Opinião

Quem Paga Manda

Estando de férias, acabei de ouvir, através da RTP-África, que a senhora ministra dos negócios estrangeiros e cooperação, em reunião com a Agência de Cooperação de Marrocos, decidiu redinamizar a cooperação entre os dois países, após uma pequena suspensão provocada pela pandemia. Até aqui não há problemas nenhuns!

No âmbito do mesmo registo noticioso, soubemos, também, segundo a referida ministra, que Marrocos iria receber 80 estudantes Santomenses para formação nas suas instituições educativas e, também, iria ajudar o país no sector de saúde. Fantástico, exclamei!

Posteriormente, a senhora ministra, continuando o seu discurso, com uma pausa e cadência incomuns, informou-nos que Marrocos iria garantir, através de financiamento próprio, viagens e estadias para que os dirigentes e delegações Santomenses participassem em fóruns internacionais. Sussurrei: isto é bom demais para ser verdade! Ainda antes que eu terminasse o sussurro, a ministra rematou, com toda a pausa e cadência: “mas, em contrapartida, o país se posiciona para apoiar Marrocos em todas as suas candidaturas a cargos em organismos internacionais”.

Tive de recuar a emissão do noticiário, para o contexto em que a referida ministra fez aquela afirmação, para, de facto, confirmar aquilo que acabara de ouvir e ver.

Em primeiro lugar, nas relações internacionais deve existir, sempre, independentemente da grandeza ou pequenez dos Estados, normas éticas e valores morais que devem ser respeitados para que um Estado possa ser considerado pessoa de bem. Neste caso específico, a ideia que passou, para qualquer pessoa que ouvira a ministra dizer o que disse, naquela notícia, é que o interesse maior, relacionado com a redinamização da referida cooperação, do nosso país com Marrocos, é pura mercantilização. Ou seja, segundo as palavras da própria ministra, Marrocos paga tudo para irmos lá fora votar a favor deles para todos os cargos em organizações internacionais, independentemente dos nossos interesses específicos a prosseguir no âmbito da política externa.

Não havia melhor forma de afirmar, publicamente, que o país não tem definido, neste momento, quais são os seus interesses no âmbito da política externa. O melhor, se os tem, eles são completamente coincidentes e justapostos com a política externa de Marrocos, de que passámos a depender, a partir de agora, por alguns poucos milhões de dólares.

Em segundo lugar, no âmbito da política externa, deve existir, sempre, alguma continuidade e, com tal, algum consenso nacional, a montante, integrando forças políticas com vocação governativa e outros órgãos de soberania, designadamente, o senhor presidente da república, tendo como suporte os objetivos principais pretendidos com o desenvolvimento desta política externa.

Imaginem que amanhã, por exemplo, a atual maioria deixava de governar e o ADI, em coligação com outra força política qualquer, chegava ao poder. Irão prosseguir a opção da atual ministra e maioria governamental, de votar a favor de Marrocos,  em todas as candidaturas que este país apresentar para organismos internacionais? O senhor presidente da república validou, sem reservas, esta opção da referida ministra e maioria governamental, de votar a favor de Marrocos,  em todas as  candidaturas que este país apresentar para organismos internacionais?

Em terceiro lugar, ao tomar a decisão e disponibilidade que manifestou e afirmá-la, publicamente, a senhora ministra tem consciência que, apoiando, sem reservas, Marrocos, para todos os cargos internacionais que este país concorra, não correrá o risco de, nalguma ocasião qualquer, neste processo de incondicionalidade manifestada, existir a dificuldade em assegurar a coerência e articulação entre outros interesses decorrentes da política interna, que requerem apoios e intervenção de outros países, e as consequências da política externa anunciada, que terá, forçosamente, de seguir?

Garantir, publicamente, que se passa a votar, a partir de agora, a troco de dinheiro e bolsas de estudo para os jovens, para que Marrocos possa garantir cargos internacionais a que se propõe candidatar, é limitar, sem reservas, a capacidade de intervenção de um país e dos seus múltiplos interesses nas relações que mantém com outros Estados.

Passamos, a partir de agora, a ser visto, internacionalmente, por muitos anos, como uma espécie de filial de Marrocos, cuja utilidade, em termos de política externa, nalgumas instâncias e contextos, só servirá para isso. Além disso, é bom que todos nos lembremos que nem tudo que é bom para Marrocos, em termos de política externa, será, necessariamente, bom para S.Tomé e Príncipe. Ou seja, os interesses de Marrocos podem não ser coincidentes, nalgumas circunstâncias, com os nossos interesses, tendo em conta, até, a nossa história como país.  É caso para dizer: quem paga manda!

Adelino Cardoso Cassandra

24 Comments

24 Comments

  1. Manuel Carvalho

    27 de Agosto de 2020 at 11:48

    Meu Caro …todos os interesses não são coincidentes ..mas a preposta é muito boa e é praticável por exemplo entre os EUA E ISRAEL ..Quem paga manda sim ..Mas aqui neste contexto não obriga nada se interesses de STP ESTIVER EM CAUSA …mas é preciso entender o que é Relações internacionais com parceiros de apoio no mundo de Globalização E SEUS INTERESSES … STP.. sempre terá opção de votar apoiando ou contra quando os interesses de STP ESTIVER em causa ….Esse acordo com Marrocos é normal e não causa nenhum dano para STP … Aliás STP precisa estar presente em todas actividades internacionais ..País precisa muito de encontrar outros meios viaveis na deplomacia …Politólogo e consultor

  2. Frederico de Oliveira

    27 de Agosto de 2020 at 11:50

    Nos que nascemos aqui, vivemos aqui, crescemos aqui, tongas daqui, que vamos morrer aqui, estamos indignados. Está e a metamorfose do banho. O banho eleitoral interno evoluiu/metamorfosiou-se para um novo estagio: o de banho diplomático internacional.
    Se antes os dirigentes partidários davam banho ao povo para serem eleitos, hoje, por ironia do destino, o caso inverteu-se. São os próprios dirigentes que davam banhos ao povo que agora tomam banhos de Marrocos, más com vantagens significativas. Se antes o banho interno reduzia-se a umas 50 a 200 dobras ou umas poucas chapas de zinco ou ainda em umas motorizadas, agora no banho diplomático internacional, os dirigentes recebem viagens ao estrangeiros, hotéis pagos, filhos seus e dos amigos mais próximos a estudarem em Marrocos, um milhão de dólares na conta do estado anualmente para desbaratarem (por isso não querem que Marrocos gere os projetos). Finalizando, vale a pena este banho. Só que, numa altura que o nosso querido Assina So, pediu apoio a União Africana para ajudar STP a ocupar alguns postos de descasque na UA, vem logo de seguida este golpe. Neste momento, com base nesse banho, se a União Africana atribuir um Posto a STP (com base no pedido de STP), e se coincidetente Marrocos cobiçar o mesmo Posto, STP somente terá que abdicar da oferta e oferecer o seu ouro ao bandido. Gente burra e gananciosa.
    Filha de comerciante, comerciante e! Tudo para ela e comerciavel, trocável ou vendavel! Ate a própria alma do país! Tongas de uma figa.

  3. Salmarçal 2

    27 de Agosto de 2020 at 12:28

    Caros irmãos,
    Como santomense, me sinto humilhado e triste! O meu País não merece estes tipos de governantes.
    Não, não se pode vender o nosso País por tão pouco.

    • Como será

      28 de Agosto de 2020 at 17:16

      Que vergonha e humilhação para os santomenses, daqui a nada vamos todos ser mulçumanos, se quem paga manda, entao estamos fritos, nós santomenses nao somos valorizados na diaporas devido esta governação feia e triste que o pais tem vivido nestas ultimas decadas. Uma Ministra vem ao publico falar mesmo de boca cheia que a cooperacao com Marrocos,uma das clasulas esta base de custearem dispesas das viagens dos nossos dirigentes sempre que tiver que deslocar para exterior!!!!!, Que expressao stome tem para estaa favor de Marrocos em questaoes internacional? Isso me parece a mesma besteira que fizeram no acordo com Tawuam. Mas ate quando vamos continuar ser pedinte, isto começa no topo do pais ate nas camadas baixas,pode se notar nos jovens nao querem trabalhar, e nao se preocupam em fazer nada, a nao ser bandidagem vida facil,Deus nos acode e sacode os nossos GOVERNANTES.

  4. funjada de porco

    27 de Agosto de 2020 at 12:44

    Meu caro Adelino Cassandra confesso que já tinha saudades de seus escritos.
    De facto o que vejo é aquilo que se chama de prostituição diplomática. Neste caso a Dra. Maria Amorim tinha razão e ainda bem que repudiou esse tipo de politica externa que o País vem seguindo. Vejam a que ponto nós chegamos.
    Já agora porque é que não entregamos de uma vez por todas esse País a Marrocos e ficamos todos marroquinos e pronto.

  5. Sou de casa

    27 de Agosto de 2020 at 15:31

    Sou de Casa!!!!

    Mas que raio…Nunca nao vi… Muito lixo, mendicidade e prostituição junta.
    Sabem porque, estao a inventar a pólvora na politica externa. Essa sra ainda esta a fazer o que aqui

  6. Chico

    27 de Agosto de 2020 at 16:42

    Isto é o mais baixo da política que já vi em toda a minha vida desde que eu nasci neste país há 51 anos. Se for para isso é com muita pena que eu digo-vos que é melhor nós estudarmos maneira de entregar este país para Portugal e ficarmos sob alçada deste país. É muito melhor do que andarmos a pedir Marrocos um bocado de apoio, China outro bocado de apoio, Angola outro bocado de apoio. Que raio!!! Chatice pááááááá. Isto é país? Uma vergonha minha gente.

    • Lucas

      28 de Agosto de 2020 at 7:53

      Os portugueses não querem *isto* infelizmente não passamos disto!

    • Joni de cá

      29 de Agosto de 2020 at 0:05

      Caríssimo Portugal não quer Stp, nem as gerações actuais de portugueses sabem o que é Stp, o custo seria enorme para colocar Stp ao nível das regiões autonomas de Portugal.

      Infelizmente para Stp não é possível, os portugueses não iriam pagar dos seus impostos para ter Stp como região autónoma.

      Agora Stp como país independente é uma ruína a cada dia que passa.

  7. Tristeza Muito

    27 de Agosto de 2020 at 16:45

    Andaram a criticar tanto Patrice Trovoada e agora estamos neste vergonhice. Uma pessoa sente tristeza a ouvir uma coisa desta. Até quando este primeiro ministro vai esperar para fazer remodelação neste governo. Uma cambada de incompetentes.

  8. Almerim

    27 de Agosto de 2020 at 16:51

    Uma pessoa nasce num país, cresce e vai envelhecendo vendo estas porcarias de políticos incompetentes e burros. O que é que o senhor primeiro ministro está a esperar para demitir esta ministra, a ministra do comércio e turismo, a ministra de justiça e outros incompetentes. Já chega de humilhação. Se isso não vos incomoda, eu como natural de S.Tomé mais especifico de Água Arroz / Almerim sinto-me ultrajado com estas coisas. Neste momento tenho vergonha de ser de S.Tomé. É muito triste.

  9. Folha Seca

    27 de Agosto de 2020 at 16:53

    Cambada de porcos e feios. Tenham vergonha mas é…Estúpidos.

  10. F.T

    27 de Agosto de 2020 at 17:00

    Palavra de honra que quando eu ouvi esta ministra a dizer isso pensei que ela estava bebeda ou com os copos. Isso não é normal. Mesmo que isso for verdade eu acho que não era preciso esta ministra dizer isso publicamente. A incompetencia devia ter limites.

  11. Ministra

    27 de Agosto de 2020 at 18:35

    UMA VERGONHA.

  12. Cimeira

    27 de Agosto de 2020 at 18:42

    sinceramente que o primeiro-ministro é o grande responsável desta brincadeira toda. se ele não consegue demitir ministros incompetentes está lá a fazer o quê mesmo? país virou bobô e falta de respeito. Todos Sãotomenses estão a passar vergonha muito. Isto não pode continuar assim. Se senhor primeiro-ministro não pode demitir ministros e ministras incompetentes então ele mesmo tem de sair.

  13. Camblé

    27 de Agosto de 2020 at 19:29

    Parece uma praga que o país tem. Muda de governo e as coisas complicam. Cada governo faz pior que o anterior. Parece pessoas que não estudaram e nem sabem nada. Se estas pessoas fazem estas coisas o que é que podem exigir dos cidadãos? Vão mas é para ……………..

  14. Teresa

    27 de Agosto de 2020 at 20:52

    Deviam pedir a Drª Maria da Graça Amorim para dar formação a alguns diplomatas deste país e até a senhora ministra dos negócios estrangeiros devia estar neste grupo. É muito tristeza para o povo estar a assistir estas coisas que envergonha o nosso país. Muitos ministros e ministras não tem capacidade para ocupar estes lugares. Desculpem dizer isso mas falei pronto. É o que eu sinto como filha deste país. Só coisa que eu ouço no trabalho quando falam de países africanos, como guiné e s,tomé, eu fico triste e desolada. As pessoas tem de saber que nem toda a gente tem condições de ser ministro ou ministra neste país. Por favor, minha gente, tenham alguma vergonha na cara.

  15. flipotchi dochi

    28 de Agosto de 2020 at 10:47

    Já não têm vergonha na cara. Também com um primeiro ministro feito a bôbo dá nisto.

  16. Castro

    28 de Agosto de 2020 at 10:51

    Diplomacia é feita por inteligentes, não por espertos…

    Copiem a Diplomacia de Cabo Verde, eles estão prestes a obter livre acesso à União Europeia sem necessidade de visto sob estatuto de Estado Associado. Tal é a estabilidade e previsibilidade das sua políticas que não chocam no espírito e letra com os princípios da
    UE.

    Cabo Verde já participa nos principais fóruns económicos, políticos e socias da UE convidado por Portugal como Estado observador, é uma questão de tempo até terem um estatuto reconhecido que vai ser bom para todos.

    E digo-o, com tristeza, porque São Tomé tem tudo ou ainda mais do que Cabo Verde para serem as caraíbas dos Europeus, houvesse alguma visão e inteligência….

  17. O.T.G

    28 de Agosto de 2020 at 12:46

    Palavra de honra. Se o meu pai ainda vivesse e ouvisse estas coisas que estão a acontecer no país eu não sei como é que ele ficaria. E ele que foi um grande militante do MLSTP. Sinceramente que contando não se acredita.

  18. Amaral Afonso

    28 de Agosto de 2020 at 14:48

    Caro Cardoso
    Eu concordo com um comentário feito por um compatriota na exposição desta senhora que se dignou chamar-se Ministra
    O mesmo disse que o país transformou-se numa prostituta. Mas eu digo, que não é o nosso glorioso e lindo país é que se transformou numa prostituta. Mas sim, os nossos dirigentes é que se transformaram em prostitutas e esta dita ministra está a prostituir para encontrar granas para a sua viagem e estadia no estrangeiro em Hotel de 5 estrelas com direito a um bom subsidio pago pelo Marrocos para que ela vá votar a favor de Marrocos.
    Antes mesmo de conhecer os dossier que o Marrocos quer que votemos já estamos a votar de forma antecipada porque é o Marrocos quem irá pagar tudo. De certeza absoluta que o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Marrocos quando chega ao país onde a reunião está a decorrer ele não hesita a ir ao quarto desta dita Ministra para lhe levar o subsidio de estadia e em troca ela prestar serviços adicionais ao Ministro de Marrocos. Só que é muito feia e é possível que o Ministro de Marrocos não quererá sujar o seu corpo nesta coisa.
    O Marido da Ministra que diz ser um politico, dos grupos que compraram diplomas no IUCAI e que hoje é mais um dos senhores DOUTORES do IUCAI, devia ter a hombridade suficiente para aconselhar a sua mulher para não ir por este caminho, pois assim o mesmo apesar de comer alguns trocos que vêm da viagem, mas os cornos dos marroquinos vão lhe sair pelas testas, tronco e até nas costas.
    Assim vai a nossa politica externa. Será uma politica externa de quem dá mais. Quem der mais eu abrirei primeiro as minhas pernas.
    Deus Proteja S.Tomé e Príncipe

  19. Nada haver

    28 de Agosto de 2020 at 15:50

    Sr Ministro JBJ até quando que vamos estar sempre aturar os seus elencos?
    Faça alguma coisa, sempre a mesma pessoa a cometer erros e ninguém diz nada só olha si ñ conseguis governar diz ao povo assim entenderemos.

  20. Toni

    29 de Agosto de 2020 at 0:12

    Será que poderá haver um qualquer “ministro “ de qualquer governo que consiga um financiamento sério para Stp ter centros de saúde e hospitais condignos????

    Se calhar não, preferem viajar para a tuga e ir ao médico….

    Ridículo Stp ser considerado um País!!!

  21. luisó

    29 de Agosto de 2020 at 11:22

    Mas os senhores estavam á espera de quê?
    Este é mais um episódio do caminho deste dito País…..
    Então temos um presidente da AN, segunda figura do Estado, uma pessoa que, segundo dizem, tem vários processos crime em tribunal, e têm a falta de vergonha de o eleger como deputado e depois para presidente da AN e que se está a preparar para ser presidente do País?
    Já sem falar de ex ministros com vários casos em tribunal e são deputados e ministros outra vez?
    Os senhores admiram-se de quê?

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