vinte e quatro anos.

  25. Militante Zangado

    6 de Março de 2020 at 12:30

    Neste processo o que me deixa triste é que muitas destas pessoas que estão no governo agora que eu ajudei a lutar e trabalhar para chegarem lá andaram a criticar o Patrice Trovoada chamando ele de ditador e agora são eles que estão a fazer igual ou pior. Não havia necessidade para maltratarem a Dr.ª Maria Amorim deste forma. Alguém do partido deveria pedir desculpas públicas a Drª Maria Amorim. O partido não tem nada a ver com isso.

  26. Santana

    9 de Março de 2020 at 6:24

    O senhor Adelino Cassandra tem a escola Portuguesa…BLA,BLA,BLA,BLA…Alternativa zero(0)…nao presta e nao serve pra Saotome e Perincipe

  27. Inconformado

    11 de Março de 2020 at 9:51

    Assim como os cidadãos têm liberdade de pronunciar o governo também tem a liberdade de responder. Isto é que não acontece (ou ACONTECIA, pois já não o escuto a bastante tempo) no Debate Africano, no que toca a STP.

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